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da lesão e da onerosidade excessiva previstos no Código Civil e das normas do Código de Defesa do Consumidor aos contratos interempresariais, destacando-se alguns entendimentos doutrinários e jurisprudenciais acerca da questão.

4.1 APLICAÇÃO DE REGRAS E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS AOS CONTRATOS INTEREMPRESARIAIS

Considerando-se que os contratos interempresariais são aqueles em que todas as partes da relação contratual exercem atividade empresária, voltadas para o lucro, ou seja, as partes são constituídas pelo empresário ou pela sociedade empresária, Meirelles (1999) entende que nesse tipo de contrato as partes devem observar regras e princípios próprios que são aplicados especificamente, de modo permanente e obrigatório a essas relações contratuais verificadas entre empresas. Contudo, mesmo existindo regras a serem seguidas na aplicação dos princípios constitucionais dos contratos interempresariais, deve-se procurar compreender e interpretar referidas normais legais em conformidade com a Constituição para que não ocorra uma compreensão em desacordo com a mesma.

Nesse sentido, Diniz (2003) destaca que existem alguns reflexos em relação a algumas normas que informam valores de ordem jurídica, sendo consideradas mais importantes pois podem atuar como informadores de parâmetros interpretativos para o texto infraconstitucional. Nesse sentido, essas normas constitucionais podem ser classificadas quanto à sua eficácia em: normas de eficácia absoluta (aquelas que têm eficácia imediata, não necessitando de legislação complementar para que sejam aplicáveis e insuscetíveis de ser objeto de emenda); normas de eficácia plena (aquelas que têm eficácia imediata absoluta e

são suscetíveis de emenda); normas de eficácia relativa restringível (aquelas que têm eficácia plena a partir de sua vigência, mas podem sofrer restrições em razão da atuação do legislador ordinário); e normas de eficácia relativa complementável ou dependentes de complementação legislativa (aquelas que não receberam do constituinte normatividade suficiente para sua aplicação imediata).

Sobre a recepção o ordenamento infraconstitucional, Miranda (2012) afirma que, no que se refere ao direito ordinário interno, a Constituição Federal não assume nem deve assumir a regulamentação, devendo apenas ser envolvida nos seus valores, e caso haja necessidade, deverá modular a situação. Assim, os princípios constitucionais devem servir de orientação na elaboração do texto infraconstitucional e de parâmetro para a interpretação do texto em vigor e para a produção legislativa futura, de modo a evitar contradição e incompatibilidade com o texto da Carta Magna. (MIGUEL, 2006; RODRIGUES, 2007). Compreende-se, portanto que os valores precisam ser levados em consideração de forma interligada para que modelo e sistema econômico dos contratos sigam o regime constitucional, sendo esta, uma regra oriunda do princípio da unidade da Constituição, que trata da obediência obrigatória na interpretação constitucional.

Desse modo, nos contratos interempresariais, as partes devem buscara estabilidade e a segurança do negócio, através da aplicação de regras próprias e da observância dos princípios já consagrados no Direito contratual pós-moderno, como o princípio da transparência, da boa-fé, e da lealdade. Dentre os princípios constitucionais que regem os contratos, destaca-se o princípio da boa fé, entendido como sendo o balizador de toda e qualquer relação comercial, desde o surgimento do comércio, quando somente a palavra das partes já era suficiente para fazer lei entre as partes, além de constituir o elemento mais importante do contrato. Nesse sentido, Noronha (2008, p. 80) afirma que surgem entre os negociantes verdadeiros deveres laterais de conduta, os quais:

São aqueles que somente apontam procedimentos que é legítimo esperar por parte de quem, no âmbito de um específico relacionamento obrigacional (em especial quando seja contratual ou ainda pré-contratual ou pós-contratual, e até supra contratual, isto é, neste caso sendo concomitante com o contrato mas indo além dele), age de acordo com os padrões socialmente recomendados de correção, lisura e lealdade, que caracterizam o chamado princípio da boa-fé contratual.

Baggio (2014) discorre que para o cumprimento dos deveres de conduta, são necessárias algumas considerações, para se compreender melhor a importância nas relações nos contratos interempresariais, as quais se dividem em deveres de cuidado, de informação, de lealdade e assistência. Quanto aos deveres de cuidado, também caracterizados como dever de proteção, entende-se que cada parte da relação obrigacional precisa cuidar para que a outra parte não sofra lesões, tanto pessoais como patrimoniais; quanto aos deveres de informação, a parte já no início da relação obrigacional e durante as negociações preliminares informar-se reciprocamente de todos os aspectos importantes para a realização do negócio; quanto aos deveres de cooperação, obrigam-se as partes, principalmente no que se refere ao fornecimento de produtos e serviços duradouros, a prestar auxílio durante um longo período à outra parte, auxiliando e se fazendo presente na resolução de problemas até o fim do tempo de contrato; e quanto aos deveres de lealdade, obrigam as partes a se absterem de ações que possam falsear o objetivo do negócio ou desequilibrar o jogo das prestações por elas consignado.

Do mesmo modo, devem prevalecer nos contratos interempresariais as regras que lhes são próprias e os princípios constitucionais, destacando-se a observância do princípio da boa fé, pelo qual as partes devem atuar com franqueza, lealdade e conformidade nas relações estabelecidas, para não decepcionar as legítimas perspectivas dos envolvidos; ou seja, espera- se um comportamento com lisura e de confiança, os quais são indispensável nas negociações de bens e serviços entre as partes, o que há de promover a proteção e a manutenção da livre iniciativa econômica, dentro dos ditames constitucionais, comportamento resultante do papel de fonte criadora exercido pela boa-fé. (BAGGIO, 2014). De acordo com Miguel (2006) a relação jurídica pressupõe o estabelecimento de um conjunto de direitos e deveres próprios à manutenção de um contrato relacional entre as partes, conforme os princípios que aclaram todo o Direito das obrigações.

Nesse ponto, destaca-se que os contratos interempresariais carecem de um tratamento interpretativo, pois as regras que os disciplinam são variadas, podendo se recorrer ao Direito privado, quando determinados contratos serão regulados pela legislação civil; a normas específicas, como é o caso de determinados contratos interempresariais colaborativos; ou ao Código de Defesa do Consumidor, quanto se tratar de contratos que ensejam relações entre fornecedores e consumidores, sendo que, nesse caso, não se aplicam os princípios da legislação consumerista aos contratos em que os vínculos se estabelecem entre empresários, sob pena de que seja inserido no corpo do Direito empresarial um tratamento inadequado. (FORGIONI, 2010).

4.2 APLICAÇÃO DO INSTITUTO DA LESÃO AOS CONTRATOS