• Nenhum resultado encontrado

Destaca-se que quando o agente não é desprovido ou inexperiente, ou se o valor da prestação recebida se distancia do valor pago ou apalavrado, por força de outras circunstâncias (depreciação do valor da moeda, realização de obras ou melhoramentos beneficiando a coisa), e venha a ocorrer à desproporção manifesta, não há que se falar em lesão. Surge assim, a lesão como um encargo desproporcional, do qual resulta onerosidade excessiva a um das partes, resultante de um contrato acordado validamente entre os contratantes, com aproveitamento da outra parte. (PEREIRA, 2007).

A onerosidade excessiva ocorre quando um evento extraordinário e imprevisível dificulta extremamente o adimplemento do contrato por uma das partes. (DINIZ, 2013). Ela pode acarretar ainda, a extinção da relação contratual, porém a resolução do contrato poderá ser evitada se a outra parte tiver interesse em modificar equitativamente às condições do mesmo. De acordo com Garcia (2001) se o desequilíbrio das prestações contratuais provém de fatos posteriores à celebração do vínculo, não há que se falar em lesão, devendo ser chamado então, revisão contratual por onerosidade excessiva, na forma do art. 478 do Código Civil e outros correlatos; ou seja, a partir do momento que for confirmada a desproporcionalidade, o contrato poderá ser invalidado ou por nulidade ou anulabilidade, ou ainda pode-se realizar uma adequação do mesmo, de modo que se elimine a desproporção, para manter a validade do acordo. Assim, dispõe a legislação civil:

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato. (BRASIL, 2002).

Diante deste contexto, Forgioni (2010) salienta a importância em se observar o texto do novo Código Civil para que não seja este aplicado de forma a neutralizar as vantagens competitivas cobiçáveis no mercado, sendo que deve ser respeitado o risco normal do contrato e suas condições nas quais os empresários se encontram, uma vez que a força normativa dos usos e costumes do mercado apoia a ideia de que a legítima perspectiva da

outra parte será preservada. Assim, é apropriado que o parâmetro a ser considerado como de normalidade é aquele dos comerciantes acostumados a praticar a espécie do negócio, e não do cidadão comum.

No entanto, observa-se que a onerosidade excessiva é atributo dos contratos mercantis, bem como a forma de obtenção de proveito econômico, sendo comum que as partes “suportem um sacrifício (depauperamento) patrimonial (prestação a ser adimplida), a que corresponda uma vantagem”, principalmente quando lembrado que os empresários, quando celebram contratos entre si legitimamente acreditam que seus interesses (lucros) estão sendo satisfeitos, uma vez que a empresa não atua no mercado por outra razão última que não a obtenção de lucro. (FORGIONI, 2010). Desse modo, a onerosidade excessiva apresenta-se, como uma situação que dificulta o cumprimento da obrigação por uma das partes, a qual advém de circunstâncias extraordinárias ou imprevisíveis que trazem desproporcionalidade entre prestação e contraprestação, podendo gerar um dano expressivo para uma parte e consequente vantagem excessiva para a outra, comprometendo, com isso, a execução justa do contrato. (MONTEIRO, 2003).

Caetano Martins (2011) salienta que a onerosidade excessiva não deve ser confundida com a impossibilidade da prestação (que seria caso fortuito e força maior), nem dificuldade de cumprimento da obrigação que determina condição do devedor e não qualidade da prestação. Neste sentido, a onerosidade excessiva tem como requisitos: a vigência de um contrato de execução continuada ou diferida; a superveniência de circunstância imprevisível e extraordinária; a alteração radical das condições econômicas objetivas no momento da execução, em confronto com o ambiente objetivo no momento da celebração; a onerosidade excessiva para um dos contratantes e benefício exagerado para o outro, e o nexo de causalidade entre o evento superveniente e a consequente excessiva onerosidade. (GONÇALVES, 2009).

É importante salientar primeiramente que se deve estar diante de um contrato de prazo ou de duração, pois a superveniência de uma circunstância extraordinária e imprevista, que torne a prestação de uma das partes excessivamente onerosa, beneficiando a outra parte, deve incidir nos contratos de prazo (execução diferida), no momento exato do negócio e o prazo do cumprimento, ou, nos contratos de duração (execução continuada), durante o cumprimento do contrato. Desta forma, o devedor não poderá estar em protesto para alegar a onerosidade excessiva se essa não tiver ocorrido justamente pela incidência de uma

circunstância extraordinária e imprevista que tornou a prestação de uma das partes excessivamente onerosa, e trouxe benefício à outra parte. (VENOSA, 2005).

Roppo (2009) cita também que para ser considerada onerosidade excessiva, é necessário ocorrer duas condições, sendo uma externa (circunstâncias que determinam o agravamento econômico da prestação e o consequente desequilíbrio de valor com a contraprestação), e outra interna (substância do negócio, ou seja, a medida do agravamento e do desequilíbrio). Destaca-se que a condição externa trata da superveniência de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis que desequilibrem o valor das prestações compactuadas. Se essas circunstâncias estiverem de acordo com o curso ordinário dos acontecimentos e foram previstas quando da conclusão do negócio, não são motivos para tutelar o contraente que não se utilizou da prudência necessária para contratar, sendo então, justo que o risco das circunstâncias ordinárias seja suportado pelos contratantes.

Ressalta-se que, se os fatos forem modificados pelas duas partes, no caso de se configurar a onerosidade excessiva para um dos contratantes e o benefício exagerado para o outro, podem se produzir efeitos opostos capaz de causar o desequilíbrio econômico do acordo contratual. Consequentemente poderá haver a onerosidade excessiva, pois prejudicará uma das partes, gerando prejuízo demasiado a ser suportado e, por outro lado, um ganho desproporcional para a parte contrária. (VENOSA, 2005).

Neste sentido, Gonçalves (2009) discorre que além da imprevisibilidade e do caráter extraordinário, em caso de uma alteração, a mesma deverá provocar ao mesmo tempo uma onerosidade excessiva para uma das partes e uma vantagem injustificada para a outra. Neste item, a Lei tende a impedir o enriquecimento sem causa de uma das partes em cima da perda financeira injustificada da outra, pois no equilíbrio entre as partes que prima pela justiça contratual, uma extraordinária vantagem é permitida, mas somente como um elemento acidental da alteração das circunstâncias de fato, que, quando não acontecerem, nunca poderia evitar a aplicação desta regra para revisar contratos com excessiva onerosidade.

Ademais, de acordo com Wald (2009), o contrato quando direcionado pela teoria da imprevisão não é considerado um negócio isolado, e sim como algo que se insere dentro de uma realidade estando sujeito às incertezas inevitáveis, próprias e imanentes do futuro, e por este motivo é aplicado quando há modificação das circunstâncias de forma a onerar excessivamente uma das partes, ou seja, objetiva equilibrar a coisa quando os contratantes não conjeturam mais, a mesma realidade quando o contrato foi celebrado estando assim

relacionado com o contrato no tempo, onde sua finalidade é tutelar as partes da alteração da realidade que era desconhecida no momento da sua realização.

Na opinião de Yamashita (2014) caso constatado em hipótese de onerosidade excessiva, a solução legal autorizada ao julgador deve ser a de simplesmente se resolver o contrato e não promover qualquer espécie de revisão e/ou readequação das prestações contratuais, sob pena de impor às partes (ou, ao menos, a uma delas) obrigação não convencionada, sendo que esta solução é considerada ilegal pela redação do artigo 478, do Código Civil; ou seja: seria verdadeira agressão à autonomia da vontade dos contratantes, considerando que:

[…] vigora a faculdade de contratar e de não contratar, isto é, o arbítrio de decidir, segundo os interesses e conveniências de cada um, se e quando estabelecerá com outrem um negócio jurídico contratual. [...] a liberdade de contratar espelha o poder de fixar o conteúdo do contrato, redigidas as suas cláusulas ao sabor do livre jogo das conveniências dos contratantes. De regra, este lhes imprimem a modalidade peculiar ao seu negócio, e atribuem ao contrato redação própria, estipulando condições, fixando obrigações, determinando prestações etc. [...] Em linhas gerais, eis o princípio da autonomia da vontade, que genericamente pode enunciar-se como a faculdade que têm as pessoas de concluir livremente seus contratos”. (PEREIRA, 2004, p. 21-22).

Desta forma, percebe-se a existência da necessidade em se preservar o bom funcionamento do mercado, o que se trata com normalidade o fato de que os agentes econômicos tenham que de alguma forma participar de perdas, caso constatada a hipótese de onerosidade excessiva, pois referido instituto encontra guarida na legislação civil, conforme Silva (2005). Assim, verifica-se que a aplicação do instituto da onerosidade excessiva baseada na teoria da imprevisão, originalmente concebida pelo nome de cláusula rebus sic standibus, poderia ser aplicada aos contratos interempresariais, de modo a possibilitar a alteração ou a resolução do negócio jurídico, dependendo das condições que se apresentem ao caso concreto, uma vez que o mercado está sujeito a incertezas inevitáveis e imanentes do futuro, devendo ser aplicado referido instituto, quando ocorrer modificação das circunstâncias que oneraram excessivamente uma das partes, para assim propor a volta do equilíbrio. (WALD, 2009).

Diante dos fatos apresentados em relação a aplicação da onerosidade excessiva nos contratos interempresariais, compreende-se que caso não ocorra uma manutenção do negócio por iniciativa das partes envolvidas para restabelecer o equilíbrio entre as mesmas, existirá a necessidade de se recorrer ao Poder Judiciário, para que o problema seja resolvido.

Assim, compreende-se que cabe ao Poder Judiciário inicialmente, providenciar a anulação do contrato quando identificada a lesão por onerosidade excessiva ou até mesmo rescindi-lo, ou ainda se levando em consideração, o princípio da função social do contrato buscando a conservação do acordo, que contribui não apenas aos contratantes, mas ao próprio mercado; poderia ainda o magistrado não invalidar totalmente o negócio, mas sim, extrair deste as cláusulas e condições causadoras da lesão, eliminando, portanto, o desequilíbrio do mesmo.

A esse respeito, Azevedo (2004) discorre que nos dias atuais, os esclarecimentos doutrinários e jurisprudenciais mais comuns são as da teoria da imprevisão, como concebido no direito administrativo francês e decidido pelo Conselho de Estado em 1916, e, nos últimos 20 anos, por influência do direito italiano que remete à aplicação do instituto da onerosidade excessiva que se baseia na teoria da imprevisão, teoria predominante até os dias de hoje, sendo a expressão utilizada no Código Civil (art. 478) e no Código de Defesa do Consumidor (art. 39, V, e 51, § l, III).

4.4 APLICAÇÃO DAS NORMAS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AOS