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isto é, sem muros de defesa 9 Era a aplicação duma nova metodologia de trabalho arqueológico orientado no sentido da análise regional

No documento Hebreus e Filisteus na terra de Canaã (páginas 138-147)

7 ALT Albrecht - Erwaegungen ueber die Landnahme der Israeliten in

Palaestina , reimpresso em "Kleine Schriften zur Geschichte des Volkes Israel", I , Munique, Beck, 1953, 126-175.

8 WEIPPERT, M. - The Settlement of the Israelite Tribes in Palestine,

Londres, 1971,135 s.

9 AHARONI Yohanan - The Setúement of Israelite Tribes m Upper Galilee, Jerusalem, 1957 (texto hebraico); VÁRIOS - The Rise of Ancient

globalizante que, a breve trecho, se iria dirigir para a zona montanhosa central, aquela que, segundo a Bíblia, fora o coração da ocupação hebraica de Canaã.

Uma tarefa desta natureza só foi possível depois de 1960, na sequência da "Guerra dos Seis Dias", quando os arqueólogos israelitas tiveram acesso à dita região, verdadeira "espinal medula" da Terra Santa, que se estende desde a planície de Jezrael ou Esdrelon a Bersheba, abrangendo a zona ocupada das montanhas da Samaria e Judeia.

Em 1968, já estavam feitas sondagens arqueológicas em mais de 100 lugares habitados a partir do Ferro I e, em 1971, Aharoni, Fritz e Kempinski tendo concentrado a sua pesquisa no vale de Bersheba, em Tell Masos, concluíam pela larga influência ali dum povo que se estabelecera durante o Ferro I. Eles identificaram esse povo com os hebreus e mantiveram essa identificação apesar das críticas de Kochavi.

Entretanto, as sondagens arqueológicas realizadas na zona montanhosa do centro (Manasses e Efraim) aceleraram-se por obra de Kochavi, A.Mazar e Zertal, procurando explorar, agora, a dimensão ecológica e económica, o que permitiu compreender o desenvolvimento histórico da ocupação da zona em questão. De facto, como diz Israel Finkelstein, é impossível tratar o problema da instalação dos hebreus em Canaã sem ter em conta, pelo menos, um completo levantamento da região montanhosa central.

A tese de Finkelstein sobre a instalação de Israel em Canaã 10 constitui o estudo mais conseguido do ponto de vista arqueológico. Desde

1980, o autor pôs a sua particular atenção na zona de Efraim, onde se situava o santuário de Silo que, no tempo dos Juizes, desempenhou um

papel centralizante e aglutinador para a "anfictionia" ou união das tribos hebraicas. Finkelstein partiu do estudo comparativo de Mzbet-Sartah, aldeia situada em frente de Afek e precisamente em confronto com a cultura de Afek, de nítida tradição cananeia; além disso, o lugar abria passagem para a planície costeira da Filisteia 11.

Depois de 1980, enquanto Zertal se dedicava às sondagens no território da antiga tribo de Manasses, Finkelstein virou-se com afinco para a exploração sistemática da zona de Efraim. Foi a acumulação dos dados descobertos que lhe permitiu defender a sua tese, há pouco publicada. Por um lado, rebatia as sedutoras hipóteses da escola sociológica de Mendenhall e Gottwald, por outro, avançava, de forma positiva, uma explicação arqueológica, que se aproxima das posições de Alt e suas análises literárias; só que, desta feita, a palavra é toda da arqueologia para a qual vai procurar paralelos na área da etnografia, através do estudo das instalações dos beduinos contemporâneos em vias de sedentarização.

Para Finkelstein, a zona central das montanhas e colinas de Canaã//Israel formava uma espécie de fronteira, cuja oscilação pendular se pode seguir desde o MB II até ao Ferro I. Constata-se, com efeito, uma multiplicação de habitats , ou sítios habitados (Zertal identificou 116 para Manasses e Finkelstein 66 para Efraim), mas as sondagens continuam.

Para o que Finkelstein chama o "survey" do território de Efraim 12, cobrindo uma área de 1.050 Km.2, e que constitui o coração do seu trabalho, apresenta ele, desde a pesquisa começada eml980, o resultado

11 Infelizmente não nos foi possível o acesso ao trabalho de FINKELSTEIN , I. - *Izbet Sartah. An Early Iron Age Site near Rosh Ha *ayin, Londres, BAR, 299,1986.

de escavações em 513 lugares arqueológicos. Depois, dá a conhecer o cabedal de informações obtidas na reescavação de Silo, o primeiro centro de culto dos habitantes ali estabelecidos durante o Ferro I, e que a Bíblia atribui aos hebreus.

Não se pode ignorar que, no território de Efraim, se situam cinco dos mais importantes sítios do Ferro I (Ai, Betei, ^Izbet Sartah, Hirbet Raddana, Silo) e que a Bíblia, explicitamente, fala da Ai, Betei, Silo. Finkelstein dá-se ao minucioso trabalho de fazer análises topográficas, ecológicas e recolha de restos de cerâmica do Ferro I. Trata-se dum território montanhoso ou cheio de colinas com altitude média de 600 m., pedregoso, quase nas bordas do deserto, clima árido, onde se cultiva a oliveira e algum cereal de pequeno porte, avaro para a horticultura e com pastos rafados para rebanhos. Todo o trabalho de Finkelstein é fruto de seis anos de pesquisas e ao qual há pouco a acrescentar, a não ser o que se pode recolher dos relatórios das escavações arqueológicas em fim de estação de trabalhos. A ideia geral que nos fica, depois desta laboriosa pesquisa arqueológica, é a de que o território da tribo de Efraim só no Ferro I conheceu uma real ocupação por parte de gente dada à pastorícia e em começos de sedentarização.

Foi na base destes dados que André Lemaire se lançou a escrever o seu trabalho de síntese, dando a visão da origem de Israel nos territórios de Efraim e Manasses 12. As suas conclusões estão em concordância com os resultados de Finkelstein e seguem, de perto, as informações dos mais recentes arqueólogos israelitas.

12 LEMAIRE André - Aux origines d'Israël: La montagne d'Ephraim et le territoire de'Manasse (XIII-X1 siècle av. J c.) , LAPERROUSAZ, E.M. (Dir.) -La Protohistoire d'Israël, Paris, Cerf, 1990, 183-292. O mesmo autor, ja antes, havia publicado: Recherches actuelles sur les origines d'Israël /'Journal Asiatique", 270,1/2,1982,5-24.

Adam Zertal é outro arqueólogo israelita que acaba de publicar um primeiro relatório e a visão-síntese de todo o seu trabalho de doze anos no território de Manasses 13. De resto, também ele apresentou uma tese, de carácter arqueológico, na Universidade de Haifa w e as suas conclusões são idênticas às de Finkelstein, tendo em conta,

evidentemente, as características da região.

Como resultado da sua pesquisa, Zertal apresenta os seguintes dados:

BM (1750-1550 AC) 116 sítios

BT(1550-1200AC) 39 "

FI (1200-1000 AC) 136 "

Note-se que, na tese de 1988, Zertal apresentava apenas 96 sítios

arqueológicos do Ferro I; os outros foram descobertos depois dessa data.

Esta análise estatística permitiu concluir que os sítios do Ferro I se

encontravam em terreno diferente dos do BM e do BT. Enquanto estes se

situavam em vales num solo aluvial e fértil, os do F I estavam na zona

das colinas com a característica terra avermelhada das montanhas. As

estatísticas falam por si:

B M + BX 43% nos vales. 13% nas colinas

FI. 19% " 38%.

13 ZERTAL, Adam - Has Josua 's Altar been found on MtEbai;'BARJ'^I'..1'

1985, 26-43; IDEM - Israel enters Canaan. Following the pottery trail ,

"BAR1', XVII, 5, 1991, 28-49.

14 ZERTAL ,Adam - The Israelite Settlement in the &U<touWJ* Manasseh, Haifa 1988. infelizmente nao nos foi possível conota*_este

trabalho. Cfr. FINKELSTEIN I. - O. c, 80 - 91; LEMAIR*> A ^ " * J ^ Ç ™ d'Israël: La montagne d'Ephraim et le territoire de Manasse, La Protohistoire d'Israel" .Paris, Cerf, 1990, 198-206.

Isto mostra que, no F I, houve uma nova população, que se veio instalar nas colinas e só, a espaços, pôde ocupar a terra fértil dos vales, onde se distinguem como lugares mais importantes: Bet-Shean, Dhaharat-Tawilah, Dotan, Genin, Monte Ebal (=£J Murnat ), Siquém (=Teíl Balata ), Taanak, Tell el-FarNah (=Tirsa ), Tirat Zvi.

O dito Zertal chama também a nossa atenção para a diferença de vegetação, pois nos vaies predominava o carvalho da região [Quercus ithaburensis) , à volta do qual crescia boa erva de pasto, e nas colinas adensavam-se os arbustos rasteiros de floresta em forma de maquis, o que não favorecia o pasto dos rebanhos. Talvez por isso, esta nova população tivesse de conviver pacificamente com os habitantes dos vales, enquanto ela própria vivia na zona de colinas e montanhas, em pequenas aldeias abertas, sem fortificações, dada, sobretudo, à pastorícia. Este novo grupo humano, que, à luz da História e da Bíblia, se deve identificar com os hebreus, distinguia-se, portanto, dos habitantes dos vales, os cananeus, que viviam em cidades fortificadas e praticavam a agricultura.

Um outro elemento, que deve ter marcado a diferença destas populações, foi o uso da água. E, neste ponto, as recentes descobertas arqueológicas vieram desfazer a opinião irrealista de W. F. Albright. Segundo ele, os hebreus, vivendo nas colinas, souberam tirar partido do uso de instrumentos de ferro para cortar a pedra e cavar cisternas na rocha, onde recolhiam a água das chuvas. Só que, quando Zertal se lançou pelas colinas à procura dessas cisternas nos sítios arqueológicos do F. I, praticamente nunca as encontrou. As poucas cisternas existentes tinham sido cavadas no grés mole e impermeável do Sennoniano, como aconteceu em Hirbet Raddanah. Na verdade, cerca de 90% dos sítios do F.I estavam assentes sobre a dura pedra calcária (limestone) do

Cenomene-Turoniano. Aí, teria sido preciso betumar ou calefatar para evitar a perda da água; por esta simples razão, a hipótese de Albright, à luz da nova pesquisa ecológica, deve ser abandonada como inverossímil 15. Mas a cerâmica descoberta em abundância ajuda a explicar como é

que as populações das colinas do F.I se abasteciam de água e a conservavam.

Na realidade, um pouco por toda a parte, nas instalações do F.I

abundam as célebres "jarras de colarinho" (collared-rim jar ) que os arqueólogos ceramistas chamam pithos. São jarras bojudas, de cerca

170 centímetros de altura e capacidade de 40 a 60 litros, próprias para

arrecadação ou armazenamento, cuja característica mais saliente é o

rebordo (colarinho). Estas jarras e seus restos constituem cerca de 30%

da cerâmica recolhida nos sítios arqueológicos do F I. Elas terão servido,

num primeiro tempo, até cerca do ano 1000 AC, de cisternas de

armazenamento de água. Desaparecem depois, quando os israelitas,

criando a sua monarquia, se tornaram senhores de Canaã, tendo acesso livre às águas dos rios e das fontes naturais dos vales. A própria Bíblia salienta, desde os primórdios da ocupação de Canaã, a estreita ligação do

homem às fontes da água. Moisés, por exemplo, ao pretender atravessar a região de Edom, comprometeu-se garantindo: "não beberemos a água

dos poços", caso contrário, "se bebermos da tua água, nós e os nossos

rebanhos, pagar-te-emos o que for justo" (Núm.20,14-19). Talvez que, por este passo, possamos compreender porque é que, inicialmente, os

hebreus terão preferido viver em paz com os cananeus, apascentando

os seus rebanhos e indo buscar água às fontes deles 16.

15 ZERTAL, Adam - Israel enters Canaan. Following the pottery "BAIT.XVn/s, 1991,32.

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^IZBET SARTAH: Casa de pilastras (Four-room house ) e silos de armazenamento no Estrato IL

Jarra de colarinho para armazenamento

No documento Hebreus e Filisteus na terra de Canaã (páginas 138-147)