• Nenhum resultado encontrado

O grande bloco narrativo de Jos.2 11, obedecendo a critérios geográficos, enquadra a conquista da Terra num tríptico que,

No documento Hebreus e Filisteus na terra de Canaã (páginas 116-122)

sucessivamente, vai apresentando os hebreus em conquistas no centro,

sul e norte de Canaã. Se atendermos bem ao processo narrativo, veremos

que ele tem o seu clímax ou ponto nevrálgico em Jos.9,3s: "Os habitantes

de Gabaon, sabendo o que Josué tinha feito a Jericó e Ai, foram

astuciosos e puseram-se a caminho... foram ter com Josué ao

acampamento de Guilgal e disseram-lhe bem como a todos os filhos de

Israel: - Viemos de terras longínquas para fazer aliança convosco". Desde

logo, este passo nos leva a atentar no modo como se desenrola a

campanha.

28 HOUDSTRA Marten H. - The book of Josua , Michigan, William B Erdmans Publishing Company , 1981 ("The International Commentary on die OldTestament") Cfr. HERTZBERG , H.W. - Die Buecher Josua, Richter, Ruth , 51 Ed., Goettingen, 1974, ("ATDK").

De facto, no Centro (Jos.2 -8) , trata-se duma campanha bélica, com Josué e os hebreus a lançarem-se na conquista de Canaã.

No Sul (Jos.10) , porém, são os amorreus e cananeus que se unem e vão atacar os hebreus.

No Norte (Jos.l 1) , é Yabin, rei de Hasor, quem se atira aos hebreus numa campanha militar, aliás, bastante simétrica à do capítulo décimo. Vê-se, assim, que, no Sul e no Norte, a luta é provocada por uma estratégia ou tática defensiva por parte dos habitantes de Canaã face à terrível fama guerreira de Josué e dos hebreus, a qual, entretanto, tinha chegado aos ouvidos dos habitantes do país. Com efeito, a palavra chave da narrativa é o verbo Ptt# {Ouvir, Jos.10,1; 11,1), o qual provoca e

desencadeia, só por si, toda a série de acções militares, na sequência daquelas que os hebreus vinham desenvolvendo desde o capítulo segundo. O tema da "fama" de Josué é, agora, o motor da narrativa 29,

O conjunto literário de Jos.l3 - 19, cheio de dados e informações

geográficas, na análise de Ibanez-Arana, daria razão aos elementos P detectados por Von Rad 30.

Os capítulos 2 3 - 2 4 são muito semelhantes entre si. Através dos dois discursos de Josué (Testamento e Despedida ) parece inculcar-se que Israel vive em estado de perfeita e utópica tranquilidade, liberto dos inimigos vizinhos (Jos. 10,23). Todavia, por meio desses discursos, é o redactor final a querer exigir do Povo Eleito a observância fiel da Lei em correspondência à fidelidade de Deus, que acabara de cumprir as Suas promessas (Jos.1,6-9; 8,32-35; 11,15; 22,5).

■ —

29 SANMARTIN ASCASO, J. - O. C 142. 30 Cfr.nota 23.

O capítulo 23, que Noth atribuirá ao Dtr., deve pertencer, segundo Smend 31 , a um redactor pos-deuteronomístico de tendência nomistica (Dtr. N). Porém, Sanmartin 32 , atendendo a razões de semiótica, diz que não se pode negar que tal capítulo contenha elementos derivados da HD. E cá estamos nós nas infindáveis e bastante subjectivas análises "laboratoriais" da crítica das fontes.

Quanto ao capítulo 24, esse terminaria bem dentro da teologia da

HD com o característico verbo ético-litúrgico ini) (servir) , 15 vezes

repetido no texto, em solene voto de fidelidade proclamado a uma só

voz por todo o povo: 1W*J 1^3¾ 1*W Wïf7« mrr-Iifcí = "0 Senhor nosso Deus serviremos e ouviremos a Sua voz", Jos. 24,24).

Não será, por certo, descabido aproximar esta renovação da Aliança por Josué, após a Conquista da Terra Prometida, daquela outra

feita por Esdras, mais tarde, a quando do regresso do Cativeiro de Babilónia (538 AC) e reinstalação dos judeus na Terra Santa dos seus

maiores, repetindo o litúrgico "Amen! Amen!" (Neh.8,6). Se o estilo,

naturalmente, não é bem o mesmo, pelo menos estamos no mesmo

comprimento de onda espiritual. Tanto no Livro de Josué como no de Nehemias (Jos.23,12; Neh.10,31; 13,23) aparece a recusa e a reprovação

dos casamentos mistos. O discurso de Josué no capítulo 24, de tom marcadamente deuteronomístico, poderia bem enquadrar-se como um eco do esforço de revitalização religiosa após 561 AC, segundo o que já dissemos, ou até como uma ressonância da reforma de Esdras-Nehemias,

31 SMEND. R. - Das Gesetz und die Voelker WOLF F.W. (Ed.) -Problème biblischer Théologie , "Festschrift , G. Von Rad zum / 0 . Geburtstag, Munique, 1971,494-509.

Talvez seja isto mesmo que pretenderia afirmar Akroyd 33 e com quem nós, em princípio, concordamos.

Para a HD, é indiscutível que a época de Josué, isto é, a época da Conquista de Canaã pelos hebreus, segundo as promessas de Javé aos Patriarcas, foi, por isso mesmo, uma época exemplar de pureza histórica, de rectidão moral e fidelidade à Lei de Moisés, mesmo tendo em conta o pecado de Acã, na sequência da tomada de Ai, de resto, prontamente erradicado. De facto, logo que descoberto, foi confessado e castigado (Jos.7,5-26). Aliás, este episódio parece até ser de fundo etiológico, externo e supérfluo à narrativa da tomada de Ai; configura-se como um

bloco errático, facilmente amovível, que poderia mesmo ter sido introduzido pelo redactor deuteronomístico, a modo de "conto exemplar" para os vindouros. Compreender-se-ia bem dentro do seu esquema moralizante de pecado// derrota, tal como se observará também em Juizes 2,6-12.15 quando verificaram que "a mão do Senhor estava contra eles" 34 . De resto, à luz da teologia ou ideologia da HD, cremos poder concluir que há uma diferença moral entre a época de Josué e a dos Juizes.

A época dos Juizes, em que se começa a dar o afrontamento de hebreus e filisteus, tema axial deste trabalho, é uma época de infidelidades à Lei, de pecados em série e de anarquia político-religiosa, que só a instituição da Monarquia conseguirá superar, e como o próprio

33 "The appearance of the strongly homilietic tone in so much of the material of the seventh to sixth centuries BC and its continuance and developement in the more formal style of the post-exilic period, with the

use particulary in prophecy of the rhetorical question and the disputation, suggest circles in wich older material was e ^ u n d e d , assemblies in wich the words of older narrative or prophecy » P « ™ were given immediate application to the contemporary scene , ACHR.OYD, P. R. -The History of Israel in the Exilic and Post-Exihc Period , ANDERSON, G.w" (Ed.) 'O.C.,327.

Livro dos Juizes tenta sugerir (Jz.17,6; 18,1; 19,1; 21,25). A monarquia

hebraica surgirá, de facto, como tentativa de resposta eficaz aos ataques

e destruições que os inimigos de Israel provocavam no Povo Eleito (I

Sam.8) sem que este, por falta de coordenação duma autoridade

centralizada, pudesse resistir. Deve, portanto, concluir-se que a HD

pretende fazer, pelo menos com referência aos tempos paradigmáticos

e proféticos de David, a "justificação apologética da monarquia" 35.

A Conquista da Terra de Canaã, eis, pois, o tema fulcral do Livro

No documento Hebreus e Filisteus na terra de Canaã (páginas 116-122)