• Nenhum resultado encontrado

Aprender pela Partilha: A Observação

4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.2. Aprender pela Partilha: A Observação

Ao contrário da fotografia, a observação é um processo e não um mecanismo simples de impressão, pelo que “(…) não é olhar só à nossa volta. Mais do que isso, é captar significados diferentes através da visualização” (Sarmento, 2004, p. 161). Este processo implica um ato de inteligência pois no campo percetivo com que o observador se depara, deve selecionar um pequeno número de informações pertinentes entre um vasto conjunto de informações possíveis (Damas & Ketele, 1985). Os autores acrescentam que este processo de observação é orientado por um objetivo terminal ou organizador do próprio processo de observação. Neste sentido, a seleção da informação será tão mais facilitada quão mais claro e explícito for o objetivo. Saliente-se que este mecanismo de seleção age em alusão à experiência anterior: “o já visto observa-se mais facilmente, mas o demasiadamente visto arrisca-se a passar despercebido” (Damas & Ketele, 1985, p. 11). Assim, retiro

100

o seguinte excerto da 9ª Semana do meu Diário de Bordo, onde se perceciona que a minha familiaridade com o voleibol facilitou o processo de avaliação. Esta perceção encontra eco no referido por Sarmento (2004), quando nos diz que o ato de observar está referenciado à história e experiência pessoal do observador, sem contudo desvalorizar esta ação uma vez que as minhas experiências de observação eram, neste ponto, muito escassas:

Além disso, as aulas a observar desta semana foram as de voleibol, pelo que senti maior facilidade em diagnosticar as diferentes situações, analisando-as criticamente. Sinto que estas observações acabam por contribuir para a evolução de todos os elementos do núcleo de estágio, a das minhas colegas por as alertar para diversos aspetos das quais não se apercebem por ainda não terem a sensibilidade criada pela experiência, bem como a minha por me forçar a verbalizar, elevando o meu conhecimento a outro nível de entendimento. (Diário de Bordo, 9ª Semana)

De facto, a observação foi uma das principais tarefas deste Estágio Profissional, com a qual me familiarizei bastante e que me permitiu percecionar, desde cedo, que seria uma ótima ferramenta de crescimento a nível individual e de núcleo de estágio. Naturalmente, as técnicas de observação e a perspicácia na interpretação dos dados foram desenvolvidas com a experiência e a reflexão neste campo. A observação sempre foi um processo com que me identifiquei enquanto observadora e com o qual me senti confortável enquanto observada, por o encarar como uma excelente forma de crescimento profissional.

A aula observada não foi uma experiência muito intimidante, ao contrário do que poderia ser esperado, uma vez que o à vontade com os observadores me permitiu

uma atuação natural e sem nervosismo inerente ao ato de ser observado/avaliado. Aliado a este conhecimento, reconhece-se o facto de as vivências prévias neste

contexto facilitarem o processo de abstração de que efetivamente estava a ser analisada. Relativamente ao papel de observadora, penso que falta incidir não só nos

aspetos negativos, que mais facilmente sobressaem, como enfatizar também o que está bem aplicado e vale a pena ser repetido e utilizado. Não obstante, reconheço que

a perspetiva de observador é bem mais objetiva do que a do docente, no sentido em que nos mostramos mais capazes de analisar a aula de uma forma generalizada, capacidade que nem sempre é dominada pelo professor principiante. Neste seguimento, importa transportar algumas noções retiradas da

observação para a prática, não nos cingindo exclusivamente à correção dos erros diagnosticados, como também à capacidade de assumir uma postura de observação geral da própria aula, de forma a intervir no momento. (Diário de Bordo, 8ª Semana)

A excelente interação dentro do núcleo de estágio proporcionou-me inúmeras oportunidades de aprendizagem, nomeadamente ao nível da observação. Acredito que a aprendizagem decorre da experiência na ação complementada pela observação de outros atores. Assim, além das observações previstas no plano de observações (Anexo 9), todas as semanas

101

observamos aulas umas das outras. Agora à distância acredito que o nosso crescimento assentou fortemente nesta partilha.

O facto de estar a ser observada pelas minhas colegas não comprometeu em nada a minha atuação, visto que estes momentos são bastante frequentes e já estão entendidos como sendo uma mais-valia para mim, permitindo-me melhorar o meu desempenho. Assumo até que gostaria de ser observada todas as aulas, porque me ajudaria a entender os comportamentos que ainda tenho de melhorar, uma vez que nem sempre me apercebo dos apontamentos que são feitos pelas minhas colegas e que efetivamente correspondem à realidade. Não obstante, todas as minhas aulas

têm pelo menos um elemento do núcleo de estágio presente e por norma dois, o

que enriquece a minha construção como professora de Educação Física e se reflete na minha atuação. (Reflexão Individual, 41ª Aula, 2º Período)

Várias foram as referências em diário de bordo ou reflexões individuais em que aludi ao contributo das observações na minha atuação, tanto na aprendizagem ao observar as minhas colegas, como a aprender com os seus feedbacks acerca das minhas aulas. Naturalmente, ser constantemente observada pela Professora Cooperante foi fundamental para o meu crescimento como professora de educação física, tornando-me mais capaz de fundamentar a minha atuação. Contudo, o ato de observar não conduz diretamente à aprendizagem, uma vez que é necessária a criação de rotinas e quebra de outras para ir de encontro à atuação almejada. Assim o ilustra o seguinte excerto:

Como tem sucedido nas semanas anteriores, a minha turma foi a última a ter aula cá fora, pelo que terça e quarta-feira de manhã já tive oportunidade de observar aulas similares lecionadas pelas minhas colegas às suas respetivas turmas e de anotar algumas observações efetuadas pela Professora Cooperante. Desta forma, tentei minimizar os aspetos apontados como menos bons e atender às soluções indicadas pela Professora. Não obstante esta tentativa, a perceção que temos do decurso da

aula enquanto observadores é muito díspar do entendimento que temos da mesma enquanto professores, uma vez que na segunda situação estamos

confinados a um plano, com preocupações de organização, gestão dos alunos e das tarefas, preocupações com correções técnicas e táticas e ainda gestão do tempo de aula, o que limita significativamente a sensibilidade para questões como manter toda a turma no campo de visão e entender quais as alterações necessárias em cada grupo de alunos em particular de forma a melhorar as suas aprendizagens. Com isto pretendo referir que apesar de algumas situações, mais particularmente o facto de a

instrução a um grupo ser feita com os restantes no campo de visão já ter sido corrigida pela Professora Cooperante, tive dificuldade em cumprir este aspeto, uma vez que ao focar a minha atenção na transmissão da informação ao grupo e no seu entendimento por parte do mesmo, desprendia a minha atenção dos grupos em atividade. Esta será uma questão a ter em conta em aulas futuras e a

tentar corrigir, de forma a automatizar estas ações.

A partilha dentro do núcleo de estágio aconteceu de várias formas, pelo que quando não observávamos as aulas umas das outras trocávamos impressões sobre o que sucedeu na nossa aula. Estes momentos, apesar de

102

não tão efetivos como a observação, permitiam a anulação da repetência de erros.

Uma das maiores preocupações que trouxe para a aula prendia-se com o tempo destinado à montagem dos percursos, mais sucintamente ao seu (in)cumprimento. Esta preocupação surgiu por ter tido conhecimento, através da minha colega de núcleo de estágio que lecionou a sua aula ao início da manhã, de que uma das limitações da sua aula se prendeu com a extensão do tempo destinada à preparação dos percursos por uma das equipas, comprometendo o cumprimento do segundo percurso na sua totalidade e, consequentemente, do plano de aula. Ressalva-se aqui a importância

do acompanhamento próximo das prestações dos restantes elementos do núcleo de estágio, evitando assim a repetição de erros e promovendo significativamente a aprendizagem. (Reflexão Individual, 29ª Aula, 2º Período)

Assim concluo que a observação assumiu um papel preponderante na minha formação como profissional docente, assumindo ainda que foi uma das tarefas que mais prazer tive em realizar, por verificar o seu contributo efetivo na minha aprendizagem. De facto, a possibilidade de analisar e discutir a minha atuação com outros profissionais e contribuir para a análise e discussão da atuação de outros, fomentou em mim o desafio constante de me superar de aula para aula, o que se refletiu na crescente melhoria na minha atuação.