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A (Im)previsibilidade no Ensino

4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.1. O Processo de Ensino Aprendizagem

4.1.1. Um modelo de planeamento, três valências

4.1.1.1. A (Im)previsibilidade no Ensino

A docência é uma profissão repleta de imprevistos. O maior causador de imprevistos ao longo do meu Estágio Profissional foi a meteorologia, daí o seu destaque neste ponto.

A imprevisibilidade funciona como uma sombra da docência. Por entre planos, análises e definições, surge a necessidade de, constantemente, serem tomadas decisões no momento (decisões interativas), para as quais estamos ou não preparados.

A formação assume um papel de destaque na tomada de decisão, que incorrerá na seleção de boas ou más alternativas para os problemas que a prática profissional coloca. Naturalmente, a formação não tem a responsabilidade total deste processo, visto que ao seu lado a experiência também assume um grande papel neste tema. É através da experiência que criamos um historial de opções e atuações possíveis consoante os diferentes contextos e exigências.

Pessoalmente, a minha experiência limita-se ao contexto desportivo, não obstante esta forneceu-me, no decurso do ano de Estágio, inúmeras alternativas a problemas imprevistos ou formas de controlar a imprevisibilidade.

No âmbito da conceção e aplicação do planeamento, uma variável bem presente ao longo do ano letivo foi a pluviosidade. Com a distribuição dos

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espaços pelas turmas no roulement de instalações, assumi estes espaços como certos, não considerando que as aulas no exterior seriam inúmeras vezes assombradas pelas condições atmosféricas. Assim, num ano de Outono e Inverno bastante chuvosos, a preparação de alternativas para as aulas foi uma constante. O excerto da 4ª Semana do meu Diário de Bordo, correspondente à 2ª Semana de aulas, indica a primeira preocupação com este fator, onde refiro:

Esta semana foi desde o início assombrada pela possibilidade da chuva, o que incrementou a expectativa e os receios por não sabermos se poderíamos ou não lecionar a aula no exterior conforme o planeado. Após as minhas colegas passarem impunes, a chuva apareceu à hora da minha aula, conforme o referido na reflexão da aula. É de frisar que este é um aspeto com o qual nos confrontamos pela primeira

vez e que, efetivamente, se traduz numa situação desagradável, uma vez que o planeado não pode ser implementado e o problema tem de ser resolvido na hora.

Não obstante, a capacidade de improviso é uma qualidade complementar de um

bom professor e acredito que a experiência trará mais capacidade de tomar decisões e encontrar solução para os problemas que surgem, reduzindo, assim, a

preocupação e a expectativa características de um professor inexperiente.

Ficou desde cedo patente que esta seria uma capacidade bastante requerida neste ano de indução à prática profissional, pelas exigências demandadas pelas condições em que ocorreu.

Numa fase ainda muito inicial da minha confrontação com o contexto real de ensino, onde lutava por me assumir e ser aceite como professora da turma, considerar que todas as preparações das aulas poderiam ir literalmente “por água abaixo”, foi um grande desafio emocional. Neste sentido, algumas aulas constituíram-se como grandes desafios, como é exemplo disso a 3ª aula que lecionei. No excerto retirado da minha Reflexão Individual dessa aula assim o comprova:

A aula nº3 teria tudo para correr bem, não fossem as condições meteorológicas me terem forçado a alterar os planos. Seguindo o plano de rotatividade das instalações definido pelo grupo de Educação Física, as minhas aulas de quarta-feira são dadas no exterior, mais especificamente no campo de futebol. Neste seguimento, planeei realizar os testes da Bateria de Testes Fitnessgram que restavam, exceto o teste do vaivém, bem como a avaliação diagnóstica de basquetebol. Porém, na hora de início da aula começou a chover. Aqui, os planos tiveram de ser alterados e o improviso,

capacidade essencial na profissão docente, tomou lugar. Com a ajuda da

Professora Cooperante, encaminhei os alunos para um coberto de acesso ao pavilhão, local onde realizei um aquecimento improvisado. A partir daí a chuva abrandou e consegui fazer os testes da bateria a que me propus, contudo mantive os alunos que não estavam em atividade no coberto, tentando ao máximo evitar constipações e afins. Naturalmente, o nervoso miudinho pré-aula, típico do professor iniciante, foi

inflacionado com todos estes percalços e o tornado de possíveis soluções que me surgiram na mente provavelmente contribuíram ainda para complicar mais a questão. Neste sentido, o facto de saber que a Professora Cooperante está a observar

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vez que é complicado decidir quando sabemos que essa decisão será julgada. Não obstante, o inevitável aconteceu e tive de pedinchar ao Professor que estava no pavilhão um bocadinho do seu espaço, que ele me cedeu muito amavelmente dois terços do mesmo, cingindo-se a um terço para si próprio. Neste espaço tive de improvisar uma nova situação de avaliação diagnóstica onde fosse possível avaliar os elementos previstos (…). Para a próxima aula, espero no mínimo ter possibilidades de aplicar o plano previsto, para depois poder focar a minha atenção nas dificuldades e exigências que a aplicação nada simples de um plano de aula acarreta.

Relendo estes excertos, perceciono o quão insegura ingressei neste Estágio Profissional. Encaro agora com bom humor este meu patente receio em comunicar com os restantes colegas de grupo, dada a naturalidade com que lidei com estas e outras questões de relacionamento numa fase posterior.

Apesar da preparação para o contorno destes (im)previstos, a esperança recaiu sempre sobre a possibilidade de lecionar as aulas no espaço previsto, no sentido de facilitar o cumprimento dos objetivos propostos para estas. Assim, quando tudo fazia prever que a chuva iria regar a aula e isso não acontecia, a sensação era bastante agradável, como bem espelha o Diário de Bordo da 7ª Semana do estágio:

Considerando que a semana tinha sido até então regada por uma pluviosidade constante, as expectativas recaíam para a possibilidade de alterar o espaço da aula. Não obstante, à hora da aula a chuva cessou e a minha turma foi a única com

oportunidade de realizar a aula no exterior, tal como estava contemplado no

planeamento inicial. Este fator torna-se fundamental no cumprimento dos objetivos

propostos, uma vez que a turma é constituída por um elevado número de alunos que

precisam de espaço suficiente para realizar as situações de aprendizagem com qualidade, promovendo a aprendizagem e apreensão dos conteúdos abordados.

Contudo, ficaram algumas sensações menos positivas relacionadas com a tentativa de previsão de soluções para todos os acontecimentos. Neste âmbito, ainda sobre esta aula, referi que:

As dúvidas relacionadas com as condições atmosféricas são uma constante nas aulas do exterior. Neste sentido, tudo indicava para que a chuva se mantivesse até quarta- feira ao meio dia, o que não se verificou. Este fator acaba por limitar os

pensamentos e preparativos para a aula, uma vez que exige que sejam previstas várias hipóteses de planeamento: aula no exterior, aula no interior e ainda a

possibilidade de iniciar a aula no exterior e passar para o interior ou vice-versa. Este

planeamento múltiplo surge com a intencionalidade de preparação para (im)previstos que só podem ser constatados no momento da lição. No entanto, estas numerosas opções levam a que nenhum dos planos seja preparado a cem por cento, visto que o objetivo deixa de ser esse, para passar a ser a tentativa de

albergar inúmeras opções na manga. Esta preparação visa a manutenção da qualidade da aula independentemente destas condicionantes e, se possível, a exercitação dos mesmos conteúdos, visando a evolução dos discentes nas matérias delineadas para a sessão. (Reflexão Individual, 7ª Aula, 1º Período)

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Não obstante estes constrangimentos, assumo que não terminei a época chuvosa com um guião de procedimentos a seguir nestas circunstâncias, contudo a repetência de contextos levou à aquisição de algumas estratégias passíveis de serem aplicadas em aulas distintas. Além disto, afirmo que consegui encarar o espaço disponível neste estabelecimento de ensino de maneira diferente, atribuindo diferentes relevâncias a cada um dos espaços, alargando, assim, as possibilidades de contorno de imprevistos relacionados com as condições meteorológicas e o espaço.