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Professor Reflexivo: Consolidando Aprendizagens

4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.3. Professor Reflexivo: Consolidando Aprendizagens

“Nenhum ser humano se pode eximir à atividade de pensar. Pensar é algo que acontece naturalmente e de pouco vale tentar ensinar a outro como fazê-lo exatamente. Apenas nos é facultada a possibilidade de descrever, nos seus aspetos gerais, as várias maneiras pelas quais pensamos e avaliar a eficiência que resulta da adoção de uma ou outra forma de pensamento. A decisão é um ato de vontade individual. Isto é, cada um, na posse consciente da diversidade e validade dos processos mentais a que chamamos pensamento, segue deliberadamente a via que supõe conduzir aos melhores resultados.”

(Alarcão, 1996, p.45)

Está patente na nossa formação inicial que a prática reflexiva é um aliado do professor que busca um ensino competente.

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O ensino reflexivo reporta uma preocupação constante com objetivos e consequências, combinando a capacidade de questionar e revalidar as situações decorrentes da prática. Ao problematizarmos a prática esta desencadeará, em nós, uma ação profunda e reflexiva de procura de soluções para os problemas surgidos (Albuquerque et al., 2005). Para Alarcão (1996, p. 175) “(…) ser-se reflexivo é ter a capacidade de utilizar o pensamento como atribuidor de sentido.”

Dentro deste quadro conceptual, o termo reflexão surge associado ao pensamento, meditação e introspeção, ou seja, algo que nos move mentalmente e que é consequente das nossas ações. Na verdade, ser reflexivo acarreta uma capacidade da compreensão humana, isto é, da atuação enquanto seres pertencentes a uma sociedade regrada por normas e valores específicos.Porém, quando referimos este conceito associado à educação não podemos considerar as suas características espontâneas e incoerentes, pretendemos sim que esta forma de “pensar ou premeditar” seja lógica e específica. Neste sentido, “a ação reflexiva é uma ação que implica uma consideração ativa, persistente e cuidadosa daquilo em que se acredita ou que se pratica, à luz dos motivos que o justificam e das sequências a que conduz… não é, portanto, nenhum conjunto de técnicas que possamos empacotar e ensinar aos professores” (Zeichener, citado por Albuquerque, Graça, & Januário, 2005, p. 18).

Todos temos capacidade de pensar, no entanto, para refletirmos temos de nos apoiar não só no nosso pensamento automático e cognitivo mas também nas nossas vivências e crenças pessoais, considerando que “o pensamento reflexivo é uma capacidade e, como tal, não desabrocha espontaneamente, mas pode desenvolver-se. Para isso, tem de ser cultivado e requer condições favoráveis para o seu desabrochar” (Alarcão, 1996, p.181) .

A reflexão, entendida como um ato de pensar, é fundamental na consecução das nossas ações, na resolução de problemas, na formulação de hipóteses e na concretização de novas soluções, aspetos estes fundamentais no decorrer da prática docente.

Nas suas obras, Schön (1983) aponta diferentes tipos/momentos de reflexão fazendo a distinção entre eles. A reflexão na ação (reflection-in-action), quando refletimos no decorrer da própria ação, sem a interrompermos e

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reformulamos o que estamos a fazer e a reflexão sobre a ação (reflection-on- action), quando realizamos uma construção mental da ação para tentar analisá- la retrospetivamente. Os momentos reflexivos anteriores têm uma forte ligação, devendo ser aliados a um terceiro momento, para que todo o processo se torne verdadeiramente significativo. A reflexão sobre a reflexão na ação (reflection on reflection-in-action), que é aquela que mais impacto tem na nossa formação profissional, ajuda a determinar as nossas ações futuras e a solucionar e a compreender os problemas, materializando-se no Relatório de Estágio Profissional.

Assim, pode-se afirmar que a reflexão é um ponto de partida importante no desenvolvimento do professor enquanto profissional (Alarcão, 1996). Segundo a mesma autora, ser professor pressupõe um conjunto de conhecimentos aliados à capacidade de superar problemas face ao trabalho e à relação com os alunos e muito embora o solucionamento de um problema não seja transferível diretamente para novas situações este é capaz de desenvolver nos mesmos um saber profissional mais espontâneo, fruto das sucessivas reflexões/ações (Alarcão, 1996, pp. 156-157). Já Oliveira e Serrazina (2002) referem a importância da reflexão, acreditando que a mesma contribui para a clarificação de conceitos, proporcionando um modelo de ensino fundamentado, o que contrapõe, assim, as perspetivas tecnicistas da prática profissional.

Neste enquadramento, considero que a reflexão foi uma ferramenta essencial para a compreensão e melhoria do processo de ensino que proporcionei aos meus alunos, permitindo-me atribuir-lhe significado pelo ajuste do processo de ensino-aprendizagem consoante as atuações vivenciadas. Gradualmente, concluí que o espírito crítico e reflexivo que instigaram em mim ao longo da minha formação, contribuiu para o meu entendimento do que é ser professor, fazendo-se notar no enriquecimento progressivo das minhas reflexões. Com feito, pouco a pouco, passei a atribuir-lhes fundamento e utilidade.

Se inicialmente refletir era aceite como uma tarefa a cumprir, rapidamente dei razão aos teóricos e aceitei este processo como um modo efetivo de aprendizagem, que me conduziu progressivamente à competência

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pedagógica que procurei neste ano de estágio, constatado através dos resultados visíveis nos meus alunos em várias frentes.

De uma conotação negativa o processo reflexivo passou a assumir-se como um aliado na construção da minha identidade profissional.

“Mas o conceito de professor reflexivo não se esgota no imediato da sua ação docente. Ser professor implica saber quem sou, as razões pelas quais faço o que faço e consciencializar-me do lugar que ocupo na sociedade. Numa perspetiva de promoção do estatuto da profissão docente, os professores têm de ser agentes ativos do seu próprio desenvolvimento e do funcionamento das escolas como organização ao serviço do grande projeto social que é a formação dos educandos.”

(Alarcão, 1996, p. 177)

5. PARTICIPAÇÃO NA ESCOLA E RELAÇÕES COM