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Aprender a Ser Professor

O conceito de bom professor é, sem dúvida, um conceito bastante mutável. Mutável no sentido em que ao longo do tempo tem assumido diferentes significados e contornos. A este conceito surgem também associados, os conceitos de profissão e de bom profissional, que, também eles, têm sofrido alterações concetuais.

A (in)formação tem, efetivamente, a capacidade de mudar as nossas crenças e opiniões, alterar ideias e formas de pensar e, no que concerne a este tema, não é diferente. Neste âmbito, assumo que a minha perspetiva em relação ao que é um bom professor, ou o que faz de um docente um bom profissional, alterou-se ao longo dos tempos e continuará certamente a modificar-se.

Quando frequentava o ensino básico, a perceção do que era um profissional docente com qualidade baseava-se na ideologia de que quão mais divertidas eram as aulas, melhor era o professor. Esta era uma convicção prematura e, naturalmente, infantil, sem quaisquer bases de sustentação, firmando-se exclusivamente no meu grau de satisfação nas aulas. Mais tarde,

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no secundário, valorizei características como o empenho e aplicação na transmissão dos conteúdos, bem como a dedicação do professor à evolução dos alunos. Não obstante, refiro que não tinha qualquer perceção de qualidade, ou não, no que respeita às técnicas utilizadas no processo ensino- aprendizagem.

Com a entrada na licenciatura novos aspetos entraram em jogo e passei a apreciar e a admirar os docentes que demonstravam elevados níveis de conhecimento geral e domínio específico da matéria que lecionavam. Considerei alguns professores indivíduos inacreditavelmente cultos, eloquentes e verdadeiros formadores. Admirei-me muitas vezes com a notória vocação de alguns para a lecionação e a enorme capacidade de captar os alunos para a aquisição e aprofundamento de conhecimentos.

Neste seguimento, considero que a maturidade, a experiência, a formação e a constante atualização e a aquisição de conhecimentos assumem o papel fundamental na evolução das nossas opiniões e convicções, muitas vezes alterando-as ao extremo.

Ser professor nunca foi fácil, pelo simples facto de se trabalhar com seres humanos como matéria-prima. Neste sentido, exige-se a estes agentes educativos, uma preparação profissional de qualidade e capacidade de serem autónomos para enfrentarem a grande diversidade de problemas e desafios inerentes à profissão. Grande parte destes problemas surge no confronto com a prática, no dia-a-dia na escola, na vivência com os alunos, pais, outros professores, funcionários e com a comunidade escolar. Subentende-se desde logo que a aprendizagem não é feita única e exclusivamente nas faculdades, mas que passa substancialmente pela prática, no contacto com a profissão.

Hodiernamente acredito que um bom professor se define pelas cinco disposições enumeradas por Nóvoa (2009), sendo elas: i) o conhecimento, o docente deve dominar o conhecimento específico da matéria que leciona, sendo esta a característica base da profissão docente, uma vez que sem este domínio nenhuma das próximas características faz qualquer sentido; ii) a cultura profissional, que surge com a interação entre docentes, trocas de conhecimentos, na aprendizagem com profissionais mais experientes; iii) o tato pedagógico, capacidade que o professor tem de se relacionar, sensibilidade para conseguir dos alunos o que pretende; e iv) o trabalho em equipa,

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participação em projetos educativos e interação na comunidade escolar e o compromisso social. Este é um compromisso que todos os professores devem assumir, por terem a capacidade de intervir na formação dos seus alunos, incutindo-lhes valores, lidando com a diversidade cultural, atuando considerando as suas características individuais. Neste seguimento, deve ter a capacidade de ajustar o ensino de modo a retirar o melhor de cada um, de cada personalidade, de cada pessoalidade, contornando a conceção antiga de que todos os alunos devem ser tratados de igual forma, optando por um tratamento diferenciado para que todos tenham oportunidade de atingir as mesmas metas.

Neste contexto, parece claro o que considero ser um bom profissional docente, a questão é entender como se atinge esse estatuto. A docência é uma profissão inseparável da pessoalidade do docente. Todos os valores, conceções, ideais, experiências, têm influência na construção do agente educativo. Daí que se aceite que o professor se forma ao longo do tempo, e que este processo começa antes da formação inicial através de um conjunto de crenças e pré-conceções. Isto é, toda a bagagem que um estudante da área da docência carrega mesmo antes de iniciar a sua formação, construída pelas suas vivências anteriores, terá influência na sua personalidade e, consequentemente, na sua atuação profissional.

O processo de formação iniciado na licenciatura é então responsável por formar o futuro agente educativo de conhecimentos específicos da sua área de lecionação e, assim, preencher a suas conceções prévias de fundamentos teóricos e práticos. No que concerne ao mestrado em ensino, este está estruturado em dois anos de natureza muito distinta. No primeiro ano, são abordados e desenvolvidos conteúdos de cariz didático e pedagógico e, no segundo, decorre o estágio profissional. Este traduz o primeiro contacto que o jovem professor tem com a profissão que escolheu, revelando-se um período repleto de novas experiências, positivas e negativas, de encantos e desencantos. É uma fase que, se bem aproveitada, representa a grande oportunidade do estudante abandonar o papel de aluno e passar a assumir o de professor, incorporando um conjunto diversificado de aprendizagens e experiências. Contudo, como refere Queirós (2014, p. 70) “(…) a aprendizagem da docência não se inicia com o ingresso na profissão, é um processo

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construído ao longo da vida, desde a escolarização inicial, momento em que se constituem crenças e conceções que serão submetidas à reflexão e questionamento nos cursos de formação inicial”. Importa referir que este processo é facilitado pelo acompanhamento constante de professores experientes, pelo que o estagiário deve procurar tirar o máximo partido deste contacto.

Em suma, são muitos os fatores que contribuem para a construção do indivíduo como professor, mas o que realmente importa é como estas características se manifestam na atuação profissional do docente. Todo o profissional gosta de ser bom no que faz, contudo esses objetivos nem sempre são atingidos. Para isso o docente deve procurar o aprimoramento constante das suas capacidades e, mais importante, querer ser competente e demonstrar essa vontade no seu quotidiano. Na verdade, esta conclusão vem de encontro ao advogado por Graça (2014, p. 44), quando nos diz que “cada profissional é chamado a empenhar-se na construção da sua própria identidade profissional, e isso é sempre fundamental, mas, por outro lado, nunca suficiente, na medida em que a construção da identidade se revela como um processo equacionado a diversos níveis da complexa trama da estrutura social em que se enreda a capacidade de agência de cada sujeito”.