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O aprendizado para a vida e para a arte: controle, intuição e calma

Voltamos, então, à relação levantada pelo Contra-mestre Topete entre a ancestralidade e o aprendizado para a vida. A roda de capoeira, como muitos mestres dizem, é a (representação da) “roda da vida”, lugar e momento em que as pessoas vivem e revivem instantes; transformam e são transformados pela alta quantidade de estímulos (visuais, sonoros, táteis, olfativos, espirituais); se religam aos seus antepassados; soltam suas ex-pressões com movimentos, olhares, gritos, toques e cantos, até então, aprisionados em seus corpos; conversam com outras pessoas através de outras linguagens, produzindo diferentes formas de comunicação; aprendem, ensinam e se relacionam:

Eu acho que na capoeira a gente aprende a se relacionar com as pessoas. A roda nos mostra um monte de coisas. Nos mostra a falsidade, a maldade, a gentileza, a bondade... e a gente vê isso de uma maneira crua. O que a gente tem no relacionamento do dia-a-dia que, muitas vezes, é camuflado. É toda aquela coisa, na hora da roda, o camuflado existe, mas ele vai se desvelar numa queda, ele vai se desvelar numa chapa no meio da sua cara. Então aquilo se revela. A pessoa está sendo falsa com você, mas num determinado momento ela vai e "pum", te dá o bote. Isso te dá, para a vida, uma habilidade de perceber as coisas, de sacar, de ter essa sagacidade, de às vezes você está num ponto de ônibus, ou você está num ambiente qualquer e perceber a maldade, perceber a armadilha antes dela ser aplicada, porque a roda te permite, te favorece vivenciar isso de uma maneira muito crua. Então, a nível de relacionamento, isso é muito interessante, porque você aprende a lidar com isso, você aprende a estar esperto, a se precaver, a não andar vacilando. E isso é um tipo de inteligência que a capoeira te dá. (Professor Leonardo. Entrevista, 2013)

Imagem 49: Jogo entre Professor Leonardo (de branco) e Mestre Moreno na roda de encerramento do III Encontro das Culturas da ECAR. Essa roda foi realizada em "Cachoeira de Emas", na cidade de Pirassununga, onde há outro núcleo da Escola, coordenado pelo Da Silva, que aparece na foto tocando pandeiro, de boina. Acervo ECAR. Novembro de 2012.

Essa crueza a qual Professor Leonardo se refere é sentida “na pele”, como podemos imaginar com essa fotografia acima. Em uma “chapa” bem aplicada como a de Mestre Moreno, se Leonardo não estivesse preparado, se estivesse “vacilando”, a fotografia poderia ser diferente (com a chapa atingindo seu rosto, por exemplo). Porém, houve a esquiva de corpo, além da proteção com as mãos. Esse preparo e atenção que adquirimos com o treinamento da capoeira é também transposto para fora da roda, para a “roda da vida”, nos preparando para surpresas, nos tornando mais “sagazes”.

Odair nos contou sobre um episódio que aconteceu com ele em uma noite de sexta-feira após a Roda do Gueto, que se estendeu para um samba de roda e conversas até mais tarde:

Eu estava em um ponto na [avenida] Senador Saraiva. Tinha dois elementos conversando. Eu estava sozinho ali. Aí chegou uma mulher que vinha vindo, sentou do meu lado. E essas duas pessoas que estavam num ponto próximo, eu olhei a hora que eu cheguei e, na hora que eu sentei no ponto, o cara saiu de lá e sentou do meu lado. Mas uma coisa bem rápida, assim. Ele sentou do meu lado, a mulher veio de lá, sentou, era mais de meia-noite e eu esperava o ônibus de meia-noite e meia, era o último ônibus já pra ir pra casa. E a gente tinha tomado uma cerveja, tinha feito samba-de-roda, tudo na capoeira. (…) Ele perguntou onde eu moro. Eu moro no Jardim Florence. (…) Aí o cara sentou e a hora que ele falou que é um assalto, não deu tempo, a hora que eu vi, ele pegou um punhal e fez assim ó, meteu o punhal aqui no meu peito. E eu no reflexo, que eu tava conversando com ele mas já estava aqui olhando a movimentação dele, eu já tava focando ele aqui do lado, conversando aqui... Porque a gente tem esse costume

assim de sentar, você está aqui na frente, você tem essa visão aqui e aqui né [laterais], você não precisa olhar, mas você acaba focando. E era tarde da noite. Do jeito que ele bateu o punhal eu segurei a mão dele e, na hora que eu segurei, eu segurei com bastante força, porque eu segurei para ele não enterrar o punhal no meu peito, eu olhei assim e falei "pô, falta pouquinho pro cara me matar". [Era] um punhal mesmo, grandão. Aí eu [pensei]: "o cara não tem mais força do que eu". Eu sei que eu consegui, sentado, eu consegui levantar ele assim e jogar ele com o punhal longe. Eu não sei até hoje como que eu consegui fazer, mas aí o cara saiu correndo, a mulher que tava do lado saiu gritando: "morreu, matou, o cara deu uma facada no rapaz ali..." a mulher saiu correndo e ela está para contar a história. Ela vende churrasquinho no Terminal [Central] e aí ela me vê e fala: "esse rapaz nasceu de novo" eu falei: "eu não, é que não era a minha hora mesmo, não era a minha hora não, porque quando chegar a minha hora, eu vou mesmo". (Entrevista, 2013)

Imagem 50: Odair mostrando como segurou o punhal do agressor em seu peito. Imagem retirada do vídeo gravado durante a sua entrevista. 2013.

Nesse depoimento de Odair, constatamos novamente a sagacidade, a atenção, e o preparo (físico e psicológico) que a capoeira proporcionou para ele ter a calma, a coragem e a força para impedir uma agressão que poderia ser fatal. Não queremos dizer que foi somente pela capoeira que ele “escapou” desse ataque, porque uma reação dessas envolve muitos outros aspectos e pode variar de pessoa para pessoa. Talvez um outro capoeirista não tivesse essas atitudes, ou talvez uma pessoa que não pratica capoeira teria. Entretanto, na capoeira há o preparo para que o/a capoeirista mantenha a calma e o controle nas suas ações, observando o seu entorno com atenção para tentar prever qualquer perigo. Como o Trenel Alex também comentou, a capoeira nos ajuda a perceber as coisas antes de acontecerem:

Eu tenho desenvolvido a intuição. Então eu acho que faz parte da capoeira, no sentido das escolhas. Um pouco eu acho que é da experiência, também, de vida. Você vai melhorando a sua

intuição. Acho que é muito disso também, mas a capoeira te auxilia, porque numa situação de roda você chega, alguma informação você vai tentar tirar daquela pessoa pela primeira vez, às vezes, que você não conhece. Então você vai pelo [sentido] e a gente tem vários sentidos. Você vai ver alguma coisa, vai escutar ela falar, vai sentir. E a intuição, se eu não me engano é o sexto sentido, né? É isso, você olhar para uma pessoa e você acreditar naquela impressão, por exemplo. Ou então não. (Entrevista, 2013)

Intuição (palavra que vem do latim latim “intuire”, que significa "ver por dentro") para Kant (1999), é a primeira fonte de conhecimento do sujeito, ou seja, é a sensibilidade primeira e direta que um objeto externo afeta nosso interior, antes de qualquer representação mental (racionalizada) do objeto. Essas sensações, recebidas pela intuição, são organizadas no espaço e no tempo interno do sujeito e, reunindo conceitos básicos (ou categorias, para o autor) se dará o entendimento, o discurso sobre o objeto.

Com a fala do Trenel Alex, podemos pensar que a intuição seria essa faculdade de perceber e se guiar pelas primeiras intenções que se tem de uma pessoa ou situação, percebendo sinais e prevendo atitudes, como foi também levantado pelo Leonardo como “uma habilidade de perceber as coisas” e pelo Odair ao dizer que “já estava aqui olhando a movimentação dele”.

Para Jung (2003), a intuição está no âmbito dos pressentimentos, a habilidade de perceber possibilidades utilizando a experiência passada, as informações relevantes à experiência imediata, os processos inconscientes e os objetivos futuros. Ou seja, a dimensão intuitiva está sempre presente nas ações humanas. Entretanto, devido à atualidade exigir cada vez mais um conhecimento racional e tecnicista, a intuição acaba por ser deixada de lado pela racionalidade científica, que trabalha com o que se pode comprovar e tem dificuldades em aceitar algo que se sente sem explicar.

Segundo o autor, “a intuição é a função pela qual se antevê o que se passa pelas esquinas, coisa que habitualmente não é possível... É uma função que normalmente fica inativa se vivemos trancados entre quatro paredes, numa vidinha de rotina” (Ibid., p.10). Alex Manetta, relacionando a intuição com o instinto, também fez essa crítica muito parecida à de Jung: “eu acho que a capoeira desperta os instintos, uns instintos muitas vezes adormecidos por tudo, pela vida que a gente leva, as ideinhas (sic) sistemáticas, o jeito de viver, tudo fica amortecido pelo sistema, pela comida que a gente come. A gente fica alienado” (Entrevista, 2013). Segundo ele, essa alienação vem desde a comida que comemos até a roupa que vestimos, pois não sabemos exatamente a procedência de nenhuma delas.

Eduardo Marinho, artista e filósofo que viveu durante anos sem casa nem emprego, sendo morador das ruas de diversas cidades brasileiras, em uma entrevista, falou sobre a intuição nas pessoas pobres, sem acesso a uma educação de qualidade:

Isso, nas favelas, é desenvolvido. O pobre não tem desenvolvimento racional, ele tem intuitivo. Ele não tem escola. Ele tem um simulacro com o nome de “escola”, mas é só o nome, é só fachada, não tem ensino. O cara termina o ensino médio e não consegue ler um texto. Então, o bloqueio da racionalidade faz ele desenvolver a intuição. Só que ele não sabe disso. Você chega na favela que você não é conhecido, é muito mais comum a pessoa ficar te olhando de longe e depois se aproximar, do que vir te perguntar alguma coisa. O que faz a pergunta é a razão. A intuição, o cara está sentindo você, sem perguntar nada. Ele está só olhando você, sentindo a sua vibração. Isso é intuição. Se a população tivesse consciência desse poder, o mundo mudaria. (MARINHO. Vídeo. 2012)45

A intuição, então, é uma percepção presente na vida de todas as pessoas porém, “adormecida”, “amortecida” (Alex), “bloqueada” (Eduardo) e “inativa” (Jung) pelo ritmo e forma de vida colocada pela razão dominante, que privilegia o entendimento e a comprovação racional em detrimento das outras categorias de percepção e sensação. A percepção intuitiva da “vibração” das pessoas (como indicado por Eduardo), pode ser trabalhada na capoeira angola a partir do treino e convivência na roda de capoeira angola. Voltando à fala do Professor Leonardo, a crueza da roda é o local onde temos que “perceber a armadilha antes dela ser aplicada”, prever o movimento, maldoso ou não, do nosso companheiro de jogo. Acreditar ou não naquela “impressão” que sentimos de algo que vai acontecer para, então, fazermos a escolha, tomarmos a decisão do ataque, do contra-ataque ou da defesa.

A capoeira é um conhecimento corporal, uma consciência corporal. É como um exercício do Yoga. Não trabalha só o corpo físico, mas trabalha os corpos sutis, então você vai desenvolvendo, porque é um dom que a gente tem que tá ligado à intuição. Tem uma parte do corpo, que é o cérebro, e tem também as glândulas, tem a pineal... e aí o ser humano tem essa capacidade de sentir além do que os sentidos mais "brutos" assim vamos dizer. (Trenel Alex Manetta. Entrevista, 2013)

Outros aspectos muito trabalhados na capoeira angola são o controle e a calma, que são fundamentais para um jogo em que seu sucesso depende de seu controle sobre as situações que a roda pode lhe proporcionar, que vai da exaltação à humilhação, da alegria à tristeza, como nos falou Mariana: “oscilações entre coisas boas e coisas ruins o tempo todo”. Assim, o bom capoeirista deve sempre manter a calma para controlar suas emoções e saber conduzir o jogo, esperando o momento para um contra-ataque ou uma redefinição do jogo. Como canta Mestre

Bigo46: “Na hora da raiva, na hora da dor, vamos fazer o que o Mestre falou”. Ou seja, em situações em que é fácil perder o controle, o capoeirista deve se lembrar dos ensinamentos de seu Mestre para manter a calma, para ter paciência.

A calma é uma habilidade que o capoeirista deve desenvolver não só para a roda de capoeira, mas também para o próprio aprendizado da capoeira, que pode ser muito lento e gradual, como já comentamos nesse capítulo ao tratar do tempo de aprendizagem. A capoeira angola trabalha, como foi visto, com movimentos corporais que não somos acostumados a desenvolver no dia-a-dia, ou que somos desacostumados a fazer (“podados”, nos termos do Trenel Fernando). Para o reaprendizado, é necessário paciência e persistência no aprendizado da capoeira, como nos conta o aluno Antônio Bueno:

Essa paciência de às vezes aprender um movimento diferente, você fala "poxa, mas esse movimento é muito difícil, já faz dois anos que eu estou tentando fazer”. Mas eu estou ali, persistindo, tentando tocar o berimbau. Não é fácil, é difícil. Só que essa busca traz dentro da gente, vai criando dentro da gente, a expectativa de um futuro diferente, de um futuro melhor. E isso também leva a mais coisas, não só capoeiristicamente falando, mas mais coisas, na nossa vida do dia-a-dia. (Entrevista, 2013)

Para ele, essa busca traz benefícios para a pessoa tanto dentro como fora da capoeira, “na nossa vida do dia-a-dia”, o que conduz, também, para as expectativas futuras. Rodrigo Fujiwara, também aluno da ECAR, comentou sobre a superação das dificuldades na capoeira:

Porque é importante na vida da gente, eu vejo, é ter sucessos e, dentro de um contexto que a gente vivencia aqui na Escola de Capoeira, é permitido ter sucessos. Você vai progredindo. Conforme você tem limitações e os colegas, o Mestre, auxilia, busca estimular para que você vença essas limitações, quando você vence, você tem um sentimento de sucesso. Isso aí também vai se incorporando no nosso espírito. (Rodrigo F. Entrevista, 2013)

Para Rodrigo, a superação dos limites é conseguido a partir do esforço do aluno e também do estímulo do Mestre e demais colegas, que te ajudam a alcançar o “sentimento de sucesso”. Tanto para Antônio como para Rodrigo, esses benefícios da superação são levados para o aprendizado da vida, do dia-a-dia, e até espiritual. Ewerton nos falou sobre como os ensinamentos da capoeira angola contribuem, também, em seu trabalho como professor:

Eu consigo ter uma tranquilidade maior perante uma situação, por exemplo, de confronto com o aluno. Eu consigo conduzir uma situação dessa com mais tranquilidade. Eu posso ficar morrendo de raiva, nervoso, querendo explodir, mas ninguém vê que eu estou nervoso. Nenhum aluno percebe que eu estou nervoso. Várias vezes isso já aconteceu, dos alunos tentarem me testar, ou de me afrontar, e eu manter a mesma linha, a mesma postura, que é algo que a gente 46 Francisco Tomé dos Santos Filho, também conhecido como Francisco 45, nascido em 1946, é discípulo de Mestre Pastinha e padrinho da ECAR. A música citada é cantada por ele em seu CD “Cantigas de capoeira”, lançado em 2008.

aprende aqui. Você pode estar tomando rasteira, tomando chapa, tomando pra tudo quanto é lado, mas você tem que manter a tranquilidade e levar o jogo até o fim. (Ewerton. Entrevista, 2013)

Além da movimentação corporal, outras racionalidades presentes nesse processo educativo da capoeira angola também exigem um esforço grande para seu entendimento, como a questão da temporalidade, da oralidade, da ritualidade e da musicalidade, que nem sempre são presentes nas realidades vividas nas cidades contemporâneas. Assim, a capoeira exige um esforço e um comprometimento que nem todas as pessoas dispõem, como explica Contra-mestre Topete:

Na capoeira angola, de fato, você tem que gostar. Tem que sentir amor por ela e você tem que se sentir bem. Então, não é todo mundo que se identifica com a capoeira angola. Eles gostam de ver, assistir as aulas. Mas praticar, nem todos, porque é um treinamento muito educativo, que exige muito a parte fisiológica do indivíduo, também do processo cognitivo e psicológico, demais. O aluno tem que pensar bastante nos treinos, nas aulas de instrumento, de canto. E acaba sendo difícil pra uma pessoa que tenha uma responsabilidade mas não quer ter compromisso. E fazer, estudar a capoeira angola, é um compromisso. Você tem que ser fiel pra ela, senão você não consegue desenvolver, entender. (Entrevista, 2013)

Segundo o que nos disse Contra-mestre Topete, o compromisso com a capoeira depende da identificação, gosto e esforço do/a praticante, que se deparará com diversas dificuldades e obstáculos no decorrer de seu aprendizado. Assim, o angoleiro que opta por inserir a capoeira angola em sua vida de forma plena, assume as responsabilidades e lealdades que serão exigidas pela comunidade da capoeira e por ele mesmo. “É muita dedicação. Mas eu vejo que a dedicação existe em todos os objetivos que você quer traçar” (Idem). Em compensação, a capoeira angola retribui com esses aprendizados da vida, que terá impacto em todos os aspectos da vida de cada praticante, fazendo-os querer cada vez mais aprender a capoeira, sem a intenção de chegar a um fim porque, como nos lembrou Professor Leonardo: “Mestre João Pequeno também dizia 'capoeira é vida'. Então, se a capoeira é vida, é uma coisa que você tem que estar sempre cultuando, cultivando, se alimentando, buscando. Então, é um conhecimento que não se acaba” (Entrevista, 2013).

O resultado dessa resistência, persistência e paciência no aprendizado para a vida se dá pelo compartilhamento de ideais em comum, da soma de forças e de conhecimentos em busca de engrandecer a própria comunidade de aprendizado e difundir diferentes racionalidades. Assim, em busca da libertação, da amizade e da coletividade proporcionadas pela capoeira angola, os angoleiros se unem em grupos, associações ou escolas para, coletivamente, construir as suas próprias histórias e contribuir para o exercício da cidadania e de uma vida melhor, tendo um

Mestre como força agregadora e orientadora.

Eu sou feliz pelo número de alunos que hoje tenho e também pelo caráter dos meus alunos. Todos eles têm um bom caráter. São cidadãos de bem, são pessoas que estudam, que trabalham, que pensam em ajudar a comunidade, ficar no meio da sociedade. E eu aprendo muito com os meus alunos, também. É um papel assim, invertido. (Contra-mestre Topete. Entrevista, 2013)

Capítulo 3

Organização, atividades e simbologias na Escola de Capoeira Angola

Resistência

Nesse capítulo, direcionaremos nossa abordagem para a Escola de Capoeira Angola Resistência, descrevendo e analisando sua formação e organização, as atividades desenvolvidas, os projetos e os seus núcleos. Iniciaremos o capítulo discorrendo sobre as simbologias utilizadas na ECAR que, baseadas em ideais propostos pelo pan-africanismo, pela liberdade e pela solidariedade entre povos, são fundamentais para compreendermos as atividades e expressões culturais desenvolvidas na Escola. Passaremos, então, à descrição e explicação das atividades desenvolvidas na ECAR, discorrendo sobre as convenções de toques, ritmos e cantos utilizadas nas atividades do grupo e nas apresentações para divulgação externa. No final do capítulo, faremos uma reflexão sobre os usos das novas tecnologias de informação para registro e divulgação da ECAR.

A partir do momento em que conquistou o título de Contra-mestre de capoeira angola, Topete adquiriu maior autonomia e, buscando maior liberdade para desenvolver seu próprio trabalho, pensou em um novo projeto que fosse fruto da sua experiência de vinte e três anos praticando capoeira e mais de quinze anos ministrando aulas, trabalhando com capoeira, viajando para eventos, conhecendo diferentes mestres e metodologias para o ensino da capoeira. Assim, libertando-se de quaisquer amarras institucionais ou hierárquicas que pudessem aprisionar seu trabalho, no dia 09 de setembro de 2009, Contra-mestre Topete fundou a Escola de Capoeira Angola Resistência (ECAR), tendo como sede o salão já ocupado no Terminal Central de Ônibus Urbano de Campinas, sob o Viaduto Vicente Cury, no centro de Campinas-SP.

Nessa mudança, todos os alunos concordaram, apoiaram e continuaram na ECAR, cuja fundação foi muito bem-vinda para ajudarem a constituir essa nova história que, ao mesmo tempo, seria a continuidade do trabalho já desenvolvido pelo grupo, mas agora com um novo nome, uma nova imagem e novas expectativas.