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4.6 Métodos de Ensino Ativos: PBL (Problem Basead Learning) ou Aprendizagem Baseada

4.6.1 A Aprendizagem Baseada em Problemas

A Aprendizagem Baseada em Problemas ou Problem Based Learning (PBL) é divulgada no campo da formação em saúde como uma das estratégias inovadoras em questão de metodologia de ensino superior. Toma por princípio pedagógico, os conceitos de aprendizagem centrada no aluno, do aprender a aprender e da integração dos conteúdos das diferentes áreas de saber (MORAES; MANZINI, 2006).

Teve suas origens nas experiências realizadas na década de 1960 na Universidade de Maastricht, Holanda e com maior impacto na Faculdade de Medicina da Universidade McMaster, Canadá, sob a influência da metodologia do estudo de casos empregada nos anos de 1920, na Escola de Direito de Harvard (BARROS; LOURENÇO, 2006).

A recomendação da utilização do método da aprendizagem por problemas na formação profissional em saúde não é nova, estava presente nas discussões e recomendações dos movimentos internacionais já na década de 1950 que discutiam a necessidade da adoção de novos métodos de ensino. Como já explicitado na segunda seção do presente estudo, o movimento mundial de mudança na formação médica teve forte influência e produziu

consensos, para além de seu campo específico, os quais enfatizavam a reorientação da formação em saúde quanto à organização do currículo, enfatizando o ensino da Medicina Preventiva e a revisão dos aspectos pedagógicos.

O debate da formação em saúde no século passado, realizado em vários eventos e iniciativas, com apoio, principalmente, da OPAS, OMS e Fundação Kellogg, dentre eles os Seminários de Medicina Preventiva, as Conferências Mundiais de Educação Médica e os Programas que incentivavam a Integração Docente-Assistencial (IDA), indicavam que para produzir novas atitudes dos profissionais frente aos problemas de saúde seria necessário adotar novos procedimentos pedagógicos, destacando-se a aprendizagem por problemas.

Nessas primeiras experiências, o currículo escolar enfatizava mais o estudo de problemas apresentados por meio de casos de pacientes do que a leitura e estudo de textos teóricos, tornando-se um exemplo de inovação pedagógica, que se disseminou, via recomendações das entidades ligadas à formação em medicina, as escolas situadas em diferentes países, como: a África, Ásia e América Latina. No Brasil, a partir da década de 1990 várias escolas de formação de profissionais de saúde têm divulgado a Aprendizagem Baseada em Problemas como alternativa pedagógica aos processos de formação escolar, dentre as instituições destaca-se a Faculdade de Medicina de Marília em São Paulo e na Universidade Estadual de Londrina, no Paraná (BERBEL, 1998).

A Aprendizagem Baseada em Problemas tem sido:

[...] considerada uma das mais significativas inovações na educação médica nos últimos anos, surgindo como um movimento de reação aos currículos das escolas médicas sob a forte influência do modelo flexineriano que privilegiava o modelo biomédico e o ensino centrado no hospital. [...] Propõe-se a um trabalho criativo do professor que estará preocupado não só com o “que”, mas, essencialmente, com o “por que” e o “como” o estudante aprende (CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004. p. 783).

Berbel (1998), ao aprofundar o estudo acerca das divergências e convergências da Metodologia da Problematização e da Aprendizagem Baseada em Problemas concluiu que:

A Aprendizagem Baseada em Problemas tem como inspiração os princípios da Escola Ativa, do Método Científico, de um Ensino Integrado e Integrador dos conteúdos, dos ciclos de estudos e das diferentes áreas envolvidas, em que os alunos aprendem a aprender e se preparam para resolver problemas relativos à sua futura profissão (p. 152).

Assim sendo, a Aprendizagem Baseada em Problemas apresenta-se como um método de aprendizagem, centrado no estudante, e não um método de ensino. Para o desenvolvimento da referida proposta, os alunos são divididos em grupos tutoriais, que devem ser compostos de doze a treze estudantes, sob a coordenação de um professor tutor que atua como facilitador. Dentre os alunos que compõem o grupo tutorial, um aluno será o coordenador e outro será o secretário, sendo que em cada sessão/reunião do grupo há o rodízio nas funções, para garantir que todos os integrantes do grupo exerçam as funções de coordenador e de secretário (BERBEL, 1998; MORAES; MANZINI, 2006; GIL, 2007).

A cada grupo tutorial é apresentado um problema pré-elaborado por uma comissão de elaboração de problemas. O problema é lido tendo em vista a identificação de termos desconhecidos e as questões propostas pelo enunciado. Em seguida, o grupo formula hipóteses sobre o problema apresentado, procedendo à elaboração dos objetivos de aprendizagem, ou seja, identifica-se o que o aluno deverá estudar para aprofundar os conhecimentos incompletos formulados nas hipóteses. A próxima etapa realiza-se por meio do estudo individual dos assuntos levantados nos objetivos de aprendizagem e, após, os alunos retornam ao grupo tutorial para discussão do problema considerando os novos conhecimentos adquiridos na fase de estudo anterior (BERBEL, 1998; GIL, 2007).

Há a previsão de uma carga horária para o estudo de cada problema, sendo que o grupo tutorial deverá passar por todas as etapas descritas anteriormente dentro do prazo de 4 períodos (manhã ou tarde) e assim passar para outro problema.

No Brasil, as instituições que se destacam por terem sido as pioneiras na organização do processo formativo tendo como método a Aprendizagem Baseada em Problemas são: a Faculdade de Medicina de Marília (Famema), Faculdade de Medicina da Unesp – Botucatu e curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina. As instituições que adotaram o método sofreram uma reorientação do currículo, o qual deixou de ser disciplinar. Os conteúdos passaram a ser trabalhados nos problemas de modo integrado, pois a solução de determinado problema requer conhecimentos de diferentes áreas do saber, bem como da interação dos estudantes nela envolvidos.

Há uma gama de produções acadêmicas que se dedicam ao relato e descrição das experiências curriculares que utilizam a Aprendizagem Baseada em Problemas na formação de profissionais ligados a saúde15, mas, com relação à análise e reflexão dos limites dos

15 Sobre a concepção pedagógica e as experiências educativas amparadas na Aprendizagem Baseada em Problemas ver: BERBEL (1995, 1998, 2012); BERBEL; GAMBOA (2012); MORAES; MANZINI (2006); CASTRO. et al. (2008); RENDAS; PINTO; GAMBOA (1997); CYRINO; TORALLES-PEREIRA (2004);

fundamentos teóricos/filosóficos da referida proposta pedagógica, a produção é escassa. Ao considerar esse dado, certas ponderações e questionamento podem ser feitos: em que medida a produção acadêmica, ao centrar-se na apresentação das experiências de formação em andamento; de situações pedagógicas respaldadas pelo PBL; da inquestionável positividade e relevância do referido método de aprendizagem no campo da formação em saúde, tem produzido a mitificação e o consenso de que a referida proposta pedagógica seria a novidade e o avanço em relação aos demais métodos de ensino-aprendizagem, ou, têm transformado o debate da formação em saúde em uma questão exclusiva de forma/estratégia de ensino- aprendizagem.