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Capítulo IV- Gestão Curricular e Princípios Inerentes à Prática

4.3. Aprendizagem Cooperativa

O trabalho a pares ou em grupo permite a partilha de saberes e a interajuda entre duas ou mais pessoas. “A aprendizagem cooperativa é uma metodologia com a qual os alunos se ajudam no processo de aprendizagem, actuando como parceiros entre si e com o professor, visando adquirir conhecimentos sobre um dado objecto.” (Lopes & Silva, 2009, p.4).

Estes mesmos autores apresentam quatro perspetivas que elucidam os efeitos gerados pela aprendizagem cooperativa:

 As perspetivas de motivação- mencionam a importância da motivação por parte dos elementos do grupo para com os outros, incentivando-os a se esforçarem para um bem coletivo, uma vez que o sucesso depende do empenho de todos;

 As perspetivas de desenvolvimento cognitivo- assumem que a interação entre os alunos amplifica o seu apoderamento de conceitos;

 As perspetivas de elaboração- referem que o aluno deve refletir e formular juízos acerca do trabalho elaborado por outro elemento, pois assim a aprendizagem é mais facilmente retida;

 As perspetivas de coesão social- advogam que a união do grupo e o desejo de alcançar o sucesso são uma das razões para os efeitos positivos da aprendizagem cooperativa.

Lopes e Silva (2008) referenciam que a cooperação permite aos alunos beneficiarem de ajuda e partilha de materiais e não apenas de companhia física. Assim, para que o grupo trabalhe cooperativamente é imprescindível a presença de cinco elementos fundamentais da aprendizagem cooperativa: a interdependência positiva, a interação estimulante frente a frente, a responsabilidade individual, as atividades interpessoais e de grupo e o processo de avaliação do grupo (Fontes & Freixo, 2004) Figura 5

Componentes essenciais da Aprendizagem Cooperativa, adaptado de Johnson e Johnson (1999)

Interdependência positiva Interacção estimulante frente

a frente

Responsabilidade individual Atividades interpessoais e de

grupo

Fonte: Adaptado de Fontes e Freixo, 2004.

No que concerne à aprendizagem cooperativa no meio envolvente de um grupo de crianças do pré-escolar e do 1.º CEB, esta pode ser limitada por conta das caraterísticas naturais destas idades. Tal como refere Marchão (2012):

A vivência cooperativa, nas salas dos jardins de infância e dos primeiros anos da escola do 1.º Ciclo, pode ficar restringida pela verificação de características inibidoras ligadas à idade das crianças: a existência egocêntrica, o desenvolvimento linguístico limitado, a sociabilidade ainda restrita, a impulsividade, os reduzidos tempos de atenção e a não aquisição ou as reduzidas competências de leitura. (p.76-77)

Ainda assim, a curiosidade notória nestas idades, a carência de deslocação, a capacidade de comunicar e formar grupos e a necessidade de socializarem uns com os outros são componentes que facilitam o trabalho cooperativo.

A aprendizagem cooperativa apresenta vários benefícios para os alunos. Como referem Freitas e Freitas (2002), o trabalho cooperativo melhora as aprendizagens na escola; aumenta a autoestima; desenvolve competências no pensamento crítico; cria um maior número de atitudes positivas para com a escola, colegas e professores; reduz a propensão para faltar à escola; desenvolve competências no âmbito das relações interpessoais e diminui os problemas de disciplina. Desta forma, a aprendizagem cooperativa é vista, cada vez mais, como uma prática que se define como bem-sucedida. Fontes e Freixo (2004) expõem as vantagens do trabalho cooperativo a nível cognitivo pois origina um maior rendimento escolar, desenvolve o pensamento crítico e criativo, permite adquirir e utilizar várias competências e estratégias cognitivas e uma linguagem mais elaborada e correta e a nível de atitude pois permite aumentar a autoestima e o interesse e motivação, desenvolver o apreço pelos outros e a responsabilidade e permite a integração das crianças com mais dificuldades.

Similarmente Díaz- Aguado (2000) salienta a importância e os benefícios da aprendizagem cooperativa, mencionando a sua intervenção no âmbito do rendimento escolar dos alunos, na motivação destes para instruir-se, na sua formação e sentido de responsabilidade, cooperação e tolerância.

Quanto aos grupos de trabalho cooperativo, não existe uma norma no que respeita à sua composição. Johnson e Johnson (1999, citados por Fontes & Freixo, 2004) afirmam que não existe um número de elementos ideal pois esta estrutura irá depender de vários fatores, destacando-se o tipo de atividade a realizar, a idade das crianças e a sua familiaridade com este tipo de trabalho. Ainda assim, estes mesmos autores apontam que o número de elementos por grupo deve estar compreendido entre os dois e os quatro elementos. Já Pujolás (2001, citado por Fontes & Freixo, 2004) afirma que os grupos podem ter até seis elementos para que possa existir uma maior interação. No que respeita à constituição dos grupos Johnson e Johnson (1999, citados por Fontes & Freixo, 2004) garantem que estes devem ser heterogéneos no que concerne à idade, género e capacidades permitindo assim a partilha e aceitação de várias opiniões e perspetivas ao longo de todo o trabalho. Por outro lado, Apollonia et al. (1992) citados por estes mesmos autores referem que a heterogeneidade de um grupo pode levar ao insucesso por parte de alguns elementos pois as crianças com menos capacidades podem não ser tão

participativas, ao longo do trabalho, como as restantes. Como resolução desta problemática Johnson e Johnson (1999, citados por Fontes & Freixo, 2004) ressaltam a vantagem de atribuir papéis específicos a cada elemento do grupo garantindo um papel ativo por parte de todos os elementos.

Para além das próprias crianças, o professor tem igualmente um papel importante no trabalho cooperativo uma vez que necessita preparar e definir os objetivos esperados para o trabalho, suscitar o interesse nas crianças e promover a integração nos grupos de trabalho, orientar e monitorizar todo o trabalho e explicar de forma clara e sucinta tudo o que é pretendido para o trabalho (Fontes & Freixo, 2004).

Conclui-se que a aprendizagem cooperativa é benéfica para as crianças pois possibilita que estas, através da cooperação e da interajuda, tenham possibilidade de atingir o sucesso escolar. Para além disso, desenvolve na criança várias atitudes e competências devido à interação com os outros elementos do grupo.