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Capítulo IV- Gestão Curricular e Princípios Inerentes à Prática

4.4. Diferenciação Pedagógica

4.4.1. Inclusão: Direito para uns, dever de outros

4.4.1.1. Necessidades Educativas Especiais

(…) cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprias. (Declaração de Salamanca, 1994, p.viii)

As NEE é uma terminologia geral a quase todos os países desenvolvidos. Este conceito começou a ser empregue no final dos anos 70 e revelou-se uma conjuntura determinante no modo como as crianças ditas diferentes eram vistas. Para além disso, o uso deste conceito despontou uma mudança na perspetivação da educação especial e da educação regular possibilitando uma conceção menos estigmatizante em relação às problemáticas das crianças. Deste modo, as NEE passaram a referir-se não só às crianças com NEE como também a todas as outras que, por algum motivo, demonstram dificuldades de aprendizagem (Madureira & Leite, 2003).

Mas o que são NEE? De acordo com Brennan (1988, citado por Correia, 1999): Há uma necessidade educativa especial quando um problema (físico, sensorial, intelectual, emocional, social ou qualquer combinação destas problemáticas) afecta a aprendizagem ao ponto de serem necessários acessos especiais ao currículo, ao currículo especial ou modificado, ou a condições de aprendizagem especialmente adaptadas para que o aluno possa receber uma educação apropriada. Tal necessidade educativa pode classificar-se de ligeira a severa e pode ser permanente ou manifestar-se durante uma fase do desenvolvimento do aluno. (p.48)

Correia (1999) salienta a opinião de Brennan (1988) referindo que as NEE dizem respeito às crianças que apresentam problemas físicos, sensoriais, intelectuais, emocionais e dificuldades de aprendizagem como podemos verificar na Figura 8 referente às problemáticas associadas às NEE.

Figura 8

Problemáticas associadas às NEE

Fonte: Adaptado de Correia, 1999.

Necessidades Educativas Especiais (NEE)

Físicas Sensoriais Dificuldades de

aprendizagem

Como referido anteriormente, entende-se que as NEE podem ser consideradas permanentes ou temporárias. Assim, importa referenciar quais as diferenças entre estes dois tipos de NEE. Como alude Correia (1999) NEE permanentes são aquelas que impõem um ajuste global do currículo de acordo com as necessidades de cada criança, sendo que este ajuste poderá permanecer durante um longo período de tempo ou até mesmo até o fim do percurso escolar. Destas fazem parte categorias como o autismo, problemas de caráter intelectual como a deficiência mental e a sobredotação, problemas de caráter sensorial, perturbações emocionais, problemas de caráter motor, traumatismos cranianos, dificuldades de aprendizagem e outros problemas de saúde. No que refere às NEE temporárias estas requerem uma transformação parcial do currículo adaptando-o às necessidades da criança ao longo de um determinado período escolar e delas fazem parte os problemas ligeiros de desenvolvimento motor, socioemocional, percetivo e linguístico e as dificuldades de aprendizagem da escrita, da leitura e do cálculo. Estas NEE tanto permanentes como temporárias podem levar ao insucesso escolar pois, em grande parte dos casos, interferem no nível de aprendizagem das crianças.

Não podemos esquecer que, à parte de todas estas problemáticas, existe um conjunto de crianças que, embora não sejam encaminhadas para os servições de ensino especial, podem de igual modo estar incluídos no grupo de crianças com NEE por serem consideradas crianças em risco educacional. Este grupo de crianças deve igualmente possuir uma elevada atenção por parte do docente de ensino regular uma vez que podem experimentar insucesso escolar devido a problemas externos como as drogas, os abusos, as negligências, o álcool, a gravides na adolescência e carência socioeconómica e emocional (Correia, 2013).

Para uma adequação do currículo em conformidade com as necessidades de cada criança, é primeiramente necessário que estes casos sejam identificados e avaliados. Assim, o professor possui uma incontestável importância e responsabilidade na avaliação das crianças com NEE. Correia (1993) mencionado por Correia (1999) considera um modelo composto por três níveis de atendimento à criança com NEE. Segundo este mesmo autor, e tal como é possível observar na Figura 9, todo o processo deve iniciar-se por uma avaliação preliminar correspondente à identificação das crianças que se encontram em risco ou que apresentam NEE (nível I), posteriormente deve ser realizada uma avaliação compreensiva correspondente à “determinação das áreas fortes e fracas da criança” (p.74) e à preparação do PEI (nível II) e por último deve-se passar para a

intervenção propriamente dita em que deve ser efetivado o Programa de Intervenção Individualizado (PII) e uma reavaliação da criança (nível III).

Figura 9

Modelo de atendimento para a criança com NEE

Fonte: Adaptado de Correia, 1999.

Madureira e Leite (2003) salientam ainda a importância de desenvolver um processo de avaliação que permita definir as dificuldades das crianças, determinar qual o melhor modo de interceder e reavaliar todo o processo para averiguação da eficácia do mesmo, por parte do professor. Este tipo de avaliação tem como principais objetivos, identificar as caraterísticas das crianças na área educativa, social, cognitiva e emocional; determinar aquilo que a criança consegue ou não realizar; instituir um método de ensino adequado à criança e apurar a viabilidade dos métodos utilizados.

Sucintamente, é fundamental realizar uma breve referência à Declaração de Salamanca (1994), que enfatiza a Política, os Princípios e as Práticas no âmbito das NEE. Este documento pretende um reconhecimento da importância em conseguir uma escola inclusiva onde as crianças com NEE possam ter apoio e um currículo adaptado às suas necessidades sem que estejam, efetivamente, separadas das restantes crianças. Assim, esta declaração incide as suas premissas na garantia de uma oportunidade igualitária para todas as crianças (com e sem NEE) no que respeita ao seu acesso ao sistema de ensino regular, no envolvimento dos governos, sociedades, famílias, escolas e comunidades na formação de uma escola inclusiva, na declaração dos direitos de todas as crianças em ter uma educação de qualidade e um percurso educativo de sucesso e na importância da centralização da pedagogia nas crianças e nas suas necessidades.

(Avaliação preliminar: Identificação da criança em risco ou com NEE: considerar

adaptações curriculares e mudanças ambientais)

(Avaliação compreensiva: determinação das áreas fortes e fraças da criança: elaboração do plano educativo individualizado)

(Elaboração do Programa de Intervenção individualizado; Reavaliação do aluno) Nível III Nível II Avaliação Intervenção Nível I Identificação

Em suma, podemos afirmar que apesar das diferenças existentes entre cada criança, todas têm o direito a uma educação de qualidade que permita alcançar o sucesso educativo e suprimir as desigualdades existentes entre as várias crianças. Só assim, é que poderá existir uma melhor inserção destas crianças na sociedade, uma desmistificação da forma como estas crianças são vistas perante os outros e para além de uma educação de sucesso possam ainda obter uma vida de qualidade e respeito.

PARTE II- ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA