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Capítulo 3. Para uma reflexão sobre as práticas

2. Os casos de estudo: duas turmas correspondentes a duas escolas portuenses

2.2. Os docentes 1 Perceções

2.2.2.1. Aprendizagem em museus

Acerca da natureza da aprendizagem em museus e das suas próprias vivências em relação a visitas escolares em contexto museológico, o professor E1 encara a aprendizagem em museus como um complemento aos conteúdos abordados na sala de aula, embora considere que os museus são espaço de contacto, o que representa uma mais-valia: “Sim, um complemento ao que é abordado na sala de aula, embora hoje existam outros recursos que nos permitem fazer visitas virtuais mas uma coisa é ver o mundo virtual, outra coisa é contactar diretamente com o espaço museu, pronto, é sempre uma mais-valia.”. O docente E4 refere que aprendizagem fora do contexto formal de ensino apresenta-se como uma alternativa mais motivadora: “Qualquer saída do ambiente habitual implica aprendizagens diferentes, não é? De certa maneira, nós achamos que as visitas aos locais, museus e explicações ou as aulas dadas pelas outras pessoas, que não o professor comum, normalmente se tornam mais motivadoras.”.

A perspetiva que os docentes têm das práticas de aprendizagem em contexto museológico aproxima-se do que é defendido pela perspetiva construtivista: permitir ao aluno construir o seu próprio percurso/conhecimento. A teoria construtivista pressupõe que para ocorrer a aprendizagem é necessário a participação ativa do aluno/indivíduo. Para tal, é necessário apelar ao uso das capacidades cognitivas e motoras, ou seja, uma participação holística do aluno para que se estabeleça uma interação entre o este e o meio. Como já foi referido anteriormente, destacam-se algumas atividades promovidas pelos serviços educativos do museu que fazem jus à perspetiva construtivista, nomeadamente o peddy-paper e a oficina do escrivão.

Relativamente aos pontos fortes e fracos que o museu apresenta em relação à aprendizagem, o E1 defende a orientação da visita como vantagem à aprendizagem. Porém, o mesmo entrevistado apresenta como desvantagem o caráter expositivo de alguns momentos da visita efetuada. Neste sentido, afirma que as referências aos vestígios arqueológicos devem ser suprimidas uma vez que os alunos ainda não atingiram a maturidade intelectual necessária para entender as diacronias subjacentes:

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“É sempre vantajosa uma visita, desde que ela seja orientada – que foi o caso. […] Era capaz de suprimir nomeadamente essa incidência nessa questão da presença dos romanos, na questão da análise dos vestígios arqueológicos… Atendendo à faixa etária do 5º ano, direcionava para a questão do teatro, se calhar, elaborá-lo um bocadinho mais…” (E1).

2.2.2.2. Os principais momentos de uma visita escolar

Quando questionados sobre quais os principais momentos numa visita, ambos os entrevistados mencionam o acolhimento/receção dos visitantes: “A receção, a forma como os monitores, que acompanham a visita, comunicam, e a forma esclarecedora, ou não, que transmitem/esclarecem as questões que são levantadas pelos alunos.” (E1). “Há, portanto, a questão do acolhimento… talvez o acolhimento e as atividades a desenvolver” (E4).

Relativamente ao que mais valorizaram nesta visita, o E1 aponta a teatralização, a exploração da maquete e a oficina do escrivão: “O seu todo. Porque o acolhimento, aquele primeiro momento daquele teatro… Daquela exploração que fazem com enquadramento e a introdução histórica à figura do Infante e, pronto, depois a oficina do escrivão.”

No que concerne aos momentos-chave da visita, ambos os entrevistados indicam o acolhimento e as atividades realizadas ao longo da visita. O E4 afirma: “aqui há portanto a questão do acolhimento… talvez o acolhimento e as atividades a desenvolver…”. O E1 indica em específico a teatralização e a exploração da maquete: “Aquele primeiro momento do enquadramento histórico, o teatro… E depois a parte da explicação que é dada e a procura… até eles na maquete, eram eles que colocavam mais questões. A questão da localização, de conseguir identificar o espaço da cidade. São esses os momentos altos da visita.”.

Os testemunhos recolhidos pelos docentes envolvidos em muito se assemelham com as afirmações dos mediadores. Para ambos, o acolhimento apresenta-se como o principal momento da visita.

2.2.2.3. Uma visita bem-sucedida

No que toca ao sucesso de uma visita, o E1 aponta que uma visita bem-sucedida implica uma abordagem comunicativa esclarecedora por parte dos mediadores e atenta às questões colocadas pelos alunos: “A receção, a forma como os monitores, que

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acompanham a visita, comunicam, e a forma esclarecedora, ou não, que transmitem/esclarecem as questões que são levantadas pelos alunos.”. Por seu turno, o entrevistado E4 refere que uma visita bem-sucedida: “É uma visita que resulta em aprendizagens para os alunos.”.

Os professores, assim como os mediadores, associam a visita a uma experiência de aprendizagem. Sublinha-se, mais uma vez, a importância que o trabalho prévio e posterior poderá ter no sucesso da experiência no museu. A aprendizagem, perspetivada no âmbito desta dissertação como um processo, não descura de uma contínua preparação dos alunos. Se tal não acontecer, a visita, enquanto parte da experiência de aprendizagem, não alcançará o sucesso desejado.

2.2.2.4. Uma visita malsucedida

Quando questionados sobre o que significa uma vista malsucedida, o E1 afirma que decorre de uma desadequação do discurso do mediador perante a faixa etária dos visitantes: “quando o monitor não é capaz, primeiro, de se adequar a faixa etária porque [eu] já tinha a experiência de ir com alunos mais velhos num determinado espaço e nem sempre os monitores estão preparados para lidar… não digo que não estejam academicamente e profissionalmente capazes de…. Têm algumas vezes dificuldades em adequar-se ou utilizar uma linguagem adequada à faixa etária e, nestes casos, portanto, depende dos serviços educativos e do funcionamento dos serviços educativos em saber selecionar esse tipo de funcionário que irá acompanhar, ou de monitor…”. Por sua vez, o E4 refere que uma visita malsucedida implica que não haja qualquer aprendizagem por parte dos visitantes: “É uma visita em que ninguém aprende nada, pronto.”.

Através do que foi dito, uma visita malsucedida está associada pelos professores ao insucesso na aplicação da abordagem comunicativa e de ensino-aprendizagem utilizada pelos mediadores. Considera-se que, apesar de preponderante, outros aspetos, igualmente importantes, podem ser pensados: a impreparação da visita num momento prévio à visita escolar (Allard et al, 1994, p.5), a fatiga do grupo (Davies, 2010, s.p.), entre outros.

2.2.3. Práticas

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Quando questionados sobre os impactos que poderão ter tido nos alunos, ambos entrevistados declaram que ainda não conseguiram perceber por inteiro quais os principais impactos na aprendizagem. Ainda assim, o E1 refere que os alunos fazem algumas referências sobre a experiência da visita: “ainda estamos agora a começar a explorar embora, por exemplo no decorrer das aulas, eles façam sempre referências a algumas coisas que foram vendo, quer na cidade, quer na importância que Infante D. Henrique teve no planear dos Descobrimentos.”.

Relativamente ao que melhorariam na visita, o E1 menciona que diminuiria o tempo da visita de maior exposição oral e explorava a maquete, o teatro e a oficina: “diminuir no tempo da visita, nos pormenores arqueológicos, e cingir-se ao teatro, à exploração da maquete e talvez, na exploração da maquete, houvesse dois momentos, atendendo a que são miúdos […] A exploração da maquete, depois, no fundo, alguns ficaram mais para trás até porque depois não conseguiam ver. E depois carregam, tem lá o laser, tem a narração de voz e aí, pronto, muitos perdem a noção: “ah! Mas agora carrega aí … Olha aonde é que é aquilo?”Aí, se esse momento fosse dividido em dois grupos, seria mais fácil. Depois o resto ser assim abordado de forma mais leve, mais superficial para ter tempo […] ”.

O capítulo anterior expôs e comentou, num primeiro momento, os principais instrumentos metodológicos que constituem a abordagem de avaliação adotada. Tendo em conta os pressupostos defendidos, no presente capítulo analisou-se o conteúdo obtido e, sempre que possível, procedeu-se a uma confrontação com a abordagem teórica defendida. Os resultados da avaliação alcançada através da aplicação dos diferentes instrumentos permitiram que se aplicasse os pressupostos de uma avaliação participada e reflexiva.

A ausência de critérios de avaliação que incluam a participação ativa dos visitantes na construção de um museu inclusivo e democrático levou a evidentes desfasamentos entre as expetativas e conceções dos visitantes envolvidos.

A existência do museu já celebra quase 20 anos e é notório o esforço em aproximar-se à comunidade escolar. Todavia, registam-se algumas dificuldades em conceber os visitantes como potenciais construtores da essência do museu. Afinal, se o museu é para as pessoas, deve ser reconhecido o direito de estas expressarem os seus interesses e conjuntamente pensarem estratégias de mútuo interesse, definindo ações colaborativas.

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