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Capítulo 3. Para uma reflexão sobre as práticas

1. O estudo de caso: o Museu Casa do Infante

1.3. O Sector de Extensão Cultural e Educativa

1.4.1. Espaço de mediação e de educação

À questão de como é entendido o espaço educativo do museu, o mediador E2 concebe-o como um espaço informal, de enriquecimento, aberto à participação dos seus visitantes: “pretende ser um espaço informal, aberto, à participação dos miúdos e dos professores mas também enriquecedor”. O E3 vê o espaço educativo como parte integrante do museu e que promove um contacto direto e indireto com o público: “pode ser por um lado, um contacto direto com os públicos mas também […] indireto, ou seja […] materiais de apoio, pensarmos a programação e, por isso, todas as atividades com um caráter educativo e cultural são uma das preocupações aqui do nosso sector.”. O mesmo entrevistado, E3, também se refere à necessidade do mediador adequar o seu discurso às necessidades e aos conhecimentos do visitante e ser sensível às diferentes formas de aprendizagem existentes: “É preciso ter um pouco de calma: acompanhar, mediar, acompanhar, acompanhar o ritmo, ter respeito também porque há crianças que aprendem muito de uma maneira mais… Ouvindo, outras vendo, outras tocando […] tendo em conta todos esses ritmos de cada um, na própria visita e na própria oficina, damos a possibilidade das crianças se sentarem, outras estarem de pé, outras estarem sentadas no chão.”.

O mediador E3 também compara o espaço educativo do museu como um espaço de aprendizagem para a vida, conseguido através da atribuição de significado: “Porque depois alunos percebem que realmente estão numa atividade fora da sala de aula mas que também faz parte da sua experiência escolar, fora do edifício da escola. Mas que faz parte da sua aprendizagem para vida […] O significado também é muito importante. Friso bem aos alunos qual é o significado de termos uma peça partida exposta no museu.”.

O mediador E5 refere-se ao espaço apenas o classificando como “interessante” e “importante”.

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Sobre o espaço de mediação o mediador E2 descreve-o como um complemento à educação formal, procurando enriquecer a aprendizagem dos alunos através da visita: “uma coisa é a informação que eles trazem - académica, de livro -, outra coisa é o contexto real aqui do museu, portanto daí o nosso papel para tornar mais explícito, mais rica também essa visita aqui”.

Por sua vez, o mediador E3 menciona o espaço de mediação como sendo intermédio entre o visitante e o objeto. Encara o papel de mediador não como interprete mas sim como um potenciador das aprendizagens de cada visitante: “a mediação é mesmo tal como a palavra indica: estar no meio entre, neste caso, objetos, podem ser peças, podem ser documentos, podem ser livros, podem ser a própria área circundante e as pessoas, portanto, é essa a nossa função. Não é interpretar pelas pessoas mas estimular e incentivar a… E principalmente por a descoberto aquilo que cada um trás dentro de nós, quando entra aqui no espaço.”. O mesmo mediador acrescenta que se deve ter em conta o perfil e o contexto pessoal, familiar e social do visitante. É através desse conhecimento que o entrevistado pretende cativá-lo: “E é esse cuidado que nós temos sempre na mediação que é: conforme as experiências de cada um: idade, contexto familiar, social mas também de conhecimento porque chegam-nos cá alunos que sabem muito e interessam-se muito, há uns que não se interessam muito mas podem vir a interessar-se se nós conseguirmos exatamente pegar nessa ponta que lhes diz respeito e que depois seja como uma porta que nós os vamos puxando e depois já não somos nós a empurrar os alunos”.

Os dados recolhidos através da matriz de observação permitiram apenas avaliar as afirmações anteriores com as turmas que configuraram os casos de estudo. Tendo em conta o universo de análise selecionado, o instrumento criado para a observação das visitas corrobora que há uma sensibilidade, por parte do mediador, em conhecer de antemão ou, então, imediatamente antes de começar a visita, o perfil dos visitantes. Embora se registe essa preocupação, o sucesso em cativar os visitantes nem sempre foi alcançado e são vários e complexos os fatores que estão imbricados. Como já houve a oportunidade de referir anteriormente, a visita ao museu está envolvida num processo holístico que envolve não só a dimensão pessoal mas também a social e a física.

O espaço educativo é entendido pelos mediadores como informal, de enriquecimento e que apela à participação dos visitantes. O espaço educativo do museu é, segundo os entrevistados, um espaço em constante contacto com os visitantes, quer

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seja de forma direta (através da orientação de visitas), quer seja de forma indireta (através da elaboração do programa educativo).

Esta noção de reconhecer a aprendizagem como algo diversificado mas, ao mesmo tempo, muito específico – inerente ao indivíduo –, aproxima-se do conceito já enunciado anteriormente de aprendizagem de livre escolha da autoria de John Falk e Lynn Dierking (2000).

De uma forma geral, o conceito de espaço de mediação é visto pelos mediadores E2 e E3 como intermédio entre o visitante e o objeto tendo em conta o contexto da visita e o contexto do próprio visitante (o pessoal, o familiar e o social). O mediador assume um papel de condutor e potenciador das possíveis experiências de aprendizagem.

Para que o espaço de mediação se concretize, os mediadores E2 e E3 compreendem que é essencial que o visitante sinta-se cativado, ou seja, que haja uma conexão com o outro, através da criação de espaços de encontro entre o museu e os visitantes.

As perceções de mediação evocadas pelos mediadores vão ao encontro, de certo modo, do que é defendido no corpo teórico. Os mediadores E2 e E3 parecem compreender que a mediação cultural baseia-se na construção de interfaces que procuram aproximar os indivíduos através de interesses comuns entre si. Os mediadores são o veículo desse processo, os tais descodificadores. Através da sua abordagem espera-se que os mediadores sejam, também eles, produtores de significado, e que permitam a construção de interpretações, potencializando o lado crítico e ativo que poderá advir dessa experiência. O posicionamento dos mediadores parece aproximar-se daquilo que foi referido na bibliografia como abordagem construtivista das práticas de mediação cultural.