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Aprendizagem no processo de adoção das normas internacionais

2.3 Aprendizado organizacional

2.3.4 Aprendizagem no processo de adoção das normas internacionais

Conforme a base teórica normativa de convergência deflagrada pelo IASB, a contabilidade financeira está planificada sobre o arcabouço normativo das IFRS e pelas International

Accounting Standard – IAS. Esses padrões representam a linguagem única de contabilidade

nos países que adotaram os padrões internacionais (Zeff, 2012). As IAS são as primeiras normas emitidas pelo International Accounting Standards Committe – IASC, órgão emissor de padrões internacionais, antecessor do IASB. O Financial Accounting Standards Board (FASB), órgão americano, mesmo não sendo emissor de normas internacionais, possui um padrão considerado de alta qualidade, com muito mais semelhanças normativas do que diferenças com as normas internacionais (Johnson, 2010), e com participação ativa junto ao IASB no desenvolvimento e aprimoramento das IAS/IFRS (Barth, 2008). Para tanto, os dois órgãos constituíram agenda comum de trabalho e realizam reuniões periódicas, embora o FASB não tenha aderido às normas do IASB. Observa-se que o FASB e o IASB, bem como os legisladores, o governo, os auditores e os acadêmicos há muito vinham se preocupando com a adequação da contabilidade às exigências do mercado, buscando eliminar as diferenças normativas, haja vista práticas contábeis bastante diversificas entre os países (Nobes, 1983; Doupnik & Salter, 1993; Lemes & Carvalho, 2009). Dentre os principais argumentos para a adoção está a globalização do mercado internacional, o mercado de capitais, a melhoria da qualidade das informações contábeis, bem como da comunicação dos relatórios financeiros, redução dos custos de transação, aumento da transparência e a comparabilidade dos relatórios (Barth, 2008). No Brasil, encontram-se em vigor as resoluções do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que estão em conformidade com as IAS e as IFRS, convertidas para a regulamentação brasileira, considerando as características da realidade local (Petterson et al., 2010). Esse processo está instituído e amparado pela Lei 11.638/07 e Resolução 457/07 da CVM (Lemes & Carvalho, 2009; Martins & Paulo, 2010).

Conforme o IASB (2014), 114 jurisdições autorizam ou exigem que algumas ou todas as empresas utilizem IFRS. Tal inserção provoca mudanças que exigem aprendizado e adequação ao padrão internacional. Boscov (2013), utilizando-se da metodologia de multicaso no Brasil, em seus achados apresenta um resumo de impactos nas organizações pesquisadas (Quadro 2).

Cultura

Não foi possível constatar o impacto na rede de concepções, normas, comportamentos e valores dessas organizações.

Estrutura

1. Integração das áreas e melhor conhecimento da organização 2. Envolvimento do conselho de administração

3. Maior proximidade do relacionamento com investidores 4. Condução de consultorias financeiras

5. Desgaste no relacionamento com clientes

Sistemas

6. Utilização do SAP

7. Uso de informações gerenciais 8. Mudanças em covenants Pessoas

9. Mudança no perfil profissional 10. Realização de treinamentos Elementos

não alterados

11. Estabilidade no custo de capital

12. Remuneração variável inalterada

Quadro 2 - Elementos de mudanças organizacionais Fonte: Adaptado de Boscov (2013, p. 174)

Embora a pesquisa de Boscov (2013) não tenha constatado que a adoção das IFRS tenha afetado de forma direta a rede de concepções, normas, comportamentos e valores das organizações pesquisadas, faz-se necessário discutir a formação acadêmica e a participação das empresas. Nesse sentido, Karr (2008) destaca a importância em compreender o que as escolas e as empresas estão fazendo no momento de adoção, bem como o que deveriam estar fazendo para definir o conhecimento que esperam de seus candidatos e profissionais nesse contexto. Ampliando essa realidade, Conrod (2010) identifica o ambiente como de multi- GAAP e defende que há a necessidade de desenvolver competências que envolvam mais de uma estrutura conceitual comum, incluindo particularidades de transição do GAAP doméstico para o internacional. De outra forma, como um dos núcleos de diferenciação e aprendizado, considerando US GAAP e as IFRS, encontra-se a divulgação (Johnson, 2010). Para o autor, o foco natural do IASB está voltado para o julgamento com substância em princípios; o US GAAP concentra-se mais na garantia de como as transações são tratadas para se obter comparabilidade. Oliveira e Lemes (2011) consideram que a evidenciação se refere a um item auxiliar na solução do problema de assimetria de informação entre os investidores e os

administradores. Nesse teor, encontra-se ligação entre os interesses dos usuários internos e externos sobre a evidenciação contábil. De outra forma, denota-se que, como fundamento dessa ligação, buscando uma formação substancial e necessária ao domínio da informação gerencial e financeira, a obtenção do Certified Management Accountant (CMA) no Canadá passou a exigir a inclusão das IFRS no exame de avaliação (Conrod, 2010). Nessa concepção, para o Chartered Institute of Management Accountants – CIMA (2014), em seu programa, como pilar financeiro está inserida a capacidade de construir e avaliar as demonstrações financeiras complexas, com a finalidade de evidenciar a posição financeira e de desempenho da organização. Consequentemente, conforme estas instituições profissionais, a formação do profissional da área gerencial contempla habilidades pertinentes ao da área financeira. Oportunamente, pode-se deduzir que a distinção tradicional entre a contabilidade gerencial e a financeira pode estar mais relacionada ao paradigma didático do que à atuação profissional. Assim, para Elliot e Jacobson (1991), quaisquer que sejam as diferenças entre os dois conjuntos de informações, ambos devem pelo menos se basear em pressupostos compatíveis com a economia das empresas.

Torna-se natural que a mudança da norma contábil, no sentido de buscar prevalecer a

“essência sobre a forma”, contemplando a real natureza do evento transacionado (Estrutrua

Conceitual do IASB, 2010) tenha promovido mudanças do mapa mental. Tal fator se justifica, haja vista, que as diferentes normas ocasionaram a alteração de processos e procedimentos contábeis com a inserção de novas rotinas que alteraram as formas de comunicação por meio de novos relatórios, tendo como efeito a materialização do aprendizado individual e coletivo.

Elliot e Jacobson (1991) destacaram também que, embora a contabilidade tenha sido chamada de linguagem dos negócios, esta tem sido substituída pela literatura moderna relativa à gestão, como uma linguagem da era da informação com o foco na solução de problemas e oportunidades de negócio. Ainda, com o advento das IFRS, exige-se uma necessidade, tanto presente quanto futura, de aprendizado dos profissionais da área contábil. A norma vai ao encontro das atividades econômicas desenvolvidas pela organização em conformidade com as exigências legais, normativas. Para tanto, o sistema contábil deve ser revisitado na sua amplitude tanto da área financeira quanto gerencial.

2.4 Integração: convergência entre a contabilidade financeira e gerencial