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2.1 Impactos no Sistema Contábil

2.1.1 Influências iniciais da visão predititiva/prospectiva

2.1.1.8 Combinação de negócios

As cisões e fusões tornaram-se comuns no mundo dos negócios. Os critérios dessas transações são estabelecidos de forma a reconhecer e mensurar os ativos identificáveis adquiridos, os passivos assumidos e as participações societárias de não controladores na adquirida, através dos demonstrativos contábeis (Shalev, 2009). A fundamentação do princípio da essência sobre

a forma e o valor econômico são alicerces nos processos de combinação dos negócios que transitam pelas contabilidades financeira e gerencial.

A exigência do reconhecimento a valor justo vai ao encontro da estrutura gerencial do negócio (Barlev & Haddad, 2003; Abdel-Khalik, 2011). Assim, na data de aquisição, ao mensurar ativos e passivos ao valor justo, a empresa tem um completo diagnóstico do potencial dos recursos e da necessidade de geração de caixa para suprir a capacidade operacional. O valor investido necessita superar, ou mesmo atender, as expectativas dimensionadas pelo custo de oportunidade estabelecido. Entretanto, há dificuldades a serem superadas na continuidade do controle dos processos, ou mesmo na implementação de novos controles relacionados à avaliação de desempenho. Porém, as sinalizações financeiras e econômicas possuem premissas consistentes de análise e continuidade do negócio quando o parâmetro de comparabilidade passa a ser o mercado (Laux e Leuz, 2009).

A IFRS 3 (IASB, 2013), Combinação de Negócios, apresenta os procedimentos contábeis a serem aplicados nessas transações. Envolve a descrição da contabilização do goodwill e o seu monitoramento por meio da aplicação do teste de recuperabilidade. O IASB emitiu versões revisadas da IFRS 3 R em dezembro de 2013 e da IAS 27 R, Demonstrações Contábeis Consolidadas, em maio de 2011. Estas normas representam o produto da segunda fase do

projeto “Combinação de Negócios”, conduzido em parceria com o FASB, atualmente em

plena vigência.

Em função da definição de negócio, pode haver transações que não atendam ao conceito. Logo, não se qualificam como combinação de negócio. A definição incorpora três elementos:

inputs, processos e outputs. Os inputs são quaisquer recursos econômicos que, ao sofrer a

ação de processos, tem a capacidade de gerar outputs. Outputs constituem o produto dos

inputs, com a capacidade de gerar retornos na forma de dividendos ou de outros benefícios

econômicos. Os processos se caracterizam por qualquer sistema, padrão, protocolo, convenção ou regra que, ao serem aplicados aos inputs, geram ou têm a capacidade de gerar

outputs. Entretanto, caso não haja a presença de outputs, mas a empresa possua capacidade de

criá-los, eles se tornam desnecessários para a qualificação de negócio.

A IFRS 3 trata o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), decorrente de aquisições, como um ativo intangível com vida útil indefinida, não sendo objeto de

amortização periódica, mas testado periodicamente para redução do valor recuperável. Outro aspecto importante, no caso da existência de participação de não controladores (anteriormente conhecida como participações minoritárias), é que os ativos e passivos sejam avaliados ao valor justo integral, incluindo a parcela da participação de não controladores.

A cada realização de combinação de negócio, as entidades poderão escolher mensurar a participação de não controladores na adquirida ao valor justo integral ou a participação proporcional nos ativos líquidos identificáveis da adquirida. Dessa forma, tem se como resultado o reconhecimento do ágio (goodwill) de todo o negócio, e também a aplicação de valor justo integral e a alocação do ágio implícito à participação de não controladores, ou ainda o reconhecimento do ágio relativo apenas à porcentagem adquirida.

Na identificação e no reconhecimento do ágio, caracterizado como expectativa de rentabilidade futura (goodwill) da aquisição, inicialmente ocorre a identificação dos respectivos itens:

a) Contraprestação transferida em troca do controle da adquirida; b) O valor justo das participações de não controladores na adquirida; c) O valor justo da participação do adquirente na adquirida (se houver);

d) O valor justo na data da aquisição dos ativos identificáveis adquiridos e dos passivos assumidos.

Dessa forma, o ágio identificado (ou goodwill) será com base na soma dos itens (a), (b) e, caso haja, o item (c), subtraída do item (d), correspondendo ao valor da expectativa de rentabilidade futura, ou seja, o ágio. De forma contrária, quando a equação possui um resultado negativo, caracteriza-se um ganho por compra vantajosa, também chamada de

goodwill negativo. A compra vantajosa ocorre quando o item (d) excede a soma dos itens (a),

(b) e (c).

Para Mackenzie et al. (2013), a existência de compra vantajosa irá ocorrer quando o valor líquido dos ativos identificáveis e passivos assumidos, na data da aquisição, mensurados de acordo com a IFRS 3(R), excedem o valor justo, também na data da aquisição, da contraprestação transferida, mais o montante de qualquer participação de acionista não controladores na adquirida, mais o valor justo, na data da aquisição, da participação do adquirente na adquirida imediatamente antes da combinação.

Ressalta-se, ainda, que o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) ocorre somente no contexto de uma combinação de negócios e nunca pela compra de um ativo ou grupo de ativos.

2.1.1.9 Resultados Abrangentes

O usuário da informação contábil busca elementos que possam contribuir no processo de escolha de alternativas de decisão, seja na vertente interna, seja na perspectiva externa. Como elementos materiais da decisão, de forma complementar à Demonstração do Resultado, tem- se a Demonstração de Resultado Abrangente (DRA), que contribui para a análise de desempenho da empresa, instituída pelo FASB em 1997, com o SFAS 130. Segundo Dhaliwal, Subramanyam e Trezevant (1999, p. 44), o SFAS 130 é a culminação de um longo debate na

profissão contábil, desde a década de 30, entre o “all inclusive” (ou “comprehensive income”)

e o desempenho operacional corrente, advindos dos conceitos do relatório de receita. Os autores observam que o conceito de all inclusive, a demonstração do resultado e o balanço patrimonial estão completamente articulados. Estes princípios estão baseados no clean

surplus (lucro limpo excedente), em que todas as receitas, despesas, ganhos sejam

extraordinários ou, de qualquer outra forma, compõem a soma do resultado.

A DRA identifica impactos de eventos passados que possuem uma maior relação de interferência de variáveis econômicas, como captar os efeitos das mudanças de taxa de câmbio e conversão das demonstrações contábeis, remensuração de ativos financeiros disponíveis para venda, ajustes de avaliação patrimonial relativos a ganhos e perdas de instrumentos de hedge de fluxo de caixa, dentre outros (Martins et al., 2013). Essa compreensão se faz necessária para que a interpretação do resultado seja realizada de forma consistente, isolando os efeitos da própria atividade e de variáveis econômicas relacionadas. A IAS 1 (IASB, 2001e), atualizada em junho de 2011, buscou melhorar a forma de apresentação de outros resultados abrangentes, além de definir os itens que irão constituir o

grupo de outros resultados abrangentes, a exemplo de “itens of income and expense

(including reclassification adjustments) that are not recognised in profit or loss as required or permitted by other IFRSs” (p. A590). Dentre os impactos, cabe destacar os seguintes: revalorização de ativos (IAS 1 e IAS 38); remensuração de planos de benefícios a empregados (IAS 19); ganhos e perdas em transações estrangeiras – mudança na taxa de câmbio (IAS 21); ganhos e perdas de instrumentos de capital mensurados a valor justo, definidos pela IFRS 9; e