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Desempenho das funções da controladoria

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.3 Resultados estatísticos do Modelo de Equações Estruturais

4.3.4 Discussões dos resultados

4.3.4.5 Desempenho das funções da controladoria

Conforme delineado pela literatura, cabe citar algumas áreas que são de responsabilidade da controladoria: a área financeira e gerencial, relação com os investidores, gestão da informação,

tributária e proteção de ativos, além da assessoria à alta gestão. Torna-se presumível que a relação com os investidores fosse afetada, haja vista mudanças na base de cálculo das ações. Nesse sentido, corrobora-se a pesquisa de Boscov (2013, p. 183), esclarecendo que os investidores passaram a compreender mais os procedimentos contábeis em razão do impacto das normas internacionais no resultado. Além disso, a área de controladoria se envolveu na explicação das mudanças aos profissionais da área de relações com os investidores (p. 98).

As IFRS apresentam em seu conjunto normativo, embora haja opiniões discordantes, possibilidades de informação com qualidade superior ao padrão doméstico de cada país. Em consonância com esta realidade, há de se esperar influências quanto ao aumento do volume de solicitação de informações pela alta gestão para a tomada de decisão. Nesse sentido, em consonância com Boscov (2013, p. 96), observou-se que no grupo pesquisado CCR, sempre que havia uma ideia da administração em adquirir um novo negócio, a controladoria era chamada para atuar no seu processo de precificação.

Outro indicador visto como influente é a identificação de impacto positivo na atividade de planejamento tributário, passando a receber informação de maior qualidade sobre o controle dos eventos tributários. Diferentemente, Boscov (2013, p. 99) encontra evidências do uso de duas contabilidades, uma societária e outra, fiscal. Isso ocorreu com a introdução do Regime Tributário de Transição – RTT (Lei 11.941/2009), que serviu para regular a transição tributária com a implementação das IFRS. Denota-se que tenha havido impactos nesse sentido, todavia há a necessidade de se realizar pesquisas que aprofundem sobre esse enfoque.

Em relação ao fator influência do lucro líquido na consistência, confiabilidade e maior proximidade do valor econômico, percebeu-se influência positiva. Verificam-se alterações significativas na depreciação em função da realização do test de impairment ou a perda de recuperabilidade do intangível e também a transferência de bens do ativo imobilizado para o grupo do disponível para venda, cessando a depreciação que interfere no lucro líquido, além de outros impactos. Podem ser acrescentados, ainda, dentre outros efeitos, os de “marcação a

mercado” de títulos que afetam também o lucro líquido. De forma relacional, pode-se citar,

ainda, a captura da influência positiva na margem de lucro, justificada por impactos quanto a sua consistência e confiabilidade, além das particularidades diversas das atividades econômicas.

Tendo em vista a influência de desempenho (e rentabilidade) por área de responsabilidade (e/ou por área de negócio) em relação ao grau de confiabilidade, há de se considerar que a norma sobre teste de recuperabilidade IAS 36 (Mackenzie et al., 2013), quando aplicada, restringe-se ao menor grupo de ativos para o qual a entidade possui fluxos de caixa

identificáveis, denominada de “unidade geradora de caixa”. Assim, empresas com áreas de

responsabilidades e de negócio específicas, sofreram esta interferência em sua estrutura organizacional. Para fins de exemplificação, há empresas, como o setor de concessões inseridas na forma da ICPC 01 (IFRIC 12), que esclarecem que o concedente controle ou regulamente sobre a identificação dos serviços ao concessionário, especificando os ativos a serem utilizados, a quem e a que preço; além da informação que controla qualquer participação residual no final. Neste formato, fica evidenciado que há impactos relativos ao controle e ao desempenho por áreas de negócios específicas, porém pondera-se que a sua maior intensidade está relacionada à atividade de cada empresa.

Na ótica da influência do relatório de análise de investimento, observou-se a influência positiva, no sentido de que os demonstrativos contábeis permitiram aumentar o nível de qualidade informativa sobre o retorno econômico. No que diz respeito à realização de orçamento, execução e análise, buscando identificar se os controles se tornaram mais próximos dos objetivos dos usuários internos e externos, percebeu-se a influência positiva. Acredita-se que este processo de planejamento e controle encontrava-se inserido anteriormente, constituindo-se em continuidade e aprimoramento feito pelas empresas. Em consequência das IFRS, considera-se que os efeitos das variáveis econômicas tornaram-se mais explícitos, identificando a capacidade de geração de riqueza inter-relacionada com o valor justo, o teste de recuperabilidade, o relatório por segmento e outros desdobramentos em favor da identificação e controle da geração de valor. Ainda, corroborando os achados de Boscov (2013, p. 106), a empresa CCR, diante da implementação das IFRS, considerou que é de extrema necessidade que os valores utilizados no planejamento dos investimentos sejam bastante próximos aos realizados. De forma complementar, há a influência de que os demonstrativos contábeis passaram a conter maior qualidade aos usuários internos, quantidade de gráficos, bem como de indicadores contidos no relatório por segmento para análise de desempenho global do negócio.

A influência na análise de desempenho dos colaboradores também foi afetada positivamente, na medida em que ocorreu maior clareza na identificação das responsabilidades, vinculadas

aos mecanismos de controle e incentivos definidos por cada organização. Além disso, a IAS 19 (CPC 33) direciona o procedimento de controle dos benefícios, porém o equilíbrio esperado de retorno dos funcionários, conforme mencionado, constitui critérios específicos de cada organização.

O risco apresenta relação, normalmente, com taxas de juros e mercado de capitais. Observa-se, por outro lado, que as normas contábeis têm se pautado em promover a minimização do risco de forma mais ampla. O valor justo, IFRS 13 (CPC 46), impõe três níveis de hierarquia a serem observados rigorosamente na mensuração de seu valor, permitindo contextualizar e minimizar os possíveis erros de mensuração. As IAS 36 (CPC 01), que tratam do teste de recuperabilidade, impõem critérios na escolha da taxa de juros que reflitam os riscos específicos do ativo. Passivos e ativos contingentes, IAS 37 (CPC 25), que inclui o reconhecimento de passivo, deve atender a determinados critérios, como obrigação presente, de evento passado, saída provável de recursos que incorporam benefícios econômicos e estimativa confiável da obrigação. Em relação ao reconhecimento de ativo intangível gerado internamente, deve-se respeitar determinadas restrições. Os custos incorridos na fase de pesquisa não são reconhecidos como ativos, mas como despesa. Nas concessões, os níveis de investimento e de retorno, bem como o controle dos ativos são claramente definidos. Instrumentos financeiros estão mais aderentes às volatilidades do mercado, dentre outros fatores que levam a compreender e identificar mais amplamente os riscos envolvidos. Dessa forma, percebe-se que as IFRS apresentam-se, de certa forma, bastante alinhadas na identificação dos riscos do próprio negócio.

A revisão da literatura tem chamado a atenção quanto a estrutura de informação e de TI no ambiente das IFRS. Taipaleenmäki e Ikäheimo (2013, p. 343) inferem que o desenvolvimento das IFRS ocorreu como uma consequência da TI que pôde facilitar, catalisar, motivar, ou mesmo permitir a convergência no domínio técnico, tecnológico, organizacional e comportamental. Nessa linha, a publicação da empresa de consultoria, KPMG (2008), observou como consequência da implementação das IFRS, a criação de novos dados, cálculos e relatórios, levando à necessidade de modificar e implementar mudanças no sistema de informação. Boscov (2013, p. 174), como achado em uma das empresas pesquisadas, identificou o uso do sistema integrado no ambiente de implantação das IFRS. Por outro lado, há de se ponderar, conforme já discutido, que a variável ‘Modificação do Sistema de Informação – MSI’ não capturou efeitos significativos.

As funções da controladoria relativas ao processo de gestão, controle, objetivos, planos, políticas e padrões estabelecidos nos planejamentos são percebidos como fator de influências positivas com a implementação das IFRS. Nesse âmbito, uma das principais bases está caracterizada pela IFRS 8 (CPC 22). A sua inserção exige a apresentação no foco gerencial, que inclui, dentre outras, informações sobre projeções de vendas nos mercados locais e externos, variações nos preços de commodities e planejamento de importações e exportações. Isso desencadeia uma maior interação entre os diversos setores, buscando informações que, em última análise, são realimentadas no próprio processo, não somente para relatórios externos. Esta influência está em consonância, indiretamente, com os achados de Boscov (2013, p. 157) em que há evidência de que os executivos da empresa CCR buscam compreender mais o que está ocorrendo na contabilidade do que antes das IFRS. Isso corrobora a convicção de que a informação contábil aumentou a sua capacidade explicativa, sendo mais útil ao processo decisório no qual a controladoria é responsável direta pela sua coordenação.

Diante do exposto, considera-se que ocorreram efeitos positivos nas funções da controladoria, explicados pela integração entre a contabilidade gerencial e a financeira. Esses efeitos são traduzidos em uma maior qualidade para os usuários da controladoria, em virtude de maior recurso informacional em cada função específica. Isso ocorre pela mudança do novo formato de informação, em IFRS, que por sua vez, representa um novo formato de banco de dados de informação contábil (Average Variance Extracted – AVE 0,643; R2 = 0,376).