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APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Nesta seção, apresentaremos os dados obtidos e os discutiremos organizando-os em categorias à luz dos quatro autores privilegiados neste trabalho.

Todas as entrevistas, como já relatado, foram realizadas pelo pesquisador. Entretanto, consideramos que cada entrevista tenha exercido, sobre os sentenciados ouvidos, um impacto diferenciado, visto que, com cada um deles o pesquisador tinha um grau de proximidade que, associado às condições da coleta de dados, certamente interferiram no teor das respostas obtidas.

No caso das entrevistas realizadas na cadeia pública de Paracatu, tanto Daniel, quanto Emerson, demonstraram uma imensa carência de serem ouvidos. Tanto que, em muitos momentos das entrevistas, o assunto se encaminhou para demandas pessoais pouco condizentes com o tema proposto. Ao final das entrevistas o pesquisador ainda permaneceu por uma hora dentro da cadeia ouvindo, não só aos apenados, como também aos policiais militares que lá se encontravam.

No ambiente penitenciário, devido à prévia experiência do pesquisador na instituição, dois dos sentenciados entrevistados já o conheciam assim como à sua maneira de atuação: Antônio e Cláudio, embora este último tenha sido

atendido poucas vezes. Eles foram atendidos, à época, pelo psicólogo e desenvolveram com o mesmo, uma relação de confiança e proximidade.

Presume-se que, com Antônio, sentenciado entrevistado no ambiente extramuros, a possibilidade de explanação mais livre de seus sentimentos, possibilitou ao pesquisador uma obtenção mais rica de dados oriundos do apenado. Entretanto, não se pode afirmar com certeza, se neste caso, a maior facilidade de expressão de Cláudio se deu pelo fato de já haver uma relação prévia entre ambos ou se pela ausência da vigilância do Agente Penitenciário.

Já no caso de Cláudio, entende-se que o contexto desprovido de sigilo possibilitou ao pesquisador uma coleta de dados mais controlada no que se refere à fala do entrevistado, porém muito rica no que tange a postura da Instituição Penitenciária. Em função da marcante diferença entre essas duas entrevistas, é possível inferir que a dificuldade de se referir mais abertamente às questões propostas, se deveu, neste caso a presença do Agente Penitenciário.

No caso de Bruno, o desconhecimento recíproco entre entrevistador e entrevistado, somado à presença do Agente Penitenciário fizeram com que o participante trouxesse menos dados. Na verdade, esse último entrevistado, talvez em função da configuração estabelecida para a entrevista, por vezes se esquivava do assunto e se referia a demandas pessoais que, ainda que o pesquisador trabalhasse na instituição, não teria como respondê-las visto que essas se dirigiam mais ao setor penal que ao psicológico.

De um modo geral, em virtude do contexto encontrado dentro da instituição penitenciária, presume-se que a coleta de dados foi prejudicada e a possibilidade de obtenção de dados mais fidedignos foi minimizada.

Não se compreende a negativa da direção da Penitenciária em possibilitar um ambiente propício a uma coleta de dados mais isenta, face à estrutura que a PAOJ possui. Suas portas, propositalmente dotadas de visores à altura do rosto de um agente penitenciário sentado em uma banqueta ou de pé, enfraquecem as possíveis motivações em nome da segurança, para a negativa.

Compreende-se, porém, a partir desse posicionamento, duas razões latentes: a resistência em dar uma maior liberdade para que os sentenciados possam falar abertamente de sua relação com os agentes penitenciários e, com isso fornecer subsídios a uma visão mais crítica acerca desse fenômeno; ou a imposição de uma grave sobrepena, pois, se essa prática é realmente a norma atual nessa instituição penitenciária, a assistência ao preso não se dá de modo pleno, visto que o sigilo é parte integrante dos serviços de assistência psicológica, social, legal e médica, que são oferecidos dentro da penitenciária.

Como um apenado se sentiria à vontade em se expor e aos seus problemas mais íntimos, frente a uma pessoa que exerce a função de vigiá-lo, mas que, por vezes, faz uso de conhecimentos que possui sobre a vida do sentenciado contra este?

Semelhante aos casos do conhecimento que se faz da vida pregressa do sentenciado para modular o tratamento a ser dispensado, as nomenclaturas a serem usadas, enfim, toda a série de estratégias de rebaixamentos e

mortificações do “eu” a que Goffman se refere como sendo um dos objetivos das Instituições Totais.

Ainda que, por um lado, a coleta de dados tenha sido prejudicada, se considerarmos que o ambiente institucional previsto no projeto não contemplava a configuração encontrada, por outro, por essa mesma dificuldade, enriqueceu a coleta, visto que as condições encontradas reforçam ponderações construídas durante a fundamentação teórica e aqui apresentadas.

Entretanto, ainda que as dificuldades tenham se imposto, foi possível com o auxílio da Hermenêutica da Profundidade descrita por Thompson e dos autores aqui utilizados, a percepção de algumas tendências que se sobressaíram, a partir dos dados coletados. Pudemos fazer emergir informações latentes da fala dos sentenciados no que se refere à sua relação com o Agente Penitenciário.

Dividimos as percepções que emergiram em categorias referenciadas no marco teórico. Essas foram denominadas como se segue: poder total, represália–medo, colonização-submissão, negação do outro-eu, pequeno poder e pedido de ajuda. A seguir iremos descrevê-las e relacioná-las às falas coletadas.

O PODER TOTAL

Foucault (1979) nos mostra que, onde há poder há resistência. Esta é a resposta inerente a uma imposição do poder. O poder tem que se estabelecer

apesar da resistência. Embora a própria resistência dos apenados, por si só, já caracterize a impossibilidade da existência de um poder total, pois se ainda há resistência o poder não pode ser considerado como pleno, os sentenciados vêem as imposições da equipe dirigente, por meio das ações dos Agentes Penitenciários, como uma demonstração de um poder total.

Embora o próprio Foucault nos saliente que o poder é cíclico e sem detentores vitalícios, não parece ser essa a percepção que se tem deste fenômeno quando observado de dentro da referida relação.

Bruno, questionado sobre quais sentimentos surgiam de sua relação com os agentes penitenciários confidencia-nos:

“Raiva, medo... quer dizer, medo não, mas a gente não tica tranqüilo,

porque a gente tá na mão deles. O que eles quiserem fazer com a gente eles fazem, eles podem!”

É lícito inferir que a palavra medo tenha sido retirada ou corrigida pela presença de um Agente Penitenciário ao lado do sentenciado. Dizer que se tem medo de algum antagonista, se esse é o papel que o outro exerce, é realçar que as estratégias por ele utilizadas têm surtido o efeito desejado. É se mostrar vulnerável a ele.

Porém, Bruno finaliza sua fala com uma frase emblemática: “O que eles

quiserem fazer com a gente eles fazem, eles podem”. Esta é uma frase que

demonstra bem o sentimento de impotência frente a esse outro ator do sistema penitenciário. Há uma percepção dos Agentes Penitenciários enquanto indivíduos que fazem valer aquilo que pretendem pelo intermédio do poder que possuem e contra o qual, pouco há para se fazer.

Ainda que não estejam no direito de fazê-lo, pela ótica legal e do próprio sentenciado, este entende a equipe dirigente, mas principalmente aos agentes penitenciários, como aqueles que podem. Este poderio que é percebido como acima de tudo e de todos trás um sentimento de injustiça que é experimentado, de modo geral, por todo o estabelecimento prisional.

A injustiça é um sentimento oriundo da sensação de submetimento ao poder total que atravessa a organização penitenciária. Sempre há uma queixa no que se refere a uma ferida naquilo que o sentenciado entende por justo. Sua pena que já deveria estar terminada, ou quanto a percepção de desproporcionalidade temporal da mesma, em relação ao crime cometido. Daniel reclama:

“A justiça às vezes pega mais leve do que deveria, mas às vezes pega

mais pesado do que deveria. Mas a justiça é maior do que eu, fazer o quê!”

As perseguições ou marcações de sentenciados por Agentes Penitenciários, por se revelarem um padrão de comportamento muito reclamado pelos sentenciados ouvidos pelo pesquisador, tanto durante as entrevistas, quanto exercendo sua atividade de psicólogo, colaboram para a sensação de injustiça. Uma desavença hoje entre representantes dos dois grupos, tenderá a não ser esquecida e os revides institucionais, via ação dos agentes penitenciários, serão constantes. Daniel completa:

“A perseguição anda por todo lado, principalmente pra gente que já teve

uma passagem na justiça. Tanto faz, polícia civil, PM ou agente, todos eles têm gente que persegue. Tem alguns que sempre tenta prejudicar. “

A sensação de estar frente a algo que, na percepção do sentenciado se mostra maior que ele, faz com que ele se sinta, ainda mais sob este exercício do poder que sente como total. Todos os instrumentos de que o sistema judiciário lança mão para se efetivar tornam ainda maiores as disparidades entre os atores deste sistema.

No contexto penitenciário, a própria nomenclatura utilizada para a definição das ações de um e outro ator, revela onde se situa o poder, além de demonstrar que o poder é algo fixo e que pertence aos agentes penitenciários.

Os atos dos sentenciados são denominados com substantivos como: rebelião, falta, motim e outros afins. Todos determinam a existência de um comportamento esperado que não foi aceito ou contra o qual se insurge. A força e a intimidação costumam ser as armas disponíveis para tais insurreições.

Do outro lado, porém, há uma série de instrumentos de uso exclusivo da equipe dirigente, para a manutenção da ordem intramuros. Estes são muitos e serão descritos a seguir.

O sistema de castigos e privilégios descritos por Goffman (1999) no qual preconiza a retirada de benefícios daqueles que se insurgem ou a concessão de privilégios para aqueles que se adequam ao que deles se espera.

Como nos diz Bruno:

“A gente tem um tempo pra cumprir. Só depois dele é que a gente vai conseguir algum benefício e se tiver bom comportamento. Aí é que fica difícil, porque aqui é difícil a gente ficar, o tempo todo sem dar nenhum probleminha sequer.”

O uso da força física embora exista, costuma ser pouco utilizado, via de regra, apenas em situações limites em que haja um grave confronto na fronteira aqui estudada, ou quando já se configurou um quadro de rebelião. Nestas situações há intimidação com bombas de efeito-moral, gás lacrimogêneo, cães, balas de borracha, enfim, diversos instrumentos para a contenção dos sentenciados.

A vigília é outro importante instrumento de coerção de comportamentos indesejáveis. A partir dela, o sentenciado se sente vigiado a todo o momento, ainda que não haja ninguém a fazê-lo. São tantas as Comunicações Internas que descrevem comportamentos dos sentenciados que se tem a impressão de que tudo o que fazem é observado ou confidenciado aos Agentes Penitenciários. Esse é o produto da vigília propiciada e pretendida pelo panoptismo de Bentham citado por Foucault (1987).

Para Foucault, o modelo de Bentham é

Esse espaço fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos, onde os indivíduos estão inseridos num lugar fixo, onde os menores movimentos são controlados, onde todos os acontecimentos são registrados, onde um trabalho ininterrupto de escrita liga o cento e a periferia, onde o poder é exercido sem divisão, segundo uma figura hierárquica contínua, onde cada indivíduo é constantemente localizado, examinado e distribuído (...) (Foucault, 1987, p.163)

Neste sistema, as prisões são construídas de forma que se possibilite a observação dos sentenciados sem que estes a percebem. Isto lhes remete à possibilidade de estarem sempre sob a mira da equipe dirigente, o que pode dissuadi-los de atentar contra as normas. Esta é mais uma das características que faz com que o sentenciado perceba a atuação do agente penitenciário enquanto um exercício de poder total.

As ações dirigidas aos sentenciados são, via de regra, ações de contenção. Em seu cotidiano de clausura o sentenciado se vê privado de uma série de objetos, sensações e vivências. Assim, é comum que suas ações visem recuperar, paulatinamente, ou ainda que minimamente, as possibilidades perdidas com o aprisionamento.

Enquanto a ação de um se dê no sentido de ampliar possibilidades, do outro lado, as ações do grupo de agentes penitenciários, objetivam a redução ou, ao menos, a manutenção das possibilidades postas à disposição do preso.

Neste choque de intenções os agentes penitenciários lançam mão de uma série de ações no sentido de atingir esse objetivo. Essas ações são percebidas, em sua maioria, como repressivas, sejam estas, justas ou injustas. Mas essas, nem sempre são vistas como repostas a uma ação prévia do sentenciado, como uma simples vingança, por exemplo, mas como uma ação que, pretende represar uma demanda do sentenciado, a saber, a recuperação gradativa das possibilidades perdidas.

Objetivando esse represamento, os sentenciados são submetidos a ações dos apenados que podem ser enquadradas em duas categorias distintas: a repressão e a cooptação.

Estas, parecem obedecer às formas pelas quais os sentenciados admitem seu contato com os agentes penitenciários. Quanto mais confrontadoras são suas atitudes, maior será a carga repressora das respostas institucionais, por intermédio das ações dos Agentes Penitenciários. Ao contrário, quanto maior a resignação expressa pelo sentenciado, maior serão as ações cooptativas provenientes da instituição.

A confrontação tende a exigir as represálias sob o risco e o medo de que se ela não se impuser, uma catástrofe pode ocorrer.

Já a cooptação tende a trazer os sentenciados e sua cooperação para o grupo de Agentes Penitenciários, ou seja, tê-los como aliados. A cessão de privilégios é uma moeda de troca muito prezada pelos sentenciados e é muito utilizada, como incentivo à cooptação, pela equipe dirigente.

Ela se mostra na utilização dos sentenciados como força de trabalho, em funções tidas como menores e que não exigem uma qualificação específica, como por exemplo, na faxina, capina, aragem da terra e colheita de frutos. Ou também, os trabalhos rejeitados pelos agentes penitenciários e, para os quais, seria necessária a contratação de trabalhadores específicos, mas que são desejados e disputados entre os internos. Assim, como em qualquer outro lugar da nossa sociedade, ganha o trabalho aquele que pode oferecer maior vantagem associada a sua contratação. Aqui, as vantagens são, em suma, a submissão e a delação.

Assim, fica-nos evidente que a forma de enfrentamento do preso, no que se refere à sua condição de clausura, é que orienta as percepções recíprocas pois esta abre a possibilidade de o agente penitenciário observar com maior ou menor preconceito para o sentenciado.

Quanto maior a colaboração do sentenciados menores serão as sanções e as dificuldades a ele impostas. Este comportamento possibilita trato amistoso ao internado. Mas, o sentenciado que opta por partir para o confronto físico ou verbal, assume uma postura de confrontação, oposta à colaboração

anteriormente citada, atraindo para si as mais duras represálias do ambiente penitenciário, sejam elas institucionais ou pessoais.

REPRESÁLIA-MEDO

A raiva, como nos destaca Girard (1998), está na origem de uma ação temida no ambiente intramuros, por quaisquer atores que nele atuam: a vingança. Estar submetido a essa sensação de poder total, percebendo-se desinvestido de poder, gera nos sentenciados uma série de sentimentos que nos foram relatados por estes.

Dessa gama de sentimentos que se impõem sobre o apenado, surgem outras em resposta a ela. A vingança é uma das respostas possíveis e ela se mostra de modo significativo nas falas dos sentenciados.

A vingança é sempre esperada no contexto intramuros. Esta forma de interação é percebida como iminente, em muitas das relações que se estabelecem dentro deste ambiente. Entre os próprios sentenciados, destes contra os Agentes Penitenciários e destes contra os apenados.

Na relação que aqui nos importa, fica evidente a expectativa que esta ocorra. Os sentenciados, a temem pelo fato de considerar que nem sempre ela surge com motivações óbvias e concretas. Essa característica torna a vingança algo intangível e imprevisível e que pode partir de qualquer direção e em qualquer momento.

Já os Agentes Penitenciários temem o surgimento da represália, não só contra si, mas também contra a sua família no ambiente extramuros. E este

temor não é imotivado, já que ouvem ameaças diretamente dos sentenciados e sabem, por meio dos veículos de comunicação de que tais ocorrências são passíveis de acontecer.

Assim, os Agentes Penitenciários estão sempre aguardando uma ação de revide do sentenciado. Ora esse revide se dá nas interações cotidianas, em um xingamento, em uma ameaça, em uma atitude hostil para com o AP, ora ela se dará em uma rebelião na qual os sentenciados conseguem manter em seu poder um ou mais membros da equipe dirigente.

Esta é uma das mais temidas formas de vingança do sentenciado, pelo agente penitenciário. Ela consiste numa vingança programada na qual estes, pegos como reféns, tendem a sofrer toda sorte de injúrias, ainda que nada tenham feito a nenhum sentenciado. Nesse caso, os apenados repetem com os APs uma prática da qual costumam ser vítimas freqüentes: A responsabilização coletiva por atos individuais, ou como nos diz Girard, a eleição de uma vítima alternativa para a expiação.

Girard (1998) anuncia que, uma vez um ato violento deflagrado por um membro de um grupo contra o membro de outro, nas sociedades primitivas ou nas quais o sistema judiciário ainda não exista ou prevaleça, há escolha de um membro do grupo a qual o agressor pertence. Este indivíduo eleito, e não o autor na agressão, receberá a punição.

Assim, as sociedades, acreditam estar burlando a sanha infinita da vingança, pois o revide ou a represália não se abate sobre o agressor, mas sobre um outro ser, parecido o suficiente para acalmar os ânimos do grupo

agredido, mas diferente o suficiente para não se configurar uma vingança e acender ou atiçar a temida e infinita chama da vingança.

Daniel nos esclarece:

“Quando o seu inimigo número 1 é um agente, não espera sair não. O

preso espera uma rebelião e apanha ele como refém. Aí, só Deus sabe, sabe como é?

Ou então o cara espera sair pra se vingar. Não são todos, mas muitas vezes o cara sai da penitenciária revoltado com o que aconteceu lá, as covardias, aí ele procura se vingar. Ele, nem sempre desconta no Agente, mas na sua família. Seqüestra a mulher ou a filha do cara, entendeu?”

Emerson corrobora:

“Todo mundo fala, esse é maconheiro, vagabundo, ladrão... mas

ninguém ajuda... eu preciso de ajuda porra!!! Mas vai virar um bola de neve o mundo gira eu vou na escola da filha dele, seqüestro a filha dele, pego a mulher dele, vou no serviço dele... ele não é culpado não mas ele não soube me tratar.”

Aqui se trata de uma vingança programada no ambiente extramuros. Nela, o Agente pode vir a se tornar vítima, assim como a sua família. Aqui vemos ainda do modo mais claro a eleição de uma vítima alternativa de modo. A diferença da motivação entre essa vingança e aquela das sociedades primitivas é que aqui, não se objetiva o disfarce da ação pelo temor da vingança infinita, mas impor a esta vítima recente um sofrimento exacerbado.

As ameaças recíprocas impõem a ambos atores uma sensação de que a vingança, além de iminente é onipresente, o que deixa as atenções muito

voltadas para este foco além de uma infindável sensação de terror ante o porvir.

A onipresença da vingança se mostra ainda, nas ameaças que não se consumam, mas que são programadas e desejadas. A vingança também aparece enquanto um exercício mental, como uma hipótese pouco convicta de ser colocada em prática, funcionando apenas como “descarga emocional” frente a uma frustração, por exemplo, a vingança permeia o ambiente intramuros. Assim, há o desejo de execução de um ato vingativo que vai se arrefecendo e que nunca se concretiza, mas que orienta as visões recíprocas entre os indivíduos.

Emerson nos exemplifica:

“Eu disse que quando eu fosse sair da cadeia eu ia me vingar na rua

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