• Nenhum resultado encontrado

Apresentação do instrumental da pesquisa de campo

A partir da lista dos objetivos de pesquisa, elaborei 11 perguntas, que considerei essenciais, para serem respondidas por todas as crianças. As respostas me ajudariam a mapear todos os questionamentos levantados acerca do tema. As perguntas, após alguns ajustes para que ficassem mais compreensíveis às crianças, tomaram esta forma:

1. Você já foi a um museu?

2. Se você já foi a um museu, quem te levou?

3. Você se lembra do nome de um museu? Qual? Você já foi a este museu? 4. Quantas vezes você já visitou museus?

5. Você pode descrever como é um museu? Se você ainda não foi, como imagina que seja?

6. Para que serve um museu?

7. Você gosta (ou gostaria) de ir a museus? Por que?

8. Será que todas as pessoas podem ir aos museus? Por que? 9. As pessoas vão ao museu para que? O que você acha? 10. Para entrar nos museus é necessário pagar alguma coisa? 11. O que encontramos dentro do museu?

Conforme explicado durante a metodologia de pesquisa, essas perguntas seriam feitas por crianças a crianças, em ordem aleatória e uma por vez. Dessa forma, era importante que os enunciados fossem independentes, ainda que isso desse a impressão, algumas vezes, de haver repetição nos assuntos abordados.

As perguntas de 1 a 4 tiveram a intenção de responder ao objetivo 1: “Investigar se a criança tem acesso aos museus. Como esse acesso se dá e através de quem”. A pergunta 2 pretendeu responder também, e de forma mais específica, ao objetivo 3: “Levantar quem são os principais responsáveis por intermediar hoje esse contato entre as crianças e o museu”, embora esse também possa ser respondido de forma indireta, por outras questões, pelos desenhos e rodas de conversa.

As perguntas de 5 a 11 procuraram abarcar, através de vários pontos de vista, o objetivo 2, “Investigar qual é o papel que o Museu assume hoje na vida e no imaginário infantil”. Dessa forma, a pesquisa de campo pôde englobar três dos quatro objetivos específicos desta pesquisa.

Cada pergunta era colocada no alto de uma folha de papel com uma tabela de linhas vazias, e duas colunas: a primeira correspondia ao nome de cada criança e, a segunda, a resposta dada por cada uma delas. No início da dinâmica, cada criança recebeu uma pergunta pela qual ficou responsável. Era sua incumbência entrevistar todos os colegas e registrar a resposta de cada um deles para aquela única pergunta. Antes de começar, cada criança respondia na primeira linha a pergunta que recebeu.

Para tornar a atividade mais dinâmica e atrativa, propus um jogo: no chão havia círculos, e em cada um deles somente duas crianças podiam permanecer de cada vez. Era dentro dos círculos que eles faziam as perguntas aos colegas, respondiam e anotavam respostas. Os que ficavam de fora (uma ou duas crianças no máximo) permaneciam uma rodada sem entrevistar ninguém. A cada sinal meu (que só acontecia quando eu percebia que eles haviam terminado), eles deveriam trocar de círculo e de dupla, já que não poderiam entrevistar duas vezes o mesmo colega.

O jogo deu certo, as crianças mostraram-se animadas e, ao mesmo tempo, responsáveis pela pergunta que tinham em mãos. Como eu precisava de uma pergunta para cada criança, desenvolvi um artifício de adaptação: criei mais sete perguntas diferentes, consideradas perguntas extras, somando um total de 18 perguntas. Dessa forma, combinei nas escolas que cada grupo teria de 11 a 18 alunos. Como a ideia era trabalhar com uma classe de cada escola, eu poderia dividir a sala em dois grupos tranquilamente, tendo esta de 22 a 36 crianças (A maior sala tinha 35), ou trabalhar com um grupo único, no caso de salas de 17, 18 alunos.

Posteriormente falarei do cotidiano de pesquisa, e veremos que essa maleabilidade foi muito importante, já que o número de crianças autorizadas pelos pais e presentes à

escola no dia da pesquisa era muitas vezes bem menor que o número total de alunos. Além disso, tive dois grupos menores que 11 crianças. Para estes, elegi a parede como uma “entrevistadora”, as perguntas sobressalentes (uma ou duas) ficaram coladas na parede e eram respondidas por cada criança no momento em que ficavam fora dos círculos.

Voltando às perguntas utilizadas, podem ser vistos nos anexos A e B os exemplos de fichas de perguntas utilizadas: em branco e preenchida por uma criança.

Essas 11 perguntas procuravam abarcar todos os questionamentos do projeto, porém, para complementar sua eficácia, foram utilizados ainda outros meios. A roda de conversa era realizada com cada grupo após o jogo das perguntas. A partir de respostas dadas pelas crianças em algumas perguntas (após o primeiro grupo já percebi quais as questões que geravam maior discussão) eu fazia novos questionamentos, ou pedia uma explicação mais detalhada de algo. A partir das primeiras falas, a conversa ia se desenvolvendo livremente e, embora eu procurasse pontuar algumas questões para garantir que fossem respondidas, em cada grupo o desenrolar desse bate-papo tomava um caminho novo, revelando os interesses e características de cada grupo. A ideia inicial, de falar sobre todas as perguntas, se mostrou ineficaz, como explicarei mais adiante, mas creio que encontrei o caminho rapidamente, e tivemos interações muito ricas. O resultado integral de algumas dessas conversas podem ser lidos nas transcrições que se encontram no anexo C.

Para completar, ainda foi usado o recurso do desenho. Cada turma foi convidada, antes ou após a dinâmica, a fazer um desenho com o tema “Como é o museu”.32 Esses

desenhos ajudam bastante na compreensão de como essas crianças vêem a instituição. Além disso, é uma forma de abarcar três formas diferentes de expressão, pois as crianças, assim como nós adultos, nem sempre se expressam bem através da escrita, da fala ou do desenho. Com três formas diferentes, penso que conseguimos “ouvir” melhor o que elas têm a dizer, de forma mais completa e abrangente. Isso porque quem não se coloca de uma forma específica terá mais chance de fazê-lo por meio das outras formas de expressão.

Por isso, também, a parte deste capítulo destinada às falas das crianças mescla as três referências em busca de resultados, ainda que seja claro que as respostas escritas tenham tido um papel mais abrangente (pois passamos sempre por todas as perguntas), enquanto as conversas resultaram num aprofundamento maior de algumas questões e o desenho tenha entrado como elemento complementar de ambos, sendo utilizado principalmente nos momentos onde falamos do conteúdo e aparência do museu e para ilustrar a pesquisa como um todo.

32 Apenas em uma turma a instrução dada foi um pouco diferente e eles receberam a orientação de desenhar o que há dentro do museu.

Figura 11