• Nenhum resultado encontrado

Apresentação e análises de alguns planejamentos semanais

CAPÍTULO 3 – Instrumentos, processos e ações: da fonte documental à

3.1 O Semanário como instrumento de trabalho

3.1.1 Apresentação e análises de alguns planejamentos semanais

A professora P19, em 2008, lecionava para uma turma de 3ª série e suas propostas eram semelhantes às das professoras que trabalhavam no mesmo grupo (P10 e P18). Observemos alguns exemplos retirados de seu planejamento:

Exemplo 1:

Separe as sílabas das palavras: Emburrado – Arrumar – Correr – Arriscar – Horroroso – Pássaro – Pêssego – Horrível – Berro – Garrafa – Possível – Enferrujado – Bairro – Atividade retirada do Semanário de P19.

Exemplo 2:

Complete as palavras com m ou n:

e...brulho xa...pu tre... u...bigo po...ba ca...tor ja...bo te...pero nuve... lâ...pada

Atividade retirada do Semanário de P19.

Exemplo 3: Leitura coletiva do Poema Loucas Vontades

Por que uma criança inocente, Tem tanta coisa na mente? Tenho tantas vontades

Que, às vezes, até me espanto. Queria ser um passarinho Para voar o dia inteirinho, Pertinho das nuvens chegar E fazer ninho num alto lugar. Queria ser um peixinho Para descer ao fundo do mar, Ver tudo de pertinho,

Sem jamais me afogar. Um camaleão queria ser Para estar em todo lugar, Conhecer e tudo ver Sem ninguém me perceber. Queria ser um mosquito Para poder escutar

A conversa dos adultos sem ter que me retirar. Falando com sinceridade,

Quero mesmo é crescer Ser um homem de verdade Estudar, lutar e vencer. Solange Valadares

Retire do poema o que se pede: 1 – Quatro palavras com ditongo. 2 – Quatro palavras com hiato.

3 – Quatro palavras com encontro consonantais. 4 – Quatro palavras com dígrafos.

5 – Quatro palavras monossílabas. 6 – Quatro palavras dissílabas. 7 – Quatro palavras trissílabas. 8 – Quatro palavras polissílabas.

Exemplo 4:

Faça um texto descrevendo o animal do desenho seguindo o esquema abaixo.

Quem é? Como ele é?

Tem penas ou pêlo? O que está fazendo? O que gosta de fazer? Um fim para a história. Não se esqueça do título.

___________________________

__________________________________________________________________ __________________________________________________________________

Atividade retirada do Semanário de P19.

Estas propostas exemplificam, em linhas gerais, o tipo de atividade de Língua Portuguesa desenvolvida com os alunos por vários professores da escola (P06, P07, P08, P10, P18, P21, P22, P26, P28, P29, P30 e P31). Havia uma ênfase nas questões de metalinguagem, porém não relacionadas às dificuldades que surgiam nas produções de textos dos alunos. Os alunos realizavam atividades de separação de sílabas, conjugação de verbos, preenchimento de exercícios relacionados à gramática e ortografia. No entanto, estes conhecimentos eram abordados de maneira aleatória e não eram utilizados no momento da produção individual do aluno.

Os textos, como observado no exemplo 3, eram utilizados como pretexto para o trabalho metalingüístico, mas não se priorizava os aspectos lingüísticos: função, objetivo, referências, intertextualidade. As propostas de produção de texto eram baseadas em figuras isoladas, subsidiadas por questões que direcionavam o aluno a registrar uma descrição, sem preocupar-se com a coerência ou a coesão. Em inúmeras propostas, o desenho ocupava parte da folha, dificultando o desenvolvimento do texto na estrutura solicitada. Não se abordava, também, o gênero a ser escrito pelo aluno.

Concordo com SMOLKA (1989) quando enfatiza que o processo de alfabetização como interlocução é desconsiderado no contexto escolar, pois analisando as propostas percebe-se que

o ensino da escrita tem se reduzido a uma simples técnica, enquanto a própria escrita é reduzida e apresentada como uma técnica, serve e funciona num sistema de reprodução cultural e produção em massa. (...) Ou seja, a escrita, sem função explícita na escola, perde o sentido; não suscita, e até faz desaparecer o desejo de ler e escrever. A escrita, na escola, não serve para coisa alguma a não ser ela mesma. Evidencia-se uma redundância: alfabetizar para ensinar a ler e escrever. (SMOLKA, 1989, p.37-38)

E, ainda,

a leitura e a escrita produzidas pela/na escola pouco tem a ver com as experiências de vida e de linguagem das crianças. Nesse sentido, é estéril e estática, porque baseada na repetição, na reprodução, na manutenção do status quo. (op. cit, p.49)

Reconhecendo a importância de se trabalhar a funcionalidade da leitura e escrita, considerei as atividades apresentadas como possibilidade de repensar e reorganizar as ações pedagógicas em sala de aula.

Na área de matemática, pude observar uma ênfase às técnicas operatórias. No planejamento, havia algumas propostas de resolução de problemas, mas as contas e expressões numéricas eram mais trabalhadas.

Exemplo:

Diagnóstico de Matemática

1 – Resolva as expressões numéricas, não esqueça das regras:

a) 115: 5 + 81: 9 – 120 X 10=

b) 3 X 2 + 5 X 7 – 8: 4 – 2 X 5=

Atividade retirada do Semanário de P19.

As áreas de História, Geografia e Ciências, geralmente, tangenciavam temas de datas comemorativas. Quando não estavam relacionadas a esse aspecto, eram apresentados temas sem relacioná-los ao cotidiano dos alunos. Eram trabalhados através de cópia do texto informativo e questionário. Em algumas propostas, observa-se a presença da ilustração do texto.

Exemplos:

 Atividade de fevereiro de 2008: eletricidade e certidão de nascimento;

 Atividade de março de 2008: páscoa;

 Atividade de abril de 2008: descobrimento do Brasil, Índios e sistema solar;

 Atividade de maio de 2008: divisão política do Brasil.

Atividades retiradas do Semanário de P19.

É possível observar que os temas gerais da série foram apresentados de forma esporádica: em cada mês, encontrei um texto e questionário relacionados aos temas apontados no quadro acima. No mês de abril, por querer trabalhar as datas comemorativas, a professora P19 aborda três textos diferentes, sendo que o último (sistema solar) não está relacionado aos dois primeiros.

Analisando a forma de registrar o planejamento, verifica-se que, em 2008, a professora ainda utilizou o sistema de caderno rotativo. Os alunos registravam as atividades do dia e, em alguns espaços, havia registro da professora. Mesmo incentivando a entrega do semanário e enfatizando a importância da interlocução, a professora P19 dificilmente entregava seu planejamento. Resolvi, em 2008, não insistir na mudança da estrutura do semanário. Tentei orientá-la a partir do documento que ela optou em utilizar.

Através dos encontros de HTPC e dos inúmeros diálogos sobre a escrita, em setembro deste ano, a professora P19 propôs uma produção de texto sem figura, solicitando a estratégia de inferência por parte dos alunos.

Produção de texto: ler o texto “O sumiço da coisa” até o clímax da história; propor que os alunos continuem, tentando imaginar o que aconteceu.

Atividade retirada do Semanário de P19.

Pela primeira vez, a professora percebeu que os alunos se envolveram no momento da produção de texto e que os mesmos registraram situações interessantes.

Eles gostaram muito da proposta. Ficaram querendo saber o que aconteceu, qual era o fim da história. Foi muito legal. Vi que dessa vez eles estavam diferentes. E quando vi a produção, vi que eles escreveram mais e mais coisas interessantes sabe... (Diário de campo, setembro de 2008)

Após esse acontecimento, até o final deste ano letivo, todas as propostas de produção de texto desta professora se basearam nesta estrutura. Seu relato em HTPC fez com que outros colegas, também, experimentassem a atividade em sala de aula.

Em 2009, na reunião de planejamento, enfatizamos que reorganizaríamos o impresso do semanário, destacando objetivos e conteúdos da semana. Também, optamos por padronizar a sistematização: todos os professores entregariam o planejamento no início da semana. Houve questionamentos sobre essa questão. Alguns professores do período da manhã (incluindo a P19) alegaram que, muitas vezes, planejavam a semana, mas algumas atividades necessitavam ser modificadas. Diante de tal argumento, esclarecemos que tais considerações e modificações poderiam ser registradas no relatório da semana. Atendendo a solicitação dos professores, trabalhei em HTPC com os conceitos de objetivos, conteúdos, atividades, apresentando exemplos de planos registrados por mim (quando estava em sala de aula) e por profissionais da escola.

A partir dessa ocasião, a professora P19 passou a entregar seu planejamento (assim como todos os demais professores), constando as propostas de atividades a serem realizadas com seus alunos de 3ª série. Neste ano, ela trabalhava no mesmo grupo das professoras P18 e P21, que iniciou seu trabalho nesta escola no mês de fevereiro.

Analisando o semanário registrado em 2009 por P19, observa-se uma preocupação em abordar os temas gerais de História, Geografia e Ciências. Há atividades sobre datas comemorativas, mas não como eixo norteador do trabalho. Além disso, a dinâmica “cópia de texto e questionário” foi substituída por trabalhos em grupo, registro e pesquisas.

 Atividades de fevereiro de 2009: coleta de dados da Certidão de Nascimento; análise de paisagens da cidade (passado e presente) para verificar as mudanças;

 Atividades de março de 2009: abordar o tema família com a música do Titãs “Família”; levantamento do conhecimento prévio dos alunos sobre o corpo humano; jogos envolvendo o tema corpo humano;

 Atividades de abril de 2009: confecção de pirâmide alimentar com os alunos; confecção de cartazes sobre paisagens modificadas pelo homem.

fotos; construção de gráfico a partir de pesquisa e entrevista dos alunos com alguns profissionais; pesquisa dos alunos sobre o lixo na cidade.

Atividades retiradas do Semanário de P19.

A transformação observada nessas áreas e, também, em Artes (a professora iniciou um trabalho com algumas obras de artistas clássicos, no lugar das ilustrações de desenhos mimeografados), não ocorreu na área de Língua Portuguesa.

Exemplos:

 Atividades propostas na semana de 09 a 13 de março de 2009: Leitura de um texto informativo “Nosso corpo”; Proposta de produção de texto: Por que sentimos medo?; Reportagem sobre estresse – retirar do texto palavras monossílabas, dissílabas, trissílabas, polissílabas, singular, plural, substantivo próprio; Correção coletiva da produção de texto “O casamento do Porcolino”.

Atividades retiradas do Semanário de P19.

A professora P19 iniciou o ano apresentando, novamente, uma grande ênfase aos exercícios de gramática e ortografia. As propostas de produção de texto não partiam mais de figuras, porém os temas eram abrangentes e não estavam articulados. O trabalho desenvolvido no final de 2008, e apresentado aos demais colegas como atividade mais significativa da professora, não é retomado.

Minhas intervenções e meus registros no semanário de P19 apontam a necessidade de sistematização no trabalho referente à escrita:

O tema da semana é corpo humano. Percebi que muitas propostas estão relacionadas a este assunto. Seria interessante registrar as concepções das crianças no momento da conversa informal, para que, após os estudos, possam comparar e verificar aprendizagens. Creio que a produção de texto possa estar relacionado ao tema também. Você poderia propor o registro do que aprenderam.

Quanto à reportagem, acredito que possam escrever (individual ou coletivamente) algumas dicas para enfrentar as doenças dos tempos modernos. Percebo que você tem se esforçado na perspectiva do trabalho interdisciplinar e esse é o caminho. Fico feliz com os avanços. Continue contando comigo. (Semanário de P19, semana de 09 a 13 de março de 2009).

Em junho de 2009, verifica-se no semanário da professora uma proposta de produção de texto semelhante às atividades desenvolvidas no final do ano letivo de 2008.

Leitura do texto “A bomba”. Produção de texto: os alunos escreverão um desfecho diferente para a história, imaginando que um ou mais personagens tivessem agido de forma diferente.

Atividade retirada do Semanário de P19.

No segundo semestre deste mesmo ano, a professora P19 apresentou diferentes atividades que ofereceram indícios de transformação na ação pedagógica: pesquisas, trabalho em grupo para abordar o tema folclore (21 a 28 de agosto); produção de texto individual (a partir de um livro selecionado previamente) e revisão coletiva (30 de agosto a 04 de setembro); registro coletivo sobre tema trabalhado na semana (08 a 12 de setembro); trabalho com texto informativo sobre estações do ano, questões de interpretação, utilização de imagens e obra de arte (14 a 19 de setembro); tangram, confecção de imagens e produção de texto (28 de setembro a 03 de outubro).

Minhas observações, registradas no semanário a partir de setembro, apontam mudanças significativas no planejamento da professora, destacando a presença das situações didáticas estudadas e combinadas coletivamente em HTPC.

Procure planejar a leitura diária realizada por você. É um momento fundamental para que conheçam a forma de ler em voz alta, prestando atenção na entonação. E, também, é importante para o contato com os diferentes gêneros e estilos de autores. Utilize a pesquisa na área de História e Geografia para compartilhar com as outras turmas. Boa proposta de produção de texto. Creio que as escritas possam ser socializadas com a outra turma de 3ª série ou sintetizadas num cartaz coletivo para divulgação na escola. (Semana de 17 a 21 de agosto de 2009)

Seria interessante elaborar um livro de brincadeiras: cada dupla registraria um texto instrucional de uma brincadeira, ilustraria e, posteriormente, você poderia solicitar a encadernação (sobre a proposta de resgate de brincadeiras infantis). Bom encaminhamento das propostas na área de História e Geografia (referência ao trabalho em grupos para estudo do tema folclore, em que a professora destacou a divisão por temas e apresentação dos alunos). (Semana de 24 a 28 de agosto de 2009)

Bom encaminhamento na proposta de produção de texto (referência à proposta de leitura diária de um livro só com imagens, a partir das quais cada aluno criaria seu próprio texto e compartilharia com os demais). (Semana de 30 de agosto 04 de setembro de 2009)

Boa ideia! Que tal solicitar a utilização das características do pintor? (referência ao trabalho com imagens – fotos e obra de arte – para explicar as modificações do tempo). (Semana de 14 a 19 de setembro de 2009).

Que bom, P19! Creio que o avanço esteja relacionado à ênfase na revisão de textos. Continue investindo nisso! (referência à citação da professora sobre os avanços na produção de texto dos alunos). (Semana de 21 a 26 de setembro de 2009)

P19, que bacana! Tenho percebido uma evolução nas propostas. Muito bom! Estão bem elaboradas e mais interessantes! (Semana de 28 de setembro a 03 de outubro de 2009)

Essa constatação, também, foi apresentada por parte do grupo de professores, no momento de análise do planejamento (atividade realizada no início do segundo semestre de 2009).

A P19 mudou muito seu planejamento. A gente percebeu que ela se preocupa mais em garantir atividades mais significativas aos seus alunos e os temas estão mais articulados. Ela melhorou bastante no registro. (P16)

Eu tenho me esforçado bastante...é difícil, porque trabalho o dia inteiro, mas estou tentando. Também vi que mudei. (P19, em resposta ao comentário de P16).

As tentativas da professora demonstram seu processo de envolvimento com o grupo de professores e a transformação quanto à concepção de aprendizagem. Os exercícios repetitivos e desarticulados deram lugar às análises de escrita coletivas, e as propostas de cópia e questionários foram modificadas por inúmeros trabalhos em grupos, pesquisas e produção. Analisando esse processo e as considerações sobre o mesmo, verificam-se indícios de desenvolvimento: da ação profissional, do trabalho e do sujeito.

Cabe refletir sobre a concepção de desenvolvimento assumida neste trabalho, pois sabemos que há diferentes representações e pesquisas sobre este conceito.

Apresento, para iniciar, o termo desenvolvimento profissional docente, empregado por MARCELO GARCIA (1995) para conceituar o processo de aperfeiçoamento contínuo e evolutivo do professor.

Deste modo, mais do que aos termos aperfeiçoamento, reciclagem, formação em serviço, formação permanente, convém prestar uma atenção especial ao conceito de desenvolvimento profissional dos professores (grifos do autor), por ser aquele que melhor se adapta à concepção actual do professor como profissional do ensino.

Para este autor, a noção de desenvolvimento traz a ideia de evolução e continuidade, superando a justaposição entre formação inicial e permanente dos professores, pressupondo valorização de aspectos contextuais, organizativos e orientados para a mudança.

Analisando as concepções teóricas da perspectiva assumida nesta pesquisa, pretendo, então, discutir o conceito de desenvolvimento de Marcelo Garcia, uma vez que para Vigotski o desenvolvimento não é linear, nem segue um percurso contínuo.

Pelo contrário, o desenvolvimento se apresenta como um drama, caracterizado por saltos, mudanças, rupturas, movimento, tensão, contradição, evolução, mas, também, involução.

um processo dialético que se distingue por uma complicada periodicidade, a desproporção no desenvolvimento das diversas funções, as metamorfoses ou transformações qualitativas de umas formas em outras, o entrelaçamento complexo de processos evolutivos e involutivos, o complexo cruzamento de fatores externos e internos, um complexo processo de superação de dificuldades e de adaptação. (VIGOTSKI, 1995, p.141)

CLOT (2006a), assumindo o mesmo ideário, em seus trabalhos, também, destaca o conflito como cerne do processo de desenvolvimento. Utiliza o termo “teatro de uma luta” e enfatiza que

a única „unidade‟ que se pode conceber aqui é aquela, não de um estado, mas de um movimento desarmônico: a unidade de um desenvolvimento cujo equilíbrio transitório aparece ulteriormente, depois de uma luta, no „ponto de colisão‟ entre vários desenvolvimentos possíveis. Parafraseando Vygotsky (...) diremos que o desenvolvimento alcançado pela atividade do sujeito que trabalha é um sistema de ações que venceram. (CLOT, 2006a, p.99)

Essas ideias estão circunscritas numa concepção histórica e cultural de desenvolvimento. Oportunizam-nos reflexões que superam a falsa premissa de que, para professor exercer sua profissão, basta, simplesmente, dominar um determinado corpo de conhecimentos e refletir sobre sua prática: ideia vinculada às necessidades das denominadas formações contínuas e em serviço. Nesse sentido, cabe analisar a tácita ideologia dessas propostas, pois os programas de formação de professores possuem ressalvas conceituais, científicas e metodológicas. Uma das grandes deficiências encontra-se na forte tendência em separar a execução do conhecimento: trata-se de um fenômeno que legitima a intervenção de especialistas e enfatiza características técnicas do trabalho docente (NÓVOA, 1995).

Diante do exposto, emerge a necessidade de reflexão sobre como vislumbrar e organizar oportunidades efetivas de desenvolvimento docente. De que maneira esse desenvolvimento pode ser pensado nas escolas? E nos cursos oficiais de formação? Quais são as possibilidades de realização desse trabalho? Quais as relações estabelecidas entre a concepção de desenvolvimento profissional, pessoal e institucional?

Sobre essas questões MARCELO GARCIA (1995) nos aponta a necessidade de conceber a formação de professores como um continuum (grifos do autor), existindo

“uma forte interconexão entre o currículo da formação inicial de professores e o currículo da formação permanente” (p.55). Para este autor, outro aspecto importante no processo de desenvolvimento profissional docente é a indagação-reflexão, que consiste numa estratégia de análise de causas e consequências das ações docente, superando os limites da aula.

ANJOS (2006) cita que é importante pensar que o professor não sai pronto de sua formação inicial, porém nos aponta a necessidade de refletir sobre a concepção de desenvolvimento.

O conceito de desenvolvimento profissional ao postular que o professor não sai pronto de uma formação inicial constitui-se numa importante contribuição, entretanto, indagamos como este desenvolvimento é concebido, como se relaciona com as trajetórias de vida e de trabalho, tão complexas e singulares dos professores. (ANJOS, 2006, p.43).

O planejamento da professora P02, também, nos oferece indícios sobre esse processo do desenvolvimento e da constituição do sujeito. Durante os três anos de trabalho, a professora apresentou ações que representam reflexão constante sobre o seu fazer em sala de aula, sobre a aprendizagem e sobre o ensino.

Nesses três anos, P02 trabalhou com turmas de alfabetização (1ª série ou 2° ano, utilizando a nova nomenclatura do Ensino Fundamental de Nove Anos). Inicialmente, suas propostas de trabalho estavam circunscritas na ênfase em sílabas e palavras.

Exemplo:

Completar com vogais:

___STR___L___ ___B___C___X___ ___L___FANT____ ___VI___ ___LH___ ___RS___

Atividade retirada do Semanário de P02.

As propostas de produção de texto eram coletivas e não havia oportunidade para que cada aluno tentasse, individualmente, registrar seu próprio texto.

Os questionamentos apontados por mim (em HTPC) e algumas observações no semanário sobre a importância do trabalho com textos na alfabetização, oportunizaram reflexões por parte da professora P02. No início do segundo bimestre, a professora se

desfez do planejamento registrado no primeiro bimestre e iniciou um novo documento. Essa atitude representava o marco de uma transformação em suas propostas.

No trabalho com os textos, as questões de interpretação foram elaboradas de maneira diferente, buscando um processo mais minucioso de compreensão. As propostas de escrita abrangiam momentos coletivos, em grupos e individuais.

Exemplos:

1) Texto: Xadrez (João Proteti) – atividade do dia 05 de maio de 2008

Questões (oralidade): você tem ou teve um gato de estimação? De que os gatos se alimentam? Quais os cuidados que devemos ter com os gatos? Que nomes são comumente dados aos gatos?

Questões (escrita):

Esse texto conta uma história por meio de versos. Como é chamado esse gênero de texto?

( ) notícia ( ) receita ( ) poema

São 3 personagens que aparecem nesse texto. Leia os nomes e desenhe. Esse poema foi retirado do livro Á toa, à toa. Copie os outros dados: Nome do autor:___________________________________

Título do poema:__________________________________

2) Texto: Perdeu-se um gatinho (Pedro Bandeira) – atividade do dia 26 de maio de 2008

Circular as estrofes em que a pessoa diz o que irá fazer.

Cada dupla fará um anúncio para recuperar esse gatinho que sumiu de casa,