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Apresentação individual dos dados

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 154-160)

29. Desempenho de Marcos nas provas aplicadas no pré-teste e pós-teste 1 e 2

4.1 Apresentação e análises dos resultados

4.1.8 Apresentação individual dos dados

João começou a intervenção com 11 anos e 3 meses e apresentou diagnóstico de Síndrome de Down do tipo trissomia livre do par 21, sem alterações na visão ou audição. Na ocasião estava incluído numa turma de 2º ano de uma escola de ensino público regular. O aluno começou seus estudos na educação infantil aos 3 anos de idade, e aos 7 anos passou a frequentar o ensino fundamental, porém, após repetir o 1º ano foi encaminhado para a classe especial onde permaneceu por 2 anos. Depois deste período retornou ao ensino regular e permaneceu por 2 anos numa turma de 2º ano. Assim, quando começou a participar da pesquisa estava frequentando classe inclusiva de 2º ano.

João participou de todas as sessões planejadas e realizou prontamente as atividades propostas, estava sempre bem humorado, trazia flores do seu jardim, balas, pirulitos, bombons, pedrinhas que achava na rua, desenhos em pedaços de papel e chegava sempre sorrindo.

A tabela 25 mostra os percentuais de acertos obtidos por João ao longo da pesquisa.

Tabela 25 – Desempenho de João nas provas aplicadas no pré-teste e pós-teste 1 e 2.

Provas Pré-teste Pós-teste 1 Pós-teste 2

Voc. Receptivo 48,92 53,95 63,30 Voc. Expressivo 78,16 83,81 90,56 Nomes Letras 34,61 100 100 Sons Letras 28 100 100 Leitura 5,55 72,22 94,44 Escrita 2,12 48,93 70,47 Consc. Fonológica 6,66 36,66 50 Fonte: Barby, 2013.

Conforme se observa na tabela 25, João evoluiu em todas as habilidades avaliadas, porém, os avanços mais significativos foram no conhecimento das letras, consciência fonológica e na leitura e escrita. Ao longo das primeiras 40 sessões João aprendeu os nomes das letras e a distinguir os seus respectivos sons, e também as sílabas simples no padrão CV.

Estes conhecimentos proporcionaram um significativo aumento na leitura de palavras isoladas, sobretudo as regulares com sílabas no padrão CVCV.

Porém, os resultados obtidos no pós-teste 1 mostram que João teve dificuldades na leitura e escrita de dígrafos e encontros consonantais e sílabas complexas, tanto na leitura quanto na escrita, além de apresentar omissões de letras.

Ao final da pesquisa (pós-teste 2) João conseguiu estabelecer conexões entre fonemas e grafemas com mais eficiência, desta forma, conseguiu ler com mais rapidez e eficiência as palavras e pseudopalavras da prova de leitura e também apresentou um número menor de omissões e trocas de letras na escrita.

Na leitura de frases e textos João teve dificuldades na decodificação de sílabas com padrões mais complexos como por ex. CVC, VC, CCV, como: SORVETE, PORTA, PISTA, GLOBO, ESTRADA, e também nas sílabas nasalizadas pela presença de M e N, como: MORANGO, EMPADA, dentre outras.

Paulo começou a intervenção com 12 anos e 5 meses e teve diagnóstico de Síndrome de Down do tipo trissomia livre do par 21. Apresentou problema visual corrigido e audição preservada. Na ocasião estava frequentando programa de alfabetização na escola especial e no ensino regular. No início da escolarização, Paulo frequentou a educação infantil durante 4 anos, sendo 2 na escola especial e 2 anos no ensino regular. Aos 7 anos iniciou o ensino fundamental e repetiu várias vezes as séries de alfabetização (1º e 2º ano), com 11 anos frequentou a classe especial e com 12 anos passou a ser atendido em programa de alfabetização (nível de 2º ano) na escola especial em parceria com o ensino regular.

Paulo mostrou-se muito interessado pela aprendizagem da leitura e escrita durante as sessões. Manteve-se sempre muito concentrado, organizado e perseverante, nunca desistindo de realizar as atividades propostas até o final. Procurava fazer tudo com perfeição, pintava os desenhos das atividades em casa, e ao final das sessões organizava a mesa e se oferecia para guardar os jogos. (Tabela-26).

Tabela 26 – Desempenho de Paulo nas provas aplicadas no pré-teste e pós-teste 1 e 2.

Provas Pré-teste Pós-teste 1 Pós-teste 2

Voc. Receptivo 57,55 66,18 73,38 Voc. Expressivo 45,47 56 67,47 Nomes Letras 38,46 100 100 Sons Letras 40 100 100 Leitura 5,55 91,66 100 Escrita 2,12 63,82 85,10 Consc. Fonológica 11,42 52,85 62,85 Fonte: Barby, 2013.

Conforme se observa na tabela 26, Paulo evoluiu em todas as habilidades avaliadas, com melhoras significativas nas medidas de conhecimento das letras, consciência fonológica e na leitura e escrita. Destaca-se também o aumento obtido por este aluno também nas medidas de vocabulário expressivo, visto que, inicialmente (pré-teste) apresentou alto índice de substituições (PS) dos vocábulos usualmente empregados na linguagem oral (substantivos). Ao longo das primeiras 40 sessões, Paulo aprendeu os nomes e sons das letras, a decodificação e escrita de muitas palavras no padrão CVCV, e também obteve ganhos nas tarefas de consciência fonológica.

No processo de aprendizagem da leitura e escrita começou a nomear um número cada vez maior de figuras e a ler cada vez mais palavras, assim, aos poucos foi incorporando novos termos ao vocabulário. Foi interessante notar que no início desta pesquisa Paulo olhava para uma figura relativamente comum como de uma abelha e dizia, “não sei”, quando a pesquisadora dava dicas como: ela voa sobre as flores, fabrica o mel, gosta de voar no jardim, a picada dela é muito dolorosa, Paulo olhava a figura repetia as frases, fazia gestos demonstrando que ele sabia o que era, reconhecia a figura, mas, não sabia o nome (o nome) abelha. Então usava termos genéricos: “bicho”: abelha, mosquito, lagarta, borboleta; animal: raposa, urso, onça, zebra; “de comer”: colher, garfo, faca, prato, pires, tigela. Na tentativa de auxiliá-lo, todo o material escrito usado pelo Paulo durante a intervenção foi ilustrado com figuras e fotografias e ele foi incentivado a observá-las e nomeá-las.

Desta forma, Paulo teve um forte desenvolvimento do vocabulário expressivo durante a pesquisa diminuindo sensivelmente o emprego de processos de substituição de vocábulos usuais como mímicas e descrições das funções dos objetos. Ao final da pesquisa, muita vezes, quando lia as palavras ele falava pra si mesmo: “ah! sei, sei, sei” balançando a cabeça afirmativamente.

Paulo também teve dificuldades com o emprego dos dígrafos, encontros consonantais e decodificação de padrões de sílabas mais complexos, como por ex. CCV, CVC, dentre outras. Porém, ao final da pesquisa (pós-teste 2) Paulo evoluiu para níveis mais eficientes de consciência dos sons da pronúncia das palavras e consequentemente na leitura, conseguindo utilizar os conhecimentos adquiridos sobre as relações fonema-grafema para ler palavras desconhecidas em frases e pequenos textos infantis.

Ana começou a intervenção com 12 anos e 3 meses, com diagnóstico de Síndrome de Down do tipo trissomia livre do par 21, não tinha relatos da família de perda auditiva e os problemas de visão estavam corrigidos. Na ocasião estava incluída numa turma de 2º ano de uma escola de ensino público regular. Ana estudou em escola regular desde os 3 anos na

educação infantil e a partir dos 6 anos no ensino fundamental, repetiu várias vezes o 1º e 2º ano, foi encaminhada à classe especial onde permaneceu por 1 ano e 6 meses e retornou para o ensino regular para cursar novamente o 2º ano.

A aluna participou de todas as sessões planejadas e inicialmente mostrou-se muito preocupada em acertar tudo, e até ansiosa, sempre perguntando se o que fazia estava certo. Muitas vezes colocava a mão sobre o peito e dizia ufa!!! quando realizava uma tarefa ou repetia “tá difícil, não sei não, ai ai, ajude”. Com o decorrer das sessões foi se envolvendo com as atividades e se sentindo mais segura, gostava das atividades de leitura e de pintar as figuras das tarefas que iam para casa.

Ana aprendeu rapidamente a ler um grande número de palavras, porém, teve algumas dificuldades na distinção dos fonemas T/D, apresentando frequentemente estas trocas na escrita. A aluna conseguiu estabelecer relações entre os demais fonemas e grafemas de forma bastante eficiente e desenvolveu a capacidade de ler palavras desconhecidas em frase e pequenos textos infantis e pseudopalavras.

Durante a primeira fase da intervenção (40 sessões) a aluna aprendeu a juntar os sons das letras em sílabas com muita eficiência e usou este conhecimento para obter alto índice de acerto no pós-teste 2. Na escrita, a aluna também evoluiu significativamente, porém precisou de mais sessões para superar algumas trocas e omissões.

A tabela 27 mostra os percentuais de acertos obtidos por Ana ao longo da pesquisa.

Tabela 27 – Desempenho de Ana nas provas aplicadas no pré-teste e pós-teste 1 e 2.

Provas Pré-teste Pós-teste 1 Pós-teste 2

Voc. Receptivo 48,20 57,55 66,50 Voc. Expressivo 79,03 82,26 89,18 Nomes Letras 53,84 100 100 Sons Letras 56 92 100 Leitura 5,55 100 100 Escrita 8,51 61,70 87,23 Consc. Fonológica 13,33 46,66 76,66 Fonte: Barby, 2013.

Ao final da pesquisa, Ana apresentou habilidades grafofonêmicas bastante desenvolvidas, maior capacidade de leitura de palavras desconhecidas em frases e textos infantis e de pseudopalavras. E também começou a desenvolver habilidade de escrita espontânea de mensagens curtas. A aluna teve bom desempenho final nas tarefas de consciência fonológica, sobretudo, na síntese e segmentação de sílabas e fonemas.

Maria começou a intervenção com 15 anos e 5 meses e apresentou diagnóstico de Síndrome de Down do tipo trissomia livre do par 21, tinha problema visual corrigido e nenhum relato de problemas auditivos. A aluna frequentou a escola especializada desde os 5 meses, e programa de alfabetização oferecido pela escola especial desde os 7 anos.

A aluna participou de todas as sessões planejadas e realizou as atividades propostas com muito interesse, chegava sempre pontualmente e ficava muito chateada quando tinha feriados e alguma sessão precisava ser remarcada. A aluna tinha uma vontade imensa de ler, fazia as atividades de casa e as copiava novamente ou então passava lápis colorido sobre elas e sempre reclamava quando não ia uma atividade para cada dia que não tinha sessão. Estudava as letras, sílabas e palavras em casa e por vezes chegava a rasgar as folhas, e costumava dizer “vou ser ‘profe’, trabalhar aqui com você, ensinar as crianças”.

No início da pesquisa Maria conhecia partes dos nomes e sons das letras, e na primeira parte da intervenção a aluna desenvolveu habilidades de consciência silábica, aprendeu as sílabas simples e os nomes e sons das letras, conseguiu evoluir significativamente da leitura e escrita de palavras. Porém, teve dificuldades para distinguir os sons das letras F/V, apresentando trocas na escrita destas duas letras até próximo do final da intervenção. (Tabela- 28).

Tabela 28 – Desempenho de Maria nas provas aplicadas no pré-teste e pós-teste 1 e 2.

Provas Pré-teste Pós-teste 1 Pós-teste 2

Voc. Receptivo 50,35 59,71 68,34 Voc. Expressivo 72,53 78,82 86,41 Nomes Letras 53,84 100 100 Sons Letras 44 92 100 Leitura 5,55 94,44 100 Escrita 8,51 55,31 82,97 Consc. Fonológica 10 30 70 Fonte: Barby, 2013.

Ao final da pesquisa, Maria apresentou habilidades grafofonêmicas bastante desenvolvidas, e evoluiu na leitura de palavras desconhecidas em frases e textos infantis e de pseudopalavras. A aluna Maria também teve significativo avanço na escrita de palavras e começou a desenvolver habilidade de escrita espontânea de mensagens curtas e as trocas de F/V foram superadas.

Marcos começou a intervenção com 9 anos e 9 meses, com diagnóstico de Síndrome de Down do tipo trissomia livre do par 21, não tinha relatos da família de perda auditiva ou

visual. No início da escolarização frequentou escola especial até os 2 anos e depois escola regular, com 7 anos iniciou o ensino fundamental e também repetiu o 1º ano, na ocasião da pesquisa estava repetindo o 2º ano.

Marcos participou de todas as sessões de intervenção sempre muito animado e falante, adorava falar de casa, das brincadeiras, dos familiares, dos cachorros, enfim, contar fatos corriqueiros. Durante as atividades queria fazer somente o que já sabia e esforçava-se ao máximo para despistar a pesquisadora sempre que encontrava alguma dificuldade, começava dizendo “já sei esse”, “eu fiz ... a minha escola ... sabe meu cachorro morreu ...”, e quando alertado para a atividade, falava de outra coisa, “tô com calor”, então tirava o casaco, e aí inventava outra coisa. Sempre aparecia com novos artifícios (era muito criativo), forçava para quebrar a ponta do lápis, apagava as escritas constantemente, derrubava os materiais no chão, ficava em silêncio e dizia que estava pensando, e prontamente recomeçava a conversa: “minha bicicleta quebrou”.

Assim, as primeiras sessões com Marcos foram bastante desafiadoras, vários jogos foram feitos pela pesquisadora para motivá-lo, e de imediato foi possível perceber que o aluno gostava de desafios e sempre queria ganhar nos jogos. Desta forma, a proposição de diferentes jogos e o emprego de materiais variados, coloridos e atraentes, foi fundamental para despertar o interesse de Marcos pela leitura.

Com o aluno Marcos também foi necessário combinar algumas regras de estudo e da distribuição do tempo durante as sessões. Inicialmente foi combinado com ele que seria destinado um tempo no início da sessão de alguns minutos para que ele contasse sobre sua casa e o tempo seria marcado com o uso de uma ampulheta sobre a mesa. Ele ficou muito interessado pela ampulheta e cumpriu o combinado. Assim, na primeira fase da intervenção (40 sessões) foram feitos entre um e dois intervalos durante o tempo de estudo quando ele se cansava ou dispersava (sempre marcados com a ampulheta), na segunda fase o envolvimento do aluno nas atividades dispensou o uso da ampulheta e raramente foram necessários intervalos durante as sessões.

Marcos tinha vocabulário expressivo bem desenvolvido no início da pesquisa e aprendeu rapidamente os nomes e sons das letras e as sílabas simples, os resultados do pós- teste 1 mostram que Marcos evoluiu significativamente na leitura de palavras ao longo da primeira fase de intervenção. (Tabela-29).

Tabela 29 – Desempenho de Marcos nas provas aplicadas no pré-teste e pós-teste 1 e 2.

Provas Pré-teste Pós-teste 1 Pós-teste 2

Voc. Receptivo 56,83 61,15 64,02 Voc. Expressivo 79,75 82,62 88,44 Nomes Letras 19,23 100 100 Sons Letras 20 100 100 Leitura 5,55 80,55 91,66 Escrita 2,12 59,57 76,59 Consc. Fonológica 10 33,33 53,33 Fonte: Barby, 2013.

Ao final da pesquisa (pós-teste 2) Marcos conseguiu estabelecer conexões entre fonemas e grafemas com mais eficiência e conseguiu ler com maior rapidez e precisão as palavras e pseudopalavras da prova de leitura e também diminuiu o número de omissões e trocas de letras na escrita. Porém, ainda encontrava dificuldades na decodificação de sílabas complexas, nos encontros consonantais e alguns dígrafos.

Na leitura de frases e textos infantis teve dificuldades na decodificação das palavras, /SO/VETE – (SORVETE) - /FO/TE (FORTE) - CA/DE/RA – (CADEIRA) - MO/RA/GO, /GO/ TO (GOSTO) e não conseguiu ler a palavra “professora”.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 154-160)