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APROPRIAÇÃO DE HISTOIRE DE LA FORMATION PARTICULARISTE : L’ORIGINE DES GRANDS PEUPLES ACTUELS, DE HENRI DE TOURVILLE

No documento As leituras pedagógicas de Sílvio Romero (páginas 124-130)

MORALE ET PHYSIQUE DE HERBERT SPENCER

OUVRAGES DE M HERBERT SPENCER TRADUITS EN FRANÇAIS

3.2 APROPRIAÇÃO DE OBRAS DA ESCOLA DE CIÊNCIA SOCIAL

3.2.1 APROPRIAÇÃO DE HISTOIRE DE LA FORMATION PARTICULARISTE : L’ORIGINE DES GRANDS PEUPLES ACTUELS, DE HENRI DE TOURVILLE

Henri de Tourville (1842-1903) nasceu na Normandia, na França. Estudou Direito na

École de Chartres, mas não seguiu carreira. Escolheu o sacerdócio. Quando conheceu Le Play abandonou os deveres sacerdotais para se dedicar aos estudos sociológicos. Foi membro da

Societé Internacionale des Études Pratiques d’Economie Sociale. Editou os periódicos La

Réforme Sociale e La Science Sociale.275

Histoire de la formation particulariste é a reunião de artigos publicados pelo autor na revista La Science Sociale, de fevereiro de 1897 a 1903, ano de sua morte. O livro foi editado pela Firmin-Didot et Cie em data desconhecida.

A obra foi impressa em formato in-8, um dos padrões de Firmin-Didot. Na sua elaboração foi empregado o tipo romano com corpo 9, entrelinhamento com 4 pontos em relação ao corpo. O exemplar apresenta margem superior, dianteira e medianiz de 2 cm e margem de 3 cm. As margens originais foram respeitadas pelo encadernador da Livraria F.

Briguiet et Cie., no Rio de Janeiro. Há alguns aparelhos críticos como advertência do editor, notas explicativas e de referência e índice analítico.

Na advertência o editor informa que foi respeitado o título que o autor havia dado à série de artigos, mas foi acrescentado o subtítulo L’origine des grands peuples actuels para atrair um público mais amplo, uma vez que o título é claro para o público especializado, leitor Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas. Tese (Doutorado) -Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001.

275 Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux

Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre- Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas. Tese (Doutorado) - Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001.

da revista La Science Sociale, conhecedor das doutrinas da Escola Social de Le Play, mas obscuro para o grande público.

O objetivo da obra é estudar numa perspectiva histórica a ascensão dos povos de formação particularista. A obra foi dividida em 30 capítulos. Tourville fez um histórico da formação dos povos da era antiga até a contemporânea. Estudou a invasão da Roma Antiga, destacando os germânicos, os góticos, os noruegueses, os saxões e os francos. Analisou o Império Carolíngio, do apogeu à decadência. Estudou o surgimento e o auge do Feudalismo Investigou a introdução dos saxões na Grã- Bretanha, o predominio desses povos sobre os celtas, normandos e dinarmaqueses e a aliança como os anglos. Analisou o Renascimento Comercial, a descoberta das Índias Orientais e Ocidentais, o surgimento das Monarquias Européias, a Revolução Francesa, o Império Alemão e os grandes povos particularistas atuais: ingleses e norte-americanos.

Henri de Tourville é considerado um dos principais renovadores da Escola de

Ciência Social, pois procurou integrar as monografias de famílias e as monografias de sociedades, procurando realizar de forma inovadora o que seu mestre havia tentado sem muito sucesso. Para cumprir tal objetivo, investiu na criação de uma nomenclatura dos fatos sociais, entendida como instrumento que permitiria, partindo da análise da família, estudar as sociedades. Nesta nomenclatura, os fatos sociais são distribuídos em 25 grandes classes (lugar, trabalho, bens imóveis, bens móveis, salário, economia, poupança, fases de existência, patronato, comércio, culturas, intelectuais, religião, vizinhança,corporações, comuna, reunião de comunas, cidades, comarca, província, estado, expansão da raça estrangeira, história da raça e hierarquia da raça) que favorecem a descrição metódica da realidade através do isolamento dos fatos sociais essenciais, sobretudo porque permite ascender a uma explicação pelo estudo da ação e da reação dos fatos entre si.

Seguindo essa metodologia para a análise da formação dos povos o sociólogo francês classificou as sociedades humanas em dois tipos: a sociedade de formação comunária e a sociedade de formação particularista. As sociedades de formação comunária são constituídas por povos que procuram resolver os problemas da existência apoiando-se na coletividade, quer da família, da tribo, do clã, do município, da província, do Estado. Notou que as sociedades comunárias são mais numerosas e apresentam três modalidades típicas conforme a espécie de família que lhes serve de apoio: a comunária de família, a comunária de família e

Estado e a comunária de Estado. As duas primeiras são comuns no Oriente Europeu e Asiático e a última na Europa Central e na América do Sul.

Ao contrário das sociedades de formação comunária, as de formação particularista procuram solucionar os problemas da vida firmando-se na energia individual, na iniciativa privada. As sociedades particularistas são menos numerosas e tem como principais representantes a Inglaterra e os Estados Unidos. Para Tourville, os povos particularistas são os mais preparados para os desafios da contemporaneidade e para que as outras sociedades consigam atingir a felicidade devem inspirar-se no modelo de educação desses povos para transformar a índole comunária em índole particularista.276

276 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:

Figura 12 – Folha de rosto de Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels, de Henri de Tourville

Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório. Folha de rosto de Histoire de la formation particulariste. 2004. Acervo pessoal.

As anotações que Sílvio deixou nessa obra foram parcas e têm o caráter de síntese: “(Comércio longo –antigo)”277; “Godos e saythes”278; “(Germans)”279; “Invasões – Razão”280; “(O ponto de partida)”281; “(Origens)”282; “(A formação)”283; “(As invasões)” e “(As transformações)”, “os germânicos são superiores aos romanos possuem forma social superior formação particularista”284; “Vassalalidade, Patronato, Benefício, Colonato, Servidão, Recomendação”285; “Noruega/ Planície Saxônica/ França do Norte/ Inglaterra do Sul/ Estados Unidos/ Austrália/ Canadá/ Nova Zelândia”286

A importância de Henri de Tourville para a elaboração do pensamento social e pedagógico de Sílvio pode ser aquilatada a partir da leitura dos seus textos.

Em 1904, no prefácio do livro Problemas brasileiros, de Artur Guimarães, afirmou que os homens cultos do Brasil não têm “lançado as vistas sobre os belos trabalhos da Escola de Le Play”. A corrente sociológica tem sido citada uma ou outra vez sem grande destaque. Os professores também não a têm adotado nos seus cursos. Notou ser o único que, há poucos anos, tem ensinado as doutrinas dessa escola, que na sua opinião tem os melhores trabalhos

277

TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 28 [margem dianteira].

278 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:

Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 31 [margem superior].

279 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:

Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 32 [margem medianiz].

280 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:

Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 40 [margem inferior].

281 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:

Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 42 [margem medianiz].

282 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:

Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 60 [margem dianteira].

283 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:

Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 70 [margem inferior].

284 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:

Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 100 [margem dianteira].

285 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:

Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 166 [margem superior].

286 TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:

sobre a índole das nações. Afirmou, inclusive, que os dois últimos capítulos da obra prefaciada foram solicitados por ele “para servirem de subsídio e documentação” ao trabalho sobre o Brasil que estava preparando à luz dos processos da escola.287

Seu encantamento pelos métodos empregados por Le Play e seus discípulos evidencia- se nessa passagem:

Lançam mão de processos de observação local, estudando com monografias especiais cada região do pais sob as mais variadas faces, conforme uma enumeração de questões. Depois de reunida grande massa de documentos do gênero é que os mestres do sistema se atrevem a formular quadros gerais desta ou daqueles nacionalidade e estabelecer as leis de seu

desenvolvimento.288

Para Sílvio os procedimentos desta escola são preciosos para quem quer conhecer um país e o povo que o habita. Revelou que, embora soubesse que fazer um quadro social do Brasil sob essa direção demandaria muito tempo e trabalho, pretendia fazê-lo caso tivesse saúde.

Ainda neste trabalho citou Histoire de la formation particulariste, de Henri de Tourville. Afirmou que é um trabalho digno de leitura, essencial para quem deseja estudar a índole de uma nação. Em seguida, apresentou os principais pontos da doutrina de Tourville: a divisão da família em patriarcal, quase patriarcal, instável e tronco; e a divisão da sociedade em comunária de família, comunária de família e de Estado, comunária de Estado e particularista. Observou que é um estudo digno de leitura para quem estiver interessado em conhecer profundamente a nação.

No livro America Latina, aconselhou o médico e pedagogo Manuel Bomfim a adotar

Histoire de la formation particulariste como livro de travesseiro, para não dizer tantos

287 ROMERO, Sílvio. O Sr. Artur Guimarães e seu novo livro (março, 1904). In: _______. O Brasil Social e

outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 25-42.

288 ROMERO, Sílvio. O Sr. Artur Guimarães e seu novo livro (março, 1904). In: _______. O Brasil Social e

“impropérios” sobre o povo brasileiro e as nações européias.289 Nesta obra, apontou que a cura para os males do pais não é a defesa da instrução como prega Bomfim, mas a educação anglo-saxônica, a única capaz de transformar a índole comunária do povo brasileiro em índole particularista.

No Brasil na primeira década do século XX, criticou aqueles que atribuem os problemas do país à inércia dos políticos. Para ele, os problemas devem ser atribuído aos defeitos decorrentes da formação comunária. Acredita que enquanto não utilizarmos os meios necessários para modificar o “caráter intrínseco de nossas gentes”, o país permanecerá mergulhado no atraso.

Em O remédio elencou Histoire de la formation particulariste entre os livros imprescindíveis para estudar a educação brasileira. Voltou a afirmar a necessidade de tranformar a índole comunária em índole particularista e indicou os métodos empregados por “Henri de Tourville, Ed. Demolins, Paul de Rousiers, Paul Descamps, Léon Poinsard, Robert Pinot, A. de Préville, Champault, Bureau”, os “ilustres” cultores dos processos de observação, idealizados por Frédérich Le Play.290

3.2.2 APROPRIAÇÃO DE A QUOIT TIENT LA SUPERIORITÉ DES ANGLO-

No documento As leituras pedagógicas de Sílvio Romero (páginas 124-130)