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As leituras pedagógicas de Sílvio Romero

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO. AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO CRISTIANE VITÓRIO DE SOUZA. SÃO CRISTÓVÃO - SE 2006.

(2) DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. CRISTIANE VITÓRIO DE SOUZA. AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO. Dissertação submetida ao Colegiado do Curso de Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, em cumprimento parcial dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Educação, sob a orientação do Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento.. SÃO CRISTÓVÃO - SE 2006 ii.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Souza, Cristiane Vitório de S729l As leituras pedagógicas de Sílvio Romero / Cristiane Vitório de Souza. – São Cristóvão, 2006. 231 f. : il. Dissertação (Mestrado em Educação) – Núcleo de PósGraduação em Educação, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, 2006. Orientador: Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento 1. História da educação. 2. Sílvio Romero – Biblioteca pedagógica. 3. Leitura. I. Título. CDU 37(091):000.028.1. iii.

(4) “AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO”. APROVADO PELA COMISSÃO EXAMINADORA EM 28 DE SETEMBRO DE DE 2006. ________________________________________________ Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento – Orientador. _______________________________________________ Prof. Dr. José Gerardo Vasconcelos. _______________________________________________ Profª. Drª. Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas. iv.

(5) A Sílvio Romero (in memorian), personagem histórico ao qual tenho dedicado minhas elucubrações. A Maria Marlene de Souza e Everaldo Vitório de Souza (in memorian), meus pais, pelo apoio incondicional dispensado ao longo da minha vida acadêmica.. v.

(6) AGRADECIMENTOS. Colocar o ponto final numa dissertação revela não somente um exercício gramatical ou o término de uma pesquisa, mas o derradeiro sinal de que, afinal, é hora de acabar. Durante o trajeto da sua elaboração contei com a colaboração de várias pessoas. Ao Professor Doutor Jorge Carvalho do Nascimento, meu orientador, agradeço a indicação dos caminhos a serem percorridos durante a pesquisa e a confiança depositada no meu trabalho. Aos Professores Doutores do Núcleo de Pós-graduação em Educação (NPGED), da Universidade Federal de Sergipe, especialmente Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, Edmilson Menezes, Wilma Porto de Prior, Paulo Neves, Miguel André Berger e Maria Helena Santana Cruz, agradeço as lições generosamente oferecidas nas disciplinas do curso. Aos Professores Doutores Fábio Maza e José Rodorval Ramalho, agradeço as sugestões na Banca Examinadora de Qualificação. Aos Professores Doutores José Gerardo Vasconcelos e Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, da Comissão Examinadora, agradeço as leituras atentas (estilo pente fino!), as críticas e sugestões e o incentivo para a continuação da pesquisa. Aos queridos “companheiros de viagem” Ângela, Ana Luzia, Betânia, Cristina, Fernando, Genisson, Ísis, José Marcos, Lourdes, Lúcia, Luís, Marco, Marcos, Maryluze, Neilton, Orlando, Orlandinho, Ricardo e Simone (e Sarinha!), agradeço a disposição de compartilhar as incessantes inquietações. Aos funcionários do NPGED, especialmente Edson, agradeço a prontidão com que sempre me atendeu.. vi.

(7) A Vera, secretária da Revista do Mestrado em Educação, agradeço a parceria em artigos, seminários e minicursos e o fato de ter se tornado uma amiga querida. Aos colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação, da Universidade Federal de Sergipe, agradeço a troca de idéias e o estímulo. A Professora Doutora Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento, agradeço o convite para participar do Grupo de Pesquisa em História das Práticas Educacionais, da Universidade Tiradentes, e o constante e terno incentivo. Ao editor mais recente da obra de Sílvio Romero, Luiz Antônio Barreto, agradeço a atenção e a prestimosa cessão de importantes fontes de pesquisa. Aos funcionários da Biblioteca Pública Epifânio Dória, local onde praticamente morei durante alguns meses, agradeço a delicadeza com que atenderam as minhas insistentes solicitações. Aos familiares, especialmente Mamis, Zezinho, Rodrigo, Lúcia, Leozito, Voinha, Mara, Messias, Mila, Teu, Rosivalda (in memorian) e Wesley (in memorian), e aos amigos, notadamente Jô, Li, Lu e Cassinho, agradeço o carinho e a compreensão durante os “intermináveis” anos do Mestrado.. vii.

(8) SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS. x. LISTA DE QUADROS. xi. LISTA DE GRÁFICOS. xii. RESUMO. xiii. ABSTRACT. xiv. INTRODUÇÃO. 11. CAPÍTULO I – COMPETÊNCIAS E PRÁTICAS DE LEITURA DE SÍLVIO ROMERO. 25. CAPÍTULO II – BIBLIOTECA PEDAGÓGICA DE SÍLVIO ROMERO. 72. CAPÍTULO III – AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO. 104. 3.1 APROPRIAÇÃO DE DE L'ÉDUCATION INTELLECTUELLE, MORALE ET PHYSIQUE, DE HERBERT SPENCER 3.2 APROPRIAÇÃO DE OBRAS DA ESCOLA DE CIÊNCIA SOCIAL 3.2.1. 3.2.3. 120. APROPRIAÇÃO DE HISTOIRE DE LA FORMATION PARTICULARISTE, DE HENRI DE TOURVILLE. 3.2.2. 105. 124. APROPRIAÇÃO DE A QUOI TIENT LA SUPÉRIORITÉ DES ANGLOSAXONS? E L'ÉDUCATION NOUVELLE, DE EDMOND DEMOLINS. 130. APROPRIAÇÃO DE LA VIE AMÉRICAINE, DE PAUL DE ROUSIERS. 152. 3.3 APROPRIAÇÃO DE L’ARYEN E RACE ET MILIEU, DE GEORGES VACHER. viii.

(9) DE LAPOUGE. 160. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 182. LISTA DE FONTES. 187. BIBLIOGRAFIA. 220. ix.

(10) LISTA DE FIGURAS. Figura 1 – Sílvio Romero. 25. Figura 2 – Pais de Sílvio Romero. 26. Figura 3 – Casa-grande do Engenho Moreira. 27. Figura 4 – Antônia. 28. Figura 5 – Vila de Lagarto. 31. Figura 6 – Ateneu Fluminense. 39. Figura 7 – Faculdade de Direito de Recife, na Rua do Hospício. 48. Figura 8 - Cais Pharoux, aproximadamente 1893-1894. 60. Figura 9 - Carimbo da Biblioteca Sílvio Romero. 77. Figura 10 - Biblioteca de Sílvio Romero. 78. Figura 11 – Folha de rosto De L’éducation intelectuelle, morale et physique, de Herbert Spencer. 107. Figura 12 – Folha de rosto de Histoire de la formation particulariste, de Henri de Tourville. 127. Figura 13 – Folha de rosto de A Quoit tient la supériorité des anglo-saxons?, de Edmond Demolins. 132. Figura 14 – Folha de rosto de L’éducation nouvelle: l’école des roches, de Edmond Demolins. 140. Figura 15 – Folha de rosto de La vie americaine: l’éducation et la société, de Paul de Rousiers. 152. Figura 16 – Folha de rosto de L’aryen: son role social, de Georges Vacher de Lapouge 165 Figura 17 – Folha de rosto de Race et milieu: essais d’anthrosociologie, de Georges Vacher de Lapouge. 170. x.

(11) LISTA DE QUADROS. Quadro 1 – Editoras e tipografias nacionais. 92. Quadro 2 - Editoras e tipografias estrangeiras. 94. xi.

(12) LISTA DE GRÁFICOS. Gráfico 1 - Ano da edição das obras da BPSR. 83. Gráfico 2 - Tipologia das obras da BPSR. 84. Gráfico 3 - Áreas do conhecimento da BPSR. 85. Gráfico 4 - Assuntos da área da educação. 87. Gráfico 5 - Nacionalidade dos autores. 88. Gráfico 6 - Idiomas da BPSR. 90. Gráfico 7 - Distribuição de tipografias e editoras nacionais por estados brasileiros 91 Gráfico 8 – Distribuição das editoras estrangeiras por país. 94. xii.

(13) RESUMO. Este trabalho tem como objetivo geral analisar as leituras pedagógicas empreendidas por Sílvio Romero. Esse objetivo geral desdobra-se em três objetivos específicos: analisar as competências e práticas de leitura do intelectual sergipano, traçar um perfil da Biblioteca Pedagógica e compreender como se apropriou das leituras de Herbert Spencer, Edmond Demolins, Paul Rousiers, Henri de Tourville e Vacher de Lapouge. Utiliza como fontes: a sua Biblioteca, especialmente, a Biblioteca Pedagógica, as obras que escreveu, as cartas enviadas aos amigos, a literatura de época e a literatura sobre a época. Inspirado na Nova História Cultural utiliza o método indiciário, de Carlo Ginzburg, a noção de documento/ monumento, de Jacques Le Goff, as noções de apropriação, competências e práticas de leitura, leitura silenciosa e oralizada, leitura extensiva e intensiva, materialidade e representação de Roger Chartier, os conceitos de campo intelectual, capital social e capital cultural de Pierre Bourdieu. Conclui que a partir das competências que adquiriu tanto na educação formal quanto na informal tornou-se um leitor crítico das letras nacionais e estrangeiras e apropriouse dos livros analisados de modo ativo, apropriando-se das representações que lhe permitiam pensar a educação brasileira e rejeitando as demais. PALAVRAS-CHAVE: História da Educação – História da Leitura – Sílvio Romero.. xiii.

(14) ABSTRACT. This work has as general objective to analyze the pedagogic readings undertaken by Sílvio Romero. The specific objectives are: to analyze the competences and practices of reading of the intellectual, to trace a profile of Sílvio Romero's Pedagogic Library and to understand as he appropriated of Herbert Spencer, Edmond Demolins, Paul Rousiers, Henri de Tourville and Vacher de Lapouge's readings. It uses as sources: its Library, especially, the Pedagogic Library, the works that wrote, the letters sent to the friends, the epoch literature and the literature about the epoch. Inspired by the New Cultural History it uses the indiciary method of Carlo Ginzburg, the document/ monument notion. of Jacques Le Goff, the. appropriation, reading competences, reading practices, oral reading, silent reading, materiality and representation notions of Roger Chartier, intellectual field, social capital and cultural capital concepts of Pierre Bourdieu. It concludes that the competences that he acquired as in the formal education as in the informal he became a critical reader of the national and foreign letters and he appropriated of that books in an active way, appropriating of the representations that allowed to think it the Brazilian education and rejecting the others. KEYWORDS: History of Education – History of Reading – Sílvio Romero.. xiv.

(15) INTRODUÇÃO “A leitura tem uma história”.1 Essa frase do historiador norte-americano Robert Darnton expressa uma opinião que se instaurou no campo da História e da História da Educação nos últimos decênios. Partindo dessa convicção a pesquisa teve como objeto as leituras pedagógicas de Sílvio Romero. Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero nasceu na Vila de Lagarto, Província de Sergipe, em 21 de abril de 1851. Entre 1855 e 1862, estudou as primeiras letras na terra natal, na escola dos professores Bomfim e Badú. Em 1863, cursou os preparatórios exigidos para a admissão nos cursos superiores no Rio de Janeiro, no internato Ateneu Fluminense. Em 1868, matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife e diplomou-se em 1873. No ano seguinte assumiu a Promotoria Pública de Estância e foi eleito deputado provincial. Em 1875, voltou para Recife para apresentar tese de doutoramento na Faculdade de Direito do Recife. No mesmo ano prestou concurso para a cadeira de Filosofia do Colégio de Artes, anexa à Faculdade, para a qual foi aprovado, mas não foi nomeado. Em 1876, seguiu para Parati onde exerceu o cargo de Juiz Municipal e de Órfãos até 1879. No ano seguinte inscreveu-se no concurso da Cadeira de Filosofia do Colégio Pedro II, a mais prestigiosa instituição de ensino secundário do país, onde lecionou durante 30 anos. Foi fundador e professor da Faculdade Livre de Direito e da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro e da Faculdade Livre de Direito de Juiz de Fora. Foi eleito deputado federal em 1900. Participou da fundação da Academia Brasileira de Letras e foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia de Ciências de Lisboa e de diversas outras associações literárias. Escreveu sistematicamente na imprensa periódica e publicou diversos livros nos campos da Poesia, da Crítica e da História Literária, da Filosofia, da Sociologia, da Política, do Direito, do Folclore e da Educação. Faleceu em 18 de julho de 1914, aos 63 anos de idade.. 1. DARNTON, Robert. O beijo de Lamourrette. Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 147..

(16) Constituiu ao longo da sua trajetória uma biblioteca de 1717 títulos.. 2. Esse acervo é. composto de impressos nacionais e estrangeiros, sobretudo franceses, que versavam sobre as mais distintas áreas do conhecimento: Filosofia, Direito, Sociologia, Antropologia, História, Etnografia, Biologia, Psicologia, Literatura, dentre outras. Seus biógrafos informam que Sílvio Romero leu avidamente até pouco tempo antes da morte porque já não conseguia enxergar bem. Múltiplas faces do intelectual sergipano já foram objetos de pesquisa. Existem inúmeros trabalhos sobre o Sílvio Romero intelectual3, polemista4, crítico literário5, filósofo6, sociólogo7, folclorista8, e, recentemente, professor9. No entanto, o Sílvio Romero leitor ainda não foi devidamente estudado. Essa face tem sido abordada de forma incidental ou incipiente. Entre os estudos que versam sobre o tema de modo fortuito podemos citar: Sílvio Romero de perfil, de Artur Guimarães, Itinerário de Sílvio Romero, de Sílvio Rabello, Presença de Sílvio Romero, de Argeu Guimarães e Sílvio Romero de corpo inteiro, de Carlos Süssekind de Mendonça10.. 2. Esse cálculo, baseado nos exemplares adquiridos pelo Governo do Estado de Sergipe, após o seu falecimento, pode ser ampliado levando-se em consideração os livros emprestados e não devolvidos ou que a família tenha preservado sob sua guarda devido a algum valor sentimental. Argeu Guimarães, por exemplo, conta que seu pai, Artur Guimarães, manteve consigo alguns livros do amigo. GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 75. 3. MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero, de corpo inteiro. [S.l.]: Ministério da Educação e Cultura, 1963; MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero: sua formação intelectual (1855-1880). São Paulo: Nacional, 1938; RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944. 4. Cf. SOUZA, João Mendonça de. Sílvio Romero, o crítico e o polemista. Rio de Janeiro: Companhia Editora Americana, 1976; VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.. 5. Cf. CÂNDIDO, Antônio. O método crítico de Sílvio Romero. São Paulo: EDUSP, 1988.. 6. Cf. NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. A cultura ocultada ou a influência alemã na cultura brasileira durante a segunda metade do século XIX. Londrina: Editora da UEL, 1999. 7. Cf. MORAES FILHO, Evaristo. Medo à Utopia. O pensamento social de Tobias Barreto e Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL/ Fundação do Nacional Pró-Memória, 1985.. 8. Cf. MATOS, Cláudia Neiva de. A poesia popular na república das letras. Rio de Janeiro: UFRJ/ MINC/ FUNARTE, 1994. 9. Cf. ARAÚJO, José Augusto Melo de. Debates, pompa e majestade: a história de um concurso docente nos trópicos no século XIX. Dissertação (Mestrado em Educação) – Núcleo de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2004. 10. GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915; RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944; GUIMARÃES, Argeu.. 16.

(17) E entre aqueles que tratam o tema de modo exploratório: Vestígios de um leitor: a biblioteca pedagógica de Sílvio Romero, de Jorge Carvalho do Nascimento e A Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação, de Jackson da Silva Lima11 Sobre o Sílvio Romero leitor de textos sobre educação só existe o trabalho já citado de Jorge Carvalho do Nascimento. Ele focaliza o percurso da Biblioteca de Sílvio Romero nos meandros da Biblioteca Pública Epifânio Dória, traça considerações acerca do pensamento pedagógico de Sílvio Romero e assinala a importância do estudo das notas deixadas nas obras de William James para apreender o modo como o pensamento do filósofo norte-americano foi apropriado por ele 12 Neste sentido, em decorrência da escassez de estudos que tenham investigado as leituras pedagógicas de Sílvio Romero, essa pesquisa pretende contribuir para a superação dessa lacuna. Além da relevância, esse estudo justifica-se pela exeqüibilidade. A Biblioteca de Sílvio Romero foi incorporada ao acervo da Biblioteca Pública de Sergipe. Em 1918, quatro anos após a morte do intelectual sergipano, o Presidente do Estado General Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão autorizou a sua aquisição.Os volumes foram confiados ao bibliotecário Epifânio Dória. Num primeiro momento, os livros foram incorporados ao acervo geral da instituição. Em 1974, o acervo do intelectual sergipano ficou indisponível. Somente em 1995, o acervo foi reorganizado e disponibilizado para consulta13. Essa biblioteca é a fonte primordial para desvendar quais leituras o intelectual sergipano efetuou nesse campo e como se apropriou dessas leituras.. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955; MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero, de corpo inteiro. [S.l.]: Ministério da Educação e Cultura, 1963. 11. NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Vestígios de um leitor: a biblioteca pedagógica de Sílvio Romero. In: SIMPÓSIO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 22, 2003, João Pessoa. Anais do XXII Simpósio da Associação Nacional de História. João Pessoa, [s.n.], 2003. 1 CD-ROM; LIMA, Jackson da Silva. A Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação. Fragmenta. Aracaju, Unit, v. 2, n. 4, 1999. 12. NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Vestígios de um leitor: a biblioteca pedagógica de Sílvio Romero. In: SIMPÓSIO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 22, 2003, João Pessoa. Anais do XXII Simpósio da Associação Nacional de História. João Pessoa, [s.n.], 2003. 1 CD-ROM. 13. LIMA, Jackson da Silva. A Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação. Fragmenta. Aracaju, Unit, v. 2, n. 4, 1999.. 17.

(18) Assim, este trabalho justifica-se pela relevância, uma vez que visa preencher uma lacuna na historiografia da educação brasileira em virtude da incipiência de estudos sobre as leituras pedagógicas de Sílvio Romero; e pela exeqüibilidade, pois a biblioteca constituída ao longo dos anos pelo escritor integra o acervo da Biblioteca Pública Epifânio Dória. Constituiu objetivo central da pesquisa: compreender como Sílvio Romero se apropriou de algumas das leituras pedagógicas que realizou ao longo da sua biografia. A Biblioteca Pedagógica é constituída por 161 textos. Destes, 39 possuem marginálias. Em virtude do tempo disponível para a realização da pesquisa não foi possível analisar profundamente a apropriação de cada uma dessas obras. Por essa razão circunscrevi a análise para os textos dos autores citados por ele nas obras que escreveu sobre o tema. Entre esses estão: Herbert Spencer, Henri de Tourville, Edmond Demolins, Paul Rousiers e Georges Vacher de Lapouge.14 Também são citados outros autores como Paul Descamps, Du BoisReymond e Alfred Fouillée. Mas as obras desses autores não constam na sua Biblioteca. A meta central desdobrou-se em objetivos mais específicos: compreender quais competências e práticas de leitura adquiriu durante sua trajetória; traçar um perfil da Biblioteca Pedagógica e analisar a sua materialidade; e investigar como ele se apropriou das referidas leituras pedagógicas.. A esses objetivos corresponderam algumas hipóteses. A primeira, que Sílvio desenvolveu competências e práticas de leitura que o tornaram um leitor crítico. A segunda, que autores, editores e tipógrafos usaram diversos dispositivos para garantir uma leitura “legítima”. A terceira, que combinou autores de distintas extrações teóricas, adotando as representações que lhe pareciam adequadas e rejeitando aquelas que lhe pareciam improfícuas para pensar o seu país.. 14. SPENCER, Herbert. Educación intelectual, moral y física. Valencia: F. Sempere Y Companío Editores, [18-]; SPENCER, Herbert. De l'education intellectuelle, morale et physique. Paris: Felix Alcan Editeur, 1894; DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et Cie, 1897; DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie, 1899;; ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'education et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie, [18--]; TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris: Firmin-Didot et Cie, [S.d.]; LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899; LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière, 1909.. 18.

(19) Serviram de subsídios para desvelar as leituras diversos tipos documentais. Os livros da sua Biblioteca, notadamente aqueles que versam sobre educação, foram os principais testemunhos. A partir da leitura das obras e, especialmente, das marginálias que nelas deixou foi possível apreender os diálogos que manteve com os autores que leu, e compreender o modo como se apropriou dos textos. Também subsidiaram essa pesquisa os textos sobre educação produzidos por Sílvio Romero. A análise das suas obras permitiu apreender como pensou a educação. O cotejo entre suas leituras e suas obras serviu para auxiliar o desvelamento da apropriação que fez da Biblioteca Pedagógica e como construiu a partir dessas leituras suas representações. Foram utilizadas ainda as cartas enviadas para os amigos. As cartas forneceram informações preciosas acerca dos hábitos e impressões de leitura. A literatura de época e a literatura sobre a época também foram de grande valia. Elas foram úteis na reconstrução do período em que o intelectual viveu. Foram utilizados também os relatórios oficiais das Províncias de Sergipe, Pernambuco e Rio de Janeiro, locais onde estudou. Esses relatórios auxiliaram a reconstituição do contexto em que ele se tornou leitor. Para coletar essas fontes foram utilizadas fichas construídas de acordo com o tipo documental e a informação que se pretendeu registrar. Essas fichas foram armazenadas num banco de dados construído no software Microsoft Access. Esse recurso permitiu a rápida recuperação das informações desejadas e possibilitou a elaboração de quadros e gráficos. Também foi muito útil a reprodução fotográfica das obras a serem analisadas, uma vez que o Acessado ao acervo é restrito ao recinto da Biblioteca Pública Epifânio Dórea. Foi utilizada a máquina digital SONY DSC - S40 4,1 mega pixels. O tratamento e leitura das imagens captadas foram feitos a partir do software ACDSee v. 4. Este trabalho enquadra-se no campo da História da Educação que tem se inspirado na Nova História Cultural, corrente historiográfica que a partir da década de setenta da centúria passada fez com que os historiadores deslocassem seus olhares para as práticas 19.

(20) culturais. Na História da Educação, essa tendência historiográfica provocou uma renovação na seleção de objetos de pesquisa. A influência da Nova História Cultural sobre os historiadores da educação fez com que o interesse se deslocasse da investigação das normas para o estudo das práticas escolares. Os estudos sobre a produção, circulação e apropriação de impressos pedagógicos adquiriram grande importância.. 15. O trabalho sobre as leituras. pedagógicas de Sílvio Romero insere-se nesse contexto. Por esse motivo, foram de grande valia alguns procedimentos metodológicos e conceitos largamente utilizados pelos historiadores da educação que se apropriaram das contribuições da Nova História Cultural. Um procedimento muito útil nesta pesquisa foi o método indiciário, elaborado pelo historiador italiano Carlo Ginzburg para auxiliar no desvelamento de práticas culturais. De acordo com esse autor devemos ficar atentos aos pormenores reveladores de modo a apreender e desembaraçar para lá da superfície aveludada do texto o emaranhado dos fios que formam a malha textual. A tarefa de estudar o modo como um intelectual se apropriou dos textos que leu não é de fácil execução. A prática de atribuição de sentido aos signos gráficos nem sempre é uma atividade que deixa rastros evidentes16. Desse modo, esse método foi muito útil para compreender a apropriação dos impressos pedagógicos. Foi utilizada ainda a noção de documento/ monumento de Jacques Le Goff, que considera que o documento não é neutro, mas é sempre uma tentativa dos sujeitos pretéritos de impor à posteridade uma determinada imagem de si próprios, que para terem valor de testemunho precisam ser desmontadas, analisadas e problematizadas enquanto memórias/ monumentos.17 Auxiliaram a compreensão da apropriação de impressos pedagógicos por Sílvio Romero as noções de apropriação, competências e práticas de leitura, leitura oral e leitura 15. NUNES, Clarice; CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Historiografia da Educação e fontes. Cadernos da ANPEd, Porto Alegre, n. 5, set., p. 7-64, 2000; LOPES, Eliane Marta Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001; e VIDAL, Diana Gonçalves; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. História da Educação no Brasil: a constituição histórica do campo (1880-1970). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 23, n. 45, p. 37-70, 2003. 16. GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: ______. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 143-179.. 17. LE GOFF, Jacques. Documento/ monumento. In: Enciclopédia Einaudi. Porto: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1984, p. 95-106. V. 1.. 20.

(21) silenciosa, leitura intensiva e leitura extensiva18, materialidade e representação elaboradas por Roger Chartier. De acordo com o historiador os leitores se apropriam das mensagens à sua maneira. Ao contrário do que afirmava a antiga História das Idéias, os leitores não são uma cera mole onde se inscrevem de maneira bem legível as idéias e as imagens forjadas por criadores particulares. Os leitores projetam nelas idéias pessoais, em vez de recebê-las passivamente. No entanto, a construção de sentido não é aleatória, varia de acordo com as competências e práticas de leituras próprias da comunidade leitora na qual o leitor está inserido e a materialidade dos textos. As competências e as práticas de leitura mudam de acordo como o contexto. Chartier distingue leitura oral e leitura silenciosa. Até os últimos séculos da Idade Média predominou a leitura oral em voz alta ou baixa, caracterizada pela lentidão e dificuldade de interiorização do que é lido. Na Idade Moderna, a leitura, assim como outras práticas culturais, tornou-se privatizada: a leitura oral deu lugar à leitura silenciosa. A leitura silenciosa, ao contrário da leitura oral, caracteriza-se pela rapidez e facilidade de interiorização do texto pelo leitor, pois possibilita que apenas através do movimento dos olhos, o leitor entre em contato com novas idéias e reflita sobre elas. Mas isso não quer dizer que a leitura oral tenha deixado de existir, ela continuou sendo utilizada em algumas comunidades leitoras para atender as necessidades dos analfabetos ou dos leitores neófitos. Na contemporaneidade leitores sem muita habilidade só compreendem o que lêem quando o fazem em voz alta. Chartier distingue também leitura intensiva e leitura extensiva. As comunidades leitoras menos hábeis realizam leitura intensiva. Esse tipo de leitura é caracterizado pelo manuseio de poucos impressos, que são lidos e relidos, memorizados e recitados. Os que se dedicam a essa modalidade, sentem-se à vontade com apenas algumas formas textuais e tipográficas e possuem uma relação de reverência e obediência com os textos.. 18. Essas noções foram formuladas em diversos textos, entre os quais: CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Difel, 1990; CHARTIER, Roger. As práticas da escrita. In: ARIÈS, Philippe; CHARTIER, Roger. História da Vida Privada: Da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 113-162. V. 3; CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998; CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. 2 ed. Brasília: Editora da UNB, 1998; CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.. 21.

(22) As comunidades leitoras melhor familiarizadas com o mundo da leitura realizam leitura extensiva. Esse modo de leitura é marcado pelo rápido consumo de grande número de textos. Os que se dedicam a esse tipo de leitura sentem-se à vontade com todas as formas textuais e tipográficas e possuem uma relação mais crítica em relação aos impressos. A partir dessas orientações, estudei a formação recebida pelo Sílvio Romero leitor na Vila de Lagarto, onde estudou as primeiras letras e aprendeu as orações ensinadas pela mucama Antônia e as histórias contadas por Antônia, outras escravas e Zefa Nó, uma moradora da Vila; na capital do Império, onde estudou no ginásio Ateneu Fluminense e prestou os exames preparatórios; em Recife, onde cursou a Faculdade de Direito; e novamente no Rio de Janeiro, cidade onde viveu e trabalhou durante boa parte da sua vida e teve a oportunidade de freqüentar inúmeras livrarias e bibliotecas. Através do estudo da formação formal e informal de Sílvio foi possível apreender quais as competências e práticas de leitura que ele adquiriu ao longo da sua trajetória. Para fazer uma História da Leitura foi preciso também analisar a materialidade na qual os textos estão inscritos, pois cada forma, cada suporte, cada estrutura da transmissão e da recepção da escrita afeta profundamente os seus possíveis usos e interpretações. Assim, considerei os aspectos formais de cada impresso que constitui a sua Biblioteca Pedagógica. Um outro conceito útil para entender os usos que Sílvio Romero fez dos impressos pedagógicos foi o de representação19. Conforme Chartier, ao criarem representações os indivíduos descrevem a realidade tal como pensam que ela é ou como gostariam que fosse e traduzem os seus interesses e posições sociais. Os impressos são dispositivos através dos quais os indivíduos visam impor determinadas representações do mundo social. Assim, para entender como se apropriou dos impressos pedagógicos é necessário compreender as representações que os responsáveis pela produção e circulação tentaram impor. Do mesmo modo que os responsáveis pela produção e circulação dos impressos visam impor representações, os leitores constroem no processo de apropriação outras representações do 19. Esse conceito foi elaborado em diversas obras, entre as quais: CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Difel, 1990; CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998; CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. 2 ed. Brasília: Editora da UNB, 1998; CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.. 22.

(23) mundo social. Para entender as representações que construiu a partir das suas leituras pedagógicas estudei as anotações que fez às margens dos textos, as impressões de leitura expostas nas cartas que trocou com outros intelectuais e os textos pedagógicos que produziu. Também foram importantes os conceitos de campo intelectual, capital cultural e capital social do sociólogo francês Pierre Bourdieu. Ele compreende a sociedade como um conjunto de campos, microcosmos sociais relativamente autônomos. O campo intelectual é um espaço de lutas entre os agentes. Essas lutas são decorrentes da distribuição desigual de capital no interior de cada campo. Aqueles que possuem maior volume de capital ocupam posições dominantes e aqueles que possuem menor volume ocupam posições dominadas. As lutas ocorrem em torno da apropriação do capital específico do campo e/ ou da redefinição daquele capital. As estratégias dos agentes estão relacionadas com as posições que ocupam no campo. Entre elas estão as de conservação e as de subversão. As primeiras são mais freqüentes entre aqueles que ocupam posição dominante e as segundas entre aqueles que ocupam posições dominadas. No século dezenove, quando o grau de autonomia do campo intelectual ainda não era elevado, além do capital cultural, avaliado pelo conhecimento detido pelos agentes, era levado em consideração o capital social, ou seja, o capital de relações sociais que os agentes eram capazes de mobilizar20. Esses conceitos foram importantes para compreender a posição ocupada por Sílvio Romero no campo intelectual brasileiro. O trabalho foi dividido em três capítulos. No primeiro, Competências e práticas de leitura de Sílvio Romero, estudei a sua formação, procurando evidenciar como se tornou um leitor crítico das letras nacionais e estrangeiras. No segundo, Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero, tracei um perfil da sua Biblioteca Pedagógica e analisei a sua materialidade, procurando identificar os dispositivos utilizados pelos produtores das obras para conformar a leitura. No terceiro e último capítulo, A apropriação de leituras pedagógicas, investiguei 20. BOURDIEU, Pierre. A gênese dos conceitos de habitus e de campo. In: ______. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p. 59-131. Para obter informações sobre Pierre Bourdieu, conferir: ORTIZ, Renato. A procura de uma sociologia da prática. In: BOURDIEU, Pierre. Sociologia. São Paulo: Ática, 1983; PINTO, Louis. Pierre Bourdieu e a teoria do mundo social. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000; MARTINS, Carlos Benedito. Notas sobre a noção da prática em Pierre Bourdieu. Novos estudos CEBRAP, Rio de Janeiro, n. 62, p. 163-181, mar. 2002; MARTINS, Carlos Benedito. Notas sobre a noção da prática em Pierre Bourdieu. Novos estudos CEBRAP, Rio de Janeiro, n. 62, p. 163-181, mar. 2002; WACQUANT, Loïq J. D. O legado sociológico de Pierre Bourdieu: duas dimensões e uma nota pessoal. Revista Sociedade e Política, Curitiba, n. 19, p. 95-110, nov. 2002; CHARTIER, Roger. Pierre Bourdieu e a História. Topoi, Rio de Janeiro, p. 139-182, mar. 2002.. 23.

(24) como Sílvio Romero se apropriou das leituras do evolucionista Herbert Spencer, de Henri de Tourville, Edmond Demolins e Paul de Rousiers, membros da Escola de Ciência Social e do antropossociólogo Georges Vacher de Lapouge.. 24.

(25) CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS E PRÁTICAS DE LEITURA DE SÍLVIO ROMERO. O objetivo do capítulo é compreender as competências e práticas de leitura do intelectual sergipano através do exame da sua trajetória. Compreender o Sílvio Romero leitor não é tarefa fácil. É preciso romper com a concepção de leitura do nosso tempo e mergulhar nos tempos idos em busca de indícios que permitam entrever as competências e práticas de leitura que ele adquiriu ao longo da sua biografia. Inicialmente, recuei às suas experiências na Vila de Lagarto, onde estudou as primeiras letras. Em seguida, ao Rio de Janeiro, onde cursou os preparatórios. Depois a Recife, onde se bacharelou em Direito. Por fim, ao Rio de Janeiro, onde se estabeleceu definitivamente.. Figura 1 - Sílvio Romero Fonte: SÍLVIO ROMERO. Altura: 263 pixels. Largura: 209 pixels. 52117 bytes. Formato JPEG. Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/media/silvio_romero.jpg> Acessado em: 23/05/2004.. 25.

(26) Sílvio nasceu no dia 21 de abril de 1851, na Vila de Lagarto, no agreste de Sergipe. Era filho de André Ramos Romero, “português do Norte”, negociante abastado, e Maria da Silveira de Vasconcelos Ramos Romero, descendente de uma próspera família, também de origem portuguesa.. Figura 2 - Pais de Sílvio Romero. Fonte: PAIS de Sílvio Romero. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 122-131.. No ano do seu nascimento a vila foi atingida por uma epidemia de febre amarela que grassava nas províncias do Norte. Sua mãe foi acometida pela doença e não pôde amamentálo. Então, foi levado para a casa dos avós maternos, Luiz Antônio Vasconcelos e Rosa Ludovina da Silveira, no Engenho Moreira, localizado nas proximidades do rio Piauí.. 26.

(27) Figura 3 – Casa-grande do Engenho Moreira Fonte: CASA-GRANDE do Engenho Moreira. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 47.. A julgar pela fotografia, a casa-grande localizava-se no cimo. Era ampla, porém singela. Uma pequena escada de três ou quatro degraus dava Acessado ao alpendre cercado por grosseiras estacas. Várias portas e janelas davam Acessado ao interior. Apesar das marcas do tempo que esmaeceram a imagem é possível vislumbrar alguns personagens. No Engenho, Sílvio foi entregue aos cuidados de Antônia, mucama a quem foram confiados os desvelos de sua meninice. Cedo se acostumou a chamá-la de mãe21. A “adorada Antônia” transmitiu para o “yoyozinho” os primeiros conhecimentos. Aos 53 anos, em depoimento ao jornalista e literato Paulo Barreto, conhecido como João do Rio, afirmou que aprendeu com ela as orações e que se habituou a considerar a religião como coisa séria, “uma criação fundamental e irredutível da humanidade” 22. 21. ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 25. 22. ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 26.. 27.

(28) Figura 4 - Antônia Fonte: ROMERO, Alfeu. Antônia. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 81.. Não foi possível descobrir se Antônia era letrada. Numa das raras fotografias de escravos no Brasil, ela portava um livro. Contudo, esse não é um indício suficiente para concluir pelo seu letramento. No século dezenove, os livros eram muito usados na composição dos retratos, pois era um bem socialmente valorizado23.. 23. Cf. ABREU, Márcia. Diferentes formas de ler. http://www.unicamp.br/Memoria/Ensaios/Marcia/marcia/htm. Acesso em: 26/05/2004.. Disponível. em:. 28.

(29) O livro à mão esquerda, possivelmente uma bíblia ou um livro de oração, compunha, ao lado de uma medalha, que lhe adornava o peito e um terço que segurava à mão direita, a imagem de uma senhora cristã, seguidora dos mandamentos divinos, responsável pela educação moral e religiosa das crianças e adolescentes da família, conforme descreveu Abelardo Romero, sobrinho-neto de Sílvio24. Todavia, para saber orações não era preciso conhecer o alfabeto. Elas eram transmitidas oralmente geração a geração. Antônia e as “velhinhas rendeiras” que viviam no Engenho Moreira ensinaram-lhe também inúmeras histórias, que décadas depois, em depoimento ao literato Coelho Neto, recordou com saudade:. Em menino o meu maior encanto era à noite, ao copiar ou na eira, entre crianças, ouvir as velhinhas que, com a almofada ao colo, urdindo o crivo, cantavam xácaras peninsulares, narravam conselhos ou espavoriam o auditório ingênuo com histórias sombrias em que aparecia a iurupari ou o saci saltava num pé só, alumiando a brenha com o olhar esbraseado, quando não era o caapora, senhor da mata, que rompia das profundezas com estardalhaço de ramos, montando num caititu monstruoso que afocinhava as sapopemas, grunhindo e estralando os colmilhos. E fábulas e lendas, umas irradiando com o aparecimento de Rudá, o sol, outras melodiosas do canto murmuro das iaras, ou então os contos que faziam rir os pequeninos com as astúcias do jaboti, as manhas do macaco e as palermices da onça sempre ludibriada pela esperteza dos animais matreiros25.. O século dezenove brasileiro foi marcado pela importância crescente do impresso, pois no início dessa era houve uma ampliação da circulação de livros, devido ao surgimento da imprensa, da proliferação de livrarias e bibliotecas26. No entanto, a tradição continuou sendo durante muito tempo a principal forma de transmissão da cultura. As lembranças de Sílvio ilustram bem a relevância da literatura oral, que muitas vezes provocava mais prazer nos ouvintes do que a literatura escrita. Ele afirma que:. 24. Esse perfil de Antônia foi descrito por Abelardo, sobrinho-neto de Sílvio Romero. Cf. ROMERO, Abelardo. Silvío Romero em família: Aracaju: Saga, 1960. 25. ROMERO, Sílvio. Depoimento a Coelho Neto. In: CAMPOS, Humberto de. Antologia da Academia Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, p. 93.. 26. Cf. ARAÚJO, Jorge de Souza. Perfil do leitor colonial. Ilhéus: Editora da UESC, 1999; e HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São Paulo, 1985.. 29.

(30) Nunca livro algum, por mais notável que fosse o seu autor e celebrada a sua fábula, conseguiu atrair-me como aquelas velhas o faziam com o imã dos seus recontos. As primeiras palavras que caíam, lentas, no silêncio atento: ‘Era uma vez...’, o coração batia-me comovido, um calor inflamava-me o rosto, abriram-se-me muito os olhos e eu via, via os caminhos de encanto, as árvores de folha de ouro, as grutas de esmeraldas, os dragões que bufavam chamas, as serpentes, os cisnes, que eram príncipes encantados, as princesas cativas de mouros, todas as coisas e figuras desses poemas da infância, primeiros alimentos da imaginação...27. Além das histórias, lembrou com saudade da moagem da cana. Nestas ocasiões, subia na almanjarra e ajudava os tangedores a cantar: “Pomba voou, meu camarada. Avoou, que hei de fazer? Quem de noite leva a boca. De dia que há de comer?” 28. Sílvio informou ao João do Rio que ainda conseguia sentir no ouvido a melodia simples e monótona desses e de outros versinhos do gênero e que o seu brasileirismo vinha daí. Quando completou cinco anos teve que deixar Antônia, as escravas contadoras de história, os tangedores de gado e regressar à casa paterna para estudar. Segundo a então nonagenária Antônia, em informação registrada por Abelardo Romero, o dia em que foi levado para a Vila: “Foi um belo dia de juízo... Agarradinho à minha saia, yoyozinho chorava: Não quero estudar!”. 27. ROMERO, Sílvio. Depoimento a Coelho Neto. In: CAMPOS, Humberto de. Antologia da Academia Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, p. 94.. 28. ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 26.. 30.

(31) Figura 5 - Vila de Lagarto. Fonte: VILA de Lagarto. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 55.. Não foi apenas a necessidade de matriculá-lo numa escola de primeiras letras que motivou o pai a levá-lo do Engenho para a Vila. Mais uma vez Lagarto foi assolada por uma epidemia, agora de cólera-morbo29. Ao chegar em casa, encontrou a irmã Lídia doente. A menina não resistiu. A mãe também adoeceu, mas conseguiu escapar da morte. Após o mordexim André Romero matriculou-o na escola. O menino teve que abandonar a camisola infantil para usar calças. Dividir o tempo que era apenas das travessuras com os estudos. Segundo Abelardo, ele foi matriculado na escola do professor Bomfim. Nos documentos oficiais que versam sobre a instrução pública da Província de Sergipe, não constam referências sobre professor com essa alcunha. Seguramente ele não era professor público. A cadeira pública masculina de primeiras letras de Lagarto foi criada em 1819. Não foi possível descobrir quem foi o primeiro ocupante da cadeira. O segundo foi Antônio Ricardo dos Mártires, que permaneceu no cargo de 1830 a 1850. O regente da cadeira na 29. A Vila de Lagarto foi a primeira região da Província de Sergipe a ser assolada pelo cólera-morbo em 1855. Cerca de 21% da população faleceu. Cf. SAMARONE, Antônio. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Núcleo de Pós-graduação em Ciências Sociais, Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão, 1997; SANTOS NETO, Amâncio Cardoso. Sob o signo da peste: Sergipe no tempo de cholera (1855-1856). Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2001.. 31.

(32) época em que Sílvio viveu em Lagarto era Miguel Teotônio de Castro30. Havia também a cadeira feminina de primeiras letras criada em 1850. Esta foi ocupada primeiramente por Tereza Jesus da Mata. Na época em que Sílvio estudou, era regida por Maria José de Alcântara Brito31. Bomfim era professor particular. Esses professores às vezes eram preferidos pelas famílias mais abastadas. As escolas particulares funcionavam na residência do mestre ou do aluno. Não há muitas informações acerca da experiência de Sílvio na escola do referido mestre. Há apenas o registro de que o professor costumava morder as orelhas dos alunos que não cumpriam com seus deveres32. Se essa notícia for verdadeira, pode-se imaginar quão assustadora foi a reação do menino de engenho, acostumado aos mimos que lhe fazia Antônia, à rudeza do mestre. A experiência nessa escola foi curta. O mestre teria morrido pouco depois, envenenado por um de seus alunos33. Com a morte do mestre antigo, Sílvio foi matriculado na escola do professor Badú. Também há parcimoniosas informações a respeito dessa escola. Segundo o historiador José Sebrão de Carvalho Sobrinho, Badú era a alcunha do professor Miguel Teotônio de Castro34. As escolas públicas de primeiras letras, cujos professores eram reconhecidos ou nomeados pelos órgãos de Estado responsáveis pela instrução, funcionavam em espaços improvisados, 30. SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 8 de março de 1852, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004. 31. SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 2ª sessão da duodécima Legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 27 de abril de 1859, pelo presidente, Dr. Manoel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004. 32. ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 24.. 33. ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 24.. 34. CARVALHO SOBRINHO, José Sebrão de. Tobias Barreto, o desconhecido. Aracaju: [S.n.], 1941, p. 92.. 32.

(33) geralmente na casa dos mestres ou em espaços alugados para esse fim. Tais escolas eram bem diferentes das contemporâneas. O mobiliário não era uniforme. Havia mesas e bancos de diversos tamanhos. Para escrever usavam-se pedras de ardósia e ponteiro ou papel, pena e tinta. Os materiais didáticos eram: cartas de sílabas, compêndios de gramática, aritmética e doutrina cristã e traslados. Os métodos de ensino utilizados eram o individual ou o mútuo. Era comum o uso de castigos corporais para garantir a disciplina. A palmatória era bem conhecida pelos infantes35. Essa foi uma das formas de realização da escola que possibilitou aos oitocentistas o ingresso no universo da leitura. Nelas os mestres procuravam iniciar seus discípulos nos 35. SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da sua sessão ordinária no 1º de março de 1850, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado á Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 8 de março de 1852, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 20 de abril de 1854, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Inácio Joaquim Barbosa. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão ordinária, no dia 1º de março 1855, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Inácio Joaquim Barbosa. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 1ª sessão da undécima legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 2 de julho de 1856, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor Salvador Correia de Sá e Benevides. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 2ª sessão da undécima legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 1º de fevereiro de 1857, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor Salvador Correia de Sá e Benevides. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 1ª sessão da duodécima legislatura da Assembléia Legislativa de Sergipe, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor João Dabney Avellar Brotero. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 2ª sessão da duodécima Legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 27 de abril de 1859, pelo Presidente, Dr. Manoel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 5 de março de 1860 pelo Presidente, Manuel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que foi entregue a administração da província de Sergipe, no dia 15 de agosto de 1860 ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Thomaz Alves Junior, pelo Doutor Manoel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 4 de março de 1861, pelo Presidente, Dr. Thomaz Alves Junior. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Fala com que foi aberta a 1ª sessão da 14ª legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe pelo Presidente, Dr. Joaquim Jacinto de Mendonça, no dia 1º de março de 1862. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.. 33.

(34) rudimentos da leitura, da escrita e do cálculo. Sobre a experiência na escola do professor Badú, Sílvio deixou comentários sobre os materiais didáticos empregados. Afirma que aprendera a ler. em velhos autos, velhas sentenças fornecidas pelos cartórios dos escrivães forenses. Histórias detestáveis e enfadonhas em sua impertinente banalidade eram-nos ministradas nesses poeirentos cartapácios. Eram como clavas a nos esmagar o senso estético, embrutecer o raciocínio e estragar o caráter. Era, então, preciso uma abundante seiva nativa para resistir a semelhante desvastação. As sentenças manuscritas eram secundadas por impressos vulgares, incolores, próprios para ajudarem a distribuição. Era o ler por ler sem incentivo, sem préstimo, sem estímulo nenhum36.. No século dezenove era comum o uso de manuscritos cartorários nos momentos finais da aprendizagem da leitura. O viajante Daniel Parish Kidder, em Reminiscências de viagens e permanências nas províncias do norte do Brasil, observou que “em certas regiões do interior as crianças aprendem a ler em manuscritos” 37. Também era recorrente o uso dos paleógrafos, livros escolares destinados ao aprendizado da leitura da letra manuscrita, na instrução elementar. Esses livros, impressos por meio do processo litográfico, constituíam uma antologia de escritas diferentes. Naquela quadra, aprendia-se primeiro a decodificar as letras manuscritas e após o domínio destas aprendia-se as de forma38. No momento em que Sílvio estudou as primeiras letras já circulavam no país livros de leitura, que pouco a pouco substituíram o uso dos traslados. Em relatório de 1856, o Presidente da Província de Sergipe Salvador Correia de Sá e Benevides, aconselhou que se fizesse na província um ensaio do método de leitura repentina elaborado por Antônio Feliciano Castilho39. Este método prometia ensinar a ler e escrever em poucas lições e era. 36. ROMERO, Sílvio. Estudos de literatura contemporânea. Rio de Janeiro: Laemmert &. C, 1885, p. 22.. 37. KIDDER, Daniel Parish. Reminiscências de viagens e permanências no norte do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1980, p. 54. 38. BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Paleógrafos ou livros de leitura manuscrita: elementos para o estudo do gênero. Disponível em: <http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/Batista/notasbat.htm#01>. Acesso em: 02/02/2005. 39. SERGIPE. Relatório apresentado pelo Presidente da Província Salvador Correia de Sá e Benevides em 1856. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.. 34.

(35) indicado tanto para o uso nas escolas quanto para o ambiente doméstico40. No entanto, até o momento, não foi possível descobrir se o livro didático de Castilho foi realmente empregado nas escolas sergipanas e se Sílvio Romero teve Acessado a esse impresso. Sílvio lembra que nos últimos tempos de escola primária, dois livros foram a base do ensino do mestre de primeiras letras:. Um – Epítome da História do Brasil, de J. P. Xavier Pinheiro, por causa da descrição de nossa terra – de Rocha Pita, que ocorre logo nas primeiras páginas: ‘O Brasil, vastíssima região, felicíssimo terreno, em cuja superfície tudo são frutos... ’ Outro, Os Lusíadas, por muitos trechos que me encantavam. O Brasil da descrição de Pita ficou sendo o meu Brasil de fantasia e sentimento, a poesia de Camões ainda hoje é uma das mais elevadas manifestações da arte no meu ver e sentir, e, com seu ardente amor da pátria, fortaleceu o meu nativismo. Apesar das inúmeras palmatoadas que apanhei na leitura e análise dos dois livros, nunca perdi a simpatia por Luís de Camões e pelo, mais tarde, tradutor do Dante 41.. Essas confissões merecem algumas observações. Pela descrição pode-se inferir que o livro de J. P. Xavier Pinheiro era, possivelmente, uma coleção de textos escolhidos das obras de vários autores adaptados para o uso escolar. Não encontrei nenhuma menção sobre a circulação da obra citada. No entanto, nas escolas brasileiras foram adotados livros que possuíam essas características. A partir da citação pode ser feita uma outra inferência. É possível presumir que o conteúdo do livro estava de acordo com as normas prescritas pelas autoridades imperiais. Eram recomendados textos que cultivassem o amor à pátria e a moral cristã42. A obra de 40. Cf. LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Os livros que aqui gorjeiam. In: _______. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 183-193. 41. ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 28. 42. Cf. TAMBARA, Elomar. Livros de leituras de ensino primário no século XIX no Brasil. Disponível em: <http://www.anped.org.br/26/trabalhos/elomarantoniotambara.rtf>. Acesso em: 26/05/2004; e GALVÃO, Ana Maria de Oliveira e BATISTA, Antônio Augusto Gomes. A leitura na escola primária brasileira: alguns elementos históricos. Disponível em: <http://unicamp.br/iel/memória/Ensaios/escolaprimaria.htm.> Acesso em: 26/05/2004.. 35.

(36) Sebastião da Rocha Pita enquadra-se no primeiro caso. Ao lado das estórias contadas pelas escravas ela pode ter despertado o seu nacionalismo. Outra observação que pode ser feita relaciona-se à leitura de Camões. O literato português marcou a aprendizagem na escola brasileira do século dezenove. São várias as menções em relatos autobiográficos e romances à leitura de Os Lusíadas. Porém, são incomuns os relatos de admiração. A maioria dos estudantes daquela época deixou imagens negativas dessa leitura43. Entre as raras notas de entusiasmo destaca-se a de Sílvio, que apesar das “palmatoadas”, mostrou simpatia pelo autor luso. É possível que na época em que teve o primeiro contato com a obra, sob o olhar vigilante do mestre, não tenha experimentado uma sensação tão prazerosa e tenha construído essa representação positiva já na fase adulta. O uso de castigos, como os “bolos” recebidos pelo menino, também são referências constantes nas memórias e romances. Em Sergipe, esse hábito foi constante nas escolas, mesmo após a proibição de castigos corporais por uma lei de 1858, as autoridades provinciais continuam tolerando o uso dos castigos corporais moderados44. Eles visavam obter uma leitura adequada. Por essa razão, nem sempre a leitura que dava prazer era aquela realizada na escola “em impressos incolores”. Muitas vezes a leitura mais agradável era a realizada na clandestinidade, longe dos olhos do professor e dos familiares45. Infelizmente, Sílvio não deixou registros acerca dessas leituras. Mas é possível conjeturar que se ele possuía na infância o mesmo encantamento com os livros que tinha quando adulto, provavelmente, não deixaria de ler qualquer volume que lhe caísse nas mãos fosse ele autorizado ou não. Apesar do contato com a cultura escrita possibilitado pelo ambiente escolar, Sílvio não perdeu o contato com a literatura oral. Além das histórias que, provavelmente, ouvia de Antônia e das outras escravas quando voltava ao Engenho Moreira, para visitar os avós, há outros indícios de que não foi apenas através das leituras escolares que teve Acessado ao. 43. Cf. LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. A literatura na escola. In: _______. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 203-217. 44. SERGIPE. Relatório com que foi entregue a administração da Província de Sergipe, no dia 15 de agosto de 1860, ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Thomaz Alves Junior pelo doutor Manoel da Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.. 45. Cf. LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Leituras clandestinas. In: ________. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 218-233.. 36.

(37) conhecimento. Quando morava na Vila, costumava assistir as festas populares como reisados, cheganças, pastoris, taieiras e bumbas-meu-boi. Sílvio comentou que os cantos entoados durante essas festas o encantavam e fortificaram o seu nativismo46. Também costumava sentar-se na calçada de Zefa Nó para ouvir histórias encantadas como a da Moura Torta. Segundo informa Abelardo Romero, Luís, que foi escravo da família, contou que ao visitar a família, após a morte do pai, em 1894, foi rever Zefa Nó, pediu que lhe contasse novamente a referida história e ouviu-a absorto como se estivesse ouvindo-a pela primeira vez. Essas histórias produziram tal encantamento no menino, que já adulto perguntava constantemente nas cartas ao irmão Benilde pela contadora de histórias47. Após a conclusão das primeiras letras, aos doze anos, André e Maria prepararam o enxoval de Sílvio e fizeram a sua matrícula no Ateneu Fluminense, afamado colégio do Império. Sílvio deixou a Vila para cumprir o destino dos herdeiros de famílias com capital econômico e social elevado. Conforme informação anterior, Sílvio era filho de André Ramos Romero, comerciante português, que casou com Maria da Silveira de Vasconcelos Ramos Romero, também de origem lusa, filha de Rosa Ludovina da Silveira e Luís Antônio de Vasconcelos, proprietário do Engenho Moreira, cujo dote, aliado à sua aptidão para os negócios, provavelmente, auxiliou-o a acumular grande fortuna.48 Seu nome não aparece no livro de votantes da Vila de Lagarto de 1850, quando era recém-casado49. No entanto, no livro de qualificação de votantes e nas atas eleitorais da década de setenta figura como eleitor e elegível50. A participação nas eleições é um índice adequado para avaliar as fortunas no Império, pois o voto era censitário. Os eleitores eram selecionados de acordo com sua renda. O processo eleitoral era feito em dois turnos: eleições primárias para a formação de um Colégio Eleitoral que, por sua vez, escolhia nas eleições secundárias os vereadores, juízes de paz, deputados provinciais e gerais e senadores. Nas eleições primárias só podiam votar os 46. ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994, p. 26. 47. ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 27-28.. 48. CARVALHO SOBRINHO, José Sebrão de. Tobias Barreto, o desconhecido. Aracaju: [S.n.], 1941, p. 92.. 49. ARACAJU. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SERGIPE. SEÇÃO SERGIPANA. Livro de votantes de Lagarto. 1850. (Manuscrito). 50. ARACAJU. ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE. G1 1508. Ata da Eleição dos eleitores da Paróquia de Lagarto.1872. [Manuscrito]; ARACAJU. ARQUIVO JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE. LAG/ C. 2ºOF - 1321 A - 1 - VI. Lista de nomes das pessoas qualificadas como votantes da Paróquia de Lagarto. 1877. [Manuscrito].. 37.

Referências

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