• Nenhum resultado encontrado

APROVADO POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE DE 29 DE FEVEREIRO DE

No documento Pareceres da CITE no ano de 2008 (páginas 144-150)

I II – ENQUADRAMENTO JURÍDICO

APROVADO POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE DE 29 DE FEVEREIRO DE

PARECER N.o17/CITE/2008

Assunto: Não exigência de parecer prévio nos termos do n.o 1 do artigo 51.o do

Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.o 99/2003, de 27 de Agosto,

conjugado com a alínea b) do n.o 1 do artigo 98.o da Lei n.o 35/2004,

de 29 de Julho, no caso de cessação de contrato de trabalho de traba- lhadora grávida, puérpera ou lactante por caducidade, em consequência do encerramento total e definitivo da empresa

Processo n.o47 – DL-C/2008

III – OBJECTO

1.1. Em 04/02/2008, a CITE recebeu do Senhor Dr. … – Sociedade de Advogados, em representação da sociedade …, S.A., cópia de um processo de encerramento total e definitivo da empresa, que segue com as necessárias adaptações o procedimento do despedimento colec- tivo, que inclui a trabalhadora (lactante) …, para efeitos da emissão de parecer prévio, nos termos do disposto no n.o 1 do artigo 51.o do

Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.o 99/2003, de 27 de Agosto,

conjugado com a alínea b) do n.o 1 do artigo 98.oda Lei n.o 35/2004,

de 29 de Julho.

1.2. Em 22/01/2008, a empresa entregou à trabalhadora em causa a comu- nicação de encerramento da empresa e caducidade do contrato de trabalho, que abrange 32 trabalhadores, com a seguinte motivação: 1.2.1. A actual conjuntura económica nacional e europeia tem vindo

a afectar praticamente todas as marcas de mercado, com as consequências nefastas para os agentes económicos sobeja- mente conhecidas.

1.2.2. Desta forma, vêem-se aqueles agentes económicos perante condições de mercado adversas que dificultam, e em muitos casos impossibilitam, a prossecução do objecto daqueles. Neste contexto, a … não foi excepção, e enfrenta hoje uma situação muito difícil, provocada quer pela crise que se vive actualmente quer pela actuação da concorrência.

1.2.3. Acresce que a mudança de política de aquisição adoptada pelos clientes tem-se traduzido numa nova actuação no que respeita à escolha e compra de produtos, a que a …, apesar de suces- sivas tentativas, não conseguiu dar resposta. Em concreto, os clientes da … têm vindo a exigir mais descontos nos produtos a adquirir, verificando-se também uma deslocalização da procura

para os produtos mais baratos, com a consequente dificuldade em escoar os produtos de preço mais elevado.

1.2.4. O aparecimento de novas empresas estrangeiras a operar neste mesmo sector, dotadas de uma capacidade em muito superior à da …, vieram exigir alterações substanciais no modelo de negócio seguido pelas empresas tradicionais da produção e comércio de peles. Tem-se assistido, com especial relevo nos últimos cinco anos, à introdução no mercado nacional de produtos importados de indústrias oriundas de países como a Índia e a China, cujos preços são inferiores ao custo de produção nacional.

1.2.5. A indústria nacional de peles, e no que aqui interessa, a … em particular, vê-se impossibilitada de concorrer com este tipo de produção, uma vez que não é viável baixar mais o custo da sua produção. Acresce que muitas indústrias têm vindo a adoptar a introdução de produtos no mercado à consignação, o que tem levado os clientes comerciais a não adquirirem os produtos da …

1.2.6. Deste modo, a … tem vindo a sofrer uma perda constante de clientes, com reflexos claros na sua situação económica. É neste contexto de perda de clientes e retracção no consumo, quer no mercado externo, quer no mercado interno, em consequência da concorrência de novas empresas de produção e comércio de peles, e da diminuição das vendas, que a … se debate com o impacto na sua situação económica e solvabilidade.

1.2.7. Com efeito, as dificuldades económicas com que a … se depara não são de hoje, uma vez que os resultados têm vindo a dete- riorar-se ao longo dos últimos exercícios. De referir que a … tem tentado, ao longo dos últimos anos, reagir contra a situação desfavorável que tem tornado difícil a sua subsistência.

1.2.8. A situação económica e financeira tem inviabilizado qualquer possibilidade de investimentos por parte da …, por falta de liquidez, e, apesar de todos os esforços, os resultados não surgiram, pelo que a situação económica da … revela actual- mente ser insustentável manter a empresa em funcionamento.

1.2.9. Sem capacidade de sobreviver num mercado que se revela cada vez mais agressivo e exigente para os agentes económicos que aí actuam, a … caminha para uma situação de colapso finan- ceiro. Assim, não resta outra alternativa que não seja proceder ao encerramento dos estabelecimentos por si detidos (unidade

fabril e estabelecimentos comerciais), o que tem consequências directas e imediatas nos trabalhadores.

1.2.10. Com efeito, com o encerramento total e definitivo da empresa

determina a caducidade dos contratos de trabalho por esta celebrados – n.o3 do artigo 390.odo Código do Trabalho.

1.2.11. A compensação será calculada nos termos do artigo 401.o

do Código do Trabalho, sem indicação de outras eventuais compensações genéricas, pelo que não se procede à indicação do método de cálculo.

1.3. Nos termos do disposto no artigo 420.o do Código do Trabalho, teve

lugar uma reunião de informações e negociação entre a empresa e a estrutura representativa dos trabalhadores, tendo todos os trabalhadores

declarado concordar com as medidas propostas pela empresa, concor- dando com o seu encerramento total e definitivo, com o cessação dos seus contratos de trabalho e com a compensação que a empresa se propõe pagar a cada um deles.

III – ENQUADRAMENTO JURÍDICO

2.1. O n.o 1 do artigo 10.o da Directiva 92/85/CEE do Conselho, de 19

de Outubro de 1992, obriga os Estados-membros a tomar as medidas necessárias para proibir que as trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes sejam despedidas durante o período compreendido entre o início da gravidez e o termo da licença por maternidade, salvo nos casos excepcionais não relacionados com o estado de gravidez.

2.1.1. Um dos considerandos da referida Directiva refere que (…)

o risco de serem despedidas por motivos relacionados com o seu estado pode ter efeitos prejudiciais no estado físico e psíquico das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes e que, por conseguinte, é necessário prever uma proibição de despedimento.

2.1.2. Por outro lado, é jurisprudência uniforme e continuada do Tri- bunal de Justiça das Comunidades Europeias (ver, entre outros, os Acórdãos proferidos nos processos C-179/88, C-421/92, C-32/93, C-207/98 e C-109/00) que o despedimento de uma trabalhadora devido à sua gravidez constitui uma discriminação directa em razão do sexo, contrária ao n.o 1 do artigo 5.o da

Directiva 76/207/CEE (aplicação do princípio da igualdade de tratamento entre homens e mulheres). Esta disposição corres- ponde actualmente à alínea c) do artigo 3.o daquela Directiva,

2.2. Em conformidade com a norma comunitária, a legislação nacional consagra, no n.o 1 do artigo 51.odo Código do Trabalho, que o despe-

dimento de trabalhadora grávida, puérpera ou lactante carece sempre de parecer prévio da entidade que tenha competência na área da igual- dade de oportunidades entre homens e mulheres, que é esta Comissão,

conforme artigo 494.o da Lei n.o 35/2004, de 29 de Julho, que regula-

menta aquele Código.

2.3. Ora, o caso em apreço não configura qualquer despedimento, mas sim uma cessação dos contratos de trabalho por caducidade, em conse- quência do encerramento total e definitivo da empresa, conforme esta- belece o n.o3 do artigo 390.odo Código do Trabalho.

2.3.1. A circunstância deste preceito legal dispor que, neste caso, se deve seguir o procedimento previsto nos artigos 419.o

e seguintes, com as necessárias adaptações, não significa que a cessação dos contratos de trabalho se transforme em despedi- mento colectivo.

2.4. Assim, tratando-se de uma cessação do contrato de trabalho por caduci- dade, não há lugar a parecer prévio, nos termos do n.o 1 do artigo 51.o

do Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.o99/2003, de 27 de Agosto,

conjugado com a alínea b) do n.o 1 do artigo 98.oda Lei n.o 35/2004,

de 29 de Julho. III – CONCLUSÃO

3.1. Face ao exposto, tratando-se de uma cessação do contrato de trabalho por caducidade, em consequência do encerramento total e definitivo da empresa …, S.A., a CITE não emite o parecer prévio, nos termos do n.o1 do artigo 51.odo Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.o99/

/2003, de 27 de Agosto, conjugado com a alínea b) do n.o 1 do artigo

98.oda Lei n.o 35/2004, de 29 de Julho, uma vez que tal parecer não é

legalmente exigido.

APROVADO POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE DE 29 DE FEVEREIRO DE 2008

PARECER N.o18/CITE/2008

Assunto: Parecer prévio ao despedimento de trabalhadora lactante, nos termos do n.o 1 do artigo 51.o do Código do Trabalho, conjugado com a alínea a)

do n.o1 do artigo 98.oda Lei n.o35/2004, de 29 de Julho

Processo n.o48 – DL/2008

III – OBJECTO

1.1. Em 6 de Fevereiro de 2008, a CITE recebeu um pedido de parecer nos termos da legislação mencionada em epígrafe, formulado pela gerência do …, L.da, relativamente à trabalhadora lactante …

1.2. O pedido de parecer chegou acompanhado de cópia da comunicação remetida à trabalhadora, datada de 28 de Janeiro de 2008.

1.3. Da comunicação escrita enviada pela empresa à CITE, consta que a trabalhadora se encontra ao serviço do … em regime de contrato sem termo, e se encontrou em licença de maternidade até ao dia 10 de Janeiro de 2008, data na qual deveria regressar ao trabalho.

Mais consta da referida comunicação que, no início do mês de Janeiro, a trabalhadora foi contactada pelo responsável da loja, a fim de informar sobre o horário pretendido para gozo das dispensas para aleitação/ /amamentação e comunicou que não pretendia retomar o seu posto de trabalho, embora lhe tivesse sido solicitada informação por escrito à entidade patronal.

Sucede que, até à data em que foi solicitado o parecer da CITE, a enti- dade patronal não recebera qualquer comunicação da trabalhadora, pelo que considerou encontrarem-se reunidos os requisitos de despedimento por abandono do trabalho, com base no disposto no artigo 450.o do

Código do Trabalho.

1.4. Na comunicação remetida à trabalhadora, datada de 28 de Janeiro de 2008, a gerência da empresa reitera a rescisão do contrato de trabalho celebrado com a trabalhadora, por motivo de abandono do trabalho, devido a mesma não comparecer ao serviço, há mais de dez dias úteis, nem ter enviado qualquer comunicação sobre o motivo de tal ausência.

III – ENQUADRAMENTO JURÍDICO

2.1. O n.o 1 do artigo 51.o do Código do Trabalho veio estabelecer que o

despedimento de trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes carece sempre de parecer prévio da entidade que tenha competência na área

da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. A entidade com as competências mencionadas é, de acordo com a alínea e) do n.o1

do artigo 496.o da Lei n.o 35/2004, de 29 de Julho, que regulamenta

o Código do Trabalho, a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.

2.2. Para tal efeito, o empregador deve enviar cópia do processo, nos momentos previstos nas alíneas a) a d) do n.o 1 do artigo 98.o da Lei

n.o 35/2004, de 29 de Julho, sendo que, no caso de se tratar de um

despedimento por facto imputável ao trabalhador, o processo deve ser enviado depois das diligências probatórias referidas no n.o 3 do artigo

414.oou no n.o2 do artigo 418.odo Código do Trabalho.

2.3. Ora, da documentação remetida à CITE pela entidade patronal, resulta que o empregador fez accionar o processo de abandono do posto de trabalho por parte do/a trabalhador/a, o qual vale como denúncia do contrato, nos termos previstos nos n.os 1 e 4 do artigo 450.o do Código

do Trabalho, não instaurando um processo disciplinar, com vista ao despedimento, segundo o disposto nos artigos 396.oa 415.o e seguintes

do mesmo diploma.

2.4. Assim, e uma vez que, no caso em apreço, se está perante uma situação de cessação do contrato de trabalho, nomeadamente por ter ocorrido a denúncia do contrato de trabalho por parte do trabalhador, devido a este alegadamente, ter abandonado o local de trabalho e não perante um despedimento, não existe dever de a CITE emitir parecer nos termos do n.o1 do artigo 51.odo Código do Trabalho.

No documento Pareceres da CITE no ano de 2008 (páginas 144-150)