I II – ENQUADRAMENTO JURÍDICO
DA INDÚSTRIA PORTUGUESA E DA CCP – CONFEDERAÇÃO DO COMÉRCIO E SERVIÇOS DE PORTUGAL, QUE SE TRANSCREVE:
A CIP e a CCP votam contra o presente parecer, na medida em que consideram por um lado, que a entidade patronal ilidiu a presunção de justa causa de despedi- mento constante do n.o 2 do artigo 50.odo Código do Trabalho, e, por outro, que
não existem indícios de discriminação em função da maternidade, pertencendo às instâncias judiciais a competência para a apreciação dos casos como o sub judice.
PARECER N.o22/CITE/2008
Assunto: Parecer prévio nos termos do artigo 45.o do Código do Trabalho e dos
artigos 78.oe 80.oda Lei n.o35/2004, de 29 de Julho
Processo n.o57 – TP/2008
III – OBJECTO
1.1. A CITE recebeu da …, em 11 de Fevereiro de 2008, pedido de emissão de parecer prévio à recusa do pedido de trabalho a tempo parcial apre- sentado pela trabalhadora …, com a categoria profissional de farmacêu- tica adjunta.
1.2. No requerimento apresentado pela trabalhadora1, datado de 15 de
Janeiro p.p., a requerente:
– Indica como prazo previsível para o exercício do direito o período de um ano, eventualmente renovável;
– Declara que o seu filho, menor de 3 anos, bem com o pai da criança fazem parte do seu agregado familiar, que este último não se encontra ao mesmo tempo em situação de trabalho a tempo parcial e que não está esgotado o período máximo de duração deste regime de trabalho; – Indica a repartição semanal do período de trabalho que pretende. 1.3. Da exposição de motivos2 sobre a intenção de recusa da entidade
empregadora, datada de 1 de Fevereiro de 2008, é dado conhecimento à trabalhadora, por carta entregue em mão, no mesmo dia (cfr. declaração e assinatura da trabalhadora, exarada à margem da primeira folha da exposição de motivos).
1.4. Em 7 de Fevereiro de 2008, a entidade empregadora tomou conheci- mento da resposta à exposição de motivos da trabalhadora3, datada
do dia anterior, remetida por carta registada com aviso de recepção (cfr. menção da data e do registo com aviso de recepção constantes na primeira folha da resposta à exposição de motivos).
III – ENQUADRAMENTO JURÍDICO
2.1. Os n.os 1 e 2 do artigo 68.o da Constituição da República Portuguesa
estabelecem que os pais e as mães têm direito à protecção da sociedade
1 Vide anexo 1 do processo remetido à CITE. 2 Vide anexo 2 do processo remetido à CITE. 3 Vide anexo 3 do processo remetido à CITE.
e do Estado na realização da sua insubstituível acção em relação aos filhos, nomeadamente quanto à sua educação, com garantia de reali- zação profissional e de participação na vida cívica do país e que a maternidade e a paternidade constituem valores sociais eminentes.
Por outro lado, dispõe a alínea b) do n.o 1 do artigo 59.o do referido
diploma que todos os trabalhadores, (…) têm direito (…) à organização
do trabalho em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal e a permitir a conciliação da actividade profis- sional com a vida familiar.
2.2. Como corolário, e de modo a concretizar os princípios constitucionais enunciados, a lei ordinária prevê, no n.o 1 do artigo 45.odo Código do
Trabalho, o direito dos trabalhadores com um ou mais filhos menores de doze anos a trabalhar a tempo parcial ou com flexibilidade de horário. Tal possibilidade depende de requerimento apresentado pelo/a traba- lhador/a ao empregador, com 30 dias de antecedência, e desde que reunidos os requisitos constantes das alíneas a), b) e c) do n.o 1 do
artigo 80.o do Código do Trabalho, podendo o empregador apenas
recusar o pedido com fundamento em exigências imperiosas ligadas ao funcionamento da empresa ou serviço, ou à impossibilidade de substi- tuir o trabalhador se este for indispensável.4
Para além do dever de fundamentar a intenção de recusa, e sempre que esta ocorra, é obrigatório que a entidade empregadora solicite parecer prévio à CITE, no prazo de cinco dias a seguir ao fim do prazo estabele- cido para apreciação pelo trabalhador, implicando a sua falta a aceitação do pedido deste, nos precisos termos em que o formulou.5
Ainda assim, mesmo em presença do parecer prévio desta Comissão, caso o mesmo não seja favorável à recusa, o empregador só poderá alcançar o efeito pretendido após decisão judicial que reconheça a exis- tência de motivo justificativo para a recusa.6
2.3. Ao abrigo da legislação mencionada, a entidade empregadora remeteu à CITE o presente processo, cujo conteúdo, depois de analisado, merece as seguintes considerações:
2.3.1. A trabalhadora solicitou à entidade empregadora a prestação de trabalho em regime de tempo parcial, por um período previ- sível de um ano, tendo cumprido os requisitos constantes das alíneas a), b) e c) do n.o 1 do artigo 80.o da Lei n.o 35/2004,
de 29 de Julho.
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4 Vide n.o2 do artigo 80.oda Lei n.o35/2004, de 29 de Julho. 5 Vide n.os6 e 9 do artigo 80.oda Lei n.o35/2004, de 29 de Julho. 6 Vide n.o3 do artigo 80.oda Lei n.o35/2004, de 29 de Julho.
2.3.2. Foram respeitados os prazos indicados nos n.os4 a 6 do referido
artigo 80.o.
2.3.3. Encontrando-se o direito solicitado pela trabalhadora previsto no n.o 1 do artigo 45.o do Código do Trabalho, regulamentado
pelo artigo 78.o da Lei n.o 35/2004, de 29 de Julho, importa
debruçarmo-nos sobre a análise do referido normativo, consi- derando o caso sub judice.
Assim, refere o n.o1 do citado artigo que para efeitos dos n.os1
e 2 do artigo 45.odo Código do Trabalho, o direito a trabalhar
a tempo parcial pode ser exercido por qualquer dos progeni- tores, ou por ambos em períodos sucessivos, depois da licença parental, ou dos regimes alternativos de trabalho a tempo parcial ou de períodos intercalados de ambos.7
Ora, da análise do presente processo não resulta informação sobre o eventual gozo de licença parental pela trabalhadora, em qualquer das modalidades previstas nas alíneas a), b) e c) do n.o 1 do artigo 43.o do Código do Trabalho, falta de conhe-
cimento esta que inviabiliza que a CITE se pronuncie sobre os motivos invocados pela entidade empregadora, por poder não se encontrar reunida a totalidade dos pressupostos legalmente exigidos para o possível exercício da prestação de trabalho a tempo parcial, ao abrigo do n.o 1 do artigo 45.o do Código do
Trabalho e do artigo 80.o da Lei n.o 35/2004, de 29 de Julho,
nos termos exigidos pelo n.o1 do artigo 78.oda mesma lei.
2.4. A posição da Comissão justifica-se pelo facto de a trabalhadora poder, eventualmente, vir a gozar uma licença parental, na modalidade de trabalho a tempo parcial, durante doze meses, com um período normal de trabalho igual a metade do tempo completo8, sem que para isso seja
necessário solicitar autorização à entidade empregadora, devendo apenas comunicar a sua intenção com 30 dias de antecedência relativamente ao início do período da licença9.
III – CONCLUSÃO
3.1. Face ao que antecede, a CITE não se opõe à intenção de recusa da pres- tação de trabalho em regime de tempo parcial, por desconhecer se a trabalhadora … esgotou o direito à licença parental, condição necessária
7 Sublinhado nosso.
8 Vide alínea b) do n.o1 do artigo 43.odo Código do Trabalho. 9 Vide n.o6 do artigo 43.odo Código do Trabalho.
à possibilidade de exercer o direito a trabalhar a tempo parcial, nos termos do n.o 1 do artigo 78.o e do artigo 80.o da Lei n.o 35/2004, de
29 de Julho.
3.2. Caso a requerente tenha esgotado o direito à licença parental, poderá apresentar novo requerimento no qual conste esta informação.
A manter-se a intenção de recusa da autorização, por parte da entidade empregadora, deverá novamente ser pedido parecer à CITE, nos termos do artigo 45.o do Código do Trabalho e dos artigos 78.o e 80.o da Lei
n.o35/2004, de 29 de Julho.
APROVADO POR UNANIMIDADE DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO DA CITE DE 29 DE FEVEREIRO DE 2008
PARECER N.o23/CITE/2008
Assunto: Não exigibilidade de parecer nos termos dos artigos 79.o e 80.o da Lei
n.o35/2004, de 29 de Julho
Processo n.o67 – FH/2008
III - OBJECTO
1.1. A CITE recebeu do Departamento de Recursos Humanos do …., em 21 de Fevereiro de 2008, um pedido de parecer prévio à recusa da passagem ao regime de flexibilidade de horário requerida por …, enfer- meira graduada a exercer funções no bloco operatório, pertencente ao quadro daquela instituição.
1.2. A requerente elaborou o pedido, dirigido à enfermeira directora da insti- tuição, solicitando, pelo período de dois anos, a flexibilidade de horário
(isenção das tardes), ao abrigo do artigo 45.o do Código do Trabalho
e do artigo 80.o da Lei n.o35/2004, de 29 de Julho, uma vez que (tem)
um filho de 5 anos de idade, declarando que o menor faz parte do seu
agregado familiar e informando que o outro progenitor exerce funções (naquele) Instituto e não usufrui da flexibilidade de horário, não sendo
compatível o horário do (seu) cônjuge para assistência total ao (seu) filho.
1.3. A entidade empregadora tem intenção de recusar o pedido, tendo a enfermeira directora comunicado à requerente o seguinte:
Serve a presente para informar V. Ex.a que a flexibilidade de horário, tal como a lei a define, nas normas das alíneas a), b) e c) do n.o3 do artigo 79.oda Lei de regulamentação do Código do Trabalho, não é, em princípio, compatível com as exigências ligadas ao funcionamento do bloco operatório nem com a actual estrutura de afectação de recursos; com efeito, aquilo que designa por «isenção de tardes» não seria mais do que, afinal, uma jornada contínua reportada à situação subjectiva que apresenta e não constitui um verdadeiro regime de «flexibilidade». A decisão que se projecta é, assim, a de indeferir o pedido.
Para o efeito, poderá (…), querendo, apresentar uma apreciação escrita daquele fundamento de intenção de recusa.
1.4. A requerente apresentou apreciação escrita à exposição de motivos da entidade empregadora nos seguintes termos:
1. A trabalhadora requerente pretende usufruir de flexibilidade de horário de trabalho, ao abrigo do disposto no n.o2 do artigo 79.oda
Lei n.o35/2004, de 29 de Julho, que lhe confere o direito de escolher
as horas de início e termo do período normal de trabalho.
2. Assim, solicitou a prestação de trabalho com horário compreendido entre as 8.00h e a 15.00h (horário continuo), pelo prazo previsto de 24 meses, para poder acompanhar o seu filho menor (…), nascido em 18/02/2002, o qual faz parte do seu agregado familiar.
3. O pai da criança tem actividade profissional, enquanto médico cirur- gião, não sendo compatível o horário para assistência total ao refe- rido filho.
4. Não se compreende a posição assumida pela entidade empregadora, tanto mais que a requerente já usufruía deste regime que veio agora peticionar, tendo-lhe sido solicitado apenas que renovasse o pedido. Nestes termos, deve ser deferido o pedido de prestação de trabalho em regime de flexibilidade de horário solicitado pela requerente (…).
III – ENQUADRAMENTO JURÍDICO
2.1. Nos termos do disposto na alínea f ) do n.o 1 do artigo 496.o da Lei
n.o 35/2004, de 29 de Julho, compete à CITE emitir parecer prévio
no caso de intenção de recusa, pelo empregador, de autorização para trabalho a tempo parcial ou com flexibilidade de horário a trabalha- dores com filhos menores de 12 anos.
2.2. Contudo, de acordo com o previsto no n.o 1 do artigo 111.o da Lei
n.o 35/2004, de 29 de Julho, os regimes de trabalho a tempo parcial
e com flexibilidade de horário previstos no artigo 45.o do Código do
Trabalho são regulados pela legislação relativa à duração e horário de trabalho na Administração Pública, a qual não prevê a emissão de
parecer prévio da CITE no caso de requerimentos sobre regimes de trabalhos especiais apresentados por trabalhadores nomeados1da Admi-
nistração Pública.
2.3. É, todavia, de salientar que, nos termos do n.o2 do citado artigo 111.o,
o regime de trabalho a tempo parcial e os horários específicos, com a necessária flexibilidade e sem prejuízo do cumprimento da duração semanal do horário de trabalho a que se refere o artigo 45.odo Código
do Trabalho, são aplicados a requerimento dos interessados, de forma a não perturbar o normal funcionamento dos serviços, mediante acordo entre o dirigente e o trabalhador, com observância do previsto na lei
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1 Vide artigo 9.oda Lei n.o12-A/2008, de 27 de Fevereiro, diploma que estabelece os regimes de vin-
geral em matéria de duração e modalidades de horário de trabalho para os funcionários e agentes da Administração Pública.
Acrescenta o n.o 3 do mesmo artigo que sempre que o número de
pretensões para utilização das facilidades de horários se revelar mani- festa e comprovadamente comprometedora do normal funcionamento dos serviços e organismos, são fixados, pelo processo previsto no número anterior, o número e as condições em que são deferidas as pretensões apresentadas.
Refere ainda o n.o 4 do referido preceito legal que quando não seja
possível a aplicação do disposto nos números anteriores, o trabalhador é dispensado por uma só vez ou interpoladamente em cada semana, em termos idênticos ao previsto na lei para a frequência de aulas no regime do trabalhador-estudante.
III – CONCLUSÕES
3.1. A disposição legal constante do n.o2 do artigo 80.oda Lei n.o35/2004,
de 29 de Julho, não é aplicável aos trabalhadores nomeados da Admi- nistração Pública.
3.2. Face ao que precede, a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego delibera não emitir parecer prévio à recusa, nos termos do n.o2 do artigo 80.oda Lei n.o35/2004, de 29 de Julho, relativamente ao
requerimento apresentado por …, enfermeira graduada, porquanto, de acordo com o previsto no n.o1 do artigo 111.oda Lei n.o35/2004, de 29
de Julho, os regimes de trabalho a tempo parcial e com flexibilidade de
horário previstos no artigo 45.o do Código do Trabalho são regulados
pela legislação relativa à duração e horário de trabalho na Adminis- tração Pública, que não prevê a emissão de parecer prévio da CITE no
âmbito de requerimentos sobre regimes de trabalhos especiais apresen- tados por trabalhadores nomeados da Administração Pública.
3.3. A Comissão delibera ainda recomendar ao Instituto …, que a decisão que venha a tomar, neste caso e em casos semelhantes, tenha em consi- deração o disposto na alínea b) do n.o 1 do artigo 59.o da Constituição
da República Portuguesa, que preconiza a organização do trabalho em
condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal e a permitir a conciliação da actividade profissional com a vida familiar.
APROVADO POR MAIORIA DOS MEMBROS PRESENTES NA REUNIÃO