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APROXIMAC ¸ ˜ OES DA LITERATURA DE SISTEMA COMPLE XOS COM A ABORDAGEM EVOLUCIONISTA

Esta tese possui a grande virtuosidade de eliminar contradi¸c˜oes existentes entre a literatura kaldoriana e a literatura neo-shumpeteriana. a literatura kaldoriana destacou a importˆancia das atividades industri- ais para o desenvolvimento econˆomico, enquanto que a literatura neo- schumpeteriana evidenciou a importˆancia das atividades voltadas para a inova¸c˜ao. Em especial, a literatura de Sistemas Nacionais de Inova¸c˜ao mostrou que a realiza¸c˜ao de inova¸c˜oes n˜ao depende apenas de rotinas presentes no interior das firmas, mas da capacidade dos pa´ıses em de- senvolver novos conhecimentos e novas atividades produtivas, o que demanda a constru¸c˜ao de todo um conjunto de elementos de suporte `

as atividades industriais. Isto ´e, os pa´ıses que possuem maior n´ıvel de renda s˜ao aqueles que conseguem inovar mais, sendo a inova¸c˜ao expli- cada pela capacidade destes pa´ıses em desenvolverem todo um conjunto de elementos de apoio `as atividades de fabrica¸c˜ao. Os pa´ıses que con- seguem construir um conjunto adicional de elementos, que interagem ativamente, elevam o grau de sofistica¸c˜ao da sua estrutura produtiva, sendo os que elevam o seu n´ıvel de renda per capita. De modo que a constru¸c˜ao de uma estrutura produtiva complexa, constitu´ıda por muitas partes em intera¸c˜ao ´e uma caracter´ıstica distintiva dos pa´ıses desenvolvidos.

Esta se¸c˜ao possui como objetivo relacionar as teorias de inova¸c˜ao e sistemas complexos, buscando apresentar uma defini¸c˜ao de inova¸c˜ao. As literaturas neo-schumpeteriana e institucional apresentam evidˆencias emp´ıricas que est˜ao em sintonia com as defini¸c˜oes proposta por siste- mas complexos. Elas deslocam a an´alise das vari´aveis macro para o interior das firmas e mostram que o processo de crescimento econˆomico emerge do comportamento apresentado por estas. A literatura neo- schumpeteriana contribuiu consideravelmente para o avan¸co na com- preens˜ao sobre o modo como o sistema econˆomico evolui. Ela n˜ao vˆe as

firmas como unidades indiferenci´aveis e est´aticas, mas como dinˆamicas. Estas s˜ao dotadas de diferentes comportamentos, estrat´egias, oportuni- dades e capacidades. Assim, a literatura neo-schumpeteriana se apro- xima de sistemas complexos, conforme visto, este enxerga os agentes como unidades heterogˆeneas, adaptativas e que interagem entre si.

Uma nova tecnologia n˜ao representa uma ´unica modifica¸c˜ao no equil´ıbrio, sendo um gerador cont´ınuo e permanente de novas tecno- logias (ARTHUR, 2009). Aqui, novamente, se observa a atua¸c˜ao de mecanismos de auto-refor¸co, cujos resultados s˜ao ondas cont´ınuas de interrup¸c˜ao e rupturas que atuam em paralelo em toda a economia e em todas as escalas, n˜ao sendo limitadas `a interrup¸c˜oes ocasionais do estado de equil´ıbrio. A mudan¸ca tecnol´ogica ´e end´ogena e ocorre de forma cont´ınua, colocando a economia em um estado per- manente de n˜ao equil´ıbrio.

A mudan¸ca tecnol´ogica, somada ´a presen¸ca de incerteza, implica que:

“A picture is now emerging of the economy different from the standard equilibrium one. To the degree that uncertainty and technological changes are pre- sent in the economy - and certainly both are per- vasive at all levels - agents must explore their way forward, must “learn” about the decision problem they are in, must respond to the opportunities con- fronting them. We are in a world where beliefs, stra- tegies, and actions of agents are being “tested” for survival within a situation or outcome or “ecology” that these beliefs, strategies and actions together cre- ate. Further, and more subtly, these very explorati- ons alter the economy itself and the situation agents encounter. So agents are not just reacting to a pro- blem they are trying to make sense of; their very ac- tions in doing so collectively reform the current out- come, which requires them to adjust afresh. We are, in other words, in a world of complexity, a complexity closely associated with nonequilibrium.” (ARTHUR, 2013, p. 7)

A presen¸ca de intera¸c˜ao entre os agentes resulta na propaga¸c˜ao de comportamentos. Eles surgem da presen¸ca de auto-refor¸co nas in-

tera¸c˜oes. A economia ´e povoada por feedbacks positivos e negativos. Os feedbacks positivos resultam no surgimento de estruturas e os feed- backs negativos destroem estas estruturas. Os feedbacks se propagam e geram efeitos de aprisionamento (lock-in), com o tempo eles podem se dissipar, o que leva ao desaparecimento destas estruturas (ARTHUR, 2013).

A defini¸c˜ao de estrutura, proposta por Arthur (2013), se mostra similar, mas mais abrangente do que a defini¸c˜ao de paradigma tecno- produtivo proposta por Perez. Ele est´a relacionado `a ideia de que o novo padr˜ao tecnol´ogico emergente ´e acompanhado pelo surgimento de todo um conjunto de elementos complementares e que ajudam a mol- dar a dinˆamica econˆomica associada a ele. At´e mesmo as institui¸c˜oes surgem e s˜ao modificadas de modo a se adaptar `as caracter´ısticas e necessidades do paradigma emergente.

Isto ´e, as inova¸c˜oes devem ser vistas como for¸cas que possuem a propriedade de modificar o modo como ocorrem as intera¸c˜oes entre as partes constituintes. Esta modifica¸c˜ao nas intera¸c˜oes leva ao desapare- cimento de algumas partes constituintes e ao surgimento de outras, mo- dificando profundamente o comportamento do sistema como um todo. A vis˜ao aqui defendida ´e de um ambiente dinˆamico, em constante muta¸c˜ao. No qual todo um conjunto de elementos espec´ıficos surgem e desaparecem em resposta `a emergˆencia de determinados padr˜oes tec- nol´ogicos. Estes elementos surgem em resposta ao padr˜ao emergente, interagem entre si, e podem, inclusive, influenciar na trajet´oria seguida. Toda a trajet´oria hist´orica de desenvolvimento econˆomico ´e explicada pelo surgimento destas estruturas, sendo a realidade observada apenas um dos resultados de uma infinidade de possibilidades fact´ıveis.

O surgimento destas estruturas leva ao surgimento de diferen- tes padr˜oes de crescimento econˆomico. A posterior destrui¸c˜ao resulta na ocorrˆencia de eventos em larga escala. Como resultado, sistemas econˆomicos s˜ao caracterizados pela emergˆencia e destrui¸c˜ao de estrutu- ras, as quais s˜ao acompanhadas pelo surgimento de per´ıodos de maior crescimento econˆomico e per´ıodos de crise e instabilidade econˆomica e financeira.

Os feedbacks positivos e negativos s˜ao uma propriedade que define sistemas complexos. Se um sistema cont´em apenas feedbacks negativos (por exemplo, retornos decrescentes), ele converge rapidamente para o equil´ıbrio. Por outro lado, se o sistema ´e influenciado apenas por fe- edbacks positivos, ele apresenta comportamento explosivo. Por´em, na presen¸ca de ambos ele mostra comportamento complexo. As estrutu- ras criadas pelos feedbacks positivos podem ser compensadas por for¸cas

negativas e se dissiparem, ou podem gerar estruturas adicionais. As es- truturas v˜ao e vˆem, apenas algumas permanecem (ARTHUR, 2013).

Conforme destacado por Sagan (2015), a extin¸c˜ao ´e a regra e a evolu¸c˜ao ´e a exce¸c˜ao, ocorrendo de tempos em tempos eventos em larga escala que provocam extin¸c˜ao em massa. Em economia n˜ao ´e diferente, estruturas espec´ıficas surgem e permanecem por longos per´ıodos de tempo. Contudo, mais cedo ou mais tarde ocorrem eventos extremos que resultam na extin¸c˜ao destas estruturas, provocando reconfigura¸c˜oes nos sistemas econˆomicos e modifica¸c˜oes em toda a sua l´ogica de funcio- namento. A emergˆencia do sistema capitalista pode ser vista como uma destas estruturas emergentes e, dentro deste, a emergˆencia de paradig- mas tecnoeconˆomicos tamb´em pode ser interpretado como estruturas espec´ıficas que surgem e que permanecem ativas, determinando a tra- jet´oria por determinado per´ıodo de tempo. Por´em, a ocorrˆencia de eventos em larga escala, como o surgimento de um novo paradigma tecno-produtivo ou uma nova l´ogica produtiva, faz com que pa´ıses (padr˜oes e estruturas) que permaneceram ativos por muito tempo se- jam desbancados (desapare¸cam)3.

Do mesmo modo como um simples bater de asas de uma borbo- leta pode mudar o mundo, eventos aparentemente simples e sem im- portˆancia podem criar uma cadeia de eventos que se auto-refor¸cam e resultam em completa transforma¸c˜ao do sistema. Evidencia-se a natu- reza relativamente ca´otica existente por tr´as de todo e qualquer sistema econˆomico4.

Economias de escala, aprendizado, coordena¸c˜ao, externalidades de rede, inter-rela¸c˜oes tecnol´ogicas e a presen¸ca de externalidades posi- tivas locais s˜ao exemplos de feedbacks positivos. Uma firma, produto, tecnologia ou regi˜ao geogr´afica avan¸ca, possivelmente, por causa de eventos que apresentam baixa probabilidade de ocorrˆencia, a presen¸ca de dependˆencia da trajet´oria, irreversibilidade e retornos crescentes faz com que estes ganhem vantagem e avancem, passando a dominar o re- sultado (ARTHUR, 1990).

Arthur (2013), ainda destaca que os feedbacks positivos est˜ao mais presentes na economia do que se pensava anteriormente. Eles apa- recem n˜ao apenas em empresas e produtos, mas em pequenos e grandes

3Abramovitz (1986) introduziu os conceitos de catching-up, forging ahead e fal-

ling behind, sugerindo que, em determinados per´ıodos hist´oricos, alguns pa´ıses cres-

cem mais e outros menos, uns avan¸cam (ingressando em um processo de catching-up

ou tomando a lideran¸ca forging ahead ) e outros ficam para tr´as, processo denomi-

nado de falling behind.

4O Efeito borboleta, proposto por Lorenz (1963), levou os cientistas a realizarem

mecanismos, em comportamentos de decis˜ao, comportamentos do mer- cado financeiro e em dinˆamicas de rede. Eles atuam em todas as escalas desestabilizando a economia, inclusive na macro-escala. Os feedbacks levam a um conjunto de propriedades: atratores m´ultiplos, impre- visibilidade, aprisionamento, ineficiˆencias, e dependˆencia da trajet´oria. Como resultado, geram estados m´ultiplos metaest´aveis, imprevisibilidade, aprisionamento, estados de alta energia e n˜ao ergo- dicidade (ARTHUR, 2013).

Dadas todas estas propriedades, Arthur (2013) passa a se pergun- tar como a economia se constr´oi e muda ao longo do tempo. Ele mostra que o mainstream define as tecnologias como fun¸c˜oes de produ¸c˜ao, o surgimento de novas tecnologias modifica estas fun¸c˜oes, gerando au- mentos de produ¸c˜ao e liberando trabalhadores e outros recursos. A vis˜ao tradicional considera que a economia se desloca suavemente de um equil´ıbrio para outro, crescendo de forma end´ogena, conciliando a mudan¸ca tecnol´ogica com a ideia de equil´ıbrio. O mainstream coloca a for¸ca principal respons´avel pelo avan¸co, a tecnologia, em segundo plano, e os pre¸cos e quantidades em primeiro plano. A tecnologia ´e vista como algo sem forma, que surge do nada, modifica o equil´ıbrio do sistema e desaparece. Esta vis˜ao n˜ao considera que a tecnologia apresenta estrutura e n˜ao explica como ela se acumula e como modifica a economia ao longo do tempo.

A defini¸c˜ao de paradigma tecno-produtivo, proposta por Perez (2010), mostra que essa vis˜ao ´e question´avel. O sistema de pre¸cos relati- vos e o sistema de compartilhamentos se adaptam ao padr˜ao tecnol´ogico emergente. A economia ´e norteada por incertezas e por per´ıodos de crescimento econˆomico e instabilidade.

Neste aspecto, a utiliza¸c˜ao de sistemas complexos representa uma abordagem mais adequada do que a vis˜ao atualmente predominante. Ela colocaria as tecnologias no primeiro plano, e os pre¸cos e quanti- dades em segundo e reconheceria que existe uma estrutura que explica o modo como diferentes tecnologias surgem e se propagam (ARTHUR, 2009). O locus seria as diferentes tecnologias existentes e o modo como elas evoluem e alteram estruturalmente a economia ao longo do tempo e n˜ao os conceitos de agente representativo e equil´ıbrio, existentes atu- almente (ARTHUR, 2013, p. 7).

Conforme destacado por (ARTHUR, 2013, p. 16):

“[· · · ] we can define individual technologies as me- ans to human purposes. These would include indus- trial processes, machinery, medical procedures, algo-

rithms, and business processes. And they would also include organizations, laws and institutions - these too are means to human purposes. The significant thing about technologies is that they are constructed, put together, combined - always - from parts, assem-

blies, sub-assemblies. These latter are also means

to purposes, so novel technologies form by combi-

nation from existing technologies. The laser prin-

ter was constructed from the existing laser, digital processor, and xerography (the processor directs a highly-focused laser beam to “paint” an image on a copier drum). We now have a system where novel ele- ments (technologies) constantly form from existing elements, whose existence may call forth yet further elements.”

A economia pode ser definida como o conjunto de arranjos e ativi- dades pelas quais uma sociedade atende suas necessidades, sendo estes arranjos as tecnologias. A economia emerge destes arranjos, sendo uma express˜ao de suas tecnologias.

A emergˆencia de novas tecnologias resulta no surgimento de no- vas formas de organiza¸c˜ao, novas institui¸c˜oes e na demanda por novas tecnologias. Em uma escala de tempo mais longa os grandes corpos de tecnologia definem uma maneira espec´ıfica pela qual as opera¸c˜oes na economia s˜ao realizadas, modificando a economia estrutural- mente. Conforme a economia se modifica suas organiza¸c˜oes e insti- tui¸c˜oes tamb´em mudam, o que demanda novos arranjos, novas tecno- logias e novas mudan¸cas.

Assim, a no¸c˜ao de evolu¸c˜ao da estrutura econˆomica, desenvolvida por Arthur (2013), ´e expressa como um conjunto de processos desen- cadeados por outros processos e n˜ao como um conjunto de equa¸c˜oes. Semelhante `a biologia, Arthur (2013) defende que o processo evolutivo baseia-se em mecanismos que funcionam em etapas que se desenca- deiam e definem continuamente novas categorias. As equa¸c˜oes funci- onam bem quando ocorrem mudan¸cas no n´umero ou nas quantidades em determinada categoria, mas n˜ao funcionam corretamente quando surgem novas categorias.

Na biologia, os mecanismos centrais da evolu¸c˜ao s˜ao profunda- mente compreendidos e formam um grupo coerente de proposi¸c˜oes ge- rais que combinam observa¸c˜oes do mundo real, se constituindo em te- oria. Como resultado, a biologia ´e te´orica, mas n˜ao matem´atica. Ela

´e baseada em processos, e n˜ao em quantidades, sendo definida como processual (ARTHUR, 2013, p. 7).

Para Arthur (2013), uma teoria econˆomica detalhada de forma¸c˜ao e mudan¸ca tamb´em deve ser processual. Ela deve compreender profun- damente os mecanismos que impulsionam a forma¸c˜ao e a evolu¸c˜ao da economia, mas n˜ao necessariamente buscar reduzi-la a equa¸c˜oes. A en- fase da teoria deve se encontrar nas formas respons´aveis pela pr´opria mudan¸ca - a tecnologia. Como o processo de mudan¸ca ´e algor´ıtmico a constru¸c˜ao de modelos computacionais, por exemplo, modelos base- ados em agentes, representa mecanismo-chave que pode ajudar a com- preendˆe-lo.

A economia da complexidade tem muito a dizer sobre a cria¸c˜ao e a forma¸c˜ao da estrutura produtiva e sobre os mecanismos pelos quais esta opera. Ela permite explorar o modo como surgem e evoluem as estruturas de forma te´orica e sistem´atica (ARTHUR, 2013, p. 7).

As diferentes evidˆencias apresentadas pela teoria econˆomica mos- tram que o desenvolvimento econˆomico n˜ao ´e um processo est´atico, dado e aderente a uma no¸c˜ao de equil´ıbrio. Muito pelo contr´ario, ele ´e dinˆamico, caracterizado pela presen¸ca de trajet´orias que se auto- refor¸cam, aprisionamentos e pelo surgimento de diferentes estruturas que se modificam ao longo do tempo. Diferentes fatores - Economias de escala, aprendizado, coordena¸c˜ao, externalidades de rede, inter-rela¸c˜oes tecnol´ogicas e a presen¸ca de externalidades positivas locais - favorecem a inser¸c˜ao vantajosa de alguns pa´ıses em detrimento dos demais. Con- tudo, isto n˜ao significa que o processo de desenvolvimento ´e dado e que n˜ao existe espa¸co para que outros pa´ıses se desenvolvam e elevem o seu n´ıvel de renda. Do mesmo modo que alguns fatores geram trajet´orias que se auto-refor¸cam e beneficiam o desenvolvimento econˆomico de al- guns pa´ıses, tamb´em existem armadilhas - irreversibilidade dos inves- timentos, complementariedades, custos fixos elevados, modifica¸c˜oes no padr˜ao tecnol´ogico - que podem fazer com que os pa´ıses que se encon- tram na lideran¸ca fiquem presos em determinado padr˜ao produtivo, n˜ao conseguindo se adaptar diante da ocorrˆencia de modifica¸c˜oes no ambi- ente econˆomico, observando o recuo de sua participa¸c˜ao na produ¸c˜ao mundial.

Como resultado, as estruturas se modificam. Isto ´e, conforme os pa´ıses que se encontram na lideran¸ca observam o enrijecimento de suas estruturas produtivas os mecanismos de feedback come¸cam a atuar em favor de outros pa´ıses, fazendo com que eles comecem a se destacar e a concentrar as for¸cas produtivas mundiais. A presen¸ca de feedback positivo faz com que este n˜ao seja um processo linear ou cont´ınuo,

ocorrendo, muitas vezes, de forma intensa e relativamente r´apida. As evidˆencias hist´oricas mostram que a modifica¸c˜ao nos pa´ıses que se en- contram na lideran¸ca n˜ao ocorre de uma hora para outra. O mesmo pa´ıs pode continuar na lideran¸ca por d´ecadas e at´e mesmo s´eculos. No entanto, mais cedo ou mais tarde sempre se observa a emergˆencia de novos pa´ıses que assumem a lideran¸ca.

Esta elevada rigidez do sistema econˆomico indica que os feed- backs positivos s˜ao fortes, n˜ao sendo qualquer evento que consegue se contrapor a eles e provocar a mudan¸ca na configura¸c˜ao econˆomica. Uma vez que um pa´ıs assume a lideran¸ca, ele tende a permanecer nesta posi¸c˜ao. Por´em, a presen¸ca de complementariedades, irreversibilidade nos investimentos e custos fixos elevados faz com que muitos pa´ıses n˜ao consigam se adaptar ao surgimento de novas estruturas. Assim, tanto a modifica¸c˜ao no modo como os pa´ıses interagem entre si, quanto o sur- gimento de novas estruturas pode provocar reconfigura¸c˜oes e eventos em larga escala.

Arthur apresenta uma vis˜ao pr´opria de mudan¸ca estru- tural. Em resumo, para ele s˜ao quatro os mecanismos que norteiam o processo de mudan¸ca estrutural: 1) a introdu¸c˜ao de inova¸c˜oes; 2) o surgimento de estruturas; 3) presen¸ca de mecanismos de refor¸co; 4) a intera¸c˜ao e coevolu¸c˜ao. Esta vis˜ao de que a mudan¸ca estrutural ´e explicada pela ocorrˆencia de inova¸c˜oes se encontra no cerne desta tese e ser´a aprofundada no cap´ıtulo 4. Conforme visto, o surgimento das novas tec- nologias de comunica¸c˜ao resultou na expans˜ao do setor de servi¸cos intermedi´arios, o que tˆem contribu´ıdo para o surgi- mento de novas atividades industriais e para a forma¸c˜ao de um processo de mudan¸ca estrutural favor´avel a forma¸c˜ao de simbiose crescente entre estes setores.

Dada a contextualiza¸c˜ao realizada at´e o momento, surge a per- gunta: o que ´e uma inova¸c˜ao, mais do que isto, o que ´e um paradigma tecnoeconˆomico? Ser´a que as evidˆencias apresentadas pela literatura de complexidade econˆomica possibilitam que este conceito seja revi- sitado? Os pr´oximos par´agrafos representam um esfor¸co humilde de busca por respostas para estas perguntas. Bem como, uma tentativa de elabora¸c˜ao de uma defini¸c˜ao mais adequada de mudan¸ca estrutural, sendo elaborada com base na defini¸c˜ao de paradigma tecnol´ogico pro- posto por Dosi (1988) e paradigma tecnoeconˆomico, desenvolvido por Perez (2001).

Os conceitos de paradigma e trajet´oria s˜ao fundamentais para compreender o modo como ocorrem as mudan¸cas estruturais nas eco-

nomias. Segundo Dosi (1988, p. 1127), um paradigma tecnol´ogico ´e “um padr˜ao de solu¸c˜ao de problemas tecnoeconˆomicos selecionados, ba- seado em princ´ıpios altamente seletivos [· · · ], juntamente com regras espec´ıficas direcionadas para a aquisi¸c˜ao de novos conhecimentos”. De modo que um paradigma pode ser definido como um conjunto de com- preens˜oes sobre uma tecnologia. Esta compreens˜ao comum sobre o padr˜ao de solu¸c˜oes que devem ser adotadas resulta em uma vis˜ao co- mum sobre quais as pr´aticas que devem ser adotadas para a solu¸c˜ao de problemas. Definindo-se, assim, uma trajet´oria tecnol´ogica, entendida como o caminho que deve ser seguido para a solu¸c˜ao dos problemas e