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TAXONOMIAS CONSTRU´IDAS PARA O SETOR DE SERVIC ¸ OS COM BASE EM SUA CAPACIDADE INOVADORA

O modo como o setor de servi¸cos ´e visto e a contribui¸c˜ao deste se- tor para o desenvolvimento econˆomico resultaram no desenvolvimento de diferentes taxonomias ao longo do tempo. Esta se¸c˜ao apresenta as principais taxonomias desenvolvidas no per´ıodo mais recente.

Gershuny e Miles (1983) e Park e Chan (1989) classificam os servi¸cos em trˆes categorias, a saber: servi¸cos produtivos, servi¸cos dis- tributivos e servi¸cos pessoais. Esta taxonomia foi constru´ıda com base nas diferentes fun¸c˜oes que os setores de servi¸cos possuem dentro do sistema econˆomico: presta¸c˜ao de servi¸cos intermedi´arios, distribui¸c˜ao e finais, respectivamente.

Miozzo e Soete (2001) prop˜oem uma taxonomia alternativa, que al´em de considerar as fun¸c˜oes exercidas pelas atividades de servi¸cos tamb´em considera o papel da inova¸c˜ao e das trocas de conhecimentos entre diferentes grupos de ind´ustrias. Eles, a partir da taxonomia pro- posta por Pavitt (1984), constroem a sua pr´opria taxonomia.

A taxonomia desenvolvida por Pavitt (1984) agrega setorialmente os produtos de acordo com seu conte´udo tecnol´ogico. Ela foi cons- tru´ıda com o objetivo de identificar regularidades setoriais nos padr˜oes de transforma¸c˜ao das trajet´orias tecnol´ogicas de produtos e processos. O autor considerou trˆes grupos de agrega¸c˜ao ao classificar os setores: as fontes de tecnologias, as necessidades dos usu´arios e os meios de apropria¸c˜ao dos lucros obtidos com as inova¸c˜oes.

A principal contribui¸c˜ao da taxonomia de Pavitt (1984) ´e a an´alise de fatores espec´ıficos de cada setor e do regime tecnol´ogico dominante: caracter´ısticas estruturais, origem da inova¸c˜ao, tipos de resultados, for- mas de apropria¸c˜ao e possibilidades de diversifica¸c˜ao tecnol´ogica. Da- das estas considera¸c˜oes, Pavitt classifica as firmas em quatro catego- rias, quais sejam: i) dominadas pelos fornecedores; ii) intensivas em fa-

brica¸c˜ao; III) difusores do progresso t´ecnico; e iv) baseadas em ciˆencia. i) As firmas classificadas em setores dominados pelos fornece- dores pertencem a setores tradicionais da fabrica¸c˜ao industrial (agri- cultura, constru¸c˜ao civil, fabrica¸c˜ao dom´estica informal e em uma s´erie de servi¸cos pessoais, financeiros e comerciais). Elas s˜ao firmas pequenas e com baixa capacita¸c˜ao em engenharia e P&D. Como resultado, sua trajet´oria tecnol´ogica ´e orientada para a redu¸c˜ao de custos. A maior parte das inova¸c˜oes desta categoria se origina nos fornecedores de equi- pamentos e outros insumos (up cit., 1984).

ii) Setores intensivos em escala: estes possuem trajet´oria tec- nol´ogica mais orientada para inova¸c˜ao de produto (que resultam em maior desempenho) e menos para inova¸c˜oes de processo (que reduzem custos). As principais fontes de tecnologia destes setores s˜ao: enge- nharia de projeto e fabrica¸c˜ao; experiˆencia operacional e fornecedores de equipamentos e componentes. Estes setores s˜ao fortemente oligo- polizados e mais prop´ıcios `as inova¸c˜oes incrementais do que radicais. Ademais, a apropria¸c˜ao das inova¸c˜oes difere conforme o tamanho das firmas: para as firmas que produzem em larga escala, as inova¸c˜oes s´o s˜ao significativas quando podem ser aplicadas a processos de grande escala. Por outro lado, para os fornecedores especializados as inova¸c˜oes s˜ao muito importantes. O sucesso destas firmas depende de habilidades espec´ıficas, que resultam em aprimoramento cont´ınuo dos processos e em maior capacidade de resposta `as necessidades pontuais dos usu´arios (up cit., 1984).

iii) Setores difusores do progresso t´ecnico ou fornecedo- res especializados: as firmas destes setores possuem dinamismo tec- nol´ogico elevado e se encontram em nichos estrat´egicos. Essas firmas incorporam rapidamente o progresso t´ecnico gerado pelos setores in- tensivos em ciˆencia, sendo respons´aveis pela sua propaga¸c˜ao. O foco das firmas destes setores ´e a inova¸c˜ao de produto. Exemplos de firmas que se encontram nesta categoria s˜ao as ind´ustrias de bens de capital seriados e sob encomenda.

iv) Setores baseados em ciˆencia: estes possuem como fonte de tecnologia as atividades de P&D realizadas internamente e que s˜ao desenvolvidas atrav´es da aplica¸c˜ao de conhecimento cient´ıfico desenvol- vido nas universidades e em outros estabelecimentos. As firmas desta categoria s˜ao as que efetivamente geram o progresso tecnol´ogico. Estes setores s˜ao caracterizados pela elevada apropriabilidade e oportunidade tecnol´ogica e pelo seu elevado grau de oligopoliza¸c˜ao, sendo isto o que garante o volume necess´ario de investimento em P&D. As firmas deste setor s˜ao as que se encontram mais pr´oximas das universidades e cen-

tros de pesquisa. Os setores qu´ımico e el´etrico/eletrˆonico se encontram nesta categoria (up cit., 1984).

Uma das limita¸c˜oes encontradas na taxonomia criada por Pavitt (1984) ´e que ele coloca todas as atividades de servi¸cos em apenas um dos quatro tipos de setores que identificou, a saber: firmas dominadas pelos fornecedores. Bogliacino e Pianta (2016) estendem a classifica¸c˜ao realizada por Pavitt (1984), adicionando as atividades de servi¸cos, con- forme segue:

Setores baseados em ciˆencia (Comunica¸c˜oes, Inform´atica e Pesquisa e desenvolvimento). Estas atividades de servi¸cos s˜ao intensi- vas em P&D, sendo as que mais inovam;

Setores difusores do progresso t´ecnico ou fornecedores es- pecializados (Atividades imobili´arias; Aluguel de m´aquinas e equipa- mentos; Outras atividades comerciais): estas atividades tamb´em pos- suem taxa elevada de inova¸c˜ao, sendo menos focadas na redu¸c˜ao de custos trabalhistas e atribuindo importˆancia elevada `a presen¸ca de tra- balhadores qualificados e ao conhecimento possu´ıdo por estes;

Setores intensivos em escala e em informa¸c˜ao: As ind´ustrias de intermedia¸c˜ao financeira, seguros e outras atividades financeiras re- lacionadas possuem economias de escala e as maiores despesas com m´aquinas por empregado. Neste grupo predominam estrat´egias de inova¸c˜ao que buscam reduzir os gastos com trabalhadores e aumen- tar a escala de opera¸c˜ao;

Dominados pelos fornecedores (Venda, manuten¸c˜ao e repara¸c˜ao de ve´ıculos autom´oveis e motocicletas; Venda a retalho de combust´ıvel automotivo; com´ercio por grosso e comiss˜ao comercial, exceto de ve´ıculos motorizados e motocicletas; Com´ercio a retalho, exceto ve´ıculos a motor e Motocicletas; Repara¸c˜ao de pessoal e dom´estico Bens; Hot´eis e res- taura¸c˜ao; Transporte terrestre; Transporte de ´agua; Transporte a´ereo; Apoio e atividades auxiliares de transporte; Atividades de agˆencias de viagens): Neste grupo se destacam as inova¸c˜oes de processo.

Os resultados mostram que as diferen¸cas entre fabrica¸c˜ao e servi¸cos s˜ao insignificantes, enquanto uma diversidade substancial ´e associada `

as classes revisadas Pavitt. Nas ind´ustrias baseadas em ciˆencia, a com- petitividade tecnol´ogica ´e um fator importante por tr´as do aumento das horas trabalhadas. O funcionamento do mercado de trabalho para este grupo aparece diferente do ”neocl´assico”, uma vez que o cres- cimento salarial est´a associado ao investimento em P&D, em grande parte gasto em pessoal de pesquisa, e n˜ao h´a correla¸c˜ao negativa com o crescimento do emprego. Os fornecedores especializados apresentam um papel-chave da demanda (devido `a intera¸c˜ao com os clientes). A

escala e a informa¸c˜ao intensiva est˜ao predominantemente orientadas para a reestrutura¸c˜ao atrav´es da inova¸c˜ao de economia de m˜ao-de-obra (competitividade de custos). Finalmente, os fornecedores dominados tˆem mercado de trabalho mais tradicional, prevalˆencia de inova¸c˜ao de processos e forte papel da demanda.

Diferente de Pavitt (1984), Miozzo e Soete (2001) sugerem uma taxonomia de servi¸cos que considera a intera¸c˜ao existente entre os se- tores industriais e de servi¸cos, em termos de origem e aplica¸c˜ao de mudan¸cas tecnol´ogicas. Eles classificam as firmas de servi¸cos em trˆes categorias, a saber:

i) Setores dominados pelos fornecedores. As firmas que se encontram nesta categoria contribuem apenas de forma marginal para o seu processo tecnol´ogico. A grande maioria de suas inova¸c˜oes ´e obtida de fornecedores de equipamentos, materiais e informa¸c˜ao. Os servi¸cos pessoais e de educa¸c˜ao se encontram nesta categoria.

ii) Setores de redes intensivas em escala ou que fazem parte de redes de informa¸c˜ao (fornecimento de g´as e bancos). As inova¸c˜oes tecnol´ogicas destas firmas se originam na ind´ustria, mas s˜ao fortemente determinadas pelo seu uso nas firmas de servi¸cos.

iii) Fornecedores de tecnologias especializadas ou baseado em ciˆencia (software e laborat´orios). As principais fontes de tecnologia desta categoria s˜ao pesquisa, desenvolvimento e atividades de software do pr´oprio setor.

A partir das taxonomias criadas por Pavitt (1984) e Miozzo e So- ete (2001), Castellacci (2008) criou a sua pr´opria taxonomia. Esta, al´em de olhar para as especificidades apresentadas pelo setor de servi¸cos, des- taca as liga¸c˜oes verticais e as trocas de conhecimento entre ind´ustria e servi¸cos. Segundo o autor, ´e poss´ıvel se classificar as atividades in- dustriais e de servi¸cos conforme apresentado na Figura 3. A tipo- logia proposta ´e constru´ıda atrav´es da divis˜ao da ind´ustria em duas dimens˜oes. A primeira dimens˜ao considera a fun¸c˜ao assumida pelas ind´ustrias no sistema econˆomico, como fornecedoras ou recebedoras de bens e servi¸cos. Setores industriais que produzem bens finais s˜ao po- sicionados na parte mais elevada do eixo Y. A segunda dimens˜ao, eixo X, leva em considera¸c˜ao a capacidade de inova¸c˜ao, ou seja, o conte´udo tecnol´ogico de cada ind´ustria.

Seguindo estas duas dimens˜oes, as atividades podem ser divididas em quatro grupos:

Fornecedores de conhecimento avan¸cado: Estes possuem ca- pacidade tecnol´ogica elevada de fabrica¸c˜ao de conhecimento tecnol´ogico e s˜ao provedores de conhecimento avan¸cado para outros setores. As

Figura 3 – Tipologia proposta por Castellacci (2008)

Fonte: Elabora¸c˜ao pr´opria.

firmas que pertencem a esta categoria podem ser discriminadas em dois grupos: 1) firmas da ind´ustria de transforma¸c˜ao, especializadas no fornecimento de m´aquinas e equipamentos de precis˜ao; 2) firmas de servi¸cos, especializadas no fornecimento de solu¸c˜oes t´ecnicas e conhe- cimento como P&D, software, engenharia e consultoria. As firmas que comp˜oem este grupo, al´em de possu´ırem elevado conte´udo tecnol´ogico, possuem a mesma fun¸c˜ao no sistema de inova¸c˜ao, o fornecimento de conhecimento tecnol´ogico avan¸cado para outros setores industriais.

Fabrica¸c˜ao de produtos em Massa: Este grupo ´e composto por firmas que produzem bens finais e intermedi´arios e que possuem elevada capacidade tecnol´ogica de desenvolvimento de produtos e pro- cessos internamente e atrav´es de coopera¸c˜ao com universidades; forne- cedores especializados; institutos de pesquisa e outras firmas (PAVITT, 1984). Este setor pode ser discriminado em dois subgrupos: 1) ind´ustria intensiva em escala (motor e outros equipamentos de transporte), que desenvolve internamente os conhecimentos tecnol´ogicos de que necessita e 2) setor baseado em ciˆencia, possui elevada capacidade de desenvol- vimento de conhecimento interno e seu processo de inova¸c˜ao ´e muito pr´oximo ao avan¸co cient´ıfico (universidades). As firmas que comp˜oem este setor se caracterizam pela fabrica¸c˜ao em massa e padroniza¸c˜ao dos produtos.

por firmas que produzem bens e servi¸cos intermedi´arios, todavia pos- suem menor capacidade tecnol´ogica e limitada capacidade de desen- volvimento interno de conhecimento tecnol´ogico. A inova¸c˜ao nestes setores ocorre atrav´es da aquisi¸c˜ao de m´aquinas, equipamentos e diver- sas formas de conhecimento tecnol´ogico. Dois grupos de firmas podem ser identificados nesta categoria: 1) fornecedores de servi¸cos e infraes- trutura f´ısica (por exemplo, transporte e com´ercio) e 2) fornecedores de servi¸cos de infraestrutura em rede (e.g. servi¸cos financeiros e de telecomunica¸c˜ao). As firmas que se encontram neste grupo fazem uso intensivo de TIC. Elas fornecem a infraestrutura de suporte e dissemi- nam as solu¸c˜oes desenvolvidas pelo setor de TIC para toda a economia. Bens e Servi¸cos Pessoais: as firmas que pertencem a este grupo possuem baixo conte´udo tecnol´ogico e limitada capacidade de desen- volvimento de novos produtos e processos. A inova¸c˜ao nestas firmas ocorre atrav´es da aquisi¸c˜ao de m´aquinas, equipamentos e conhecimen- tos de outros setores.

Esta se¸c˜ao apresentou a taxonomia desenvolvida por Castellacci (2008), para caracterizar a intera¸c˜ao existente entre servi¸cos e ind´ustria e a capacidade destes setores em gerar inova¸c˜oes. A pr´oxima se¸c˜ao re- visitar´a as revolu¸c˜oes industriais, mostrando que estas n˜ao se caracte- rizaram apenas pelo surgimento de inova¸c˜oes industriais, mas tamb´em pelo surgimento de inova¸c˜oes em servi¸cos.

2.7 REVOLUC¸ ˜OES SERVINDUSTRIAIS: A CONSTRUC¸ ˜AO DE UMA RELAC¸ ˜AO DE SIMBIOSE CRESCENTE ENTRE IND ´USTRIA E SERVIC¸ OS INTERMEDI ´ARIOS

Esta se¸c˜ao defende a tese de que as revolu¸c˜oes industriais tamb´em se caracterizaram pelo surgimento de inova¸c˜oes em servi¸cos, que con- tribu´ıram para a sua ocorrˆencia. Ela tamb´em argumenta que existe uma tendˆencia cronol´ogica ao avan¸co no tamanho do setor de servi¸cos intermedi´arios. De modo que estas revolu¸c˜oes devem ser vistas como revolu¸c˜oes servindustriais e n˜ao apenas como revolu¸c˜oes industriais.

Conforme argumentado por Kaldor (1966), a industrializa¸c˜ao se- gue uma l´ogica bem definida. Ela come¸ca por setores mais simples e evolui para setores cada vez mais sofisticados. Nos ´ultimos duzentos e cinquenta anos o mundo observou a ocorrˆencia de diversas trans-

forma¸c˜oes na l´ogica de produ¸c˜ao. Estas transforma¸c˜oes come¸caram com a primeira Revolu¸c˜ao Industrial, que provocou um aumento da renda e do bem estar da popula¸c˜ao sem precedentes. Esta se¸c˜ao analisa as principais caracter´ısticas de cada uma das trˆes revolu¸c˜oes industri- ais que ocorreram, destacando as mudan¸cas t´ecnicas introduzidas por elas. Seu objetivo ´e mostrar como o setor de servi¸cos intermedi´arios saiu dos bastidores e, aos poucos, foi crescendo em relevˆancia te´orica. Ele, de coadjuvante se transformou no ator principal, respons´avel por determinar o modo como os produtos s˜ao fabricados e as diferen¸cas de renda entre os pa´ıses.

Esta se¸c˜ao n˜ao pretende realizar uma an´alise exaustiva de cada revolu¸c˜ao, ela possui como objetivo retratar as tendˆencias comuns ob- servadas ao longo dos diferentes ciclos econˆomicos e mostrar o modo como as atividades de servi¸cos evolu´ıram e como elas foram se tornando cada vez mais relevantes. A taxonomia proposta por Castellacci (2008) ser´a utilizada para caracterizar os servi¸cos intermedi´arios que surgiram em cada revolu¸c˜ao industrial.

2.7.1 A Primeira Revolu¸c˜ao Industrial

A primeira revolu¸c˜ao industrial ocorreu entre o final do s´eculo XVIII e o in´ıcio do s´eculo XIX e se caracteriza pela “incorpora¸c˜ao de inova¸c˜oes em novas m´aquinas, atrav´es do investimento em capital” e do crescente uso de ferramentas em substitui¸c˜ao `a for¸ca f´ısica (FREEMAN;

SOETE, 2008, p. 63). Ela resultou em elevadas taxas de crescimento da

ind´ustria tˆextil algodoeira e da metalurgia de ferro.

O aperfei¸coamento no tear de tecer, a inven¸c˜ao do tear mecˆanico e da m´aquina de fiar s˜ao exemplo da mecaniza¸c˜ao ocorrida neste per´ıodo. Outras inova¸c˜oes foram o uso do carv˜ao mineral em subs- titui¸c˜ao ao carv˜ao de madeira na ind´ustria de ferro; a fundi¸c˜ao com coque; e, a inven¸c˜ao das estradas de ferro (DATHEIN, 2003).

Na ind´ustria tˆextil, a inven¸c˜ao das m´aquinas fiandeiras Jenny e das m´aquinas movidas `a ´agua, no per´ıodo de 1770 at´e 1790, provoca- ram crescimento elevado da produtividade. Posteriormente, entre 1781 e 1791, a inven¸c˜ao da Spinning mule e a patente da Arkwright permi- tiram crescimento ainda maior da produ¸c˜ao tˆextil (FREEMAN; SOETE, 2008, p. 70).

Outra mudan¸ca fundamental desta revolu¸c˜ao se refere `as fontes de energia. “Os m´usculos humanos e a for¸ca dos animais foram rapida- mente substitu´ıdos pela energia hidr´aulica e, mais tarde, pela inven¸c˜ao da m´aquina a vapor”. Isto permitiu que as f´abricas produzissem com maior velocidade, de modo mais eficiente e cont´ınuo - Jekins (1994), citado por Freeman e Soete (2008, p. 73).

A primeira revolu¸c˜ao industrial provocou uma modifica¸c˜ao nas competˆencias e conhecimentos necess´arios e demandou o surgimento de trabalhadores mais especializados (DATHEIN, 2003). Conforme des- tacado por Freeman e Soete (2008, p. 97), os trabalhadores mais qualifi- cados e com maior experiˆencia ficaram respons´aveis pelo recrutamento; treinamento em atividades especializadas e supervis˜ao dos menos qua- lificados. Assim, um dos fatores que contribu´ıram para a primeira re- volu¸c˜ao industrial foi o modo como o trabalho estava organizado e como ocorriam as rela¸c˜oes trabalhistas. A presen¸ca de uma cultura de coo- pera¸c˜ao e troca de conhecimentos favoreceu a difus˜ao de novas t´ecnicas produtivas. O resultado foi uma for¸ca de trabalho com qualifica¸c˜ao mais elevada e mais especializada, o que aumentou a competitividade industrial da Gr˜a-Bretanha (FREEMAN; SOETE, 2008, p. 97).

Conforme demonstrado por Mass e Lazonick (1990), citado por Freeman e Soete (2008, p. 97), “[· · · ] as ind´ustrias tˆexteis algodoeiras de todas as partes do mundo podiam comprar livremente instala¸c˜oes, equipamentos e at´e servi¸cos de assessoria e engenharia”. No entanto, nenhuma firma do mundo contava com uma for¸ca de trabalho t˜ao pro- dutiva, experiente, especializada e cooperativa quanto a Gr˜a-Bretanha. Assim, o surgimento de trabalhadores industriais especializados ajuda a explicar o sucesso deste pa´ıs e a ocorrˆencia da primeira revolu¸c˜ao industrial.

Este per´ıodo tamb´em observa o surgimento, ainda muito incipi- ente, dos servi¸cos de assessoria industrial, consultoria e engenharia. No entanto, o baixo grau de complexidade dos produtos fabricados limi- tava a presen¸ca destes servi¸cos. Apesar de j´a se observar uma maior especializa¸c˜ao no trabalho e a presen¸ca de servi¸cos intermedi´arios de consultoria e engenharia, estes eram mais exce¸c˜ao do que regra e, na maioria das vezes, eram internalizados pelas firmas industriais, n˜ao sendo adquiridos de firmas especializadas (FREEMAN; SOETE, 2008, p. 97).

Um dos fatores que permitiram o crescimento da matriz indus- trial da Gr˜a-bretanha foi o surgimento de inova¸c˜oes e a crescente es- pecializa¸c˜ao em servi¸cos intermedi´arios relacionados `a comercializa¸c˜ao e transportes. O surgimento de servi¸cos de transporte (canais e na-

vios, estradas de ferro e locomotivas) e de comercializa¸c˜ao (navega¸c˜ao mar´ıtima, servi¸cos de log´ıstica e a presen¸ca de comerciantes especiali- zados) representava uma grande vantagem deste pa´ıs. As estradas de ferro e os canais s˜ao um bom exemplo disto.

Um dos grandes motores da competitividade da Gr˜a-Bretanha era a presen¸ca de servi¸cos especializados de comercializa¸c˜ao e log´ıstica. Estes permitiram que ela comercializasse produtos em es- cala superior ao observado por outros pa´ıses; realizasse comercio com regi˜oes mais distantes; e, adquirisse insumos vitais, como o algod˜ao, a pre¸cos mais baixos. A elevada capacidade de comercializa¸c˜ao e o elevado conhecimento dos comerciantes fez com que a Gr˜a-Bretanha conseguisse criar um fluxo elevado de com´ercio, identificando oportu- nidades e realizando de forma vantajosa a exporta¸c˜ao de produtos in- dustriais e a importa¸c˜ao de insumos de diferentes regi˜oes do planeta

(FREEMAN; SOETE, 2008).

Ademais, o aumento da produ¸c˜ao exigiu a acumula¸c˜ao de capital. A Gr˜a-Bretanha j´a possu´ıa um mercado de capitais no s´eculo XVIII, contudo este ainda era pouco desenvolvido. Os t´ecnicos algodoeiros e industriais tinham que obter capitais de bancos locais, amigos e famili- ares. O mercado de capitais s´o passou a ter papel mais relevante entre 1750 e 1800, sendo at´e ent˜ao os propriet´arios de terras os principais financiadores do setor industrial.

Seguindo a taxonomia desenvolvida por Castellacci, se pode ar- gumentar que a primeira revolu¸c˜ao industrial n˜ao foi puramente indus- trial, podendo ser classificada como simbi´otica. Ela foi viabilizada pelo surgimento de diversos servi¸cos intermedi´arios, posteriormente classifi- cados por Castellacci como servi¸cos de infraestrutura de apoio. Isto ´e, o uso de ferramentas e de m´aquinas a vapor permitiu que as f´abricas aumentassem a sua escala de opera¸c˜ao. Contudo, esta produ¸c˜ao precisava ser deslocada at´e os consumidores. O surgimento de servi¸cos intermedi´arios de comercio e de gest˜ao das CGV reduziu os custos de transporte e permitiu o escoamento competitivo destes pro-