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6 SERVIC¸ OS INTERMEDI ´ARIOS E O DINAMISMO ECON ˆOMICO E INDUSTRIAL BRASILEIRO NO PER´IODO RECENTE . . . 327 6.1 MUDANC¸ A ESTRUTURAL NO BRASIL: EVID ˆENCIAS

EMP´IRICAS . . . 328 6.2 EVOLUC¸ ˜AO DOS INDICADORES DE INOVAC¸ ˜AO DO

SETOR DE SERVIC¸ OS INTERMEDI ´ARIOS . . . 347 6.3 CONTEXTUALIZAC¸ ˜AO DA PRODUTIVIDADE BRA-

SILEIRA EM SERVIC¸ OS INTERMEDI ´ARIOS: METO- DOLOGIA SHIFT SHARE . . . 350 6.4 TESTE DE CAUSALIDADE: LEIS DE KALDOR ADAP-

TADAS PARA O SETOR DE SERVIC¸ OS INTERMEDI ´ARIOS BRASILEIRO . . . 362 6.5 CONTRIBUIC¸ ˜AO DOS SERVIC¸ OS PARA A DIN ˆAMICA

DA PRODUTIVIDADE INDUSTRIAL: SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS . . . 367 6.6 FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O BAIXO DI-

NAMISMO DOS SERVIC¸ OS INTERMEDI ´ARIOS EM TERRIT ´ORIO NACIONAL . . . 385 7 CONSIDERAC¸ ˜OES FINAIS . . . 399 REFER ˆENCIAS . . . 413 Anexo A: Classifica¸c˜ao dos produtos . . . 439

1 INTRODUC¸ ˜AO

As teorias de desenvolvimento econˆomico do s´eculo XX, funda- mentalmente as relacionadas ao pensamento kaldoriano e `a tradi¸c˜ao estruturalista e aos pioneiros do desenvolvimento, sempre enfatiza- ram o setor industrial como motor de crescimento econˆomico no longo prazo. Todavia, no final do s´eculo XX o surgimento das perspecti- vas neo-schumpeteriana e da complexidade econˆomica resultaram em uma vis˜ao mais hol´ıstica e dinˆamica do processo de mudan¸ca estrutural das na¸c˜oes, permitindo a melhor compreens˜ao do modo como ocorre o desenvolvimento econˆomico. Nestas novas perspectivas te´oricas o se- tor de servi¸cos assume papel destacado, sendo crescente o n´umero de evidˆencias favor´aveis `a argumenta¸c˜ao de que ele exerce efeito dinami- zador, elevando o n´ıvel de renda dos pa´ıses.

Esta tese busca eliminar contradi¸c˜oes existentes entre a literatura kaldoriana e a literatura neo-shumpeteriana. Esta segunda literatura evidenciou a importˆancia das atividades voltadas para a inova¸c˜ao. Em especial, a literatura de Sistemas Nacionais de Inova¸c˜ao (SNI) mostra que a realiza¸c˜ao de inova¸c˜oes n˜ao depende apenas de rotinas presentes no interior das firmas, mas da capacidade dos pa´ıses em desenvolver no- vos conhecimentos e novas atividades produtivas. Por´em, a literatura kaldoriana afirma que apenas o setor industrial consegue gerar movi- mentos autossustentados de crescimento econˆomico. O presente estudo, ao mostrar a importˆancia dos servi¸cos intermedi´arios, reconcilia estas duas literaturas, mostrando que o setor industrial ´e importante, mas que ele depende de um conjunto de atividades complementares a este. A tese engloba a literatura neo-shumpeteriana, ao reconhecer a importˆancia das atividades de servi¸cos voltadas para a inova¸c˜ao, mas d´a um passo al´em, via abordagem da complexidade econˆomica e re- volu¸c˜oes simbi´oticas, mostrando que n˜ao s˜ao apenas as atividades de servi¸cos vinculadas diretamente `a inova¸c˜ao que s˜ao necess´arias para que um pa´ıs se desenvolva, mas todo um leque adicional de atividades rela- cionadas `a produ¸c˜ao, gest˜ao, distribui¸c˜ao, compartilhamento e reuni˜ao dos conhecimentos produtivos relevantes. Argumenta-se que, no li- miar, a capacidade dos pa´ıses em desenvolver as atividades adequadas de servi¸cos contribui para que alguns pa´ıses consigam expandir a sua matriz de conhecimentos e a sua renda, em detrimento de outros. De modo que a expans˜ao dos conhecimentos produtivos, a especializa¸c˜ao

dos trabalhadores, a diversifica¸c˜ao das atividades e o desenvolvimento econˆomico podem ser vistos como resultados emergentes da intera¸c˜ao existente entre diferentes elementos, entre os quais se destacam as ati- vidades de servi¸cos intermedi´arios.

Esta tese busca ressaltar a importˆancia dos servi¸cos para o desen- volvimento econˆomico. Para isto, ela realiza uma integra¸c˜ao de trata- mento te´orico, das abordagens da complexidade e neo-schumpeteriana. Nesse sentido, a tese buscar´a mostrar que os processos contemporˆaneos de mudan¸ca estrutural exitosos s´o podem ser adequadamente entendi- dos ao se colocar o setor de servi¸cos no mesmo patamar de centralidade que o setor industrial, ambos como motores do desenvolvimento. Novas evidˆencias emp´ıricas permitem revisar a tradi¸c˜ao cl´assica kaldoriana e estruturalista, ao se demonstrar que o setor de servi¸cos tamb´em funci- ona como um motor do desenvolvimento, proporcionando ganhos sus- tentados de produtividade e, at´e mesmo, inova¸c˜oes tecnol´ogicas disrup- tivas, capazes de alavancar novos paradigmas tecnoeconˆomicos. Essa ´e a principal motiva¸c˜ao da presente tese.

Historicamente, a literatura econˆomica atribuiu pouca relevˆancia ao estudo do setor de servi¸cos. A realiza¸c˜ao de uma revis˜ao dos textos cl´assicos de economia remete a Smith (2003, p. 413) e sua defini¸c˜ao de trabalho produtivo e trabalho improdutivo. O trabalho produtivo era definido como aquele capaz de adicionar valor ao objeto sobre o qual ´e aplicado. De forma an´aloga, o trabalho improdutivo era visto como aquele que n˜ao acrescenta valor `a fabrica¸c˜ao. Deste modo, o trabalho de um profissional que atua na ind´ustria acrescenta valor e pode ser classificado como produtivo. Contudo, o trabalho de uma empregada dom´estica, um servi¸co, n˜ao gera valor, sendo classificado como impro- dutivo.

Esta vis˜ao cl´assica perdurou ao longo dos tempos e influenciou o pensamento econˆomico contemporˆaneo. Como resultado, os estudos de crescimento econˆomico se voltaram para a ind´ustria. A contribui¸c˜ao do setor de servi¸cos n˜ao recebeu tanta aten¸c˜ao. A literatura de desen- volvimento econˆomico n˜ao buscou neste setor os elementos capazes de explicar a diferen¸ca de renda observada entre os pa´ıses.

Nas d´ecadas de 1940, 1950 e 1960 surgiram diversas abordagens de crescimento econˆomico que possu´ıam uma vis˜ao setorial - Rosenstein- Rodan (1943); Lewis (1954); Kuznets (1957); Rostow (1956); Hirsch- man (1958); Prebisch (1949); Furtado (1961); Kaldor (1966). Estas abordagens tentaram explicar a diferen¸ca de renda existente entre os pa´ıses com base na an´alise da composi¸c˜ao da estrutura produtiva, as- sociando o desenvolvimento econˆomico `a presen¸ca de determinadas ati-

vidades produtivas. Mais especificamente, definiam o desenvolvimento do setor industrial como o elemento respons´avel por promover o desen- volvimento econˆomico.

Em especial, as leis de Kaldor (1966) apontaram para a presen¸ca de ganhos de escala e de aprendizado na ind´ustria, de modo que a trans- ferˆencia dos trabalhadores da agricultura para a ind´ustria era vista como elemento capaz de garantir o crescimento da renda. Segundo Kaldor o crescimento do valor adicionado industrial gera demanda por outros produtos industriais, de modo que ele consegue promover um ciclo virtuoso e autodeterminado de crescimento do seu valor adicio- nado, por meio da crescente especializa¸c˜ao produtiva, que resulta em eleva¸c˜ao da produtividade industrial. O que contribui para a forma¸c˜ao de um processo autodeterminado de crescimento econˆomico.

O setor de servi¸cos era visto como elemento residual e sem im- portˆancia. Mais do que isto, para Baumol (1967), ele representava uma patologia a ser adquirida em um futuro pr´oximo pelas na¸c˜oes mais avan¸cadas. O termo “doen¸ca de custos” foi criado por este autor e ´e utilizado at´e os dias atuais em argumenta¸c˜oes depreciativas ao se- tor de servi¸cos. Segundo Baumol, os ganhos de produtividade obtidos pela ind´ustria s˜ao repassados para os sal´arios do setor de servi¸cos, que acompanham os sal´arios industriais. O crescimento da produtividade industrial resulta em recuo na participa¸c˜ao deste setor nos empregos e avan¸co na participa¸c˜ao do setor de servi¸cos. Como o setor de servi¸cos apresenta baixo crescimento da produtividade, o aumento da sua parti- cipa¸c˜ao na renda e no emprego resulta em estagna¸c˜ao. De modo que ele ´

e respons´avel por limitar as possibilidades de crescimento econˆomico. Outro aspecto que ajuda `a explicar a baixa importˆancia atribu´ıda ao setor de servi¸cos s˜ao as caracter´ısticas apresentadas por ele. As ati- vidades de servi¸cos s˜ao intang´ıveis, o que dificulta a sua mensura¸c˜ao. Como estas atividades n˜ao geram resultado s´olido, palp´avel e que pode ser diretamente observado, pesado e/ou medido, qualquer inferˆencia sobre a sua contribui¸c˜ao para o desenvolvimento econˆomico requer en- genho e arte. Um per´ıodo elevado de discuss˜ao e evolu¸c˜ao das t´ecnicas de mensura¸c˜ao se colocou como condi¸c˜ao necess´aria para que a litera- tura econˆomica conseguisse desenvolver o ferramental capaz de identi- ficar as contribui¸c˜oes deste setor. O debate econˆomico precisou evoluir e compreender as diversas especificidades que caracterizam o setor de servi¸cos e que o diferenciam da ind´ustria.

A partir da d´ecada de 1970 surgiram novas evidˆencias que aponta- ram para a importˆancia crescente dos servi¸cos. Estas novas evidˆencias est˜ao associadas, principalmente, `a literatura neo-schumpeteriana, se-

gundo a qual o conhecimento e a realiza¸c˜ao de inova¸c˜oes s˜ao os ele- mentos respons´aveis pelo crescimento econˆomico. A literatura neo- schumpeteriana mostra que o surgimento de diferentes paradigmas tec- noeconˆomicos modifica a l´ogica produtiva, criando a necessidade dos pa´ıses se adaptarem `a nova realidade. Esta literatura tamb´em mostrou que a partir da d´ecada de 1970 come¸caram a emergir novas tecnolo- gias de comunica¸c˜ao, mais intensivas em servi¸cos. Em especial, Bell e Pavitt (1993) evidenciaram que a emergˆencia das novas tecnologias de comunica¸c˜ao resultou em crescimento do setor de servi¸cos.

J´a a literatura de servi¸cos de neg´ocios intensivos em conhecimento (Knowledge-Intensive Business Services - KIBS), com destaque para Miles (2005), encontrou evidˆencias de que os servi¸cos intermedi´arios fornecem conhecimentos vitais para o setor industrial e contribuem para a realiza¸c˜ao de inova¸c˜oes neste setor. Grande parte das inova¸c˜oes as- sociadas ao setor industrial foram, na realidade, desenvolvidas atrav´es da intera¸c˜ao entre atividades industriais e de servi¸cos intermedi´arios.

O conjunto crescente de evidˆencias que apontavam para a im- portˆancia dos servi¸cos utilizados como insumo pela ind´ustria levou Francois e Reinert (1996) `a proporem a divis˜ao das atividades de servi¸cos em Servi¸cos intermedi´arios e Servi¸cos finais. Os Servi¸cos intermedi´arios s˜ao definidos como aquelas atividades de servi¸cos utilizadas como in- sumo pelo setor industrial. Por outro lado, os Servi¸cos finais se referem `

as atividades de servi¸cos adquiridas pelos consumidores finais. Por exemplo, os servi¸cos de pesquisa e desenvolvimento s˜ao adquiridos por empresas, logo s˜ao classificados como servi¸cos intermedi´arios. Por ou- tro lado, cortes de cabelo s˜ao adquiridos por consumidores finais, sendo classificados como servi¸cos finais.

Posteriormente, Oulton (2001) encontrou evidˆencias favor´aveis `a argumenta¸c˜ao de que os servi¸cos intermedi´arios apresentam crescimento do valor adicionado superior ao setor industrial, para um conjunto de pa´ıses desenvolvidos, selecionados a partir da d´ecada de 1980. Com base nestas evidˆencias ele defendeu que a doen¸ca de custos n˜ao ´e v´alida para estes pa´ıses, pois o setor que cresce ´e o de servi¸cos intermedi´arios, principalmente as atividades relacionadas `as novas tecnologias de co- munica¸c˜ao, e n˜ao o setor de servi¸cos finais.

Paralelo a isso, a literatura de sistemas complexos defende que as propriedades possu´ıdas pelos sistemas emergem da intera¸c˜ao entre as suas partes constituintes e n˜ao das propriedades possu´ıdas por estas. Esta argumenta¸c˜ao dialoga diretamente com as evidˆencias encontradas pela literatura KIBS, a qual destaca a elevada intera¸c˜ao existente en- tre as atividades de servi¸cos intermedi´arios e as atividades industriais,

sendo as atividades de servi¸cos intermedi´arios respons´aveis por fornecer conhecimento para o setor industrial.

J´a Hidalgo e Hausmann (2009) e Hausmann e Hidalgo (2012) prop˜oem uma vis˜ao ainda mais ampla e consideram que os pa´ıses, con- forme se desenvolvem, passam a fabricar produtos cada vez mais com- plexos e que demandam maior quantidade de conhecimento. Esta tese se apropria desta vis˜ao, advogando que o desenvolvimento econˆomico depende da capacidade de expans˜ao do conhecimento dispon´ıvel e n˜ao apenas da expans˜ao na quantidade de capital f´ısico acumulado, ou do aumento na participa¸c˜ao da ind´ustria no PIB. Esta expans˜ao ocorre atrav´es do desenvolvimento de diferentes atividades de servi¸cos inter- medi´arios, respons´aveis por gerir a matriz de conhecimentos possu´ıda pelos pa´ıses.

Com base na argumenta¸c˜ao desenvolvida pela literatura de siste- mas complexos e complexidade econˆomica, se defende que o centro da an´alise, sobre o modo como os pa´ıses se desenvolvem, deve migrar de uma an´alise setorial para uma an´alise baseada na capacidade dos pa´ıses em acumular e utilizar novos conhecimentos produtivos. As diver- sas transforma¸c˜oes estruturais observadas pelos pa´ıses (agropecu´aria, ind´ustria e servi¸cos) s˜ao transforma¸c˜oes necess´arias para que surjam as condi¸c˜oes adequadas `a expans˜ao dos conhecimentos produtivos rele- vantes. Os produtos mais sofisticados demandam mais conhecimento, s˜ao mais dif´ıceis de serem produzidos e mais raros, gerando maior n´ıvel de renda.

Dada a presen¸ca de capacidade cognitiva limitada, o conhecimento deve ser distribu´ıdo entre a popula¸c˜ao. Conforme destacado pela litera- tura de complexidade econˆomica, o n´ıvel de desenvolvimento depende da capacidade de cada sociedade em cooperar e trabalhar coletiva- mente, compartilhando volumes cada vez maiores de conhecimentos produtivos. Os produtos mais sofisticados s˜ao constru¸c˜oes coletivas, pois exigem uma rede de trabalhadores em intera¸c˜ao, compartilhando conhecimentos, para serem fabricados. Os pa´ıses que possuem insti- tui¸c˜oes mais eficientes, que estimulam o compartilhamento de conhe- cimentos produtivos e que punem comportamentos oportunistas, ob- servam maior expans˜ao em suas matrizes de conhecimentos. Esta ca- pacidade em utilizar coletivamente maiores volumes de conhecimentos viabiliza a fabrica¸c˜ao de produtos mais complexos e resulta em n´ıveis mais elevados de renda.

Assim, esta tese defender´a a argumenta¸c˜ao de que o desenvolvi- mento econˆomico deve ser visto como um processo dinˆamico, processo- interativo. O qual ocorre atrav´es da diversifica¸c˜ao na estrutura pro-

dutiva, dependendo da capacidade dos pa´ıses em desenvolver novos co- nhecimentos. O sistema econˆomico tamb´em ´e composto por diferentes partes constituintes (atividades econˆomicas). A expans˜ao da capaci- dade produtiva depende do modo como estas partes interagem entre si e do perfil da estrutura produtiva dos pa´ıses.

A estrutura produtiva apresenta dependˆencia da trajet´oria (pas- sado importa) e coevolui com as capacita¸c˜oes e institui¸c˜oes adquiridas. A presen¸ca de determinadas atividades produtivas resulta no desenvol- vimento de capacita¸c˜oes e institui¸c˜oes espec´ıficas, as quais condicionam as possibilidades futuras de transforma¸c˜ao produtiva, determinando as novas atividades produtivas que os pa´ıses podem desenvolver. De modo que pa´ıses com condi¸c˜oes iniciais iguais podem trilhar caminhos distin- tos. Algumas atividades produtivas demandam conhecimentos seme- lhantes, enquanto que outras demandam conhecimentos diferentes. A proximidade entre os conhecimentos demandados determina as possibi- lidades de diversifica¸c˜ao da estrutura produtiva. Os pa´ıses que fabricam produtos que compartilham conhecimentos com conjunto elevado de outros produtos - se encontrando em comunidades maiores de conheci- mentos, conforme defini¸c˜ao de N¨ubler (2014) -, conseguem diversificar a sua matriz produtiva, se desenvolvendo. Por outro lado, os pa´ıses que fabricam produtos que n˜ao compartilham conhecimentos tendem a permanecer especializados e com baixo n´ıvel de renda.

Conforme a estrutura produtiva se torna mais diversificada, a quantidade de conhecimentos utilizados pelos pa´ıses se eleva, deman- dando o desenvolvimento de atividades espec´ıficas, respons´aveis por ge- rir o conhecimento dispon´ıvel. Como resultado, surgem diferentes ativi- dades de servi¸cos intermedi´arios, altamente especializadas, respons´aveis por ordenar as intera¸c˜oes e viabilizar a continuidade do processo de diversifica¸c˜ao produtiva e expans˜ao da matriz de conhecimentos. A fabrica¸c˜ao destes produtos depende do desenvolvimento de diferentes atividades de servi¸cos, respons´aveis por produzir, distribuir, compar- tilhar e reunir os conhecimentos necess´arios. O sucesso dos pa´ıses em migrar para n´ıveis mais elevados de renda depende da sua capacidade em desenvolver atividades cada vez mais especializadas e espec´ıficas de servi¸cos intermedi´arios, que lhes permitam utilizar volumes cada vez maiores de conhecimento.

Esta tese tamb´em defender´a a argumenta¸c˜ao de que o desenvol- vimento econˆomico n˜ao deve ser visto como o surgimento de um setor industrial mais sofisticado, mas como a constru¸c˜ao das capacidades dinˆamicas necess´arias. Ele passa pelo desenvolvimento de atividades espec´ıficas de servi¸cos que interagem com as atividades industriais, for-

necendo os conhecimentos demandados por estas, desenvolvendo novos conhecimentos e novas atividades produtivas e gerindo os conhecimen- tos utilizados. O que possibilita a diversifica¸c˜ao produtiva e a eleva¸c˜ao no n´ıvel de renda.

Este car´ater cumulativo do conhecimento ´e um dos elementos que transformam o setor de servi¸cos em elemento-chave, respons´avel por vi- abilizar o aumento no n´ıvel de renda per capita dos pa´ıses. O outro elemento se refere ao car´ater inerentemente dinˆamico da trajet´oria tec- nol´ogica. Conforme destacado por Arthur (2013), as inova¸c˜oes apresen- tam dependˆencia da trajet´oria, resultando no surgimento de estruturas e em aprisionamento em torno de determinadas tecnologias. Esta tese recorre a Arthur (2013) e a Castellacci (2006) para argumentar que a mudan¸ca estrutural ´e explicada pela evolu¸c˜ao tecnol´ogica. O surgimento de novas tecnologias modifica o modo como ocor- rem as intera¸c˜oes entre as atividades produtivas, modificando a composi¸c˜ao da estrutura produtiva.

Desta forma, as an´alises devem buscar compreender a natureza destas for¸cas, relacionadas ao paradigma tecno-econˆomico vigente, res- pons´aveis por modificar a estrutura produtiva. As tecnologias que sur- giram nas ´ultimas d´ecadas foram favor´aveis ao aumento na participa¸c˜ao do setor de servi¸cos intermedi´arios, por´em o crescimento deste setor re- presenta apenas uma consequˆencia da emergˆencia destas tecnologias. De modo que as pol´ıticas de desenvolvimento devem buscar identificar as for¸cas relacionadas `a trajet´oria tecnol´ogica que realmente est˜ao cri- ando uma trajet´oria de mudan¸ca estrutural favor´avel ao crescimento deste setor, respons´aveis por elevar a produtividade, promover o surgi- mento de novas atividades e a eleva¸c˜ao no n´ıvel de renda, identificando quais s˜ao as a¸c˜oes necess´arias para desenvolvˆe-las internamente, e n˜ao quais setores que influenciados por elas. Estas for¸cas se modificam ao longo do tempo, fazendo com que os setores dinˆamicos tamb´em se mo- difiquem.

O maior dinamismo de setores espec´ıficos ´e explicado por essas for¸cas, sendo o maior crescimento de um setor em detrimento do outro apenas uma consequˆencia do modo como elas modificam as intera¸c˜oes entre as atividades econˆomicas. A realiza¸c˜ao de pol´ıticas voltadas para o desenvolvimento do setor que apresenta maior dinamismo n˜ao resulta, necessariamente, na internaliza¸c˜ao da for¸ca supracitada, pois implica agir nas consequˆencias e n˜ao nas causas. A tradabilidade (tradability) ´

e apontada como a for¸ca respons´avel por promover a mudan¸ca estru- tural no per´ıodo recente, sendo tamb´em respons´avel por dotar o setor de servi¸cos intermedi´arios de maior dinamismo. Logo, os pa´ıses que

desejam se desenvolver devem promover o surgimento desta for¸ca em territ´orio nacional. Dado que ela coevolui com o surgimento de ativi- dades de servi¸cos intermedi´arios, a ado¸c˜ao de pol´ıticas de est´ımulo a este setor pode contribuir para que ela apare¸ca. Por´em, nada garante que a ado¸c˜ao de pol´ıticas voltadas exclusivamente para este setor ser´a suficiente para que a tradabilidade seja internalizada, sendo necess´ario adotar pol´ıticas mais espec´ıficas, voltadas para o seu surgimento.

As evidˆencias apontadas pela literatura neo-schumpeteriana, pela nova literatura de servi¸cos, pela literatura de mudan¸ca estrutural e pela literatura de complexidade econˆomica caminham no mesmo sen- tido. Elas criam espa¸co para que as proposi¸c˜oes originais feitas por Kaldor sejam revisitadas. As quatro leis iniciais propostas pela lite-