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AS NOVAS FERRAMENTAS E EVID ˆ ENCIAS APRESENTADAS PELA LITERATURA DE COMPLEXIDADE ECON ˆ OMICA

A literatura de mudan¸ca estrutural (e.g. Prebisch, 1949; Fur- tado, 1964; Lewis, 1954; Nurkse, 1957; Myrdal, 1957; Rosestein-Rodan, 1943; Hirschman, 1958; Kuznets, 1957) vem de longa data argumen- tando que as caracter´ısticas da estrutura produtiva influenciam no n´ıvel de desenvolvimento econˆomico dos pa´ıses. Os desdobramentos recen- tes da literatura de desenvolvimento econˆomico corroboram esta vis˜ao. Novos elementos, trazidos `a baila por sistemas complexos, reacenderam o debate em torno deste tema.

A literatura de mudan¸ca estrutural mostra que as capacita¸c˜oes6

possu´ıdas pelos pa´ıses influenciam no padr˜ao de mudan¸ca apresentado pela estrutura produtiva. A presen¸ca de determinadas capacita¸c˜oes (e.g. qualifica¸c˜ao; infraestrutura; institui¸c˜oes; direitos de propriedade) resulta em taxas mais elevadas de mudan¸ca estrutural e em maior n´ıvel de renda.

Segundo N¨ubler (2014), a estrutura de conhecimento incorporada na for¸ca de trabalho determina as op¸c˜oes de transforma¸c˜ao estrutural e tecnol´ogica de cada pa´ıs. Alguns produtos requerem conhecimentos semelhantes, enquanto outros possuem poucos conhecimentos em co- mum. Deste modo, o conhecimento pode ser dividido em comunida- des, sendo cada comunidade composta por conjunto de conhecimentos espec´ıficos.

Algumas comunidades possuem tamanho elevado, sendo com- postas por diferentes conhecimentos pr´oximos entre si. Como con- sequˆencia, um leque elevado de produtos pode ser fabricado a partir da combina¸c˜ao de diferentes formas dos conhecimentos presentes nes- tas comunidades. Os pa´ıses que conseguem se inserir nelas observam um per´ıodo longo de crescimento e diversifica¸c˜ao de sua matriz produ- tiva, pois a proximidade entre os conhecimentos significa que poucos esfor¸cos necessitam ser realizados para que as firmas destes pa´ıses pas- sem a fabricar outro produto dentro desta comunidade.

Por outro lado, os pa´ıses que fabricam produtos pertencentes a comunidades compostas por poucos conhecimentos tˆem dificuldade em diversificar a sua matriz produtiva. Como estas comunidades s˜ao pequenas, estes pa´ıses conseguem fabricar leque pequeno de produtos,

6O conceito de capacita¸oes foi introduzido originalmente por Teece e Pisano

n˜ao se inserindo em um processo longo de crescimento econˆomico e di- versifica¸c˜ao da estrutura produtiva.

Deste modo, as firmas possuem vastas op¸c˜oes de diversifica¸c˜ao quando as comunidades de conhecimento em que se encontram lhes per- mite fabricar ampla gama de produtos diferentes, pois estes demandam conhecimentos pr´oximos. Em oposi¸c˜ao, as firmas que se encontram em comunidades de conhecimento constitu´ıdas por poucos conhecimentos que s˜ao substitutos pr´oximos entre si tendem a fabricar poucos pro- dutos. Elas n˜ao possuem incentivos para diversificar a sua produ¸c˜ao, uma vez que a quantidade de conhecimentos adicionais que precisam adquirir para fabricar novos produtos ´e muito elevada, dado o benef´ıcio que elas podem obter (N ¨UBLER, 2014).

Como consequˆencia, no n´ıvel macro, os pa´ıses encontram poucas dificuldades em diversificar a sua produ¸c˜ao dentro das comunidades de conhecimento tecnol´ogico, mas enfrentam dificuldade para entrar em novas comunidades e desenvolver atividades e produtos para os quais ainda n˜ao desenvolveram os conhecimentos relevantes. Os pa´ıses que desejam realizar catching-up precisam desenvolver formas de incorpo- rar comunidades de conhecimento mais amplas. Eles devem enriquecer a base de conhecimentos da sua for¸ca de trabalho com elementos de conhecimento de significˆancia estrat´egica para a entrada nestas comu- nidades (N ¨UBLER, 2014).

A teoria de Sistemas complexos demorou a ser utilizada pelos eco- nomistas para explicar as diferen¸cas na estrutura produtiva dos pa´ıses. Ela s´o foi introduzida em 2007 com o artigo seminal de Hidalgo et al. (2007), com o espa¸co-produto, e em 2009, com Hausmann e Hidalgo, atrav´es do ´Indice de Complexidade Econˆomica. Ela est´a provocando a reavalia¸c˜ao de diversos conceitos econˆomicos.

No livro “O atlas de complexidade econˆomica”, Hausmann et al. (2014) consolidaram os resultados encontrados por essa literatura e argumentaram que para fabricar cada produto ´e preciso de deter- minada quantidade de conhecimentos espec´ıficos (eg. que materiais usar? em que quantidade utilizar estes materiais? Onde os encon- trar? Qual a t´ecnica que deve ser adotada? Quais caracter´ısticas o produto final deve ter? Como fazer o produto chegar at´e o consumi- dor?). Alguns produtos demandam pouco conhecimento, sendo facil- mente fabricados, mas outros demandam quantidades elevadas de co- nhecimento, sendo extremamente dif´ıceis de serem fabricados. Alguns produtos demandam conhecimentos semelhantes para serem fabrica- dos, enquanto outros demandam conhecimentos completamente distin- tos. Argumenta¸c˜ao muito semelhante `a defini¸c˜ao de comunidades de

conhecimento, desenvolvida posteriormente por N¨ubler, provavelmente em resposta `as evidˆencias encontradas pela literatura de complexidade econˆomica.

Segundo Hidalgo e Hausmann (2009) e Hausmann e Hidalgo (2012), como a quantidade de conhecimento possu´ıda por cada traba- lhador ´e limitada, a forma encontrada pela sociedade para fabricar bens complexos ´e a divis˜ao do conhecimento necess´ario em “peda¸cos de co- nhecimento personalizados” - personbites-sized chunks. Estes peda¸cos de conhecimento s˜ao divididos e adquiridos pelos trabalhadores, que se especializam na obten¸c˜ao de apenas uma parte do conhecimento ne- cess´ario, sendo esta posteriormente ofertada no mercado de trabalho. Quando o peda¸co de conhecimento adquirido por determinado traba- lhador ´e coerente ele ´e contratado e passa a exercer fun¸c˜ao produtiva. A fabrica¸c˜ao final e a capacidade de desenvolvimento dos pa´ıses passam a depender do “modo como cada trabalhador cuida do seu peda¸co particular de conhecimento”, da forma como estes peda¸cos de conhecimento se encontram distribu´ıdos entre os trabalhadores e da maneira como s˜ao reunidos e compartilha- dos, posteriormente, pelos trabalhadores e firmas.

O ponto central do racioc´ınio proposto por Hausmann e Hidalgo (2012) ´e que os bens produzidos pela sociedade s˜ao cada vez mais com- plexos e demandam quantidades crescentes de conhecimento para sua fabrica¸c˜ao. Logo, como a quantidade de conhecimento que cada traba- lhador consegue armazenar ´e limitada, a fabrica¸c˜ao de produtos com- plexos, que demandam muito conhecimento, s´o ´e poss´ıvel atrav´es da distribui¸c˜ao deste conhecimento entre v´arios trabalhadores e da sua posterior reuni˜ao.

A capacidade produtiva de cada sociedade pode ser mensurada pela sua capacidade de reter, criar, modificar, organizar, distribuir, reunir e utilizar as capacidades embutidas nos trabalhadores. As socie- dades mais desenvolvidas s˜ao aquelas que possuem maior poder compu- tacional e que conseguem gerir de modo mais eficaz os conhecimentos que possuem. De forma an´aloga, os pa´ıses menos desenvolvidos pos- suem baixo poder computacional e n˜ao conseguem distribuir, adminis- trar e reunir conjunto elevado de conhecimentos. Eles possuem menor quantidade de conhecimentos, o que limita a sua capacidade produtiva

(HAUSMANN; HIDALGO, 2012).

Em termos mais rigorosos, a quantidade de conhecimento que cada trabalhador de um pa´ıs desenvolvido possui n˜ao ´e diferente da quantidade de conhecimento possu´ıda por cada trabalhador de um pa´ıs em desenvolvimento ou de um pa´ıs pobre. N˜ao ´e a reten¸c˜ao individual

de conhecimentos que diferencia estes pa´ıses. O segredo da prosperi- dade de alguns pa´ıses em detrimento dos demais se encontra na sua capacidade organizacional, de utilizar coletivamente volumes maiores de conhecimento.

O que diferencia os pa´ıses pobres dos pa´ıses ricos ´e a diversidade de capacidades/conhecimentos embarcadas em seus trabalhadores. Os pa´ıses pobres possuem mercado de trabalho mais homogˆeneo, enquanto que os pa´ıses ricos possuem mercado de trabalho mais heterogˆeneo. Isto ´e, o leque de capacidades possu´ıdas pelos trabalhadores ´e mais elevado. Obviamente, esta maior diversidade nas capacidades possu´ıdas pelos trabalhadores significa que estes pa´ıses conseguem fabricar produtos mais complexos (que demandam maior quantidade de conhecimento). Contudo, a existˆencia de trabalhadores com conhecimentos mais es- pec´ıficos significa que estes possuem maior dificuldade para encontrar emprego adequado. Logo, o mercado de trabalho precisa funcionar me- lhor nestes pa´ıses, pois os problemas de assimetria de informa¸c˜ao s˜ao potencialmente mais elevados.

A teoria da complexidade, mesmo sem reconhecer diretamente, recorre ao fato dos trabalhadores possu´ırem capacidade cognitiva limitada para mostrar que a maior especializa¸c˜ao dos trabalhadores leva estes a obterem conhecimentos mais espec´ıficos. Ela complementa Adam Smith, mostrando que, conforme os trabalhadores se especiali- zam, os pa´ıses n˜ao observam apenas o aumento da produtividade, mas tamb´em conseguem fabricar bens mais sofisticados. Surge o seguinte ciclo virtuoso: a maior divis˜ao do trabalho permite a especializa¸c˜ao dos trabalhadores em comunidades mais amplas de conhecimento (N ¨UBLER, 2014), possibilitando a maior divis˜ao do conhecimento (HAUSMANN; HI-

DALGO, 2012); o que permite a fabrica¸c˜ao de produtos que demandam

maior quantidade de conhecimentos; como consequˆencia, o pa´ıs conse- gue migrar para a fabrica¸c˜ao de produtos mais sofisticados; como estes s˜ao mais raros, ele observa a diversifica¸c˜ao da sua estrutura produtiva; e, o aumento no grau de complexidade da sua estrutura produtiva, reiniciando-se o ciclo.

Hausmann, Hwang e Rodrik (2007) mostram que a rela¸c˜ao para- doxal existente entre especializa¸c˜ao produtiva e diversifica¸c˜ao ´e apenas aparente. Na realidade estes dois conceitos coexistem simultaneamente, sendo a maior especializa¸c˜ao dos trabalhadores o que viabiliza a diversi- fica¸c˜ao produtiva dos pa´ıses. As comunidades maiores de conhecimento permitem que surjam trabalhadores mais especializados e que seja fa- bricado maior leque produtos.

os pa´ıses diversificam a sua estrutura produtiva e como a produ¸c˜ao se distribui entre os pa´ıses. O pressuposto b´asico dos autores ´e que o desenvolvimento pode ser visto como o ac´umulo de capacita¸c˜oes. Cada produto, para ser fabricado, precisa de conjunto espec´ıfico de capacita¸c˜oes (estrutura f´ısica, capital, qualifica¸c˜oes, sistema legal, ins- titui¸c˜oes, entre outras). Alguns produtos s˜ao relativamente simples e demandam poucas capacita¸c˜oes, mas outros s˜ao complexos e deman- dam conjunto elevado de capacita¸c˜oes.

Segundo Hausmann e Hidalgo (2011), o desenvolvimento n˜ao deve ser visto como um processo est´atico caracterizado pela produ¸c˜ao de mais do mesmo. Conforme se desenvolvem os pa´ıses adquirem con- junto maior de capacita¸c˜oes, que lhes habilitam a fabricarem produtos cada vez mais complexos. Deste modo, o desenvolvimento deve ser visto como a diversifica¸c˜ao da matriz produtiva, de produtos simples para produtos mais complexos e dif´ıceis de serem fabricados. Argu- menta¸c˜ao semelhante `a realizada por Kaldor (1966).

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A medida que as firmas se especializam em atividades espec´ıficas a eficiˆencia econˆomica aumenta (HIDALGO; HAUSMANN, 2009). O de-

senvolvimento econˆomico ´e defendido como a expans˜ao no n´umero de atividades e como o surgimento de intera¸c˜oes cada vez mais elevadas entre os agentes econˆomicos. Estes autores constroem um indicador es- pec´ıfico, o ´Indice de complexidade Econˆomica (ICE), a partir de dados de fluxo de com´ercio entre os pa´ıses, e mostram que este indicador ´

e positivamente correlacionado com o n´ıvel de renda dos pa´ıses, sendo o desvio desta rela¸c˜ao um bom previsor para o crescimento futuro do PIB. Isto indica que o n´ıvel de renda dos pa´ıses tende a convergir para o grau de sofistica¸c˜ao da sua estrutura produtiva, mensurada atrav´es deste indicador. Com base neste resultado, Hidalgo e Hausmann (2009) concluem que as pol´ıticas de desenvolvimento devem criar ambiente adequado ao aumento da complexidade.

O ICE ´e criado com base em duas informa¸c˜oes, n´ıvel de diversi- fica¸c˜ao das exporta¸c˜oes do pa´ıs e raridade (n˜ao ubiquidade) dos bens exportados. Quanto mais raros forem os produtos exportados e maior o grau de diversifica¸c˜ao da sua estrutura produtiva maior ser´a o seu ICE.

Abdon et al. (2010) classificaram 5.107 produtos exportados por 124 pa´ıses de acordo com a metodologia de complexidade proposta por Hidalgo e Hausmann (2009). Estes autores mostraram que os produtos que possuem maior complexidade s˜ao m´aquinas, produtos qu´ımicos e metais, enquanto que os produtos com menor complexi- dade s˜ao mat´erias-primas e commodities, madeira, tˆexteis e produtos

agr´ıcolas. Segundo os autores, as economias mais complexas do mundo s˜ao o Jap˜ao, a Alemanha e a Su´ecia, e as menos complexas s˜ao o Cam- boja, a Papua Nova Guin´e, e a Nig´eria.

O espa¸co-produto, elaborado por Hidalgo et al. (2007), ´e outra ferramenta oriunda de sistemas complexos, mais especificamente da te- oria de redes, que ajudar a retratar as mudan¸cas estruturais registradas pelas economias conforme elas se desenvolvem. Os autores partem do pressuposto de que se os produtos possuem capacita¸c˜oes em comum (trabalho, terra, capital, infraestrutura, institui¸c˜oes, insumos) eles ten- dem a ser produzidos conjuntamente, sendo o oposto tamb´em v´alido. Isto ´e, produtos que n˜ao possuem capacita¸c˜oes em comum s˜ao produ- zidos em separado.

O espa¸co-produto, sendo uma rede, possui todas as propriedades apresentadas por estas. Mais do que isto, a topografia da rede - n´umero de liga¸c˜oes, distˆancia das liga¸c˜oes e presen¸ca de agrupamentos - in- forma a composi¸c˜ao da estrutura produtiva mundial e as possibilidades de mudan¸ca estrutural dos pa´ıses. No espa¸co-produto os n´os represen- tam os produtos exportados pelos pa´ıses e as arestas, as liga¸c˜oes entre os produtos, identificando se existem elementos em comum entre eles - capacita¸c˜oes -, de modo que a exporta¸c˜ao de um produto eleve a proba- bilidade de exporta¸c˜ao do outro. Nesta rede, o n´umero de liga¸c˜oes entre os produtos mostra a quantidade de capacita¸c˜oes em comum, possu´ıdas pelos produtos, e as possibilidades de diversifica¸c˜ao da estrutura pro- dutiva. J´a a presen¸ca de liga¸c˜oes de longa distˆancia mostra o grau de flexibilidade da estrutura produtiva. Os pr´oximos par´agrafos apresen- tam as diferentes topografias fact´ıveis e suas implica¸c˜oes em termos de possibilidade de mudan¸ca estrutural, posteriormente ser´a apresentado o espa¸co-produto e analisadas as implica¸c˜oes, em termos de mudan¸ca estrutural, da topografia apresentada por este. As exporta¸c˜oes s˜ao con- sideradas proxys da estrutura produtiva dos pa´ıses.

Redes com topografia semelhante a redes regulares, com poucas liga¸c˜oes entre os n´os e apenas com liga¸c˜oes de curta distˆancia entre os vizinhos mais pr´oximos, se caracterizam por possu´ırem capacita¸c˜oes em comum com poucos produtos e apenas com produtos pr´oximos. Como resultado, se um pa´ıs fabrica determinado produto ele s´o conseguir´a diversificar a sua produ¸c˜ao para poucos produtos pr´oximos, indepen- dente da sua posi¸c˜ao na rede, sendo extremamente dif´ıcil diversificar a produ¸c˜ao. Espa¸co-produto com esta forma implica em estrutura pro- dutiva r´ıgida, levando tempo consider´avel para um pa´ıs migrar entre produtos distantes entre si. A dificuldade em migrar para novos produ- tos significa que os pa´ıses n˜ao teriam estrutura produtiva diversificada.

Cada pa´ıs produziria um leque limitado de produtos, sendo este um mundo ricardiano, em que cada pa´ıs seria especializado em poucos pro- dutos e importaria os demais produtos de outros pa´ıses. A presen¸ca apenas de liga¸c˜oes locais significa que existiriam elevadas barreiras `a entrada, pois seria virtualmente imposs´ıvel para um pa´ıs se deslocar para produtos mais distantes em curto intervalo de tempo.

Redes mais parecida com uma rede aleat´oria resultam em es- trutura produtiva mundial menos excludente. A presen¸ca de poucas liga¸c˜oes entre os produtos ainda implica em elevada especializa¸c˜ao dos pa´ıses e em baixa diversifica¸c˜ao das suas estruturas produtivas. Por´em, a presen¸ca de liga¸c˜oes de longa distˆancia torna f´acil a migra¸c˜ao para produtos distantes. A presen¸ca de muitas liga¸c˜oes de longa distˆancia implica em uma estrutura produtiva mais flex´ıvel e igualit´aria, en- quanto que uma rede composta por liga¸c˜oes de curta distˆancia im- plica em uma estrutura produtiva excludente. Por´em, como esta rede ´e ca´otica, os pa´ıses podem migrar apenas para produtos aleat´orios, ainda existindo poder de mercado.

Nesse aspecto, as redes do tipo mundo pequeno representam o “melhor dos mundos”. Elas possuem liga¸c˜oes de curta distˆancia, mas tamb´em apresentam liga¸c˜oes de longa distˆancia. De modo que seria f´acil para os pa´ıses migrarem tanto para produtos pr´oximos quanto distan- tes. O que resulta em estruturas produtivas com elevada flexibilidade e com inser¸c˜ao mais igualit´aria dos pa´ıses, n˜ao existindo concentra¸c˜ao elevada de poder de mercado.

Conforme destacado, o n´umero de liga¸c˜oes tamb´em influencia no perfil da estrutura produtiva. Redes compostas por n´os com poucas liga¸c˜oes apresentam poucas capacita¸c˜oes e conhecimentos em comum. Assim, quanto menor for o n´umero de liga¸c˜oes mais dif´ıcil ser´a diversi- ficar a estrutura produtiva. Por outro lado, quanto maior for o n´umero de liga¸c˜oes maior ser´a a quantidade de capacita¸c˜oes em comum apre- sentada pelos produtos, sendo mais f´acil migrar entre eles. Quanto maior for a concentra¸c˜ao de liga¸c˜oes maior ser´a o compartilhamento de capacita¸c˜oes. Os produtos que possuem mais liga¸c˜oes podem ser consi- derados centrais, pois demandam maior quantidade de conhecimentos e capacita¸c˜oes para serem fabricados. Eles demandam mais trabalhado- res com diferentes conhecimentos, mas os trabalhadores que os fabricam podem migrar com facilidade para a fabrica¸c˜ao de quantidade maior de produtos, que demandam capacita¸c˜oes semelhantes. Como resultado, os pa´ıses que os fabricam podem diversificar com maior facilidade a sua estrutura produtiva.

ficam que a estrutura produtiva ´e flex´ıvel, os pa´ıses conseguem migrar para outros produtos que demandam os conhecimentos compartilhados com os produtos j´a fabricados. Por outro lado, quanto maior for a pre- sen¸ca de rubs - quanto mais desigual forem as liga¸c˜oes e quanto maior for a concentra¸c˜ao de liga¸c˜oes em poucos produtos - mais r´ıgida e exclu- dente ser´a a estrutura produtiva. Os pa´ıses que fabricam os produtos- hubs conseguem diversificar a produ¸c˜ao para um grande n´umero de produtos, diversificando a sua estrutura produtiva. Por´em, os pa´ıses que n˜ao os produzem n˜ao conseguem diversificar a sua estrutura pro- dutiva, permanecendo especializados em poucos produtos. Como os produtos fabricados por estes pa´ıses possuem capacita¸c˜oes espec´ıficas os seus trabalhadores n˜ao conseguem migrar para novos produtos, o que limita as possibilidades de aumento no n´ıvel de renda destes pa´ıses.

Ademais, a presen¸ca de muitos agrupamentos pequenos, dis- tribu´ıdos uniformemente na rede, significa que existem diversos gru- pos de produtos que compartilham conhecimento, de modo que todos os pa´ıses possuem estrutura produtiva diversificada, pois ´e f´acil mi- grar para diversos produtos que se encontram interligados. Como con- sequˆencia, a estrutura produtiva mundial seria mais igualit´aria, todos os pa´ıses apresentariam estrutura produtiva com certo grau de diversi- fica¸c˜ao e comercializariam seus produtos com os demais pa´ıses. Por´em, se a rede for composta por poucos agrupamentos grandes, apenas al- guns poucos pa´ıses possuem estrutura produtiva consideravelmente di- versificada, enquanto que os demais n˜ao conseguem se diversificar. O resultado ser´a uma estrutura produtiva mundial desigual e excludente. O espa¸co-produto, Figura 6, ´e uma rede livre de escala constru´ıda com base em dados de exporta¸c˜ao do National Bureal of Economic Re- search desagregados de acordo com o Standardized International Trade Code para o n´ıvel de 4 d´ıgitos (SITC - 4). Ele mostra que alguns pro- dutos s˜ao altamente interconectados, enquanto que outros apresentam poucas conex˜oes. Ele n˜ao apresenta poucos hubs que concentram a grande maioria das liga¸c˜oes, mas possui agrupamentos, compostos por alguns hubs com quantidade elevada de liga¸c˜oes, enquanto que os de- mais produtos n˜ao apresentam n´umero elevado de liga¸c˜oes. Existe uma concentra¸c˜ao das liga¸c˜oes em torno de alguns produtos, enquanto que os demais apresentam poucas liga¸c˜oes.

A medida de proximidade entre os produtos, constru´ıda por Hidalgo et al. (2007) com base em dados de coexporta¸c˜ao, mostra que