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FORMAC ¸ ˜ AO DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR E CRESCI MENTO DO SETOR DE SERVIC ¸ OS INTERMEDI ´ ARIOS

Esta se¸c˜ao mostra o modo como o processo de internaciona- liza¸c˜ao das empresas conformou a estrutura produtiva mundial, modifi- cando a forma como os pa´ıses se inserem no com´ercio mundial e provo- cando a especializa¸c˜ao em diferentes etapas do processo de produ¸c˜ao. Alguns pa´ıses se especializaram em servi¸cos intermedi´arios, enquanto que outros se especializaram na fabrica¸c˜ao, os primeiros levam van- tagem sobre os segundos. Isto ´e, a especializa¸c˜ao em servi¸cos inter- medi´arios resulta em inser¸c˜ao vantajosa nas Cadeias Globais de Valor (CGV) e em maior n´ıvel de renda para um conjunto limitado de pa´ıses em detrimento dos demais.

Para compreender a especializa¸c˜ao produtiva atual e o perfil de inser¸c˜ao dos pa´ıses nas Cadeias Globais de valor ´e preciso analisar o modo como ocorreu o processo de internacionaliza¸c˜ao das empresas. O qual se iniciou com o aumento dos fluxos de investimento direto externo (IDE) e o com´ercio internacional de bens intermedi´arios entre os pa´ıses. Nas palavras de Corrˆea (2016, p. 15):

“O crescimento destes dois componentes est´a relaci-

onado ao processo de fragmenta¸c˜ao internacional da

produ¸c˜ao e `a forma¸c˜ao das cadeias globais de valor.

Esse paradigma produtivo ´e fruto das transforma¸c˜oes

ocorridas no ˆambito organizacional das grandes cor-

pora¸c˜oes, principais atores desse processo, associadas

`

a amplia¸c˜ao da estrat´egia de internacionaliza¸c˜ao em

Assim, o processo de forma¸c˜ao das cadeias globais de valor ocorreu de forma gradual, sendo sua origem associada `a internacionaliza¸c˜ao de empresas. Processo iniciado na d´ecada de 1940, com o fim da segunda guerra mundial.

A internacionaliza¸c˜ao se iniciou com empresas americanas, mas com a reconstru¸c˜ao da Europa e do Jap˜ao, as empresas destes pa´ıses tamb´em se voltaram para o mercado internacional (SARTI; HIRATUKA, 2010). Conforme destacado por Sarti e Hiratuka (2010) e por Silva (2014), inicialmente, este fenˆomeno ocorria atrav´es do investimento di- reto externo (IDE). As firmas dos pa´ıses desenvolvidos reproduziam suas estruturas de produ¸c˜ao nos pa´ıses de destino, buscando obter lu- cros com base no mercado interno possu´ıdo por estes. O principal destino destas novas unidades de produ¸c˜ao era outros pa´ıses desen- volvidos. As pol´ıticas de imposi¸c˜ao de barreiras comerciais, possu´ıdas pelos pa´ıses na ´epoca, principalmente na forma de tarifas elevadas, esti- mularam a realiza¸c˜ao de IDE, pois as empresas n˜ao conseguiam acessar outros mercados via exporta¸c˜oes. Outros fatores de est´ımulo foram a cria¸c˜ao de vantagens de monop´olio e a presen¸ca de ganhos de escala.

A partir dos anos 1970 a orienta¸c˜ao pol´ıticas dos pa´ıses se modifi- cou e as pol´ıticas de protecionismo foram substitu´ıdas por pol´ıticas de liberaliza¸c˜ao comercial e financeira e de desregulamenta¸c˜ao dos merca- dos. O resultado foi o aumento da concorrˆencia internacional, o que obrigou as empresas a adotarem novas estrat´egias para manter as suas participa¸c˜oes de mercado. Estas expandiram seus gastos em P&D e em inova¸c˜ao de produto e de processo, acelerando a taxa de surgimento de novas tecnologias, o que provocou a redu¸c˜ao dos custos de transporte e a expans˜ao ainda mais r´apida das novas tecnologias de comunica¸c˜ao

(SARTI; HIRATUKA, 2010).

A maior concorrˆencia tamb´em obrigou as empresas a se reestrutu- rarem. Estas adotaram novas estrat´egias para enxugar a sua estrutura de custos, flexibilizar os seus processos produtivos e agregar mais valor aos seus produtos, atrav´es do investimento em ativos intang´ıveis - mar- keting, design e maior customiza¸c˜ao. Assim, as empresas reagiram ao aumento da concorrˆencia atrav´es da maior especializa¸c˜ao, concentrando seus esfor¸cos nas etapas mais relevantes do pro- cesso produtivo e terceirizando as demais etapas para outras empresas de pa´ıses em desenvolvimento. Como resultado, elas focaram nas etapas associadas `a inova¸c˜ao - desenvolvimento de no- vos produtos, marketing, marca e design - terceirizando a fabrica¸c˜ao destes produtos para outras empresas. Esta terceiriza¸c˜ao envolveu a realiza¸c˜ao das atividades de fabrica¸c˜ao dos produtos em pa´ıses em de-

senvolvimento, onde os custos trabalhistas eram menores (MILBERG;

WINKLER, 2013).

Para Memedovic e Iapadre (2009) e Sarti e Hiratuka (2010), esta divis˜ao da produ¸c˜ao em diferentes etapas e a distribui¸c˜ao destas eta- pas entre diferentes pa´ıses resultou na nova divis˜ao internacional do trabalho. Os pa´ıses desenvolvidos, sedes das empresas oligopolistas, fo- ram privilegiados, e se especializaram em atividades de servi¸cos - P&D, design, log´ıstica, marketing, gest˜ao. Por outro lado, os pa´ıses em desen- volvimento se especializaram em atividades menos nobres do processo produtivo, mais relacionadas ao setor industrial.

Segundo Silva et al. (2006), essa nova divis˜ao internacional da produ¸c˜ao decorreu de uma modifica¸c˜ao na orienta¸c˜ao dos IDEs. Nas d´ecadas de 1950 e 1960 os investimentos buscavam novos mercados, o processo de produ¸c˜ao era reproduzido nos pa´ıses em desenvolvimento em sua integralidade, com todas as atividades que o caracterizavam. Hiratuka (2010) argumenta que a partir da d´ecada de 1970 o IDE se tornou mais oportunista. A necessidade de maior eficiˆencia, frente `a maior concorrˆencia, levou as empresas oligopolistas a distribu´ırem as etapas do processo produtivo entre diferentes pa´ıses e empresas, IDE vertical, buscando aumentar a sua eficiˆencia produtiva e aproveitar as vantagens locais de custos.

Este processo de divis˜ao do trabalho e internacionaliza¸c˜ao n˜ao se limitou a atividades industriais. Segundo Corrˆea (2016, p. 18):

“Na 2a fase de internacionaliza¸ao, muitas ativida-

des de servi¸cos [· · · ] foram externalizadas. `A medida

que as firmas concentravam-se em atividades princi-

pais, passaram a terceirizar diversos servi¸cos relaci-

onados ao funcionamento dos processos industriais,

como por exemplo, servi¸cos de TI, assistˆencia legal,

de contabilidade, consultorias empresariais.”

Assim, se o IDE vertical, em um primeiro momento, era carac- terizado apenas pela terceiriza¸c˜ao de atividades de fabrica¸c˜ao, em um segundo momento passou a contar com a terceiriza¸c˜ao de atividades de servi¸cos - offshore. Como resultado, se observa avan¸co sem precedentes do com´ercio de bens e servi¸cos intermedi´arios. A emergˆencia das novas tecnologias de comunica¸c˜ao, ao tornar muitos servi¸cos transacion´aveis, apenas contribuiu para que este fenˆomeno se acentuasse ainda mais.

para al´em das medidas tradicionais de competitividade. O pre¸co dei- xou de ser a vari´avel mais importante para as firmas. Outros fatores (design, qualidade, flexibilidade e entrega) passaram a ser utilizados para se diferenciar da concorrˆencia. Como a presen¸ca destes fatores est´a associada `a utiliza¸c˜ao de servi¸cos espec´ıficos, a adi¸c˜ao de servi¸cos se tornou um poderoso instrumento de diferencia¸c˜ao (CHASE; ERIKSON, 1988).

A fragmenta¸c˜ao dos processos de fabrica¸c˜ao e a dispers˜ao inter- nacional das tarefas e atividades entre os pa´ıses levaram ao surgimento de sistemas de fabrica¸c˜ao sem fronteiras para bens e servi¸cos. Estes passaram a ser produzidos por meio de cadeias sequenciais ou redes complexas que incluem diversos pa´ıses (NACHUM, 2001).

O crescimento das CGV resultou em aumento sem precedentes da complexidade das transa¸c˜oes realizadas. Esta maior complexidade implicou no surgimento de problemas de coordena¸c˜ao e articula¸c˜ao das diferentes firmas e atividades envolvidas na fabrica¸c˜ao. A existˆencia de cadeias de suprimento mais extensas aumentou os custos de gest˜ao e de organiza¸c˜ao (HESSE; RODRIGUE, 2004).

A literatura de servi¸cos de neg´ocios mostra que o au- mento dos problemas de coordena¸c˜ao foi contornado atrav´es do desenvolvimento de diversas atividades de servi¸cos relacio- nados `a gest˜ao das CGV. Assim, o crescimento das CGVs resultou na expans˜ao do setor de servi¸cos e no surgimento de novas atividades neste setor (MIOZZO; SOETE, 2001). Os pa´ıses que conseguiram de- senvolver estas novas atividades foram os que mais obtiveram ˆexito e os que melhor conseguiram colher os frutos associados `a forma¸c˜ao das CGV. Dado que o movimento de forma¸c˜ao das CGV foi puxado por empresas oriundas de pa´ıses desenvolvidos, ´e natural que estas tenham demandado o surgimento de servi¸cos especializados de Pesquisa, desen- volvimento e inova¸c˜ao, suporte, transporte, gest˜ao, comercializa¸c˜ao e log´ıstica nestes pa´ıses.

Segundo Lesher e Nord˚as (2006); Voss (1992) e Youngdahl (1996), a difus˜ao das novas tecnologias de comunica¸c˜ao e a maior realiza¸c˜ao de neg´ocios demandou o surgimento de sistemas de gest˜ao das cadeias glo- bais de valor. Deste modo, a principal fun¸c˜ao dos servi¸cos de neg´ocios ´e gerir o desenvolvimento, a fabrica¸c˜ao e a distribui¸c˜ao de bens e servi¸cos. Inclusive a gest˜ao das cadeias de abastecimento e das redes internacio- nais de fabrica¸c˜ao.

Segundo Bryson, Daniels e Warf (2013) e Miles, Peters e Kuipers (2007), a participa¸c˜ao crescente destes servi¸cos no PIB reflete a tercei- riza¸c˜ao de servi¸cos de fabrica¸c˜ao para fornecedores externos. Ou seja,

s˜ao atividades antes realizadas na ind´ustria de transforma¸c˜ao que pas- saram a ser realizadas no setor de servi¸cos de outros pa´ıses. Contudo, o crescimento dos servi¸cos de neg´ocios tamb´em se deve ao desenvolvi- mento de novos servi¸cos e de tarefas especializadas.

Em n´ıvel nacional se observa a existˆencia de correla¸c˜ao positiva en- tre o engajamento global do pa´ıs e a quantidade de servi¸cos de neg´ocios que ele utiliza na ind´ustria de transforma¸c˜ao (OECD, 2013). Isto ´e, aqueles pa´ıses que possuem maior participa¸c˜ao no comercio internacional possuem o setor de servi¸cos de neg´ocios mais desenvolvido. Esta ´e uma evidˆencia muito importante e que merece aten¸c˜ao, pois nortear´a muitos dos resultados encontra- dos nesta tese. Os pa´ıses que conseguem desenvolver sistemas mais eficientes de gest˜ao se tornam mais competitivos e se sobressaem no comercio internacional. A presen¸ca do setor de servi¸cos intermedi´arios influencia na capacidade de gest˜ao das cadeias produtivas, na competitividade e na presen¸ca no com´ercio internacional.

Francois e Reinert (1996) identificaram, com base em dados em painel discriminados para 78 pa´ıses da OCDE para o per´ıodo 1994 - 2004, fortes efeitos multiplicadores diretos e indiretos para estes servi¸cos. Eles est˜ao positivamente relacionados com os n´ıveis de renda. Ou seja, os pa´ıses que possuem renda mais elevada observam quantidades supe- riores de servi¸cos intermedi´arios inseridos nos bens finais exportados.

Deste modo, ´e poss´ıvel se argumentar que os servi¸cos de neg´ocios formam parte importante das CGV. Segundo Nord˚as (2010) e Mirou- dot et al. (2013), estes servi¸cos s˜ao utilizados durante todas as etapas das CGVs. Alguns servi¸cos s˜ao necess´arios no in´ıcio da cadeia (e. g. P&D); alguns no final (e. g. varejo, manuten¸c˜ao e repara¸c˜ao) e outros s˜ao necess´arios em todas as fases (e. g. telecomunica¸c˜oes e servi¸cos financeiros).

As novas tecnologias de comunica¸c˜ao contribu´ıram para o desen- volvimento das cadeias de valor, pois as inova¸c˜oes introduzidas por elas viabilizaram o surgimento de diferentes servi¸cos de gest˜ao destas cadeias. O custo de sensores e instrumentos digitais caiu e eles s˜ao cada vez mais utilizados no monitoramento remoto de instala¸c˜oes industriais, em m´aquinas e equipamento e para rastrear os produtos em suas dife- rentes fases de comercializa¸c˜ao. Isto permite a utiliza¸c˜ao mais eficiente dos recursos. O avan¸co na utiliza¸c˜ao de sensores e instrumentos pode re- duzir substancialmente os custos em setores que produzem atualmente cerca de metade do PIB global (ANNUNZIATA; EVANS, 2012;BERNHO-

Servi¸cos eficientes, confi´aveis e acess´ıveis de transporte, distri- bui¸c˜ao, finan¸cas, telecomunica¸c˜oes e neg´ocios s˜ao essenciais para a existˆencia de custos de fabrica¸c˜ao aceit´aveis e comercializa¸c˜ao efici- ente de mercadorias. A competitividade do transporte e distribui¸c˜ao tamb´em influencia nos pre¸cos de importa¸c˜ao (HUMMELS; LUGOVSKYY;

SKIBA, 2009).

Servi¸cos de transporte com custos elevados inibem a entrada em novos mercados. Ou seja, aqueles pa´ıses que possuem custo de trans- porte mais elevado possuem menor competitividade internacional. Haja vista que o custo incorrido para levar os produtos fabricados at´e o porto faz com que o pre¸co de venda seja muito elevado (BESEDES; PRUSA, 2006).

O com´ercio intraind´ustria demanda uma gama crescente de servi¸cos de neg´ocios. Por exemplo, a combina¸c˜ao das cadeias de fornecimento in- ternacionais com a organiza¸c˜ao just-in-time da fabrica¸c˜ao exige servi¸cos de transporte e log´ıstica eficazes e confi´aveis, mas tamb´em demanda servi¸cos de apoio t´ecnico, consultoria jur´ıdica e outros servi¸cos empre- sariais (NORD˚AS; PINALI; GROSSO, 2006).

A gest˜ao de cadeias de valor envolve o desenvolvimento de um con- junto de processos de fixa¸c˜ao de pre¸cos, entrega e pagamento, muitas vezes contidos em plataformas eletrˆonicas. O desenvolvimento destas plataformas reduz os custos de transa¸c˜ao e pode reduzir os obst´aculos `

a entrada de fornecedores. A melhor gest˜ao das cadeias, al´em de con- tribuir para a redu¸c˜ao dos custos de transa¸c˜ao, de coordena¸c˜ao, erros e desperd´ıcios, tamb´em facilita a entrada de fornecedores externos que produzem insumos com qualidade superior aos encontrados no mercado nacional. Isto resulta em produtos nacionais com qualidade superior

(BALDWIN, 2011).

Os pa´ıses que fazem maior uso de insumos oriundos do setor de servi¸cos produzem bens com maior qualidade e maior diferencia¸c˜ao. Isto possibilita a exporta¸c˜ao destes bens a pre¸cos mais elevados. Como consequˆencia, estes pa´ıses s˜ao mais competitivos a n´ıvel internacio- nal (FRANCOIS; WOERZ, 2008; NORD˚AS; KIM, 2013; LODEFALK, 2013;

BHAGWATI, 1984;FRANCOIS; REINERT, 1996;FRANCOIS; WOERZ, 2008).

A crescente utiliza¸c˜ao de servi¸cos nos processos produtivos muniu Shih (2005) das evidˆencias necess´arias para propor a representa¸c˜ao que ficou, posteriormente, famosa pelo termo “Curva Sorridente”. Esta mostra a contribui¸c˜ao de cada atividade para a gera¸c˜ao de valor, in- dicando que a fabrica¸c˜ao de produtos demanda conjunto crescente de atividades oriundas do setor de servi¸cos. As atividades origin´arias deste setor agregam mais valor `a fabrica¸c˜ao final do que as atividades asso-

ciadas ao ch˜ao de f´abrica (Figura 2).

Figura 2 – Curva Sorridente

Fonte: OCDE/OMC (2013, p. 216).

OECD (2013) mostra que a inclina¸c˜ao da Curva Sorridente se modificou nas ´ultimas d´ecadas, a importˆancia das atividades de servi¸cos para a gera¸c˜ao de valor nunca foi t˜ao relevante. Argumenta-se que a emergˆencia das novas tecnologias de comunica¸c˜ao ajuda a explicar este fenˆomeno. Conforme ser´a demonstrado mais a frente, estas tecnologias aumentaram a concorrˆencia entre as empresas e permitiram que estas utilizassem novas estrat´egias, mais intensivas em servi¸cos, para diferen- ciar os seus produtos.

Segundo Sarti e Hiratuka (2010), a descentraliza¸c˜ao da produ¸c˜ao resultou na cria¸c˜ao de redes internacionais de produ¸c˜ao hierarquizadas seletivas e com diferentes capacidades de apropria¸c˜ao de valor. Apesar destas redes se encontrarem distribu´ıdas globalmente, a maior parte do valor adicionado fica na matriz das corpora¸c˜oes. As atividades loca- lizadas em pa´ıses com menor renda s˜ao apenas aquelas que possuem menor capacidade de apropria¸c˜ao de valor. Em rela¸c˜ao `a seletividade, a distribui¸c˜ao das etapas de produ¸c˜ao ocorre de acordo com as dispo- nibilidades e pre¸cos relativos dos diferentes elementos necess´arios `a sua realiza¸c˜ao.

lucrativas em suas matrizes e controlam as firmas fornecedoras - atrav´es de contratos, transferˆencia de tecnologia, barreiras `

a entrada, etc. -, a descentraliza¸c˜ao da produ¸c˜ao, paradoxal- mente, resulta em concentra¸c˜ao do poder de comando sobre a cria¸c˜ao de valor adicionado nas cadeias nestas empresas. Con- sequentemente, se observa a captura desigual do valor adicio- nado, com os pa´ıses desenvolvidos levando vantagem sobre os pa´ıses em desenvolvimento.

Isto ´e, com a forma¸c˜ao das cadeias globais de valor se observa modifica¸c˜ao no modo como os produtos s˜ao fabricados, no modo como se d´a a intera¸c˜ao entre os pa´ıses e na hierarquiza¸c˜ao internacional da produ¸c˜ao. Por´em, os pa´ıses em desenvolvimento permanecem com in- ser¸c˜ao desigual nas cadeias mercantis, a qual passa a ser explicada pela forma como ocorre o com´ercio intermedi´ario de bens e, princi- palmente, pelo modo como est˜ao distribu´ıdas as atividades de servi¸cos intermedi´arios entre os pa´ıses. Os pa´ıses desenvolvidos, que anteri- ormente se destacavam pela fabrica¸c˜ao de produtos manufaturados, agora entram nas CGV atrav´es da fabrica¸c˜ao de produtos mais sofisti- cados tecnologicamente e atrav´es da provis˜ao de servi¸cos intermedi´arios

(SARTI; HIRATUKA, 2010).

As evidˆencias encontradas pela literatura de cadeias globais de valor evidenciam a ocorrˆencia de uma periferiza¸c˜ao industrial, cu- jos produtos passam a serem fabricados em maior propor¸c˜ao nos pa´ıses em desenvolvimento, ao passo que se observa a centraliza¸c˜ao dos servi¸cos intermedi´arios. Estes servi¸cos se encontram mais concen- trados nos pa´ıses desenvolvidos, sendo vendidos para os outros pa´ıses, muitas vezes, na forma de servi¸cos inseridos em produtos industriais5.

As evidˆencias encontradas at´e o presente momento convergem para o mesmo ponto: O setor industrial exerce contribui¸c˜ao importante para o crescimento econˆomico dos pa´ıses. Por´em, com a forma¸c˜ao das CGV as transa¸c˜oes realizadas assumiram magnitude sem precedentes. Esta maior magnitude demanda o surgimento de todo um conjunto de atividades respons´aveis por organizar e conceder sentido l´ogico aos processos produtivos, aumentando a eficiˆencia destes. Conforme ser´a demonstrado mais a frente, este papel assumido pelas atividades de servi¸cos intermedi´arios conversa diretamente com a literatura de com- plexidade econˆomica, que ser´a apresentada no Cap´ıtulo 3, represen-

5Rone (1996), Hesseldahl (2010), Linden, Kraemer e Dedrick (2009), Lesher e

Nord˚as (2006), Hobday (1995), Gereffi (1999), Cruz-Moreira e Fleury (2003), Gereffi

e Memedovic (2003), Humphrey (2004), Corrado, Hulten e Sichel (2005); Gereffi,

Frederick e Gereffi (2010); Nord˚as e Kim (2013); Alstyne, Parker e Choudary (2016);

tando elemento central desta tese. A presen¸ca destes servi¸cos permite a reuni˜ao de conjunto elevado de elementos, viabilizando a fabrica¸c˜ao de produtos mais sofisticados. A pr´oxima se¸c˜ao apresenta as taxonomias definidas por Castellacci (2008) para caracterizar a intera¸c˜ao existente entre o setor de servi¸cos intermedi´arios e o setor industrial.

2.6 TAXONOMIAS CONSTRU´IDAS PARA O SETOR DE SERVIC¸ OS