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Arecaceae em uma área de floresta de terra firme na Amazônia Central, Brasil

Ana Paula Porto FERREIRA, Maria Gracimar Pacheco de ARAÚJO, Hedinaldo Narciso LIMA, Eduardo Martins VENTICINQUE

Abstract

Palms (Arecaceae) are conspicuous elements in tropical forests, where they are diverse and abundant. Besides, they are important to frugivores, as some species are considered key resources in ecological communities, and also to men, given their numerous uses. Th is work evaluated the eff ects of geographical distance and edaphic and environmental variables on the species richness and composition of a palm community in a non-fl ooded “terra fi rme” forest at Fazenda Experimental of Federal University of Amazonas. Species were sampled in 31 plots (250 x 4 m), systematically distributed over an area of 24 km2. Data on geographic coordinates, soil features, litter depth, distance to the nearest stream and altitude were previously obtained. Species composition was summarized by non-metric multidimensional scaling (NMDS), and subsequently multiple regressions with variance partitioning were carried out. Forty two taxa were recorded (among them, two forms). Species richness varied from four to 21 species and was not reasonably explained by any of the analyzed variables. Palm community species composition was infl uenced mainly by physical and chemical soil features and, to a lesser extent, by other environmental attributes (altitude and distance to the nearest stream); it was not signifi cantly infl uenced by geographic distance. Th ese results strengthen previous suggestions that, at intermediate spatial scales (1-10 km), environmental heterogeneity is the main source of palm species composition structure, and that geographic distance has no strong infl uence on species composition at this scale.

Introdução

A floresta amazônica abriga uma elevada diversidade de espécies, tanto animais quanto vegetais, diversidade provavelmente ainda subestimada. Uma das maneiras de contribuir com a resolução desta problemática é entender os mecanismos geradores dos padrões de distribuição e abundância dos organismos estudados (ELITH e LEATHWICK, 2009). Segundo Soberón e Peterson (2005) existem quatro tipos de fatores que limitam a distribuição de uma espécie, são eles: condições abióticas, fatores bióticos, capacidade de dispersão e capacidade de se adaptar a novas condições.

Desse modo, para a geração de informações sobre esses fatores uma etapa inicial é o levantamento sistematizado das espécies em um determinado local, das características do ambiente onde essas espécies se encontram e das interações que estas estabelecem com outras espécies, ou seja, estudos básicos sobre a ocorrência, abundância, biologia e ecologia das espécies da fauna e da flora. Grande esforço se tem empreendido, com pesquisas nessas áreas, mas o número de trabalhos dessa natureza ainda é insuficiente até o momento (MAGNUSSON et al., 2005).

Boa parte da imensa diversidade biológica da Amazônia está representada pelas plantas, que são os principais organismos produtores de todo esse sistema, com cerca de 30.000 espécies somente de Magnoliophyta (Angiospermae) (LEWINSOHN, 2005). E como se explica essa diversidade vegetal tão elevada? Muitos dos mecanismos elencados para explicar esta alta diversidade de plantas nos trópicos estão associados à heterogeneidade ambiental em escalas de 1-10 km (JANZEN, 1970; RICKLEFS, 1977; CONNELL, 1978; CLARK et al., 1999; CONDIT et al., 2002).

Um grupo de plantas particularmente diversificado e abundante em florestas tropicais é o das palmeiras (Arecaceae) (HENDERSON et al., 1995), as quais estabelecem inúmeras relações mutualísticas com a fauna (HENDERSON, 2002), além de servirem a vários usos por populações humanas (BALICK e BECK, 1990). Palmeiras são lembradas como símbolo de florestas tropicais, porque quase 70% de suas espécies ocorrem exclusivamente nos trópicos (JONES, 1995) e por pertencerem a uma das maiores famílias de plantas tanto em riqueza quanto em abundância, ocupando quase todos os habitats (HENDERSON et al., 1995).

Por meio do presente estudo realizou-se o levantamento das espécies de palmeiras existentes no sistema de amostragens (protocolo PPBio –

Programa de Pesquisa em Biodiversidade) da Fazenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas e se relacionou a riqueza e a composição de espécies com as características espaciais, edáficas e ambientais já levantadas por outros estudos realizados na Amazônia, no intuito de contribuir para a discussão da influência dos gradientes ambientais e da distância geográfica para a distribuição e abundância desse grupo de plantas.

Material e Métodos

Área de estudo

Este estudo foi realizado na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas (2º38’ S; 60º3’ W; altitude 50 – 126 m), com área total de aproximadamente 3000 hectares, situada no km 38 da rodovia BR-174, Manaus/AM, Brasil (Figura 1).

Compreende, além de construções e áreas de plantio, uma área verde com floresta de terra firme sobre platôs, vertentes, campinaranas e floresta secundária. Por fazer limite com outras reservas, que pertencem ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e ao Instituto de Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a vegetação da Fazenda Experimental faz parte de um grande continuum (CRUZ, 2001).

Dados de uma área próxima (Reserva do Cuieiras – 2°35’21,08”S, 60°06’53,63”W) indicam que a média da temperatura mensal varia de 24,1°C a 27,1°C. A precipitação anual total é de aproximadamente 2.200 mm, com uma estação relativamente seca de julho a setembro (precipitação < 100 mm). A média da umidade relativa diária varia de 75%, no mês mais seco (agosto), a 95%, durante o pico de chuvas em abril (LUIZãO et al., 2004).

Na área existe um sistema de trilhas do Programa de Pesquisa em Bio- diversidade (PPBio) que conta com uma grade de 24 km2, sendo 59 km de trilhas e 41 parcelas instaladas (21 são terrestres e 20 são ripárias – Figura 1) posicionadas seguindo a curva de nível do terreno (MAGNUSSON et al., 2005).

Figura 1

Imagem do estado do Amazonas e do sistema de parcelas estudado. Círculos representam parcelas ripárias ou aquáticas e triângulos parcelas terrestres. Fonte: Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio).