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3.3 DESCRIÇÃO DAS DECISÕES

3.3.6 Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n 402

Ajuizada em 3 de maio de 2016 pelo Partido Solidariedade, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 402 teve como objeto o entendimento de que pessoas com denúncia criminal recebida pelo STF estariam impossibilitadas de assumir cargos sucessórios da Presidência da República. Segundo pleiteavam, em razão dos artigos 79 e 80 da Constituição Federal, que preveem a linha sucessória de assunção do cargo, os presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal não poderiam ser réus penais.

219 BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Decisão Monocrática na Reclamação Constitucional n. 23.418.

Reclamante: Partido Popular Socialista. Reclamado: Presidente da República. Relator Ministra Cármen Lúcia Rocha. 18 mai. 2016. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4949341>. Acesso em: 14 out. 2017.

Especialmente no contexto em que foi proposta a Arguição, em que o vice-presidente havia assumido temporariamente o cargo de presidente, em razão do afastamento de Dilma Rousseff no curso do processo de impedimento, sobre o qual pairavam diversas investigações de ordem penal, tal postulação decorria do fato de que, a qualquer momento, os integrantes da linha sucessória da Presidência poderiam ser chamados a assumir a função, para a qual estariam, se figurassem como réus de ações penais em curso perante o STF, impedidos.

Ouvidos o presidente da Câmara dos Deputados, o advogado-geral da União e o procurador-geral da República, em 03.11.2016 o processo foi à sessão de julgamento do plenário, na qual o ministro relator, Marco Aurélio, opinou pela procedência da arguição. Acompanharam-no Edson Fachin, Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux e Celso de Mello. O ministro Dias Toffoli pediu vista dos autos. Roberto Barroso declarou suspeição e Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski estavam ausentes.

Assim, não tendo havido a conclusão do julgamento, o requerente apresentou, em 05.12.2016, petição reiterando o pedido liminar formulado na inicial, que consistia no afastamento dos ocupantes dos cargos da linha sucessória da Presidência da República que figurassem como réus penais. Ressaltou que, naquele momento, em que pese o presidente da Câmara dos Deputados já houvesse sido afastado em razão da decisão liminar proferida nos autos da Ação Cautelar n. 4.070, havia sido recebida denúncia em face do presidente do Senado Federal, permanecendo a urgência a embasar a decisão liminar. Ademais, ressalta que já havia formação de maioria absoluta no sentido de declarar o impedimento postulado na ADPF. Por tais razões, o ministro Marco Aurélio decidiu, no mesmo dia 5 de dezembro, deferir o pleito liminar, de modo a determinar o afastamento imediato de Renan Calheiros da Presidência do Senado Federal.

A Mesa da Câmara dos Deputados proferiu comunicado em que declarou que só tomaria alguma providência após a decisão colegiada do Supremo.220 Destaca-se, nesse caso, que a resposta do Poder Legislativo, especificamente da Mesa Diretora do Senado Federal, ganhou publicidade no período entre a decisão monocrática de Marco Aurélio e a decisão colegiada proferida dois dias depois. Apesar do voto já proferido no mérito da ADPF n. 402 pelos ministros anteriormente mencionados, o desfecho da decisão do dia 7 de dezembro foi diverso. 3.3.6.1 Decisão nos Autos da ADPF n. 402 – 5 de dezembro 2016

220 SENADO. Mesa do Senado decide aguardar decisão do Plenário do STF. Senado Notícias, 7 dez. 2016.

Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/12/06/mesa-do-senado-decide-aguardar- decisao-do-plenario-do-stf>. Acesso em: 27 nov. 2017.

Como sobredito, a Arguição esteve na pauta da sessão plenária do dia três de novembro, momento em que diversos ministros manifestaram acordo com o voto proferido pelo ministro relator Marco Aurélio. No entanto, em razão da vista concedida ao ministro Dias Toffoli, o julgamento da matéria restou suspenso.

Em atenção à petição apresentada no dia cinco de dezembro pelo partido requerente, o relator decidiu, então, emitir decisão liminar nos autos da ADPF. Marco Aurélio determinou o imediato afastamento de Renan Calheiros da Presidência do Senado Federal, acatando o pleito autoral. O fundamento residiu no fato de que o STF havia acatado denúncia em face do Parlamentar no dia primeiro de dezembro, quando este passou a figurar como réu em ação penal perante o Tribunal.221

Este tópico tem a finalidade de retratar mais detidamente os fundamentos apresentados pelo relator. Destaca-se que Marco Aurélio dissertou sobre os trâmites processuais por que passou a ação, argumentando que a liminar não havia sido concedida anteriormente porque, inicialmente, ele havia submetido ao Plenário a apreciação do pedido, que foi retirado de pauta em razão da medida concedida pelo ministro Teori Zavascki nos autos da AC 4.070 na mesma data, que clamava pelo referendo do colegiado. Tendo em vista que a decisão de Teori, referendada pelo Plenário, consistia justamente no afastamento de Eduardo Cunha, já não havia urgência na análise da liminar requerida nos autos da ADPF n. 402, já que, à época, a iminência era de afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, por ser o sucessor da Presidência que figurava como réu em ação penal.222 Após o seu afastamento, essa ação permaneceu sem ir a julgamento até o dia três de novembro de 2016, quando houve a já relatada manifestação de cinco ministros no sentido de acolher a posição do relator Marco Aurélio, que impossibilitava membros da linha sucessória da Presidência da República de figurarem em seus cargos acaso de tornassem réus em ações penais.

No entanto, com a decisão de acolhimento de denúncia em face de Renan Calheiros nos autos do Inquérito n. 2.593, datada de primeiro de dezembro, fizeram-se presentes, novamente, os requisitos ensejadores de decisão sobre medida liminar nos autos da ADPF n. 402, razão pela qual o ministro justificou ter procedido à sua apreciação.223 Nesse sentido, justificando a concessão da liminar tanto tempo após o ajuizamento do pleito, que seguia sem retomada do

221 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Decisão de Julgamento na Arguição de Descumprimento de Preceito

Fundamental n. 402. Requerente: Rede Sustentabilidade. Relator Ministro Marco Aurélio Mello. 7 dez. 2016. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4975492>. Acesso em: 7 out. 2017. p. 2.

222 Ibidem, p. 4.

223 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Decisão de Julgamento na Arguição de Descumprimento de Preceito

julgamento pelo Pleno, Marco Aurélio invocou o fato de já haver seis posicionamentos quanto ao mérito da demanda, reputando já ter sido formada “maioria absoluta” na ADPF. Assim, determinou:

Urge providência, não para concluir o julgamento de fundo, atribuição do Plenário, mas para implementar medida acauteladora, forte nas premissas do voto que prolatei, nos cinco votos no mesmo sentido, ou seja, na maioria absoluta já formada, bem como no risco de continuar, na linha de substituição do Presidente da República, réu, assim qualificado por decisão do Supremo.224

Observa-se, por fim, que o ministro ainda exibiu posição crítica à concessão de liminares individualmente, sem referendo do Plenário: alegou que o quadro, desta feita, era mais favorável em comparação com o ocorrido na ADI n. 5.326, em que ele havia proferido liminar em decisão individual e até a data do julgamento nesta ADPF n. 402 inexistia conclusão do julgamento de mérito demanda.225

Note-se, ainda, que esta decisão não foi acatada pela mesa do Senado Federal, que assinou nota coletiva declarando que aguardaria julgamento do plenário.

3.3.6.2 Decisão nos Autos da ADPF n. 402 – 07.12.2016

Ao analisar a liminar deferida pelo ministro Marco Aurélio em 05.12.2016, o plenário referendou, em parte, o veredito do relator. Por unanimidade, assentou-se a interpretação de que os substitutos eventuais da Presidência da República que sejam réus criminais ficam apenas impossibilitados de exercer a Presidência, não necessitando afastamento dos cargos de que são titulares. Nesse aspecto, que negou referendo à liminar, foi acolhido o voto do ministro Celso de Mello, acompanhado por Teori Zavascki, Dias Toffoli, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia. Restaram vencidos os ministros Marco Aurélio, Edson Fachin e Rosa Weber, cuja posição era pelo referendo integral da liminar. Consequentemente, aqueles que negaram referendo nesse aspecto também se posicionaram por retirar a imposição de afastamento outrora imposta ao presidente do Senado Renan Calheiros. Roberto Barroso declarou-se suspeito e Gilmar Mendes estava justificadamente ausente.226

224 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Decisão de Julgamento na Arguição de Descumprimento de Preceito

Fundamental n. 402, p. 5.

225 Ibidem, loc. cit.

226 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ata de Sessão de Julgamento da Arguição de Descumprimento de

Preceito Fundamental n. 402. Requerente: Rede Sustentabilidade. Relator Ministro Marco Aurélio Mello. 3 nov. 2016. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4975492>. Acesso em: 10 out. 2016. p. 1.

Até a data em que encerrada a coleta de dados para este trabalho, 30 de novembro de 2017, não havia sido publicado o inteiro teor desta decisão, razão pela qual a análise de seus fundamentos restou limitada.