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4.1 QUANTO À ORIGEM E À NATUREZA DAS DEMANDAS

4.1.1 Quanto ao polo ativo

Em estudo relativo aos grupos de interesse responsáveis pelo ajuizamento das demandas de ordem eminentemente política no Supremo, Ernani Rodrigues de Carvalho Neto verificou que partidos de oposição utilizavam-se de tal recurso para frear e dificultar pautas cujo avanço não podiam evitar nos espaços representativos. Em relação ao ajuizamento de ADIs, partidos responderam pelo ajuizamento de mais de 20% do total de ações ajuizadas entre os anos de 1988 e 2003.307 Confederações sindicais ou entidades de classe, por sua vez, figuraram no polo ativo de mais de 26% das demandas ajuizadas.308 Nesse e em outros estudos, o autor atenta na

307 CARVALHO NETO, 2004, p. 119. 308 Ibidem, p. 118.

relevância de identificar quais são os agentes que levam as demandas aos tribunais, a fim de verificar de que âmbito provém o conflito que passa a ser analisado pela instância judicial. Embora ciente de que os proponentes da demanda não necessariamente influenciaram no juízo de mérito proferido, esta pesquisa, influenciada pelos estudos de Ernani Rodrigues de Carvalho Neto, considerou relevante verificar se há alguma linearidade nos juízos proferidos a partir da variável sujeito ativo.

Dessa forma, realizou-se levantamento relativo ao polo ativo das demandas estudadas. Como resultado, foram encontrados litigantes de duas ordens: partidos políticos e Ministério Público Federal. Dos nove casos analisados, seis foram ajuizados por partidos políticos com representação no Congresso Nacional e três foram levados ao Supremo pela Procuradoria-Geral da República. Entre os partidos que figuraram no polo ativo, destacou-se a Rede Sustentabilidade, que foi a titular, sozinha, de dois dos seis casos peticionados por partidos. Além disso, em duas das ações remanescentes ajuizadas por partidos, a titularidade da ação foi compartilhada por mais de um partido. A Tabela 1 elucida a relação e proporção entre as ações e os respectivos responsáveis por seu ajuizamento.

Tabela 1 – Relação dos titulares por demanda

Ação Proponente Proporção de demandas por proponente

AC n. 4.039 PGR PGR 33% AC n. 4.070 PGR AC n. 4.327 PGR MS n. 34.070 PSDB Partidos Políticos 66% MS n. 34.196 PT (Diretório Municipal) RCL n. 23.418 PPS

ADPF n. 402 Rede Sustentabilidade MS n. 34.609 Rede Sustentabilidade ADI n. 5.526 PP, Solidariedade e PSC

Fonte: elaboração própria a partir de informações disponibilizadas na plataforma virtual do STF.

A Tabela 1 ilustra que os pedidos levados ao Supremo no espectro estudado foram veiculados um terço das vezes pelo Ministério Público Federal e duas vezes mais por partidos políticos. É possível perceber, ainda, que há linear divisão entre a natureza das demandas ajuizadas por cada um dos agentes verificados.

Foram três as vezes em que, provocado por partidos políticos, o STF interferiu no exercício do cargo de políticos, tendo sido proferidos sete juízos em resposta a tais requerimentos. Excetuando-se aquele proferido na Reclamação n. 23.418, que declarou a perda de seu objeto, temos que, de seis juízos de mérito emitidos, metade deles optou por interferir no cargo. É preciso atentar na diferença existente entre questionar se foi determinada a interferência no exercício do cargo ou se foi dado provimento ao pleito do agente provocador. No espectro estudado, tendo em vista a íntima relação da ADI n. 5.526 com os demais pleitos analisados, ela foi incluída no conjunto de decisões contabilizadas. No entanto, o pedido não consiste em interferência do STF,309 de modo que não é possível interpretar os juízos de interferência como juízos em que houve provimento do pleito e juízos de não interferência como juízos de desprovimento. De qualquer sorte, para fins de informação, constatou-se que em 50% das decisões proferidas nos casos peticionados por partidos políticos foi dado provimento ao pleito, ao passo que em 80% daquelas referentes a demandas do Ministério Público a procedência foi verificada.310 Quanto ao Ministério Público, é possível correlacionar os dados de interferência com os de provimento, haja vista que a demanda, em todas as suas ações, foi por aquela.

O Gráfico 1 ilustra os vereditos proferidos pelo STF de acordo com quem o provocou. Observe-se que, para realizar tal levantamento, foram consideradas todas as decisões proferidas pela Corte311, que totalizaram 15, pois, em dois dos nove casos analisados (ADPF n. 402 e AC n. 4.327), houve três juízos distintos emitidos nos mesmos autos.

309 O pleito da ADI n. 5.526 consistiu em pedido de interpretação conforme a Constituição (artigo 53, §2º) dos

artigos 312 e 319 do Código de Processo Penal, a fim de que fosse declarado que a imposição a parlamentares das medidas cautelares nos dispositivos previstas deveria ser submetida à apreciação da casa legislativa integrada pelo parlamentar. O caso foi relatado no apartado 3.3.9.

310 Para fins desse levantamento, não foi feita diferenciação entre o provimento total e o provimento parcial da

demanda. Justifica-se tal fato em razão de que as ações que tinham mais de um pedido que se inserisse no recorte de pesquisa postularam mais de uma forma de interferência no exercício do cargo, requerendo-a em maior grau – como a prisão de parlamentar, por exemplo – ou em menor grau – na comparação, poder-se-ia ilustrar com o pedido de suspensão das atividades parlamentares –, de modo que a correspondência entre provimento e interferência não foi afetada.

311 Para fins de apresentação dos resultados, serão considerados juízos proferidos pelo STF tanto os monocráticos

quanto os de ordem colegiada. Em momento próprio, na subseção 4.4, será feita a diferenciação entre eles. Além disso, para esse levantamento, foram incluídos todos os juízos emitidos (inclusive de referendos de liminares) e a primeira sessão de julgamento da ADPF n. 402, embora não tenha sido julgada nesse ato, em razão da maioria de votos proferidos e de sua influência nas decisões subsequentes.

Gráfico 1 – Juízo proferido de acordo com o titular da demanda

Fonte: elaboração própria a partir de informações disponibilizadas na plataforma virtual do STF.

Muito embora este trabalho não disponha de dados suficientes para analisar a influência do agente ajuizador da demanda no juízo proferido pela Corte, é possível perceber que, na ampla maioria das vezes em que o pedido de interferência derivou do Ministério Público Federal, houve provimento. A única decisão que destoa dessa tendência corresponde àquela proferida monocraticamente por Marco Aurélio Mello nos autos da AC n. 4.327, oportunidade em que o ministro retirou as cautelares anteriormente impostas por Edson Fachin a Aécio Neves.

Em relação a este segmento de observação, o que parece digno de maior destaque é o elevado número de postulações realizadas por partidos políticos. Luis Felipe Andrade Barbosa, Ernani Rodrigues de Carvalho Neto e José Mário Wanderley Gomes Neto, em estudo recente, retratam resultados semelhantes em relação ao ajuizamento, por partidos, de pedidos de interferência em pautas políticas do Congresso Nacional.312 Os autores introduziram duas circunstâncias que poderiam explicar tal situação: a tendência a transferir a decisão ao Poder Judiciário no caso de avaliarem que tal delegação pode aumentar o crédito ou reduzir custos políticos e eleitorais a partir da decisão buscada e a inclinação a favorecer um Poder Judiciário mais ou menos ativo a depender de suas expectativas de manutenção no poder.313

312 BARBOSA; CARVALHO NETO; GOMES NETO, 2017.

313 Ibidem, p. 6. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Partidos Políticos Ministério Público

Perda de Objeto Não Interferência Interferência

No caso deste estudo, os agentes que ajuizaram as demandas parecem guardar relação direta com os instrumentos processuais utilizados e com a natureza dos requerimentos realizados, aspectos que serão expostos nos tópicos seguintes.