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4.1 QUANTO À ORIGEM E À NATUREZA DAS DEMANDAS

4.1.2 Quanto ao instrumento processual utilizado

Este apartado apresenta os instrumentos processuais por meio dos quais foram veiculados os casos estudados. Note-se, de antemão, que o objetivo aqui não é sugerir que foi escolhido um instrumento em relação a outro pelo agente ajuizador da demanda, haja vista que, em algumas situações, o instrumento veiculado era, possivelmente, o único passível de utilização. A intenção é ilustrar de que maneira se apresentaram as demandas, a fim de verificar se houve alguma diferença significativa nos juízos proferidos em razão da espécie de ação veiculada.

Os instrumentos processuais utilizados por partidos políticos foram, basicamente, dois: o mandado de segurança coletivo e as ações de constitucionalidade. No que se refere à utilização do mandado de segurança, o remédio foi utilizado três vezes, nas quais foi pleiteado o controle judicial de ato discricionário do Poder Executivo: a nomeação de ministros de Estado (MS n. 34.070, MS n. 34.196 e MS 34.609). A Reclamação n. 23.418, muito embora consista em instrumento processual de ordem diversa, também se dirigiu a este fim. Foi utilizada, nesse caso, motivada pelo pleito de violação de precedentes do Tribunal em controle concentrado de constitucionalidade. Assim, tem-se que, das seis vezes em que partidos políticos provocaram o Supremo a interferir, em quatro delas buscaram sustar a nomeação de ministro de Estado ou impedir a sua nomeação futura, utilizando, no último caso, o remédio constitucional em caráter preventivo.314 Parece digno de destaque, no aspecto, que todas as medidas veiculadas pleitearam limitar a atuação do Poder Executivo.

No que se refere à utilização do mandado de segurança coletivo por partidos políticos, apontam Luis Felipe Andrade Barbosa, Ernani Rodrigues de Carvalho Neto e José Mário Wanderley Gomes Neto, no mesmo estudo anteriormente referido, que, além de constatarem a sua utilização em relação a pautas da agenda do Poder Legislativo, sua veiculação foi intensamente verificada durante o processo de impedimento de Dilma Rousseff, 315 cujo momento histórico é contemporâneo a este trabalho. Segundo os autores, “[...] foram

314 Esse foi o ocorrido no MS n. 34.196. Em caso de dúvida, sugere-se ao leitor que retorne ao ponto 3.3.4 deste

trabalho.

impetrados por parlamentares governistas e da oposição uma série de mandados de segurança que questionavam o seu processamento na Câmara dos Deputados” 316. O diálogo com o estudo realizado por esses autores permite perceber que temas centrais à vida política nacional têm sido conduzidos ao STF por integrantes das próprias esferas de poder. Nesse sentido, parece pertinente retomar a observação realizada por Oscar Vilhena Vieira em relação ao pleito veiculado no MS n. 34.070, que postulou a suspensão da nomeação de Lula da Silva como ministro de Estado, quando afirmou que “Em circunstâncias normais, essa questão jamais seria submetida ao Supremo”317.

As duas ações remanescentes ajuizadas por partidos políticos questionaram o Supremo desde o ponto de vista da constitucionalidade abstrata. No primeiro caso, pleitearam limitar o possível exercício de função decorrente da titularidade dos cargos de chefia das casas legislativas, que é a de suceder a Presidência da República, tendo em vista que a/o Chefe da Câmara dos Deputados, a/o Chefe do Senado Federal e a/o Presidente do STF figuram na linha sucessória da Presidência.318 Nessa ação, relatada no ponto 3.3.6 deste trabalho, parece interessante o fato de que é buscada a restrição de cargo duplamente eleito, seja pelo eleitorado brasileiro, seja por seus próprios pares.319 O segundo pleito em controle abstrato de constitucionalidade apresenta aspecto destoante de todas as demais demandas ajuizadas no lapso temporal pesquisado: foi o único em que o pedido pleiteava a limitação da atuação do STF quanto à interferência no exercício de cargo político. A demanda requereu que fosse dada interpretação conforme a Constituição para submeter à apreciação da casa legislativa a decretação judicial de medidas cautelares.

Diferentemente do constatado em relação aos partidos políticos, todas as ações protagonizadas pela Procuradoria-Geral da República pautaram demandas de mesma ordem: referiram-se à imposição de medidas restritivas de liberdade, com pedido de prisão, a parlamentares. Tais pleitos consistiram em ações cautelares motivadas por ações penais em curso ou, ao menos, cuja denúncia havia sido aceita pelo Supremo. Destaca-se, nesse aspecto, que os pleitos de interferência veiculados pelo MPF estiveram sempre vinculados a procedimentos já existentes, de modo que consistiram em ferramenta que visava a garantir o

316 BARBOSA; CARVALHO NETO; GOMES NETO, 2017, p. 4. 317 VIEIRA, 2016.

318 O artigo 80 da CF dispõe: “Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância

dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.” (BRASIL. Constituição, 1988).

319 Excetua-se de tal constatação a figura de presidência do STF. No entanto, como esta é a terceira arrolada na

linha sucessória e todo o deslinde processual esteve motivado pela iminência de assunção do cargo pelos integrantes do Congresso Nacional, tal exceção não representa especial relevância na constatação supra referida.

sucesso do procedimento conexo. Por tal razão, a fundamentação de tais pleitos tratou do risco que o parlamentar representava, segundo a instituição, às investigações ou à instrução processual. Outro elemento relevante é que a discussão instrumentalizada por esse agente ocorreu sempre em casos concretos.

Interessa neste segmento, por fim, cotejar os juízos proferidos de acordo com a natureza da ação veiculada, a fim de verificar se há algum padrão entre o instrumento processual utilizado e o resultado obtido.

Gráfico 2 – Juízos de interferência proferidos de acordo com o instrumento processual

Fonte: elaboração própria a partir de informações disponibilizadas na plataforma virtual do STF.

Gráfico 3 – Juízos de não interferência proferidos de acordo com o instrumento processual

Fonte: elaboração própria a partir de informações disponibilizadas na plataforma virtual do STF.

Os gráficos 2 e 3 permitem identificar, do total de juízos de interferência e não interferência proferidos, a proporção relativa a cada espécie de instrumento processual veiculado. Se compararmos um gráfico com o outro, ainda, é possível, a partir da assimilação

Interferência

Mandado de Segurança (1) Ação Cautelar (6) Ações de Constitucionalidade (2) Reclamação Constitucional (0 - perda de objeto)

Não interferência

Mandado de Segurança (2) Ação Cautelar (1) Ações de Constitucionalidade (2) Reclamação Constitucional (0 - perda de objeto)

dos números constantes ao lado de cada instrumento processual, observar a proporção de juízos emitidos em relação a cada espécie de ação ou remédio veiculado.320 Nesse sentido, é possível perceber que, na ampla maioria das vezes em que o Supremo decidiu interferir no exercício de cargos políticos sem previsão constitucional expressa, o fez em sede de ação cautelar. Em mesmo sentido, conclui-se que a ampla maioria dos vereditos proferidos em sede de cautelares foi no sentido de deferi-las (seis decisões favoráveis em oposição a uma contrária, a qual foi reformada por novo juízo nos mesmos autos).

Os demais instrumentos não permitem o mesmo tipo de associação, haja vista que não apresentaram variações tão significativas. No caso dos mandados de segurança, dois juízos optaram por seu desprovimento, o dobro de vezes em que foi provido. No entanto, o número de juízos emitidos não permite maiores ponderações a respeito, ao menos neste tópico.