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Argumentos favoráveis à constitucionalidade do veto presidencial

4 A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DO VETO PRESIDENCIAL AO ARTIGO 2°

4.3 TEMER VS TEMER

4.3.4 Argumentos favoráveis à constitucionalidade do veto presidencial

Passar-se-á, agora, ao estudo dos argumentos que sustentam a constitucionalidade do veto presidencial.

Dentre os doutrinadores que sustentam a constitucionalidade da Lei n° 13.491/17, em todos os seus aspectos controversos, formal e material, destaca-se Menezes, Magistrado Federal da Justiça Militar da União, defendendo que a postura adotada pelo Presidente da República foi tomada de forma totalmente constitucional.

Menezes (2018) sustenta a Constitucionalidade Formal da Lei que ampliou a competência da Justiça Militar da União, do DF e dos Estado, aduzindo em seus posicionamentos, uma série de fatores que fundam seu ponto de vista, dentre eles, a r eal motivação dos Parlamentares quando da edição do Projeto de Lei n° 5.768/16, qual seja a de garantir aos militares das Força Armadas o amparo legal quanto ao órgão jurisdicional incumbido de julgá-los em caso de crimes dolosos contra a vida de civis, e tal prerrogativa se sustenta em dois pilares, o primeiro, vem representado no uso cada vez maior de militares federais em Operações de Garantia da Lei e da Ordem- GLO ou operações como a ocupação do Complexo do Morro do Alemão no Estado do Rio de Janeiro, e o segundo, por um critério de isonomia, uma vez que a Lei nº 12.432/2011, a qual alterou o CPM, trouxe segurança jurídica aos Militares da Aeronáutica quando em missão de destruição de aeronaves hostis.

Deste modo, Menezes sustenta que o Senado Federal ao decidir, somente no ano de 2017, sobre o até então Projeto de Lei n° 44, verificou que:

Emendar o projeto apenas para a exclusão do art. 2º ocasionaria o prolongamento do processo legislativo desnecessariamente, já que a matéria foi discutida desde o ano 2000. A alternativa visualizada era o provável veto presidencial, tendo em vista que o artigo tratava de uma competência jurisdicional temporária e já ultrapassada (previa vigência até 31/12/2016, enquanto a votação finalizou-se em 2017).

Nesse cenário, o projeto de lei foi aprovado no Senado Federal e encaminhado ao Presidente da República para sanção e promulgação.

O Presidente da República verificou a impertinência do art. 2º no contexto do ordenamento jurídico, aplicando, então, um veto no artigo por completo, conforme prevê o art. 66, § 2º, da CF: “o veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.” (MENEZES, 2018).

Verificado os apontamentos do magistrado, conclui-se que a decisão lógica do Presidente seria justamente o veto do dispositivo que balizava a vigência da norma, pois, assim, respeitaria a vontade dos representantes do povo e dos Estados, que encaminharam à sanção presidencial um projeto de lei que possuía um período de vigência ultrapassado.

Em consonância com esses argumentos, Galvão (2017), em publicação no sítio do Observatório da Justiça Militar do estado de Minas Gerais, sustenta a constitucionalidade forma e material da nova lei, complementando o raciocínio de Menezes, pois os Senadores não se encontravam em estado de ingenuidade quando da votação do Projeto de Lei n° 44/16, sabiam perfeitamente que o dispositivo que limitava a sua vigência já não poderia mais produzir efeitos. Diante disso, os Senadores sabiam de duas coisas, a primeira, é que emendar o projeto de lei, levaria a novas discussões na Câmara dos Deputados, e, a segunda, era a urgência em aprovar as disposições do projeto em razão da situação deplorável em que se encontrava, e se encontra, a segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, decidindo, assim, aprovar o projeto e encaminhar para a sanção, o que obrigou o Presidente a vetar o art. 2° do Projeto de Lei nº 44/16, que possuiu, como subsídio, além do critério temporal a evidente violação ao disposto no art. 5º, inciso XXXVII, da CRFB/88.

Galvão (2017), em fomento aos comentários sobre a própria contradição do Presidente Michel Temer, explica que:

Com razão, o professor Michel Temer sustentou em seu livro “Elementos de Direito Constitucional” que é inconstitucional vetar artigo de lei, por completo, de forma que o projeto de lei venha a se desconfigurar. Contudo, também tem razão o presidente Michel Temer quando entendeu que a orientação não se aplica ao caso específico que lhe foi submetido e vetou o artigo do projeto que fazia restrição temporal para a vigência da lei utilizando-se de referência já ultrapassada. Não vetar o dispositivo significaria sancionar uma lei completamente incapaz de produzir efeitos. Manter o dispositivo implicaria em uma contradição lógica insuperável: concretizar a manifestação legislativa e, ao mesmo tempo, sancionar uma lei que não pode produzir qualquer efeito jurídico.

Resta salientar que Temer, diante das gritantes demandas sociais por segurança, bem como da inconstitucionalidade do tribunal de exceção e da manifestação de Parlamentares,

que de fato queriam a sanção do projeto de lei, não teve escolha a não ser vetar o artigo 2°, atribuindo assim, o caráter permanente.

Sobre os argumentos relativos à violação do disposto no artigo 2° da Carta Maior, que traz a divisão, independência e harmonia dos poderes, importa dizer, no que concerne à postura do Presidente:

[...] acompanha-se o pensamento de separação de poderes não de forma rígida e intransponível, e sim de uma forma mais harmônica, na qual o mecanismo de freios e de contrapesos não serve apenas para restringir, mas para dar sentido à função do Estado como um todo. Não pode apenas se limitar a um controle entre os poderes sem a finalidade primordial: viabilizar a vida em sociedade. (MENEZES, 2018).

Logo, entende-se, na perspectiva de Menezes, que a divisão dos poderes não deve ser vista como uma forma rígida, mas harmônica, onde os freios e contrapesos sirvam como eixo norteador da finalidade estatal, que justamente é a manutenção da vida em sociedade, conforme leciona Moraes (2017, p. 314):

[...] o Direito Constitucional contemporâneo, apesar de permanecer na tradicional linha da ideia de Tripartição de Poderes, já entende que esta fórmula, se interpretada com rigidez, tornou-se inadequada para um Estado que assumiu a missão de fornecer a todo o seu povo o bem-estar, devendo, pois, separar as funções estatais, dentro de um mecanismo de controles recíprocos, denominado “freios e contrapesos” (checks and balances).

Com base nas premissas levantadas, o Presidente da República, utilizando dos mecanismos adotados pelo sistema jurídico pátrio, somente equalizou as vontades dos Parlamentares à necessidade Estatal, vista aqui como a profunda crise de segurança pública que se instaurou nas últimas décadas no Estado do Rio de Janeiro. Não havendo qualquer forma de inconstitucionalidade nisso, haja vista que o veto presidencial, nesse caso específico, caracteriza o mecanismo do checks and balances.

Marreiros (2017) entende, também, que o veto foi adequado, pois contempla a garantia jurídica e veda a criação de um tribunal de exceção, não representando qualquer inconstitucionalidade e que, embora esquisito, não macula o processo legislativo, reforçando ainda seu entendimento, em outra publicação, da seguinte forma:

Também houve, nessa linha, questionamentos de que o projeto teria perdido o objeto, mas como o processo legislativo é dinâmico para se adaptar às rápidas mudanças que ocorrem e nada há nos procedimentos que impeça o ocorrido, não vislumbramos razões para invalidar a Lei sob tais argumentos, também. (MARREIROS, 2017). Roth (2018), entusiasta da Lei n° 13.491/17, ressalta que além de estar em perfeita harmonia com a Constituição Federal de 1988, também representou um grande avanço para o Direito Penal Militar como um todo, corrigindo parcialmente longos anos de estagnação legislativa:

Enfim, a Lei 13.491/17, em perfeita harmonia com a CF, deve ser recebida com aplausos pela comunidade jurídica militar, que vê, agora, parcialmente corrigido o

“cochilo do legislador” em relação à legislação penal militar, a qual, por ausência de modernização durante décadas, se distanciou da legislação penal comum.

Realmente, o Direito Penal Militar não acompanhou a evolução legislativa sofrida no Direito Penal Comum, o que gerava diversas incongruências, que, até certo ponto, demostravam-se de difícil elucidação, mas que, com a vigência da nova lei, passou a ser resolvido de forma mais clara.

Assis (2018), em sua apontamentos às alterações no diploma repressivo castrense, afirma que a Lei n° 13.491/17 está em sintonia com a Constituição Federal de 1988, e critica o posicionamento da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (ADEPOL), por existir uma insistência processual em questionar a constitucionalidade de leis que são estranhas às suas atividades de Polícia Judiciária. A ADEPOL coleciona algumas ações, dentre elas: ADI n° 1.494, que questionava a alteração do artigo 82 do CPPM, ADI n° 4164, que questionava a alteração do § 2° do artigo 82 do CPPM, e mais recentemente, a ADI n° 5.804, que questiona a ampliação do conceito de crime militar, e, consequentemente, a competência da Justiça Militar e da Polícia Judiciária Militar.