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4 A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DO VETO PRESIDENCIAL AO ARTIGO 2°

4.2 VETO PRESIDENCIAL

Entra-se, agora, na seara do instituto que alterou o tempo de vigência da Lei n° 13.491/17, tornando-a uma norma permanente ao invés de temporária, como foi encaminhada ao Presidente da República em sede de Projeto de Lei nº 44/16.

O veto ocorreu quando o Presidente da República discordou do projeto de lei, sendo esse irretratável, deve ser exercido de forma expressa e fundamentado na inconstitucionalidade (veto jurídico) do projeto ou por contrariar os interesses públicos (veto político), dispondo o presidente de quinze dias úteis para fazê-lo, encaminhando as razões em quarenta e oito horas ao Presidente do Senado. (BRANCO, MENDES 2018, p. 1479).

Tal instituto encontra-se disposto na Constituição Cidadã, inserido no contexto do título IV, Da organização dos Poderes, in verbis:

Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.

§ 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.

§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.

§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.

§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores.

§ 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República.

§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final.

§ 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo. (BRASIL, 1988).

Padilha (2018, p. 704) explica que o veto pode ser total ou parcial, aquele quando incidir sobre todo projeto de lei, e este quando recair somente sobre parcela do projeto de lei, neste último caso, o veto deverá abarcar o texto integral do artigo, inciso ou alínea, nos termos do art. 66, § 2°, logo, não se aplica no direito constitucional pátrio, o princípio da parcelaridade, pois a CRFB/88 proíbe expressamente o veto de palavras ou grupos de palavras.

Bulos (2014, p.1190) complementa a ideia de Padilha, explicando que a figura do veto introduz o Presidente da República no processo legislativo:

Permitir que o veto parcial incida sobre qualquer parte do projeto de lei é o mesmo que atribuir ao Presidente da República a função legislativa. Na realidade, o veto parcial serve para expurgar acréscimos impróprios, desconexos com as linhas-mestras do projeto de lei. Seu objetivo é limpar pontos localizados, evitando que se tenha de vetar o projeto por inteiro só porque ele apresenta pontos infecciosos - os riders ou causas legais dos norte-americanos.

Agra (2018, p. 516) destaca o caráter relativo ou superável do veto do Presidente da República, pois este, ao vetar total ou parcialmente o projeto de lei, não elimina a possibilidade de o mesmo ser superado pelo Legislativo, haja vista que a Magna Carta de 1988 prevê que o veto será apreciado em sessão conjunta dentro de no máximo trinta dias, onde poderá ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta de ambas as casas, em votação aberta. Alerta ainda que o chefe do Executivo não poderá utilizar o veto para modificar o trabalho dos parlamentares, suprimindo ou modificando partes da proposta apresentada.

De outro modo, enfatiza Lenza (2017, p. 533-534) a relevância do veto presidencial, como característica do mecanismo de controle recíproco, conhecidos como “freios e contrapesos” (checks and balances) dentro do sistema de repartição adotado pelo Poder Constituinte Originário de 1988. O chefe do Executivo ao vetar, total ou parcialmente, um projeto de lei aprovado pelo Parlamento (art. 66, § 1°), está, sem dúvida, regulando o exercício do Poder Legiferante, e este, por sua vez, também valendo-se do mesmo instituto, poderá “derrubar” o veto lançado pelo Chefe do Poder Executivo.

A regra em nosso ordenamento jurídico é a divisão dos poderes nos termos do art. 2° da CRFB/88: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o

Executivo e o Judiciário.” (BRASIL, 1988) Cada qual com suas atribuições, contudo, em determinados momentos, cada poder passa a exercer determinada atribuição que não seria tipicamente a sua.

Diante desse apontamento, Pires (2016, p. 191) corrobora com seus ensinamentos: Os Poderes têm funções típicas (Legislativo: legislar; Judiciário: julgar; Executivo: executar as leis e administrar) e atípicas (Legislativo – julgar o Presidente da República em crimes de responsabilidade; Judiciário – conceder aposentadoria a um de seus servidores; Executivo – elaborar um ato normativo como, por exemplo, um regimento interno). Os Poderes seguem o princípio da correção funcional, pelo qual um não interfere na atuação típica de outro, mas o Presidente deve, por exemplo, acatar decisões do Supremo Tribunal Federal. É o que a doutrina costuma chamar de sistema de freios e contrapesos (doutrina do checks and balances,). (grifou-se). No ensejo dessa narrativa, adentra-se no estudo específico do veto presidencial ao art. 2° da Lei n° 13.491/17, objeto específico desse trabalho monográfico.

4.2.1 O veto presidencial ao artigo 2° da lei n° 13.491/17

Conforme já foi explanado superficialmente, o Projeto de Lei n° 44 que por último tramitou no Senado da República, previa, em seu artigo 2°, um período específico de vigência, com término em 31 de dezembro de 2016, que, superado, haveria a repristinação ao texto anterior, voltaria ao status quo ante, abarcando assim os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos realizados na cidade do Rio de Janeiro do ano de 2016.

No entanto, devido à morosidade com a qual o projeto foi discutido e tratado no parlamento, somente foi encaminhada para a sanção presidência no segundo semestre do ano de 2017, logo, sendo visivelmente obvio que o período de vigência da lei já teria se esvaído e, por conseguinte, não poderia mais produzir efeitos, ponto este nodal para a compreensão dos motivos versados pelo Presidente Temer em sede de razoes de veto.