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Como observado, neste capítulo procura-se formar um arcabouço teórico referente as questões abordadas neste estudo, a partir da leitura e análise da literatura selecionada. Para tal, procurou-se, primeiramente, apresentar os vários aspectos teóricos sobre segurança do trabalho tradicional (histórico, prevencionismo, riscos, acidentes, legislação, entre outros), o Gerenciamento de Processos e a tecnologia. Algumas interrelações entre os assuntos apresentados, já foram realizados na medida do desenvolvimento das seções deste capítulo. Outras serão agora analisadas.

Apesar dos esforços dos profissionais da área de Segurança do Trabalho para a redução do número de acidentes no ambiente laborai, observa-se que os mesmos não surtem os efeitos esperados. É notório, porém, que a segurança vem sendo, a cada dia, tratada com mais seriedade pelas organizações, principalmente a partir do advento dos programas de qualidade, e o tipo de gestão por eles preconizados. A partir disso, a segurança do trabalho também tem sido vista como algo inerente a qualquer processo, e porque não dizer, fator de produção, uma vez que acidentes, incidentes e doenças ocupacionais, influem de forma negativa em todo o processo produtivo. Isto ocorre, tendo em vista os mesmos serem responsáveis por perda de tempo, perda de materiais, diminuição da eficiência do trabalhador, aumento do absenteísmo, prejuízos financeiros, enfim, fatores que resultam em sofi-imento para o homem, mas que, também, afetam a produtividade e a qualidade dos produtos ou serviços prestados. Portanto,

fazer segurança do trabalho desvinculada das demais ações que constituem o sistema produtivo, não mais é aceito nos dias atuais.

A segurança do trabalho precisa ser vista como um conjunto de técnicas, regras e recursos que sejam aplicadas em conjunto com as demais áreas de atuação da empresa, de modo a prevenir acidentes e doenças ocupacionais, além das perdas materiais já comentadas, de forma a satisfazer por completo a empresa e seus trabalhadores.

Assim, com os novos ares de modernidade e, a partir das exigências da própria sociedade brasileira, a Segurança do Trabalho vem, cada vez mais, procurando integrar-se aos novos conceitos de eficiência e eficácia, traduzida como qualidade.

A qualidade, tem como destino final o cliente. É para ele, e por ele, que ações de melhorias são tomadas. As empresas são dependentes de seus clientes para a própria sobrevivência. Portanto, todas as ações de qualidade, mesmo que indiretamente, são voltadas exclusivamente para os clientes. Por muito tempo, as empresas preocuparam-se somente com os clientes externos, ou seja, seus consumidores. Contudo, as necessidades internas da organização precisam ser respeitadas. Somente satisfazendo suas próprias necessidades é que, teoricamente, as organizações estarão aptas a satisfazer seus clientes externos. Daí a importância da satisfação total, também, de seus clientes internos.

Segundo Pacheco Jr. (1995), para que se possa aplicar e adequar os conceitos de qualidade á segurança do trabalho, “os profissionais da área devem, num primeiro momento,

ter em mente que a segurança e higiene do trabalho precisa ser, como a qualidade, avaliada e pensada de maneira global, em form a de sistema e em todos os níveis das empresas, e que

clientes primários são, necessariamente, as próprias empresas e seus trabalhadores....

Não se pode, então, falar em qualidade na segurança do trabalho, sem levar-se em consideração o homem. Este, reconhecidamente, o cliente primário da área de segurança do trabalho. Harrington et all (1997), opina que a segurança do trabalho deve ser vista como um fator ainda mais importante do que a qualidade e a produtividade, uma vez que as organizações devem proteger seu recurso mais valioso, no caso os trabalhadores, oferecendo, antes de tudo, um ambiente de trabalho seguro.

A segurança do trabalho como fator importante para o ser humano e, também para a produção, não poderá ignorar as questões relacionadas com os riscos aos quais os trabalhadores estão expostos, nem a percepção que os mesmos tem sobre eles. Tão importante, porém, quanto a percepção que os trabalhadores tem dos riscos laborais envolvidos no seu processo de trabalho, é a percepção do potencial de melhoria que poderá ser implantada e voltada para o controle destes riscos.

De acordo com Harrington (1993), “o que dá vida ao processo são as pessoas”. Não se pode ignorar aqueles que fazem os processos funcionar. Desta forma, é importante saber o que os trabalhadores pensam dos processos de trabalho. O que eles mais gostam? O que eles menos gostam? Qual sua opinião sobre o mesmo? Quais suas sugestões para a melhoria? Enfim, como eles percebem os processos e suas conseqüências sobre o trabalho, sobre a segurança e, sobre eles próprios.

Corroborando com esta visão, Martin (1998), coloca que “o trabalhador de hoje tem a

falar de modos como os processos de trabalho são realizados... A nova empresa desafia e fortalece os trabalhadores para que sejam criativos, usem seus cérebros, tomem iniciativas e façam (proponham) mudanças nos processos de trabalho”.

É fundamentado nestas assertivas, que a segurança do trabalho tem que ser vista, ou seja, como agente preventivo em qualquer processo, e que faça parte de todo e qualquer programa de melhoria continua.

Neste sentido, e considerando que as organizações operam por intermédio de vários, e até complexos, processos, há a necessidade de entender-se como os mesmos são realizados. Somente entendendo os processos é que pode-se aperfeiçoá-los. Para tal, a metodologia de Gerenciamento de Processos-GP é uma ferramenta utilizada para conhecer, identificar e agir sobre os processos, com o objetivo da melhoria contínua. Dessa forma, entende-se que a segurança do trabalho está intimamente relacionada á todos e quaisquer processos da organização, tendo em vista ser a partir dos mesmos que os riscos de acidentes, incidentes e/ou doenças ocupacionais, podem ser gerados.

Assim sendo, crê-se que exista uma necessidade crescente, por parte das organizações, de métodos e ferramentas que ajudem as mesmas a desenvolverem uma nova abordagem de

gerenciamento das questões de segurança do trabalho, que permita a proteção de seus recursos humanos e, consequentemente, a normalidade do sistema produtivo.

Importante ressaltar, também, que o processo é função da tecnologia empregada, portanto, conhecer aspectos relevantes à segurança do trabalho referentes aos três níveis da tecnologia empregada (orgware, software e hardware), passam a ser pontos importantes também no reconhecimento dos riscos laborais, potencialmente envolvidos num determinado processo.

Este estudo encaminha-se no sentido de apresentar um modelo a partir de ferramentas já conhecidas e reconhecidas pela área da qualidade e da produtividade, às ações preventivas e até preditivas, de segurança do trabalho. Acredita-se que, com a adaptação de conceitos de Segurança do Trabalho às ferramentas já estabelecidas e aprovadas em outras áreas de conhecimento da Engenharia, possa-ser apresentar caminhos de fácil percepção de linguagem e simbolismo aos profissionais envolvidos, aumentando a participação do setor de Segurança do Trabalho nas tomadas de decisões, e também a padronização de ações que culminem numa visão sistêmica do processo de produção.

Este trabalho, porém, não tem entre seus objetivos, fazer qualquer juízo de valor a outras técnicas ou ferramentas de ação da área de segurança do trabalho, muitas reconhecidamente importantes e eficientes. Objetiva, na verdade, apresentar um proposta de modelo que esteja associada a outros aspectos, além daqueles definidos na segurança tradicional, que sejam relevantes na construção de proposições de medidas preventivas e/ou corretivas. Crê-se, assim, que esta proposta venha ao encontro da busca da melhoria contínua, tão importante no mundo organizacional nos dias de hoje.

Definitivamente, a segurança do trabalho deve ser encarada sob a ótica estratégica, como um objetivo da organização na busca do melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, satisfazendo, por completo, os clientes internos e externos.

Para finalizar, crê-se que a busca da melhoria é função do comprometimento de todos, devendo ser sistemática e com foco nos clientes, tanto interno quanto externo. Quando a qualidade para o cliente (interno ou externo) for o resultado final, os outros aspectos como lucro, segurança, satisfação, moral aha, entre outros, se seguirão (Sashkin, 1998).