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2.4.3 Gerenciamento de Riscos

2.4.4. Técnicas de Análise de Riscos

Anteriormente, as técnicas de análise de riscos eram utilizadas somente nas áreas militares e aeroespacial, suas precursoras. A partir dos anos 70 muitas aplicações foram desenvolvidas para as organizações, que estavam em pleno estágio de consolidação do processo de gerenciamento de riscos. Souza (1995), define que a análise de riscos tem por objetivo responder a uma ou mais de uma das seguintes questões, relativas á uma determinada instalação industrial: 1) Quais os riscos presentes na planta, e o que pode acontecer de errado?; 2) Qual a probabilidade de ocorrência de acidentes devido aos riscos presentes?; 3) Quais os efeitos e as consequências destes acidentes?; 4) como poderiam ser eliminados ou reduzidos estes riscos?. Portanto, a adoção de uma metodologia estruturada e sistemática de identificação e avaliação de riscos, são necessárias. As principais técnicas de análise de riscos estão demonstradas no quadro abaixo:

Quadro 2.3- Natureza dos resultados de algumas técnicas de Análise de Riscos

TÉCNICA ANALISE E RESULTADOS

SR- Série de Riscos Qualitativa

APP- Análise Preliminar de Perigos Qualitativa

WlC-What-If/Checklist Qualitativa

TIC- Técnica de Incidentes Críticos Qualitativa

HAZOp- Estudo de Operabilidade e Riscos Qualitativa AMFE- Análise de Modos de Falhas e Efeitos Qualitativa e Quantitativa AAF- Análise de Arvore de Falhas Qualitativa e Quantitativa AAE- Análise de Arvore de Eventos Qualitativa e Quantitativa Fonte: Souza (1995), modificada

Capítulo 2 34

Far-se-á aqui, uma distinção entre as técnicas de identificação de perigos e das técnicas de análise e avaliação de riscos. Observa-se que por uma questão da diferença do português para o inglês, a palavra risk, como visto no item 2.4.1, tem mais de um significado, de forma que em nossa língua poderá significar perigo (potencialidade), ou risco (probabilidade).

As principais técnicas de identificação de perigos, são:

- Técnica de Incidentes Críticos (Incident Recàll) - Técnica O Que Ocorreria Se... (What-IJ)

As principais técnicas de análise de riscos são:

- Técnica Análise Preliminar de Perigos (Preliminary Hazard Analysis)

- Técnica Análise de Modos de Falha e Efeitos (Failure Modes and Effects Analysis) - Técnica Análise de Operabilidade de Perigos (Hazard and Operability Studies)

As principais técnicas de avaliação de riscos, são:

- Técnica Análise de Árvore de Eventos (Event Tree Analysis) - Técnica de Análise de Árvore de Falhas (Fault Tree Analysis)

No anexo 2 são apresentados maiores detalhes teóricos sobre as técnicas acima.

As técnicas descritas até agora, neste documento, são as principais em uso no mundo, porém não são as únicas. Outras técnicas, menos utiHzadas, também são muito importantes, entre elas podemos citar: Série de Riscos, Análise por Simulação Numérica Aleatória, Management Oversight and Risk Tree, índice de Risco Dow e Mond e Revisão de Segurança, além, de diversos instrumentos de apoio para a apHcação das técnicas (banco de dados, softwares, etc.).

2.4.4.1- Considerações Sobre as Técnicas de Análise de Risco

Apesar da grande utilidade e avanços gerados por estas técnicas, nota-se que as mesmas não estão sendo aplicadas de forma corriqueira em nossas organizações. Arrisca-se a dizer que alguns fatores que contribuem para isso, estão ligados a forma como nossos profissionais tiveram contato com as mesmas, e identifica-se alguns pontos: 1) Algumas

técnicas não são explicitas quanto a sua aplicabilidade, até mesmo porque muitas foram criadas para um tipo especial de aplicação (principalmente militar, aeroespacial e indústrias químicas); 2) Falta de modelos teórico-práticos; 3) A não adaptabilidade de algumas técnicas à realidade brasileira; 4) A invariável necessidade de se contar com verdadeiros especialistas na técnica escolhida- nem sempre encontrados no mercado; 5) A nomenclatura e o simbolismo empregados na descrição das técnicas e, até mesmo o fato das mesmas fazerem parte de procedimentos não reconhecidos em relação àqueles da qualidade e produtividade; 6) A dificuldade da escolha da(s) melhor(es) técnica, para o evento específico; e, 7) O uso das técnicas dissociadas de programas e métodos de melhoria contínua mais amplos; entre outros. Desta forma, entende-se que estas técnicas, já conhecidas, não encontraram “eco” tanto entre os profissionais da área de segurança do trabalho, quanto pelos responsáveis pela administração e controle de processos.

De acordo com Färber (1995), as técnicas de análise de riscos são os instrumento mais modernos a disposição no mercado de segurança do trabalho, referente ao assunto. O autor, porém, observa vários equívocos técnicos e administrativos na aplicação destas técnicas, que corroboram com o subaproveitamento das mesmas, ou até mesmo o não aproveitamento. O primeiro equívoco, seria aquele relacionado ao modismo com que as técnicas de análise de riscos são tratadas em algumas organizações, de forma que não há o entendimento real de seus objetivos, e nem o comprometimento quanto a seus resultados. O segundo equívoco, seria o fato das equipes responsáveis pelas análises não serem devidamente preparadas para pensar a segurança de forma correta e positiva. O terceiro, relacionado com a falha do líder de equipe, que ou não é aceito pelos demais membros, ou desconhece o processo produtivo, ou acumulam outras várias funções administrativas, etc. O quarto equívoco, está relacionado com a não participação dos trabalhadores no processo de análise, de forma que exclui-se, normalmente, aquele que mais sabe sobre o processo operacional, e que a partir de seus desejos e anseios, poderia ser pensado a melhoria das condições de segurança. O quinto equívoco é a falta de procedimentos para análise de novos riscos, que podem surgir a cada dia, e que devem ser levados em consideração de forma contínua. O sexto, está relacionado com a informalidade com que as análises de risco são tratadas, raramente ocorrendo o comprometimento de todos os setores da empresa. O sétimo equívoco, seria a falta de

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gerenciamento das recomendações das análises de risco, as vezes responsabilizadas pelos custos de implantação destas medidas, de forma que ao fmal são esquecidas. O oitavo equívoco está relacionado a não adaptação das técnicas à realidade de cada empresa, diminuindo sua eficiência. Como explicitado, as técnicas de análise de riscos tradicionais, sofrem interferências indesejáveis, que as tomam um instmmento limitado frente as necessidades crescentes de segurança total.

Oliveira (1999), coloca que ‘‘as experiências tem demonstrado que, pelos caminhos

eminentemente técnicos, as questões de segurança do trabalho não vem encontrando as soluções mais adequada^\ As principais razões para o insucesso das incursões da segurança

no sentido da eliminação de riscos, seriam: a) as políticas de segurança do trabalho não passam de cartas de intenções, onde não estão definidas com clareza, os objetivos, as atribuições, as responsabilidades e as diretrizes gerais para segurança do trabalho; b) A orientação da segurança do trabalho é centrada no controle de riscos, e não na intervenção nos processos e/ou métodos de trabalho e/ou de produção. Isto acaba de uma forma, ou de outra colocando em choque os interesses da segurança do trabalho, com as necessidades dos processos produtivos. Outro fato, é que as ações de negócio ficam a cargo do gerente operacional, que por sua vez está dissociada da gerência de segurança do trabalho, levando- nos a repensar o modelo de gestão de segurança do trabalho implantado; c) Apesar dos trabalhadores serem colocados no centro das atenções nos atuais modelos de segurança do trabalho, não há definição clara da sua participação, não sendo possível ao mesmo poder intervir nas condições de trabalho; e, d) A imagem que o empregador tem da segurança do trabalho, está relacionada a um serviço desvinculado das ações de negócio das empresas,

considerado secundário e legalista, que não agrega valor ao seu negócio.

Desta forma, a segurança do trabalho deverá estar alinhada às demais políticas de gestão da produção, como um complemento as suas ações. Portanto, a criação de modelos e métodos de prevenção de riscos aos trabalhadores, e ao próprio processo produtivo, baseados em linguagem e simbologia reconhecidos pela área de produção, é um passo fundamental para que os objetivos gerais da segurança do trabalho sejam alcançados.

O próprio Färber em 1992, definia que “ a empresa nacional precisa criar a sua própria estrutura de análise de riscos, treinando seus funcionários e habilitando-os na utilização das técnicas de análise (... ) faz-se necessário a adoção de uma metodologia estruturada no combate aos riscos, partindo-se do pressuposto que há o apoio e conscientização da diretoria para o fato de que a análise de riscos não é um fim em si mesma, e sim, a primeira etapa antes da adoção de medidas preventivas ou corretivas”.

Portanto, são vários os motivos para a ineficácia dos métodos de análise de riscos e/ou a sua não utilização nas empresas brasileiras. Assim, crê-se que, tratar a segurança do trabalho como algo natural, inerente a qualquer processo, e partícipe de uma estrutura comum a vários setores da organização, é fimdamental para o seu desenvolvimento, e até, para sua sobrevivência. De acordo com Porto e Freitas (1997), trabalhar integralmente as questões relacionadas a saúde do trabalhador, é passo fundamental para a criação e desenvolvimento de novas abordagens teórico-metodológicas, que possibilitem o avanço nos processos de análise e intervenção de eventos de risco.