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No Brasil durante a década de 80, segundo o Ministério da Previdência e Assistência Social, teve-se 10.374.247 acidentes do trabalho, dos quais 254.550 resultaram em invalidez e 47.251 em óbitos. Só no ano de 1991, foram 640.790 acidentes para um total de 22.792.858 segurados. Neste mesmo ano a letalidade foi cerca de 7 óbitos por 1.000 acidentes. Em Santa Catarina, no ano 1998, ocorreram 22.095 acidentes do trabalho, com respectiva emissão de CAT- Comunicação de Acidente de Trabalho. Destes, 51 foram fatais, sendo que 68% foram acidentes típicos e 32% de trajeto. Estes dados, por sí só, revelam a importância social e econômica relacionada aos acidentes do trabalho, justificando, plenamente, a preocupação dos profissionais da área de segurança do trabalho, e os constantes estudos necessários ao assunto.

Assim como a segurança do trabalho, os acidentes também precisam ser interpretados como algo inserido no sistema de trabalho, em que todos as possíveis fatores intervenientes, sejam avaliados.

De acordo com De Cicco e Fantazzini (1994), “w/w sistema é um arranjo ordenado de

componentes que estão interrelacionados e que atuam e interatuam com outros sistemas, para cumprir uma tarefa ou função, num determinado ambiente”. A tarefa de trabalho, entrada,

pessoas, meios de produção, processo (decurso de trabalho), fatores ambientais e saídas, são fatores básicos do sistema de trabalho. Estes fatores tem caráter técnicos, e/ou organizacional e/ou individuais, ou seja, relacionados com pessoas.

Sell (1995), define que num sistema de trabalho, em seu estado ideal, os fatores técnicos, organizacionais e humanos estão em harmonia. Por ocasião de um acidente ou quase acidente, essa harmonia é perturbada. Estritamente falando, não existiria causas técnicas e/ou organizacionais para um acidente, em última análise, os mesmos dependeriam da conduta de pessoas. Essas pessoas poderiam ser os projetistas, os construtores, os organizadores do trabalho, os mantenedores, e/ou os próprios trabalhadores.

A lógica dominante no Brasil em relação aos acidentes do trabalho, apontam para caracteristicas pessoais de atos e/ou condições inseguras, como desencadeadores deste “infortúnio”, definindo estritamente, a culpabilidade á vítima do acidente. A própria

previdência social acaba pautando-se mais na tentativa de negar o direito do acidentado, do que em punir as organizações que expõem seus trabalhadores à riscos, muitas vezes inaceitáveis.

De acordo com Ubirajara (1985), vários estudos calcados na ideologia de atos inseguros foram desenvolvidos, cuja preocupação principal era a de evitar problemas na produção. Porém, estes estudos sempre foram realizados levando em conta os aspectos ambientais e das ações dos trabalhadores, no momento em que o acidente tinha ocorrido, não levando em conta outros aspectos intervenientes, que poderiam estar por trás destes fato. A visão sistêmica do acidente do trabalho passa a ser fundamental para a compreensão total da questão. No congresso sobre epidemiologia de doenças não infectocontagiosas realizado na Alemanha, já em 1979, o Professor R.H. Elling fez as seguintes observações:

“..O que se verifica é que os acidentes e doenças ocupacionais não decorrem apenas das condições técnicas de segurança do trabalho, mas também do cansaço inerente às tarefas industriais, agravado ainda pelas jornadas de trabalho prolongadas e pelas contingências da vida do trabalhador fora da fábrica, como tempo de deslocamento, a subnutrição e o próprio nível de saúde"' (Elling apud Ubirajara, 1985).

Introduzindo os aspectos sócio-politicos aos acidentes e doenças ocupacionais.

A conceituação de acidentes de trabalho, passa por várias facetas relacionadas com a formação e o objetivo do estudioso no assunto.

Sell (1995), define acidente como:

“uma colisão repentina e involuntária entre pessoa e objeto, que ocasiona danos corporais, e/ou danos materiais. Um acidente é uma ocorrência, uma perturbação no sistema de trabalho, que impede o alcance do objetivo do trabalho ”.

Vidal (1991) conceitua acidente do trabalho, a partir da contribuição de Faverge,

“como um fenômeno de encontro entre uma situação de trabalho que contém em si um acidente potencial e um evento disparador que forneceria as condições concretas de passagem de potencial ao real”.

Cuny, et al (1993) apud Bacelar (1999), ressaltam o acidente do trabalho como.

“ um sinal de uma disfunção do sistema de trabalho, que revela problemas de

adaptação do sistema às suas finalidades

Fialho (1996), utilizando a arquitetura de J. F. Richard, define acidente como:

“É um tipo de solução inadequada a um problema tendo como conseqüência algum

tipo de saida, que causa outro problema. O ciclo do problema se fecha podendo haver perdas e danos de vários níveis de gravidade. Mas, novamente, se colocarmos a variável tempo, ele deixa de ser visto como fatalidade e passa a pertencer ao rol do aprendizado, de como ‘não é para fa ze r’”.

Todo acidente é, normalmente, uma ocorrência violenta e repentina, com conseqüências normalmente imprevisíveis e, às vezes, até catastróficas, em que todos, trabalhadores, empregadores e a própria nação, saem perdendo. O acidente do trabalho, poderá gerar problemas sociais de toda monta, como; sofrimento físico e mental do trabalhador e sua família, perdas materiais intensas, redução da população economicamente ativa, entre outros custos patrocinados pela insegurança laborai.

No Brasil, o conceito legal acidente do trabalho está definido na Lei 8213/91, da seguinte forma, “é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa,

provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doenças, que cause a morte ou perda, ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”.

Um conceito técnico/prevencionista bastante aceito entre os profissionais da área de higiene ocupacional, define acidente do trabalho “c0»70 uma ocorrência não programada,

inesperada ou não, que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo útil e/ou lesões nos trabalhadores e/ou danos materiai^\

Observa-se que o fator perda de tempo foi incluído, de forma que a definição fica mais completa, e principalmente passa a dar margem ao pensamento dos quase-acidentes. Por quase-acidente, também chamado de incidente crítico, entende-se qualquer evento ou ocorrência que, embora com potencialidade de provocar danos corporais e/ou materiais graves, não manifesta estes danos. Ou seja, um quase-acidente é uma ocorrência inesperada que apenas por pouco, deixou de ser um acidente.

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