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Marshall (1985) é considerado como um precursor de abordagens contemporâneas sobre a capacitação organizacional pelo fato de entender que o objetivo da teoria não se limitava a identificar na firma uma forma apenas de acumular capital, mas a análise das suas relações internas e do acúmulo de conhecimento e capacidade adquirido através das inovações (tecnológica, inovativa, institucional, organizacional, pessoal) em um ambiente competitivo o que garante a sobrevivência da firma no mercado (KERSTENITZ, 2007).

Marshall era a favor do sistema capitalista e procurou entender o funcionamento do mercado em sua variedade e complexidade, e, através do conhecimento e das organizações empresariais, respaldar sua explicação para a competição devido a mobilidade de fatores e racionalidade econômica. Além disso, era preocupado com as relações humanas e sociais que se estabelecem no mercado e analisa a história da ciência como um processo histórico.

Marshall (1985) destacou o conceito de economia externa para explicar a questão dos distritos industriais enfatizando que uma das possibilidades de diminuição de custos é o aumento da produção agregada (de várias empresas) em uma dada localidade. Ele foi o precursor desta análise explicada pela questão das aglomerações em uma determinada região, de forma que a mão-de-obra que, juntamente com os serviços especializados, é compartilhada por produtores locais que, adicionalmente, podem se especializar e atender a demanda por vários tipos de produto do mesmo gênero.

A aglomeração produtiva é considerada uma vantagem competitiva importante, porém insuficiente para a garantia de inserção das empresas no mercado internacional e de promoção às exportações. Não basta a existência da aglomeração para que as empresas adquiram vantagens competitivas, é necessário a interação delas com os agentes locais em um mesmo ambiente geográfico se beneficiando de vantagens como:

i) capital intangível decorrente de conhecimentos adquiridos através de costume, habilidades, estilos (tradição artesanal), o qual favorece a aquisição e difusão de informações;

ii) mobilidade dos trabalhadores em relação a posição do cargo e entre as camadas sociais;

iii) confiança mútua adquirida através do tipo de governança social, a qual repercute na divisão social do lucro, gerando a minimização do risco e custo.

Nesta perspectiva surgiu o conceito de aglomerações produtivas sob uma abordagem de Arranjos Produtivos Locais (APL’s) que segundo Cassiolato e Szapiro (2002) são aglomerações de agentes econômicos, políticos, sociais e institucionais interagindo em torno de uma atividade produtiva localizada em um determinado ambiente geográfico, estabelecendo uma relação, mesmo que incipiente de cooperação e interação entre os agentes econômicos locais. As três aglomerações que compõe o segmento calçadista na Paraíba enquadram-se nesta definição.

Segundo Cassiolato e Szapiro (2002), um APL pode ser caracterizado sob os seguintes aspectos:

a) sua localização, que é o território onde as unidades produtivas estão situadas de forma concentrada, beneficiando a proximidade e a interação dos atores que compõe o segmento (no caso, o calçadista), no mesmo ambiente geográfico.

b) atores locais, especificado pela presença das empresas, consumidores, fornecedores, distribuidores, concorrentes, associações e instituições de serviços tecnológicos, ensino e pesquisa, além das agências que promovem o fomento e o financiamento da atividade produtiva no ambiente local, propondo estratégias para que a produção local possa alcançar o mercado externo de maneira eficiente e competitiva adquirindo sinergia, decorrente da intensa divisão de trabalho entre as firmas, especialização da mão-de-obra e flexibilidade de produção e organização.

Os arranjos produtivos locais têm as vantagens historicamente definidas constituídas de valores, regras, instituições e especialização de uma atividade produtiva, gerando maior eficiência e flexibilidade no caráter produtivo, organizacional, tecnológico e inovativo, consequentemente há uma maior possibilidade de fabricação de um produto de qualidade, produtividade e elevado valor agregado.

A aglomeração espacial de empresas desenvolvendo a mesma atividade econômica ou atividades correlatas possibilita ganhos de externalidades positivas decorrente do nível de especialização que seriam difíceis ou custosas de serem alcançadas se tivessem caráter individual.

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No aglomerado de empresas não se faz necessário o estabelecimento de relações com todos os agentes, pois existem empresas consideradas independentes por executarem todas as etapas do processo produtivo de um determinado produto; existem aquelas que operam na efetivação do produto final; as que contratam serviços terceirizados e que se especializa na execução do produto final que se destinará a comercialização.

A vantagem da aglomeração é que a forma associativa dos agentes de maneira intensa minimiza a concorrência e beneficia a dinâmica do setor incentivando o desenvolvimento regional. Para as empresas de pequeno porte a aquisição de vantagens competitivas inclui ganhos provenientes da cooperação, interação e especialização, proporcionando inovações no produto e no processo produtivo, difusão da informação e promovendo o desenvolvimento local sustentável por meio de conquista de sinergia que tenha repercussão no ambiente econômico como um todo.

No aglomerado produtivo há a existência de um processo de cooperação e competição. A primeira é necessária para adquirir ganhos de escala, escopo, facilidade no fluxo de recursos, amenização nos riscos advindos do custo de transação, beneficiando assim, a conquista de aprendizagem e inovação, permitindo o desenvolvimento do arranjo. A segunda, entretanto permite o dinamismo da atividade produtiva, fortalecendo a competição através de estratégias empresariais eficientes, consistentes, resultando em diversificados métodos e alternativas de práticas produtivas, tecnológicas, organizacionais e pessoais (COSTA, 2007).

A relação cooperativa não significa que as empresas do aglomerado são desprovidas de concorrência, ao contrário, o modo de competição é de forma horizontal (entre as empresas que produzem o mesmo produto, ou exerce a mesma atividade). Os interesses individuais dos empresários devem estar subordinados ao bem estar do coletivo15 e as estratégias individuais em um ambiente coletivo são muito importantes para manter o posicionamento das empresas no mercado. (COSTA, 2007).

Através da cooperação, as informações fluem e se difundem mais facilmente através de canais de comunicação formal e informal estimulando o aprendizado e a inovação e possibilitando a competição das empresas de pequeno porte na mesma magnitude das empresas de grande porte.

As empresas de micro e pequeno, conhecidas como MPE’s, e as grandes empresas precisam de apoio institucional e físico para se posicionar contra as pressões competitivas.

15 As necessidades prioritárias do arranjo

Foram destacadas duas possibilidades de sobrevivência das empresas de pequeno porte no ambiente no qual elas estão inseridas (PYKE apud COSTA, 2007). Estas possibilidades são:

a) subordinação às grandes empresas através de serviços de terceirização, para suprir suas deficiências tecnológicas, organizacionais e de mercado;

b) possibilidade de aglomeração e interação para beneficiar o surgimento de vínculos com os agentes locais.

A relação social presente na aglomeração produtiva apresenta tanto o caráter de solidariedade e confiança, como o de auto-interesse. A interação dos agentes no empreendimento é influenciada pela totalidade dos participantes inseridos no mesmo (OLSON apud COSTA, 2007).

A probabilidade de formação de associações está relacionada à reunião de pequenos grupos, adquirindo assim, a possibilidade de maior aderência e menor volatilidade. Há possibilidade de que pequenos empreendimentos não sintam interesse em se associar a alguma instituição pela falta de informações sobre os serviços de apoio e promoção de benefícios que as mesmas oferecem.

A importância de aglomerações industriais está na possibilidade de complementar a atividade produtiva para competir, inclusive no mercado externo. Para isso, é necessária e essencial a presença de instituições para promover o desenvolvimento eficiente do sistema.

Ao concluir essa sessão, verifica-se que a forma organizacional de aglomerações produtivas apresenta características endógenas que favorece o desenvolvimento regional e, diante da sua importância na geração de emprego e renda nas localidades de baixo índice de desenvolvimento econômico, se faz necessário o direcionamento de políticas públicas de promoção comercial que estimulem os empreendimentos de pequeno porte a se tornarem dinâmicos e competitivos.