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FORMAÇÃO HISTÓRICA DA INDÚSTRIA DE CALÇADOS PARAIBANA

CAPÍTULO 4 – O SETOR CALÇADISTA PARAIBANO: CARACTERIZAÇÃO E FORMAÇÃO HISTÓRICA

4.2 FORMAÇÃO HISTÓRICA DA INDÚSTRIA DE CALÇADOS PARAIBANA

O surgimento dos curtumes paraibanos teve como marco histórico o ano de 1923, porém, somente após a segunda guerra mundial a atividade produtiva coureira local alcançou seu período de auge21, determinando a dinâmica econômica do Estado com a geração de emprego e renda e com participação significativa na pauta das exportações. Essa tendência crescente manifestou-se no aumento da produção e na conquista de mercados nacional e externo (ARAGÃO, 2006).

No período compreendido entre o pós II Guerra Mundial e o final dos anos de 1950, o município de Campina Grande desenvolveu sua indústria coureira, expandindo seus curtumes e destacando-se na produção nacional. Devido à concorrência acirrada22 entre os curtumes nacionais, havia a necessidade de mecanização da produção para aumentar a produtividade (visando menor custo e maior rentabilidade) e, assim, suprir o aumento na demanda por couro. Mas, problemas de gestão e má qualidade da matéria prima23 resultaram na perda de competitividade local e elevação nos custos, fazendo com que a demanda pelo couro fosse realocada para as regiões Sudeste/Sul. (ALVES, 2005).

Assim, nos anos de 1960, a atividade dos curtumes presentes em Campina Grande/PB, entrou em decadência reduzindo o numero de unidades de forma que até o ano de 2002 este número era de cinco curtumes, quatro em Campina Grande e um em João Pessoa. Atualmente estão atuantes no Estado da Paraíba apenas três curtumes, todos em Campina Grande. Esta indústria, entretanto, deixou como legado no ambiente paraibano uma disponibilidade de

21 O período de ascensão da atividade coureira no Estado da Paraíba perdurou até o fim dos anos 50. 22 Concorrência nacional, advinda de produtores de outros Estados, como o Rio Grande do Sul. 23 Devido aos maus tratos aos animais, alimentação precária.

máquinas e equipamentos e uma mão-de-obra especializada na fabricação de artigos de couro (KEHRLE, 2006a).

Este capital semi-sucateado e os recursos humanos especializados foram absorvidos, pelas instituições locais de apoio ao setor, como o Centro Tecnológico de Couro e Calçados Albano Franco (CTCC) 24 associado ao SENAI desde o ano de 1994. Este, juntamente com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e instituições governamentais oferecendo recursos de capital social, financeiro e fiscal facilitaram a modernização e o ressurgimento da indústria de calçados na Paraíba25, constituídas de empresas de pequeno e médio porte, concentradas em sua maioria no município de Campina Grande proveniente de fatos históricos que favoreceram a constituição da territorialidade, possibilitando a geração de vínculos com os atores locais e regionais (ARAGÃO, 2006).

A atual indústria de calçados do estado da Paraíba é formada por Micro e Pequenas Empresas (MPE’s) e por grandes unidades produtivas (CAVALCANTI FILHO, 2006). Estas empresas estão distribuídas em várias cidades do Estado, porém percebe-se uma concentração em alguns municípios específicos como em Patos, Campina Grande e João Pessoa.

A concentração das empresas nestes municípios justifica-se pela disponibilidade de infra-estrutura física e institucional adequadas ao desenvolvimento das mesmas. Estes dois fatores podem ser resumidos para cada um destas cidades da seguinte forma:

O município de Patos se localiza na mesorregião do sertão paraibano, e se constitui em uma área de 513 km², com 97.276 mil habitantes predominantemente concentrados na área urbana, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE Cidades, 2008), Patos é considerada como uma das cidades mais dinâmicas do Sertão paraibano por disponibilizar de uma favorável localização geográfica uma boa infra-estrutura física, através de uma malha rodoviária asfaltada como a BR 230, que atravessa todo o estado da Paraíba em sentido longitudinal a partir do Porto de Cabedelo e, permite, através de ligações com outras rodovias federais, a exemplo da BR-216, a comunicação com os municípios da Paraíba e dos Estados vizinhos, como as capitais Natal, Fortaleza, João Pessoa e Recife. O município de Patos também se beneficia da existência de um aeroporto (Castro Pinto), o qual assume posição estratégica, por ser uma via de comunicação rara no interior do Nordeste.

Por ter predominância nas atividades secundárias e terciárias, Patos, é considerada como “empório comercial”, pois além de servir como entreposto entre 60 municípios

24 Investimentos através de cursos de capacitações para aproveitar o conhecimento tácito desses agentes e

promover a difusão de informações, aprendizagem e inovação.

25 As primeiras unidades fabris produziam Equipamentos de Proteção Industrial (EPI) fabricando luvas, botas,

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localizados no Estado da Paraíba se destaca pela diversidade e diferenciação de serviços prestados26 e a fabricação de artigos como bolas de futebol e calçados, utilizando o couro como matéria-prima.

Além da infra-estrutura física, Patos detêm uma infra-estrutura institucional formada por atores como SEBRAE, SENAI, SESI (de apoio a capacitação produtiva, tecnológica e inovativa das MPE’s), Governo do Estado, Prefeitura Municipal de Patos, Banco do Brasil (BB) e do Banco do Nordeste (BNB).

O APL calçadista do município de Patos, embora apresentando relevância na produção de calçados local, de acordo com Kehrle (2006), não possui empresas exportadoras. Isto ocorre possivelmente pelo fato do município possuir unidades produtivas de pequeno porte e de caráter informal, que utilizam produção artesanal com mão-de-obra de caráter familiar. Além disso, a ausência de incentivos fiscais e financeiros por parte das instituições, e o gargalo institucional em relação à qualificação da mão-de-obra comprometem a inserção dessas empresas locais no setor externo.

Apesar dessas deficiências, o setor se mostra resistente às dificuldades presentes no ambiente devido às vantagens competitivas implícitas no arranjo, como capital social intangível, conhecimento tácito, hierarquia determinada por redes, presença de instituições de apoio ao arranjo, territorialidade, presença de Path-Dependece, as quais garantem tanto a permanência como a sobrevivência das empresas de pequeno porte nesse arranjo. (KEHRLE, 2006a).

O município de Campina Grande se localiza na Região da Borborema e segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE Cidades, 2008), a área de unidade territorial é de 621 km² e a população é de 371.060 habitantes. É contemplada por rodovias federais, como a BR-104, que corta o Estado de Norte a Sul, e a BR-230, que corta o Estado no sentido Leste-Oeste. O município é contemplado ainda por uma linha férrea que liga toda a Paraíba, desde o Porto de Cabedelo até a divisa PB/CE e também pelo aeroporto, o João Suassuna.

Além da estrutura física, o município é contemplado também pela estrutura institucional que é constituída de universidades, escolas técnicas, instituições financeiras, federação das industriais, SEBRAE, esferas governamentais e instituições de gestão que surgiram para fomentar as atividades produtivas do município, inclusive o setor de calçados. No tocante a atividade econômica, prevalece no município o setor comercial e industrial.

26 Como a disponibilidade de oito lojas de diferentes marcas de revenda de automóveis, além das cinco que

A cidade de João Pessoa tem área territorial de 211 km² e população de 674.762 habitantes. A capital do Estado é contemplada por uma densa estrutura física (Porto de Cabedelo, rodovias estaduais e federais, linhas férreas, aeroporto Castro Pinto, disponibilidade de estrutura física, entre outros) que favoreceu a instalação de empresas de grande porte nesse espaço geográfico (IBGE Cidades, 2008).

Em relação à infra-estrutura institucional da cidade, percebe-se que apesar de ser significativa no sentido de que possui instituições como a FIEP e o Governo do Estado que exerce o papel de estimular a eficiência produtiva e não a competitiva das empresas.

Neste aspecto pode-se exemplificar falando do Centro Internacional de Negócios da Paraíba (CIN/PB, 2008) que tem como função estimular a inserção das empresas no comércio internacional, mas não vem atuando neste sentido pelo menos para as empresas calçadistas talvez pelo fato da instituição ter uma atuação muito ampla em vários outros setores de forma que perde particularidade na análise dos setores específicos por não conseguirem identificar e suprir as deficiências dos segmentos produtivos individualmente.

Apresentado o ambiente geográfico onde os estabelecimentos calçadistas estão situados, percebe-se que o surgimento do setor nos municípios de Campina Grande e Patos foi favorecido por um processo histórico proveniente do legado (mão-de-obra especializada e maquinário) deixado pelos curtumes e a infra-estrutura institucional destas localidades.

Ainda no tocante às empresas calçadistas, é importante destacar que a maior parte das Micro e Pequenas Empresas27 (MPE’s) está geograficamente situada em aglomerações produtivas, articuladas de forma sistêmica, embora de forma ainda precária. Desta forma, serão analisadas por meio da abordagem de Arranjo Produtivo Local (APL) com o objetivo de buscar eficiência produtiva através da difusão de capital social intangível presente nesse município a partir de um aparato institucional denso e articulado, visando o aproveitamento das vantagens geradas pela aglomeração produtiva e garantir vantagens competitivas de maneira dinâmica e sustentável.

As grandes empresas estão localizadas, em sua maioria, em João Pessoa e nos municípios circunvizinhos (como Bayeux e Santa Rita), além de uma unidade em Campina Grande. Esta localização foi determinada por critérios impostos pela legislação estadual de apoio ao segmento industrial (através de incentivos fiscal e financeiro), os quais especificam diferentes níveis de vantagens de acordo com a localização específica das unidades produtivas.

27 A diferenciação das empresas de pequeno, médio e grande porte é definida pelo SEBRAE através do critério

CAPÍTULO 5 – A COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS EXPORTADORAS DE