• Nenhum resultado encontrado

3. Dinâmica demográfica, ciclo de vida domiciliar e uso da terra: referencial teórico

3.4. Teorias sobre migração: aspectos macro

3.4.5. As análises institucionais

Esta vertente teórica ressalta que, a partir do momento em que a migração internacional começa a acontecer, surgirão várias instituições – privadas, públicas ou assistenciais – que buscarão formas de contrabalançar o desequilíbrio entre o número de imigrantes interessados em entrar em determinados países e o número de imigrantes que esses países estão dispostos a receber, podendo essas instituições atuar de forma legal ou ilegal (Massey et al, 1993).

Piore (1979), com sua Teoria do Mercado Dual de Trabalho, é o pioneiro neste tipo de análise do fenômeno migratório. Segundo Piore, a migração internacional é algo inerente à estrutura econômica dos países desenvolvidos, e seu principal elemento

72

Estas correlações seriam a combinação de quatro categorias com três tipos de ligações possíveis. As categorias de ligação seriam: ligações entre estados, entre culturas de massa, entre famílias e redes sociais e, por último, entre instituições que atuariam como agencias migratórias. Por sua vez, os tipos de ligação seriam: ligações do tipo tangível, de caráter regulatório e, por fim, as de caráter relacional. Ver quadro em Fawcett, 1989:674.

73

motivador seria a constante demanda pelo trabalho de migrantes nesses países. Os dois principais determinantes dessa demanda, segundo este autor, seriam a inflação estrutural e o dualismo econômico.

Com relação à inflação estrutural, Piore ressalta que os salários pagos aos trabalhadores nativos seriam o reflexo não apenas das condições de oferta e demanda por mão-de-obra, mas, também, do status e prestígio que seriam atribuídos às diversas ocupações, havendo uma hierarquia de importância entre elas. Desta forma, os empregadores não poderiam simplesmente aumentar os salários pagos para funções de baixa qualificação, visando, com isso, atrair mão-de-obra. Este aumento aproximaria o salário dessas categorias de trabalhadores do salário pago às categorias imediatamente superiores, ameaçando seu status. Assim, os salários só poderiam ser aumentados de forma proporcional dentro da hierarquia de trabalho, o que levaria a um aumento dos custos para o empregador e à inflação estrutural. A solução encontrada para este problema é o incentivo à vinda de migrantes que aceitem trabalhar por menores salários, uma vez que esse tipo de trabalhador não irá se incomodar em ter menor status e prestígio, nem de ocupar empregos de baixa qualificação, uma vez que estão interessados no status e no prestígio que suas remessas lhes proporcionarão em seus países de origem.

O segundo fator determinante da constante demanda pelo trabalho de imigrantes nos países desenvolvidos, o dualismo econômico, diz respeito ao fato do mercado de trabalho nesses países se dividir em basicamente dois setores ocupacionais: primário e secundário. Os trabalhadores do setor primário – que seria destinado à população nativa –, além de receberem melhores salários, teriam uma maior estabilidade, trabalhariam em funções mais especializadas, utilizando os melhores equipamentos e recebendo investimentos, por parte dos empregadores, na sua formação profissional. Já os trabalhadores no setor secundário, recebem menores salários, não possuem estabilidade e atuam em atividades de baixa qualificação. A baixa remuneração e as dificuldades de ascensão associadas ao setor secundário gerariam dificuldades em atrair os trabalhadores nativos, levando os empregadores a utilizarem imigrantes, como mão-de-obra.

Em síntese, para Piore, a migração não seria causada por fatores de expulsão nos países de origem, mas por fatores de atração nos países de destino. Os fluxos migratórios seriam estabelecidos a partir do recrutamento de mão-de-obra nos países em

desenvolvimento para atender às necessidades dos empregadores dos países desenvolvidos, o que seria feito por instituições privadas ou públicas.

Guilmoto e Sandron (2001) tratam a migração como uma instituição, explicitando as formas como essa é estabelecida, os seus papéis e a forma como está organizada.

Inicialmente, são apresentadas algumas proposições com respeito ao contexto histórico específico dos países em desenvolvimento. Os autores ressaltam que esses países seriam caracterizados pela existência de mercados incompletos e/ou deficientes, ou mesmo pela inexistência de mercados. Neste ambiente, onde as informações são incertas e de alto custo, os indivíduos procurariam antes se prevenirem contra riscos, do que maximizarem suas rendas.

“Os riscos e a falta de informação levam os indivíduos ou os domicílios a darem prioridade para a diversificação de suas estratégias ao invés de optarem pela intensificação ou especialização, que pode provar ser perigosa no caso de um brusco retorno de alguma forma de crise (climática, econômica, política, etc.)”74.

Com relação à proposição da Economia Neoclássica sobre a migração, de que o migrante optará pelo melhor destino, maximizando sua utilidade – já considerando os custos da migração e dentro de um dado horizonte –, Guilmoto e Sandron consideram que não se pode negar o papel de certas dimensões estruturais, tais como as diferenças salariais e os custos da migração. Entretanto, ressaltam que a migração, nos países em desenvolvimento, é um fenômeno histórico que depende muito mais das mudanças estruturais no ambiente.

Para Guilmoto e Sandron, as instituições correspondem a um conjunto de convenções, regras, normas e valores; enfim, a padrões regularizados de interação que seriam conhecidos e praticados pelos indivíduos de uma dada sociedade. O papel das instituições, segundo os autores, seria o de, dentro de contextos marcados pelas incertezas, criar condições para a regulação das transações entre os indivíduos, definindo seus tipos, as suas garantias, e fazendo com que estas se perpetuem. Como a migração, por si só, é uma atividade de risco, tem-se a necessidade de sua institucionalização, ou seja, “a sua transformação em um sistema quase autônomo, com leis e normas, permitindo que

74

indivíduos específicos e organizações se ocupem de seus objetivos”75. Os autores destacam que a institucionalização não é o melhor arranjo no sentido de maximização da renda esperada, mas seria uma resposta possível dentro de um contexto específico. Cada forma institucional irá refletir a natureza das trocas, sendo as redes de trabalho as instituições de suporte preferidas.

O grau de estruturação e hierarquização das redes estará diretamente relacionado ao tamanho dos riscos envolvidos na transação. A migração, com o passar do tempo, tenderia a tornar-se independente dos fatores iniciais que a provocaram, tornando-se um processo auto-reforçado e que possuiria uma dinâmica própria. Entretanto, os autores ressaltam que esse processo não tenderia a ser, necessariamente, cumulativo, uma vez que mudanças no contexto social, econômico ou político poderiam afetar o seu funcionamento.