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2. O Cerrado Brasileiro

2.3. O Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba PADAP

2.3.4 Evolução da estrutura fundiária

A região onde foi implantado o PADAP apresentava, em 1970, uma estrutura fundiária relativamente concentrada, com os estabelecimentos menores que 200 hectares representando 86,4% do total e ocupando 42,0% da área total, ao passo que os

estabelecimentos com mais 500 hectares, embora representassem menos de 4,0% do total de estabelecimentos, ocupavam mais de 30% da área total (TAB. 8).

Tabela 8 – Municípios que englobam o PADAP: número de estabelecimentos e área utilizada por grupos de área total

Total 0 - 100 ha 100 - 200 ha 200 - 500 ha 500 - 2000 há + de 2000 há

Ano

Estab.1 Área 2 Estab. Área Estab. Área Estab. Área Estab. Área Estab. Área

1.961 221.825 1.394 50.990 300 42.136 195 57.682 68 57.960 4 13.057 % do total 71,09 22,99 15,30 19,00 9,94 26,00 3,47 26,13 0,20 5,89 1970 Acumulado 71,09 22,99 86,38 41,98 96,33 67,99 99,80 94,11 100,00 100,00 1.967 249.485 1.282 48.516 314 43.845 297 85.774 69 56.264 5 15.086 % do total 65,18 19,45 15,96 17,57 15,10 34,38 3,51 22,55 0,25 6,05 1975 Acumulado 65,18 19,45 81,14 37,02 96,24 71,40 99,75 93,95 100,00 100,00 2.552 275.503 1.831 67.265 363 51.122 274 82.036 81 65.693 3 9.387 % do total 71,75 24,42 14,22 18,56 10,74 29,78 3,17 23,84 0,12 3,41 1980 Acumulado 71,75 24,42 85,97 42,97 96,71 72,75 99,88 96,59 100,00 100,00 2.541 262.027 1.761 60.273 434 59.582 282 84.896 62 51.674 2 5.602 % do total 69,30 23,00 17,08 22,74 11,10 32,40 2,44 19,72 0,08 2,14 1985 Acumulado 69,30 23,00 86,38 45,74 97,48 78,14 99,92 97,86 100,00 100,00 2.183 232.237 1.546 51.368 348 47.604 217 64.681 66 52.585 6 15.999 % do total 70,82 22,12 15,94 20,50 9,94 27,85 3,02 22,64 0,27 6,89 1995-96 Acumulado 70,82 22,12 86,76 42,62 96,70 70,47 99,73 93,11 100,00 100,00

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-96.

(1) Número de estabelecimentos. (2) Área em hectares.

Os dados do Censo Agropecuário de 1975 mostram um aumento da concentração fundiária, com as propriedades menores que 200 hectares passando a representar 81,1% do total dos estabelecimentos e 37,0% da área total. As propriedades entre 200 e 500 hectares foram as que mais aumentaram sua participação, tanto em relação ao número de estabelecimentos, passando de 9,9 para 15,1%, quanto em relação à área total, passando de 26,0 para 34,4%. O aumento da concentração fundiária e da participação deste extrato específico é reflexo da implantação do PADAP, uma vez que, dos 95 lotes ocupados inicialmente pelos colonos, 91 tinham entre 200 e 500 hectares40, ocupando uma área de mais de 24.000 hectares.

É interessante observar que os dados referentes aos Censos Agropecuários de 1980 e 1985 mostram, em relação àqueles de 1975, uma tendência para a desconcentração

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fundiária, com as propriedades com áreas menores que 200 hectares aumentando, gradativamente, a sua participação relativa, tanto no número total de estabelecimentos, quanto na área total. Os demais extratos diminuíram, entre 1975 e 1985, as suas participações relativas, tanto no total de estabelecimentos, quanto na área total, com destaque para as propriedades com mais 2.000 hectares, cuja participação, tanto no número total de estabelecimentos, quanto na área total, em 1985, eram aproximadamente um terço dos valores apresentados em 1975.

Se os Censos Agropecuários de 1980 e 1985, ao serem comparados com os dados dos Censos Agropecuários de 1970 e 1975, apontavam para uma tendência à desconcentração fundiária, os dados do Censo Agropecuário de 1995-1996 mostram uma tendência totalmente oposta. Pode-se perceber que, passados mais de vinte anos da implantação do PADAP, a região apresentava uma estrutura fundiária muito parecida com aquela apresentada no ano de 1970, antes da implantação do projeto. Apesar das semelhanças entre as estruturas fundiárias apresentadas nos dois censos, os dados de 1995- 1996 apontam para uma tendência à concentração fundiária. Embora as propriedades com menos de 200 hectares tenham apresentado uma participação relativa no número total de estabelecimentos e na área total praticamente idêntica à de 1970, as propriedades com mais de 2.000 hectares apresentava, em 1995-96, uma participação relativa 17,0% maior do que em 1970. Se comparada com 1985, a participação relativa em 1995-96 era 222,0% maior.

Os dados do Noroeste de Minas (TAB. 9) são novamente aqui apresentados para efeito comparativo. A mesorregião apresentava uma estrutura fundiária extremamente concentrada em 1970, com as propriedades com mais de 2000 hectares ocupando 45,4% da área total, embora representassem apenas 3,9% dos estabelecimentos. Se considerarmos as propriedades maiores que 500 hectares, estas representavam 75,6% da área total e apenas 16,6% do total de estabelecimentos. A estrutura fundiária no ano de 1975 era bem próxima da apresentada no censo anterior, com um pequeno decréscimo na participação das propriedades com mais de 2000 hectares, tanto no número de estabelecimentos, quanto na área total. Houve um pequeno acréscimo em todos os demais segmentos, no que diz respeito ao percentual da área total, embora, em relação ao número total de estabelecimentos, os segmentos entre 200 e 500 e entre 500 e 2000 hectares tivessem uma redução mínima em suas participações.

Tabela 9 – Noroeste de Minas: número de estabelecimentos e área utilizada por grupos de área total

Total 0 - 100 ha 100 - 200 ha 200 - 500 ha 500 - 2000 ha + de 2000 ha

Ano

Estab.1

Área 2

Estab. Área Estab. Área Estab. Área Estab. Área Estab. Área

10.462 4.214.113 5.186 218.506 1.762 253.434 1.773 558.252 1.333 1.269.080 408 1.914.841 1970 % do total 49,57 5,19 16,84 6,01 16,95 13,25 12,74 30,11 3,90 45,44 Acumulado 49,57 5,19 66,41 11,20 83,36 24,45 96,10 54,56 100,00 100,00 12.448 4.603.609 6.355 240.542 2.114 300.710 2.035 645.598 1.504 1.429.969 440 1.986.790 1975 % do total 51,05 5,23 16,98 6,53 16,35 14,02 12,08 31,06 3,53 43,16 Acumulado 51,05 5,23 68,04 11,76 84,38 25,78 96,47 56,84 100,00 100,00 12.499 4.865.019 6.111 246.989 2.196 312.495 2.178 684.255 1.562 1.469.778 452 2.151.502 1980 % do total 48,89 5,08 17,57 6,42 17,43 14,06 12,50 30,21 3,62 44,22 Acumulado 48,89 5,08 66,46 11,50 83,89 25,56 96,38 55,78 100,00 100,00 14.909 4.977.324 7.763 293.399 2.544 358.655 2.467 775.058 1.665 1.522.994 470 2.027.218 1985 % do total 52,07 5,89 17,06 7,21 16,55 15,57 11,17 30,60 3,15 40,73 Acumulado 52,07 5,89 69,13 13,10 85,68 28,67 96,85 59,27 100,00 100,00 15.290 4.807.056 8.006 318.581 2.485 347.775 2.651 830.257 1.747 1.577.583 401 1.732.860 1995-96 % do total 52,36 6,63 16,25 7,23 17,34 17,27 11,43 32,82 2,62 36,05 Acumulado 52,36 6,63 68,61 13,86 85,95 31,13 97,38 63,95 100,00 100,00 Fonte: IBGE, Censos Agropecuários 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-96.

(1) Número de estabelecimentos. (2) Área em hectares.

No Censo Agropecuário de 1980, as propriedades com mais de 2000 hectares voltaram a aumentar, ligeiramente, a sua participação na área total e no conjunto de estabelecimentos, o mesmo aconteceu com as propriedades entre 200 e 500 hectares. Apesar de mostrar uma leve tendência a um aumento da concentração fundiária, novamente a estrutura revelou-se muito próxima à do censo anterior.

Nos Censos Agropecuários de 1985 e 1995-96, vê-se uma tendência à desconcentração fundiária. Embora as propriedades entre 500 e 2000 hectares tenham aumentado, gradativamente, a sua participação na área total, passando de 30,2 para 32,8%, vê-se que aquelas com mais 2000 hectares reduziram em 18,5% sua participação entre os Censos de 1980 e 1995-96. O segmento entre 200 e 500 hectares foi o que mais aumentou, no mesmo período, a sua participação na área total (22,8%), embora tenha praticamente mantido a sua participação no total de estabelecimentos. Os outros dois segmentos, com propriedades entre 100 e 200 e menores que 100 hectares, aumentaram, respectivamente, suas participações em 12,6 e 30,5%.

Nada se pode afirmar sobre as tendências mais recentes, uma vez que os dados referentes à estrutura fundiária, levantados no Censo Agropecuário de 2006, ainda não foram divulgados.

No caso da mesorregião do Noroeste de Minas, a tendência à concentração fundiária apresentada no período analisado está relacionada às próprias características físicas da região e ao tipo de agricultura nela praticada. Como destacado por Rezende (2002:6-8), o rigor climático no Cerrado Brasileiro, com uma estação seca bastante definida, torna praticamente inviável a agricultura familiar e em pequena escala, o que levaria à redução de mão-de-obra disponível, e à necessidade de mecanização. Ademais, a mecanização é favorecida pelo relevo plano e pelos solos profundos e bem drenados, o que dificulta a compactação e facilita o uso de máquinas. Na ausência de um mercado de aluguel de máquinas, cada agricultor tenderá a ter o seu próprio equipamento e buscará diluir os custos fixos desse ampliando a escala de produção. O agricultor ainda contaria com o baixo preço da terra para estimular a expansão da área cultivada. Aceitos estes argumentos, se explicaria o aumento menos expressivo da participação das propriedades com área menor que 200 hectares na área total e no número de estabelecimentos, se comparado aos extratos entre 200 e 2000 hectares.

No caso do PADAP, a julgar pelas observações realizadas em campo e pelos dados coletados, através de um survey, junto a uma amostra dos produtores rurais, a tendência a um aumento da concentração fundiária é inevitável. O alto nível tecnológico da agricultura praticada na região torna, cada vez mais, essa atividade atrelada aos grandes produtores, restando aos de pequeno e médio portes as alternativas de venda ou arrendamento da propriedade ou de se associarem aos grupos que são formados na região para o cultivo de forma conjunta, ressaltando que esses grupos contam, geralmente, com pelo um grande produtor na sua direção.

2.4 Conclusões

No início deste capítulo, mostrou-se, de forma sintética, as principais características do Cerrado Brasileiro, destacando a importância deste bioma e o acelerado processo de degradação ambiental no qual se encontra, relacionado à expansão das atividades agropecuárias, juntamente com a expansão urbana.

Apresentou-se, então, um histórico do processo de ocupação do Cerrado Brasileiro, desde a busca por ouro e pedras preciosas, no século XVII, até chegar aos grandes projetos de colonização assistida criados a partir da década de 1970, quando, com o

desenvolvimento tecnológico, as autoridades brasileiras passaram a vislumbrar a possibilidade de transformar a extensa área pouco povoada do Cerrado Brasileiro em uma grande produtora de commodities agrícolas. Mostrou-se como o Estado Brasileiro teve um papel fundamental neste processo, atuando diretamente na desapropriação de terras para a implantação dos projetos de colonização, adotando uma política de preços mínimos e de linhas especiais de créditos, realizando investimentos em infraestrutura e, ainda, prestando apoio aos colonos, através das empresas estatais de assistência técnica e pesquisa.

Por último, descreveu-se, de forma mais detalhada, o processo de criação do Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), objeto de análise desta tese. Ressalte-se que algumas características destacadas neste capítulo serão posteriormente reforçadas pela análise dos dados coletados em campo, através do survey realizado junto aos produtores rurais da região.

As singularidades do PADAP, vis-à-vis aos demais projetos de colonização implantados dentro do Cerrado Brasileiro, principalmente às mudanças no uso da terra pelo qual passou, por si só justificam este estudo. Além disso, como grande parte dos pioneiros ainda se encontra na região do projeto, é possível, a partir de uma análise criteriosa de dados colhidos em campo, verificar a relação entre os movimentos migratórios, ciclo de vida domiciliar e as estratégias de sobrevivência adotadas pelos colonos, relação esta que constitui o foco deste trabalho.

É importante ressaltar que, a despeito das distorções que apresentou em sua implantação, principalmente no tocante à falta de apoio aos pequenos agricultores da região, e da tendência atual à concentração fundiária, o PADAP pode ser considerado um sucesso, no que diz respeito à implantação de uma agricultura moderna e altamente produtiva. Como primeiro projeto de colonização implantado no Cerrado Brasileiro, após a retomada de interesse por parte das autoridades brasileiras pelo bioma, o PADAP representou o ponto de partida para a conhecida “Revolução Verde” em nosso país.

3.

DINÂMICA

DEMOGRÁFICA,

CICLO

DE

VIDA