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AS ATIVIDADES COMPLEMENTARES E SEU PAPEL NA CONSTRUÇÃO DE

1 REVISÃO DA LITERATURA: CONSTRUÇÃO DE VALORES EM ESTUDANTES

1.5 AS ATIVIDADES COMPLEMENTARES E SEU PAPEL NA CONSTRUÇÃO DE

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), no Titulo II dos princípios e fins da educação Nacional, o art. 3º preceitua que o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: valorização da experiência extraescola, vinculação entre a educação escolar, trabalho e as práticas sociais, ou seja, os projetos sociais.

Dellors (1998) chama atenção para uma escola onde os professores ensinem seus estudantes a aprender não só os conteúdos, mas que também busquem relacionar as informações entre si de

forma crítica. Num mundo de tantas informações que circulam nas redes e meios de comunicações, ser capaz de tomar posição, saber escolher, filtrar o conhecimento é um pré– requisito do saber pensar por conta própria e intervir na realidade. Para o autor, o que alguns já chamam de “alfabetização informática” (aspas do autor), é muito importante para maior compreensão da sociedade nos dias atuais e para o processo de autonomia dos sujeitos.

Bronfenbrenner (1994) observou que a educação americana tem negligenciado perigosamente a aprendizagem que resulta das diferentes experiências, especialmente daquelas por meio das quais é possível vivenciar o cuidado com as outras pessoas, marcadamente as crianças e os idosos. Para ele, aprender a sensibilidade para com as pessoas que exigem maior cuidado, é parte do processo de construção de uma sociedade saudável. O autor aponta a escola como primeiro ambiente responsável por preparar os jovens para uma participação efetiva na vida adulta.

Para Fonseca (2005), é necessário intensificar na escola espaços onde os valores humanos aconteçam e possam ser desenvolvidos além das aulas regulares, onde esse assunto é comumente trabalhado, como aulas de filosofia, religião e ética. É essencial que o currículo e todos os segmentos da escola sintam-se responsáveis por essa construção de experiências solidárias, seja no espaço da sala de aula ou nas atividades complementares.

Essas experiências de atividades complementares à sala de aula são oportunidades, segundo Fonseca (2005), que despertam a sensibilidade do sujeito para com os outros, momento especial para formação de uma consciência moral. Tanto as aulas regulares, quanto os trabalhos interdisciplinares e atividades fora da sala de aula devem ser pensadas cuidadosamente para contribuírem com o crescimento de valores dos educandos. Para o autor, experiências como essas vêm sendo implantadas nas escolas, com bons resultados.

Ninguém duvida que o conhecimento técnico-científico é importante, mas não encerra o processo de formação. Restrepo (1998) adverte que a aprendizagem da ternura é fundamental. Somos ternos quando reconhecemos nossas capacidades, defeitos, nossos limites e entendemos que nos tornamos melhores à medida que compartilhamos com os outros o alimento afetivo. Mas a ternura deve ser aprendida. E como toda aprendizagem é social, a ternura só pode ser aprendida na prática. Contudo, se no cotidiano a espontaneidade é a marca do que aprendemos, na escola, a aprendizagem de valores se caracteriza pela

intervenção refletida e planejada. Nesta perspectiva, lembra Boff (1999), que o cuidado deve ser exercitado, transformar-se em cultura, levando a um processo pedagógico para além da escola formal que atravessa as instituições e faz surgir um novo estado de consciência de relação de intimidade com o planeta e com tudo o que nele existe e vive.

A aprendizagem da sensibilidade solidária não resulta do simples discurso, mesmo daquele capaz de induzir emoções desejáveis. O sujeito sensível e solidário nasce de uma prática pedagógica interessada na construção da autonomia. Para Freire (1997), uma prática pedagógica voltada para autonomia de educandos tem que estar centrada em experiências estimuladoras que levem à tomada de decisões e de responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade.

É indiscutível o papel da educação na formação do cidadão, exigindo uma reflexão no currículo no que se refere a conteúdos que podem contribuir para formação de valores. Na concepção de Câmara (1995), mudanças no cenário político, social e econômico fazem refletir que nos dias atuais, novos conteúdos e estratégias são imprescindíveis, reclamando um currículo com componentes político-filosóficos que possibilitem a dimensão crítica e o envolvimento de ações cientificas e coletivas da construção do conhecimento além da afetividade e dos sentimentos. Um currículo que envolva o cidadão como um todo e em todas as dimensões sejam elas emocional, afetiva e cognitiva, valorizando assim a vida pessoal e social tanto quanto as ações interdisciplinares desenvolvidas nas atividades pedagógicas.

Podemos entender melhor que a variável que mais aparece como promotora de uma aprendizagem eficaz é o clima emocional e afetivo dentro de sala de aula (CASASSUS, 2002). Partindo desse ponto de vista, ao mediar a percepção das relações, é fundamental que o professor se situe na perspectiva do outro assumindo seus pontos de vista, não para reproduzi- los, mas para levá-los em conta na construção dos espaços de significações na aprendizagem dos seus educandos. Nesse sentido, virtudes como a humildade, simplicidade, e a tolerância são primordiais na ação educativa e para formação de valores. Bem como a coerência entre o discurso e a prática na relação professor e estudante, é fundamental no processo ensino- aprendizagem. Para Machado (2004), mais do que reconhecer a existência do outro, é preciso respeitá-lo procurando entender sempre o seu processo de conhecimento frente ao mundo.

O crescimento na área da educação, na compreensão de Pacheco (2005), deve ser um processo numa direção onde os objetivos propostos pela escola são propostos como metas para o desenvolvimento dos estudantes. As atividades e todas as experiências vivenciadas por eles devem fazer parte do seu processo formativo, completando assim sua etapa em direção a metas e objetivos do currículo escolar. As atividades que acontecem fora do espaço da sala de aula, são fundamentais no currículo. Entendendo currículo como todas as atividades previstas organizadas pela escola.

Para Puig (2007) a escola tem um papel importante como instituição que coordena a ação pedagógica do professor e do estudante como mediadora, animadora e também protagonista no ato de aprender. Portanto, as atividades que acontecem fora do espaço da sala de aula são formativas, objetivam o desenvolvimento do protagonismo, apresentam alguns aspectos, particularmente interessantes, que encontram respaldo nas teorias estudadas: quebra a rotina escolar, embora seja um aspecto que muito interessa aos estudantes, sua vantagem é apontar a questão da liberdade, e de como é percebida pelos estudantes.

É fundamental descobrir os espaços de práticas educativas no momento de organização de um plano formativo para construção de valores (PUIG, 2007). O autor aponta a relação interpessoal, estabelecida entre educadores e educandos, como fundamental no processo formativo. Afirma o autor que elas são providenciais na educação da moralidade. Uma boa relação educativa não está concebida para manter a disciplina, mas para contribuir com o educando com o qual se compartilha uma situação formativa em algum reconhecimento, alguém com quem se criam laços morais de mão dupla: a responsabilidade do adulto em relação ao jovem e o respeito do jovem em relação ao adulto (PUIG, 2007).

Elementos de uma ação educativa como um encontro, um momento de acolhida do grupo, o reconhecimento do trabalho, um encontro que gera qualidades morais de responsabilidade e respeito, para Puig (2007), são espaços que acabam por constituir espaço de discussão, os assuntos escolhidos são debatidos em pequenos grupos e, em seguida, submetidos à apreciação da plenária. Desse modo, as posições individuais são submetidas à critica do coletivo, resultando em ponderações e consensos. É o exercício da atitude democrática, necessária ao protagonismo. Espaços de negação da submissão, estudantes e professores experimentam decidir conjuntamente as regras da convivência, durante o encontro, seja nos trabalhos ou no lazer numa atividade realizada fora do espaço da sala de aula.

Para Puig (2007), quase sempre, estudantes anônimos, na sala de aula, têm a oportunidade de marcar sua presença fazendo coisas de que gostam, ou simplesmente demonstrando que agem melhor quando não sofrem pressão. O educador também aprende a observar seus estudantes agindo, independentemente das regras que estabelece na sala de aula; é uma boa oportunidade para que os professores os conheçam melhor. Certamente ajuda a avaliar o trabalho que realiza e a postura que adota. Estimula a capacidade propositiva como sinal de que o protagonismo é exercido. Os estudantes terminam provocando o surgimento de outros espaços e outras atividades, funcionando como resultado e aprofundamento do protagonismo.

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