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3 RESULTADOS

3.2 CONCEITOS E IMPORTÂNCIA DO TEMA VALORES

Durante a realização da análise dos dados desta pesquisa, foi percebido que os valores humanos estão presentes, enraizados em todos os entrevistados. Os entrevistados associam valores a princípios e a noções como verdade, justiça, solidariedade, humildade, honestidade, amor. Valores são para eles fundamentais, pilares para se ter uma vida digna, coisas que se aprendem na família, na escola e que são para toda a vida; são essenciais no cotidiano, tocam de perto o ser humano tanto em nível individual como coletivo. Valores para os

entrevistados são também relacionados a disciplinas, ao respeito e ao cuidado com o próximo. Outra concepção de valor, atribuída pelos respondentes,é o valor como espaço de escuta.

3.2.1 Valores como princípios

Os depoimentos dos entrevistados associam valores a princípios que norteiam e fundamentam o comportamento social. Trata-se de uma base ou reserva moral e ética, independentemente do contexto em que alguém se encontre. Cada entrevistado parece se apoiar em determinados valores, embora variem de pessoa para pessoa, apresentam certas interseções. Por exemplo, é comum enfatizarem a importância de valores para a vida e para sua formação pessoal. As falas relatam atitudes de desprendimento de coisas materiais e reportam a atenção para as coisas simples da vida. Aliás, a simplicidade e a humildade são vistas como valores fundamentais.

Ah eu acho que valor para mim parte.... do assim, de princípios, de frutos, coisa que você tem e que você não mudaria por influência de outras pessoas mais pode mudar por influência do meio por exemplo... para mim é isso. Humildade, eu acredito que é um valor, a simplicidade, a pureza... coisas que eu acredito que sejam valores e basicamente é isso. (L., 17)

Em algumas falas, valor é visto como uma forma de fazer as coisas certas. Os dois entrevistados abaixo consideram que certo é tudo que não prejudica o outro e que se aprende desde criança e que serve como orientação para a vida toda. Ainda relacionam esses valores adquiridos como requisitos para o exercício da solidariedade. As duas falas enfatizam a importância de fazer o bem para as outras pessoas, isto é, de se preocupar com a coletividade. O primeiro respondente vincula valores à justiça e honestidade e que fazer o bem vale para os outros e para si. O segundo enfatiza crenças aprendidas, relacionadas a uma consciência que pode ficar pesada se não fizer coisas justas. Interessante a idéia, colocada pelo primeiro respondente, de que valores são aprendidos. Supõe-se que há alguém capaz de ensiná-los a diferenciar o certo do errado, estabelecendo um conjunto de princípios com os quais alguém julga as suas ações e as dos outros. Fazer o bem traz a recompensa de sentir-se bem. Obviamente, subjacente é a noção de culpa como o preço que talvez alguém pague quando age em desacordo com os princípios orientadores da ação no mundo. Claro que família e

escola talvez tenham aqui papéis muito inquestionáveis. A complementaridade deles é algo que deixa espaço para discussão.

Ah!, creio que seja, por exemplo, assim, coisa como honestidade, ser justo, coisas que desde pequeno você aprende, são as coisas certas que você tem que fazer bem pra você mesmo e para outras pessoas. (V., 17)

Certo é uma coisa que não prejudica as outras pessoas, que vai de acordo com que eu acredito e eu me sinto bem, eu não fico com peso de consciência. (S., 16)

3.2.2 Valor como disciplina

O depoimento abaixo reforça a concepção de valor relacionado à disciplina, à ordem e a relação de respeito às normas e regulamento do que deve ser vivenciado no espaço da sala de aula. Refere-se a momentos importantes que exigem da pessoa educação e cuidado com o próximo. Cuidado como observar as regras é para o entrevistado condição para viver bem em uma sociedade, princípio das relações. Aquilo que não queremos para nós não podemos fazer para os outros. Observa-se, na fala abaixo que o entrevistado se vê no lugar de um outro hipotético, fazendo um exercício de alteridade. Para o entrevistado tratar bem ao outro abre a possibilidade de reciprocidade de tratamento. Envolve respeitar o direito do outro de usufruir de certas situações sem ser atrapalhado.

Eu acho que disciplina... por exemplo, em sala de aula ou quando você ta numa palestra, essas coisas, você sabe que ta tendo uma coisa importante ali e que atrapalha quem tá na frente e aos outros tão perto a usufruírem todo aquele momento, então eu acho que disciplina seria cuidado. E cuidado é você não fazer, como dizem, você não fazer aos outros o que você não gostaria que fizessem com você, se você gosta de ser tratado de um jeito acho que você tem que tomar cuidado de tratar as pessoas ao seu redor do mesmo jeito porque tudo o que vai, volta, então é meio complicado. (M.,17)

Além do respeito pelo outro, os estudantes trazem também a visão de valores como algo que facilita a vida social. Há um núcleo de fala em torno da noção de solidariedade, algo que envolve ajudar o próximo sem esperar nada em troca, o que pode ser associado ao comportamento altruísta. Mas há também a ideia da amizade, de fazer amigos como um valor importante por si mesmo.

Valor é tudo de bom que a gente faz.

Meus valores são respeito pelas pessoas, fazer amizade, solidariedade gosto de fazer amigos, de ajudar as pessoas. (L.,15)

Valor para mim é o que é certo e não o errado, sente na hora de... Pessoas que não medem as palavras eu acho que respeitar que tem gente que ultrapassa limite de brincadeiras e eu acho que isso faz parte de valores, de respeito. Valores para mim são isso, passar sinceridade eu acho fundamental. (N.,14)

Há, entre os entrevistados, uma constante referência a valor ligada à solidariedade e a compaixão. Na percepção da primeira entrevistada valor é algo muito subjetivo, algo que pode ser colocado a serviço do outro. São sentimentos positivos. No entanto, fugindo do lugar comum, mais individualista, a entrevistada aponta que tais valores são caminhos que devem motivar a evolução da humanidade para uma convivência harmoniosa entre as pessoas. A imagem criada pela jovem demonstra uma noção de alguns valores centrais como a solidariedade, a compaixão e outros mais periféricos como alcançar objetivos pessoais. O outro depoimento também exalta a relação entre valores e solidariedade, amor ao próximo. O respondente critica a sociedade, onde a maioria busca o ter em detrimento do ser, realçando a importância de se exercer a solidariedade, a compaixão.

Valor é... eu conheço como algo que você tem de bom, características suas. Meus valores são um pensamento que tenho de ajudar o próximo, de lutar por meus objetivos, conseguir tudo que desejo, ter compaixão com os outros. Ser solidário com os outros. Com certeza a humanidade só pode evoluir tendo esses valores. Se as pessoas se ajudam mutuamente, se não conseguem ter compaixão, respeito, amor pelos outros não vão a lugar algum. (T.,17)

...é importante você ter amor pelas pessoas e você ser amado desse mesmo jeito, porque eu acho que o mundo anda muito cruel, sem amor, virado para as coisas materiais, as pessoas só querem obter mais, eu acho que você tendo pessoas ao seu lado, você aprende que você tem que dividir, você tem ajudar as pessoas. (T.,16)

3.2.3 Valor como espaço de escuta

As opiniões manifestadas pelos respondentes sobre a compreensão de valor para o bem do coletivo demonstram que a aprendizagem adquirida na família e através da educação são relevantes para a formação do sujeito. O que se aprende na família, contribui para as relações interpessoais constituídas no cotidiano e interfere no modo como a pessoa se relaciona com as coisas. Portanto, é lógico que os respondentes se sentem mutuamente obrigados e partícipes das aquisições positivas ao longo da vida como fruto dessa aprendizagem. Consegue-se esses valores à medida que vão sendo trabalhados no coletivo, fazendo do grupo um espaço de escuta e convivência, como opinam os entrevistados abaixo.

Para mim é conviver na sociedade bem, com harmonia, você tem que aprender educação. (M.,14)

... São coisas que com o tempo você vai aprendendo na sua família, você aprende o que é um valor de uma amizade, o que é um valor de respeito e eu acho que, por exemplo, os valores são o sentimentos que você põe nas coisas, o que aquilo te afeta no seu dia a dia, o que é isso para o outro, é saber conviver com o outro. (T.,16).

Para os entrevistados o grupo, de alguma forma, muda quando desperta para o aprendizado de valores. No início de um ano letivo, há uma tendência de os alunos ficarem isolados ou permanecerem em subgrupos restritos e fechados (que eles costumam chamar de panelinhas). Uma razão para isto talvez, como aponta uma entrevistada, resida no fato de os alunos ainda não se conhecerem. O trabalho com valores, realizado no encontro de formação, constitui um rico momento para a construção das relações sociais. A dinâmica do trabalho possibilita a interação dos estudantes com colegas com quem eles talvez não interagissem se não fossem

incentivados. Esse trabalho busca estabelecer relações comunicativas entre os estudantes. A conversa no grupo de trabalho aproxima, desfazendo conflitos que comumente são gerados entre grupos. Com isso, o encontro acaba por revigorar o espaço da sala de aula, contribuindo para a aquisição de valores, aumentando a interação entre os estudantes. Isso acaba refletindo na sala de aula, na continuidade da ação pedagógica. Além disso, ajudam no processo de socialização da turma e contribuem para a construção de valores, tão necessária para a cidadania e para humanidade.

... a gente ser da mesma turma, sempre tem aquele grupinho fechado, no encontro é a coisa que se separa, porque cada um faz parte de grupos diferentes, isso é importante porque acaba se dividindo, desfaz aquela ideia: Eu sou desse grupo, então aquele grupo lá é ruim, então é importante a gente se dividir. (N.,14)

... a saída lá para o dia de formação, acho que ajuda muito assim para aumentar os valores, ajuda bastante mesmo, até para socializar com as outras pessoas, ajudar a fazer amizades, essas coisas assim. (V.,17)

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