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3 RESULTADOS

3.1 SIGNIFICAÇÕES E IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES COMPLEMENTARES

3.1.3 Espaço de socialização

As falas dos entrevistados demonstram que as atividades complementares, em especial os encontros de formação (são os encontros que acontecem fora do espaço da sala de aula com toda a turma, com a coordenação e um professor), são espaços privilegiados para desenvolver relações interpessoais que, frequentemente, não são bem trabalhadas no contexto da sala de

aula. No contexto da aula, as interações tendem a ser restritas, pois os alunos se reúnem em grupos pequenos que se repetem com as mesmas pessoas. Isto, às vezes, pode provocar situações de exclusão. Com base em depoimentos dos entrevistados as atividades complementares servem para revisar noções e atitudes de grupo, tornando os grupos inclusivos, fazem com que caiam as fronteiras, e os subgrupos se diluam. Parece que a turma que antes existia para o professor, como um espaço para as questões acadêmicas, após o encontro de formação, faz sentido para si mesma. A relação professor-aluno-turma, que estava muito voltada para o conteúdo, começa a se desenvolver em processos interativos muito mais dinâmicos e criativos do que antes. Assim, os depoimentos nos levam a acreditar que o encontro de formação horizontaliza o relacionamento, aproxima as pessoas, amplia o círculo de amizade, quebra a indiferença entre os estudantes transformando a relação unidirecional entre professor e estudante em favor de uma relação estudante-estudante. Em outras palavras, as atividades complementares são um privilegiado espaço de desenvolvimento social e afetivo.

É que assim, aqui na escola, por exemplo, assim, tem a sala com os alunos aí geralmente a gente fala com todo mundo, mas só um oi, tchau, tudo bom; aí tem só um pouquinho que você conversa direito, por exemplo, ano passado, eu falava só com um pouquinho de gente, aí chegou o dia de formação aí lá a gente conversa com todo mundo, aí quando voltou pra escola já conversava com todo mundo tranqüilo, todo mundo já era meio que amigo. (V., 17)

Todo mundo fica mais próximo do outro, reforça a amizade no grupo, você se conhece melhor no encontro. Normalmente o que a gente aprende, a gente leva para sala de aula, por isso melhora a ralação da turma. (L.,15)

Os espaços informais, como um encontro com estudantes numa chácara são reconhecidos, pelos participantes, como oportunidade também de diversão e de lazer fazendo parte do processo de aprendizagem como um momento de descontração entre os educandos. Estas atividades vão ajudar na socialização, bem como educar o olhar dos estudantes fora da rotina

da sala de aula para perceber os colegas que não estão mas próximos, sua qualidades, descobrir seus gostos e afinidades.

Aí também tem o momento de diversão, mas eu acho que ajuda bastante mesmo, até pra socializar com as outras pessoas, ajudar a fazer amizades, essas coisas assim. (V., 17)

Um dos participantes valoriza a convivência adquirida nas atividades complementares além do dia de formação, uma entrevistada aponta a pastoral juvenil (encontro de grupos jovens), como importante no processo educativo como algo que realimenta, renova para a rotina da sala de aula.

... essas atividades extraclasse ajudam a gente a conviver com outras pessoas, não fica naquele ambiente de sala de aula, só estudo, e quando a gente volta para sala, a gente chega volta com... como eu falo, com a energia renovada, sente mais em paz, com vontade de aprender. (M., 14)

Eu gosto de ir para casa depois da PJ(Pastoral Jvenil), porque eu me sinto super bem, porque a gente não vê aquela visão de professor que só esta lá para dar aula, a gente tem a nossa opinião, você fala, você... Às vezes eles dão um papel para gente escrever nosso futuro.... e a gente fala na creche.. e é legal porque assim os monitores não são iguais aos professores, são nossos amigos que a gente cumprimenta e conversa e então é bem legal, onde é o espaço só de jovens, eles entendem super bem que estamos ali que somos iguais, sem diferença de aluno e professor. Então a PJ é a melhor coisa, sexta-feira não faço mais nada eu só faço PJ não falto de jeito nenhum, só em casos extremos porque é muito bom, você não vai obrigada. (M., 14)

O dia de formação na concepção dos estudantes ajuda a minimizar o pouco tempo de convivência na sala de aula no que se refere a ampliar as relações, pois passam o maior tempo de sua vida acadêmica na sala de aula. Apontam as atividades esportivas como espaço de maior interação, convivência, pois os integrantes formam um grupo pequeno que se conhece há mais tempo. Já na sala de aula há outros interesses. O conteúdo, a pressa pela informação

na aula, não há tempo a perder devido à demanda e à cobrança a que está submetido o professor em abordar o maior volume de conteúdos para atender ao currículo da escola. Assim, a sala de aula termina sendo um amontoado de pessoas buscando um ideal, onde alguns participam, mas outros ficam calados e não são devidamente atendidos pelo educador. Como exemplifica um dos entrevistados, o professor interage, mas com os mais extrovertidos em sala. Dessa forma, o espaço de atividades complementares acaba se tornando um rico espaço para sair da rotina da sala de aula, do fazer todo dia a mesma coisa. Segundo alguns participantes, as atividades complementares oferecem oportunidades de trabalhar com os jovens resgatando sua autoestima, valorizando o exercício do protagonismo e a confiança no seu potencial para que possam participar ativamente no espaço de sala de aula.

Fora da sala, no esporte é mais fácil. No grupo de esporte tem um grupo de 20 alunos, eles já se conhecem há mais tempo e isso facilita muito a relação, convivência do professor com os alunos e do grupo entre eles. Já na sala de aula é mais difícil. Nós temos 50 minutos para cada aula e são muitos alunos na sala; é pouco tempo. O professor tem um conteúdo para trabalhar e não pode perder tempo. Tem 40 alunos na sala. Sempre tem os alunos que fica mais calado, acomodados e o professor se aproxima dos alunos que participam mais. (L.,15)

Os entrevistados parecem considerar que os estudantes mais tímidos na sala de aula, melhoram nas atividades complementares devido à dinâmica daquelas atividade que favorece e ajuda os estudantes a pensar sobre sua vida, sobre a turma, numa demonstração de que a sala de aula não é o único espaço de aprendizagem. Os espaços informais aparecem, na fala dos estudantes, como importantes e reclamam da escola um olhar atento para a riqueza das relações sociais e a aprendizagem de aspectos como respeito, socialização, valores. Tudo isso de acordo com os respondentes, acaba interferindo no contexto formal da sala de aula, contribuindo para a emergência de uma turma mais coesa, solidária, amiga e interessada, o que contribui inclusive para melhorar a aprendizagem dos conteúdos formais.

A própria atividade que é organizada possibilita para eles ficar mais à vontade. Só de não estar na sala, já ficam mais à vontade. Essa atividade contribui. Eu na sala de aula, eu não brinco, não fico muito

à vontade.. já nas atividade esportivas e encontro de formação eu participo melhor. (L.,15)

A rotina da sala de aula na opinião de alguns estudantes é mais vertical. A sala de aula aqui apresentada é vista como reprodutora de um conhecimento-cópia, que o estudante reproduz. Reforça o depoimento da entrevistada valorizando a aprendizagem que ocorre em outros espaços. Aponta as atividades complementares como um espaço de aprendizagem significativa para sua vida e para construção de valores. Significativa por ser trabalhada geralmente em um espaço mais flexível, onde o protagonismo dos jovens emerge com mais facilidade, devido à natureza das atividades propostas. Na opinião da respondente nesse espaço há maior possibilidade de explorar as relações interpessoais, conhecer outras pessoas e poder discernir quais valores são requeridos para sua vida. O espaço do grupo revela uma oportunidade para escuta dos integrantes enquanto na sala de aula falta um olhar mais adequado para essa aprendizagem da troca entre o grupo.

Ah!, porque eu acho que no momento que você está acostumado a fazer só a mesma coisa na sala de aula, você tem uma visão mais fechada, mais racional e quando você sai você explora a relação de humanidade, a relação com outras pessoas e a partir disso você passa a construir valores, ou então ver quais valores servem para você e quais que não servem. (L.,17)

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