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6 ATORES LOCAIS E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL ENDÓGENO EM

6.1.3 As Atividades de Recreação e Entretenimento ao Ar Livre

As atividades de recreação e entretenimento, praticadas durante o tempo de lazer das pessoas (SANTOS, 2012), constituem serviços e facilidades que complementam a oferta turística e que contribuem para a permanência do turista no local. Entre essas atividades, possuem grande importância os esportes de aventura que tem impulsionado o desenvolvimento do denominado Turismo de Aventura.

As atividades de aventura constituem as experiências físicas e sensoriais recreativas que envolvem desafios e que podem proporcionar sensações diversas como liberdade, prazer e superação, a depender da expectativa, do envolvimento e da experiência do turista além do nível de dificuldade de cada atividade (BRASIL, 2010). Essas atividades podem ocorrer em espaços urbanos, rurais ou em áreas protegidas e, frequentemente têm como uma das suas origens os esportes na natureza, pressupondo determinado esforço e riscos assumidos, que podem variar de intensidade conforme a exigência de cada atividade e a capacidade física e psicológica do turista (BRASIL, 2010).

A diversidade de atividades de Turismo de Aventura que materializam esse segmento, variam sob diferentes aspectos em função dos territórios em que são desenvolvidas, podendo ser divididas em: 1) atividades em terra – Arvorismo, Bungee jump, Cachoeirismo, Canionismo, Caminhada ou trekking, Cavalgada, Cicloturismo, Espeleoturismo, Escalada, Montanhismo, Turismo fora-de-estrada em veículos 4x4 ou bugues e Tirolesa; 2) atividades na água – Bóia-cross, Canoagem, Duck, Flutuação, Kitesurfe, Mergulho autônomo turístico e Rafting, Windsurfe e 3) atividades no ar – Balonismo, Paraquedismo e Voo Livre (Asa Delta e/ou Parapente) (BRASIL, 2010).

Essas atividades, mesmo que tendo origem nos esportes de aventura, são oferecidas comercialmente aos turistas por seu caráter recreativo e não competitivo (BRASIL, 2010).

Caçapava do Sul, devido a seu diversificado geopatrimônio, com um variado conjunto de afloramentos rochosos e cerros testemunhos de considerável altitude, tem inspirado a população local à realizar algumas atividades de aventura como a escalada, o rapel, o voo livre, a canoagem, a caminhada ou trekking (CUNHA; BAZOTTI, 2015), entre outros. Essas características, somadas ao potencial para a realização de diversos segmentos de turismo, tem refletido no surgimento de alguns empreendimentos e iniciativas que focam suas atividades no entretenimento e recreação ao ar livre.

Entre essas iniciativas e empreendimentos destacamos: i) a empresa Minas Outdoor Sports; ii) o Grupo Flor de Tuna Cia de Aventura; iii) o Clube Caçapava do Sul de Voo Livre e o iv) Grupo de Canoagem e Expedições Martin Pescador.

i) Minas Outdoor Sports

O Minas Outdoor Sports é uma empresa localizada nas Minas do Camaquã, que desenvolve atividades comerciais de aventura (figura 45) como o cicloturismo, o caiaque, a canoagem, passeios de quadríciclo, passeios à cavalo, tirolesa, circuito de arvorismo, escalada em rocha e outdoor, rapel e City Tour, enfocando a história da mineração do cobre na localidade. A área utilizada pela empresa para a prática dessas atividades foi acordada a partir de uma cedência na forma de comodato, com a Companhia Brasileira do Cobre (CBC) na Vila Minas do Camaquã.

A empresa desenvolve suas atividades com o auxílio de 4 condutores de Turismo de Aventura, contando com equipamentos de segurança adequados às modalidades esportivas e possuindo licença junto a Secretaria da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (SEDACTEL) para atuar como operadora de Turismo de Aventura. A inserção da empresa na comunidade conta com um trabalho constante de formação e qualificação de condutores que são originários da própria Vila Minas do Camaquã. O Minas Outdoor Sports dispõe de infraestruturas como: 1) pousada e auditório (citados anteriormente); 2) uma base operacional, para organização das atividades e recepção dos turistas, instalada em uma das antigas casas dos trabalhadores da mineração; 3) um muro, para a prática de escalada outdoor com 9 m de altura; 4) circuito de arvorismo com 10 m de altura, percurso de 180 metros e 9 obstáculos e 5)

uma tirolesa com 170 m de altura e 1.200 m de extensão, partindo da Pedra da Cruz, passando sobre a barragem do Arroio João Dias, importantes geopatrimônios de Caçapava do Sul.

Figura 45 – exemplos de atividades desenvolvidas pelo Minas Outdoor Sports

Legenda: (A) Canoagem na repesa do Arroio João Dias, onde se localiza a Pedra da Cruz; (B) Circuito de Arvorismo; (C) Escalada na Pedra do Engenho; (D) Parede para a prática de escalada outdoor; (E) Tirolesa partindo da Pedra da Cruz, considerada atualmente a maior do RS.

Fonte: MINAS OUTDOOR SPORTS (2018).

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A empresa recebe diversos grupos de escolas, universidades, escoteiros, entre outros, totalizando um fluxo crescente de turistas ao longo dos anos e que vem contribuindo com o desenvolvimento local devido ao aumento do fluxo de pessoas que se hospedam nas pousadas (CUNHA; BAZOTTI, 2015).

Desde o ano de 2013 o Minas Outdoor Sports realiza o Festival Gaúcho de Esportes de Aventura, que além de oferecer a prática amadora de esportes para turistas, promove competições esportivas, mostra fotográfica, oficinas técnicas, palestras, apresentações musicais, entre outras atividades (CUNHA; BAZOTTI, 2015) tendo o apoio da SEDACTEL, da Associação das Federações Esportivas do Rio Grande do Sul (AFERS), da Universidade Federal do Pampa campus Caçapava do Sul, da Prefeitura Municipal e de diversas associações esportivas do RS.

ii) Flor de Tuna Cia de Aventura

Outra importante iniciativa é o grupo Flor de Tuna Cia de Aventura, um projeto pensado por um grupo de mulheres, praticantes de esportes de aventura, que visa promover atividades esportivas em meio às paisagens singulares de Caçapava do Sul. As atividades desenvolvidas pelo grupo se concentram na realização de percursos interpretativos, especialmente nas modalidades caminhada ou trekking e cicloturismo ou montaim bike, proporcionando à população local e aos turistas, experiências ambientais que valorizam a história, a geologia, a fauna e a flora local.

A criação do grupo partiu da preocupação com os estudantes e professores da Unipampa campus Caçapava do Sul e de seus familiares, vindos de outras regiões do Brasil e, que apresentavam um grande interesse em conhecer o interior do município, mas que não obtinham informações adequadas para chegar à estes locais. No início das atividades do Flor de Tuna, o grupo também realizava a locação de bicicletas à comunidade; entretanto atualmente essa facilidade foi interrompida.

A iniciativa conta uma página para divulgação (https://www.facebook.com/flordetuna/), onde a comunidade local é convidada a participar das atividades promovidas e onde são passadas todas as informações de cada percurso a ser realizado, incluindo grau de dificuldade e dicas sobre materiais de uso pessoal. Os principais percursos organizados pelo Flor de Tuna visam a interpretação ambiental de geopatrimônios localizados na região da Serra do Segredo (figura 46), nas Guaritas e nas Minas do Camaquã.

Figura 46 – Convite do Flor de Tuna para percurso interpretativo na Serra do Segredo

Legenda: Convite do Flor de Tuna Cia de Aventura divulgado nas redes sociais para a realização da “Trilha da Pedra Furada”, localizada na Serra do Segredo, região oeste de Caçapava do Sul. No canto superior da imagem, à esquerda, podemos ver a identidade visual criada pelo grupo, que assim como o nome, faz referência a diversidade de cactáceas encontradas no território de Caçapava do Sul. Fonte: FLOR DE TUNA CIA DE AVENTURA (2018).

iii) Clube Caçapava do Sul de Voo Livre

O Voo Livre também constitui uma das atividades de aventura praticadas em Caçapava do Sul, motivando a criação do Clube Caçapava do Sul de Voo Livre entre os anos de 2010 e 2011, para dar suporte à realização de eventos dessa categoria esportiva no município. O voo livre é o voo não motorizado que utiliza térmicas (correntes de ar quentes) com o objetivo de atingir longas distâncias, a uma altura entre 1.500 m a 2.000 m. As duas principais modalidades são o Parapente e a Asa Delta, sendo que o piloto deve associar-se à Federação Gaúcha de Voo Livre (FGVL) e à Confederação Brasileira de Voo Livre (CBVL) para ser habilitado à voar em rampas de todo o país.

Em Caçapava do Sul essa atividade é praticada a partir do Cerro da Angélica (geossítio 12 do quadro 9), do Cerro do Bugio (geossítio 17 do quadro 9), e da Serra

da Santa Barbara. Entre estes locais, apenas o Cerro da Angélica apresenta alguma infraestrutura de apoio, como área para camping e churrasqueira.

O Cerro da Angélica (figura 47) com 340 m de altitude e 160 m de desnível, juntamente com a Serra do Urucum no município de Quixadá (Ceará), é considerado uma das melhores rampas de decolagem para o voo livre do Brasil, permitindo decolagens a partir de todos os seus quadrantes. Em 26 de janeiro de 2012, André Wolf bateu o recorde brasileiro de Asa Delta voando 494,5 km a partir do Cerro da Angélica, cruzando a fronteira com a Argentina, em um voo de 10 horas (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE VOO LIVRE, 2018).

Figura 47 – Voo de Parapente a partir do Cerro da Angélica

Legenda: Voo de Parapente realizado a partir do Cerro da Angélica, em janeiro de 2012. Fonte: CERRO DA ANGÉLICA (2018).

Tanto Caçapava do Sul34, quanto o município de Quixadá e o Geoparque

Araripe fazem parte da Associação Internacional de Montanhas Famosas (World

34 Caçapava do Sul integra a WFMA juntamente com os demais municípios que fazem parte da

Famous Mountains), Associação criada na China em 2009, com o objetivo de promover globalmente a valorização e o desenvolvimento territorial de regiões montanhosas através do turismo sustentável (CARVALHO; CORIOLANO, 2014).

O voo livre é considerado pelo Decreto 7.381/2010 como uma pratica de caráter recreativo não competitiva dentro do Turismo de Aventura; entretanto no Brasil o voo duplo, panorâmico ou turístico só é permitido por intermédio de pessoas jurídicas, sendo vedada a contratação direta e informalmente entre piloto e passageiro e sendo obrigatória a oferta do seguro, cuja recusa deverá se dar formal e expressamente pelo passageiro (NORMA REGULAMENTAR CBVL, 2016).

iv) Grupo de Canoagem e Expedições Martin Pescador

A canoagem adquiriu maior visibilidade em Caçapava do Sul com a criação do Grupo de Canoagem e Expedições Martin Pescador, que constituí um grupo de amigos que pratica esta atividade como forma de lazer e de contemplação da natureza, utilizando rios da região como o Camaquã (figura 48 A e B), o Arroio Pessegueiro, o Irapuã/Irapuãzinho, entre outros. Conforme destacado por um dos integrantes fundadores do grupo, a iniciativa surgiu em 2005, sem fins lucrativos, sendo que qualquer interessado pode participar após receber treinamentos específicos, possuir caiaque (figura 49 A) e materiais de segurança como capacete e colete salva-vidas.

Figura 48 – Grupo de Canoagem e Expedições Martim Pescador

Legenda: (A) expedição realizada no Rio Camaquã nos dias 8 e 9 de novembro de 2011 pelo Grupo de Canoagem e Expedições Martim Pescador; (B) Remadores revisam o casco do caiaque, durante uma pausa da expedição realizada no Rio Camaquã.

Fonte: MARTIM PESCADOR (2011).

Em 2009 o Martim Pescador teve a iniciativa de publicar fotografias, histórias e informações sobre os locais por onde o grupo aventurou-se remando. Assim, com o apoio de doações e da SECULTUR foi publicada a revista “ROTAS Turísticas, Esportes e Eventos” com o objetivo de divulgar os atrativos turísticos locais e os esportes de aventura praticados em Caçapava do Sul. Na época a revista não conseguiu patrocínio para as demais edições e o grupo seguiu divulgando a iniciativa através de um blog (http://canoagemmartinpescador.blogspot.com/).

Entre as maiores dificuldades para o desenvolvimento da atividade em Caçapava do Sul estão a falta de informação e divulgação da atividade entre a população local e a inexistência de lojas especializadas para a compra de equipamentos necessários à canoagem como os caiaques.

Atualmente o grupo não tem realizado novas expedições, mas um dos integrantes desenvolveu um “gaiola-cross” (figura 49 B) a partir de um chassi de fusca e outras peças de carros, utilizado para expedições em terra e visitas a geossítios como as Guaritas.

Figura 49 – Caiaques e Gaiola-cross do Grupo Martim Pescador

Legenda: (A) Caiaques utilizados pelo Grupo de Canoagem e Expedições Martim Pescador; (B) “Gaiola-cross”, montada para a realização de expedições em terra na região das Guaritas e Minas do Camaquã.

Fonte: Trabalho de campo, 13 de dezembro de 2016.

As diversas práticas ou atividades ligadas ao Turismo de Aventura, muitas vezes estão relacionadas a outros segmentos, variando conforme as características dos territórios e motivação dos turistas (BRASIL, 2010). Nesse sentido, é importante compreender que tais atividades podem se somar à oferta turística de destinos que tenham como vocação principal outro segmento, com vistas a agregar valor aos produtos turísticos ofertados.