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O movimento para a criação de um Geoparque deve partir do interesse da comunidade local e do compromisso desta em desenvolver uma estratégia de desenvolvimento territorial que promova a conservação do geopatrimônio e o seu aproveitamento para o desenvolvimento do Geoturismo, trazendo benefícios sociais, econômicos, culturais e ambientais. Nesse sentido, é necessário que seja definido uma estrutura de gestão adequada, pessoal qualificado e apoio financeiro apropriado,

que satisfaça aos interesses da comunidade local e, que ao mesmo tempo, possa dar suporte às atividades de Geoturismo, de educação, pesquisa e geoconservação desenvolvidas (LÓPEZ et al, 2009).

A UNESCO (2016, p.5) destaca que:

Os Geoparques Globais da UNESCO são administrados por um órgão legal reconhecido pela legislação nacional. Este órgão de gestão deve estar adequadamente equipado para lidar com toda a área e deve incluir todas as autoridades e atores locais e regionais relevantes. Os Geoparques Globais da UNESCO requerem um plano de gestão, acordado por todos os parceiros, que cubra as necessidades sociais e econômicas das populações locais, proteja a paisagem em que vivem e preserve sua identidade cultural. Este plano deve ser abrangente, incorporando a governança, o desenvolvimento, a comunicação, a proteção, a infraestrutura, as finanças e associações do Geoparque Global da UNESCO.

Como não estão atrelados a nenhuma lei especifica, os Geoparques são gerenciados a partir de distintos modelos de gestão, podendo apresentar diferentes estruturas organizacionais. Entretanto, a gestão deve estar em conformidade com a legislação do país onde o Geoparque se insere, sendo necessário a elaboração de um Plano de Gestão que englobe os três pilares em que a estratégia se apoia (MEDEIROS et al, 2015). Essa flexibilidade facilita a participação e a inserção de organismos e instituições locais como o poder público, o tecido empresarial e as representações da sociedade civil, tendo assim uma grande capacidade de agregação e articulação dos diferentes atores locais do território.

Nascimento et al (2015) destacam que a criação de um Geoparque implica na formação de uma equipe interdisciplinar, bem suportada pelos organismos que, de fato, podem assegurar uma gestão efetiva do território.

O apoio político ao nível do município é absolutamente essencial, não só porque é dele que advêm inicialmente os recursos para colocar em marcha um projeto deste tipo (embora possa e deva ter outras fontes complementares, públicas ou privadas) como é por meio do município que se conseguem articular as diversas políticas de desenvolvimento local. A criação de um Geoparque em uma determinada região pode se revelar como um agente transformador da realidade das comunidades que o compõe. Para o Estado um Geoparque pode representar uma alternativa adequada para promover a conservação em consonância com atividades econômicas. Para as Empresas da Iniciativa Privada que apoiam o Geoparque o retorno é imediato, pois, propicia maior visibilidade e promoção. (...) E para a população um Geoparque pode representar desenvolvimento socioeconômico local, por meio do geoturismo, do comércio, atração do capital privado além do desenvolvimento científico/educativo inerente a função do Geoparque (NASCIMENTO et al, p.351-352, 2015).

No estudo realizado por Medeiros et al (2015) sobre Planos de Gestão de Geoparques Globais da UNESCO, são identificados pelo menos três formas ou modelos de gestão que são utilizados:

(i) Associações de Direito Privado sem fins lucrativos, a exemplo da Associação

Geoparque Arouca (AGA), que realiza a gestão do referido Geoparque, a partir uma estrutura administrativa composta por Assembleia Geral, Direção, Conselho Fiscal e Conselho Científico, contando com contrapartida financeira do Município de Arouca. O Estatuto da AGA define que esta pode ser constituída por associados (individuais ou coletivos, públicos ou privados) distribuídos nas categorias associado fundador, efetivo, honorário e protetor e que os membros representantes de seus órgãos constituintes devem ser eleitos através de votação secreta, para mandatos de 4 anos, com exceção do Conselho Científico que é designado pela Direção (ESTATUTO AGA, 2010);

(ii) Universidades, a exemplo Universidade Regional do Cariri (URCA) que

realiza a gestão do Geoparque Araripe (Brasil) que é vinculado à reitoria de extensão universitária. A estrutura de gestão é composta por um Comitê Científico, integrado majoritariamente por professores universitários, e um Conselho Gestor, do qual participam representantes da sociedade civil, órgãos públicos e entidades empresariais (OLIVEIRA, 2014). O Conselho Gestor é composto por setores:

Administrativo, de Infraestrutura e Manutenção, responsável pela infraestrutura

adequada do Geoparque, de Comunicação, responsável pela veiculação de informações e Cooperação Institucional e Novos Projetos, responsável pela busca de apoio técnico e financeiro ao Geoparque.

(iii) Gestão compartilhada a partir do desenvolvimento de rede de parcerias

público-privada, como no caso do Geoparque Stonehammer (Canadá), onde o Conselho Administrativo do Geoparque, composto por um Diretor geral e Secretário, representantes da comunidade local e por profissionais técnicos na área de turismo, marketing e geologia (selecionado pelo Conselho) realizam a gestão do Geoparque. Os parceiros podem se enquadrar em categorias diferentes como proprietários dos

locais (proprietário ou responsável por manter um geossítio localizado dentro do

Stonehammer), operador direto (que opera um produto turístico ou atividade relacionada a um geossítio do Stonehammer), operador indireto (que opera um produto turístico dentro do Stonehammer ou o divulga como um de seus pacotes ou destinos turísticos), produtos de varejo (comerciantes de produtos locais, aprovados

pelo Conselho Administrativo) e os influenciadores (governo e organizações sem fins lucrativos que estão promovendo o Stonehammer, como parte de atividades de marketing mais amplas, e que não estão ganhando receita diretamente com o Geoparque) (GEOPARK STONEHAMMER, 2018).

A definição de Planos de Gestão com vigência pré-determinada é um fator importante para o funcionamento dos Geoparques, pois garante um melhor planejamento das ações a serem desenvolvidas e também, a avaliação dos avanços alcançados ao final da vigência de cada Plano. Estes Planos além conter as ações que serão realizadas para a geoconservação, educação e Geoturismo, devem trazer as prioridades de atuação, cronogramas e os responsáveis pela execução das ações, além de apresentar uma estratégia de marketing e comunicação com o objetivo de promover a identidade territorial, os produtos e atividades desenvolvidas pelos Geoparques (MEDEIROS et al, 2015), destacando os seus colaboradores ou parceiros. Alguns Planos de Gestão se utilizam de ferramentas da Administração, como a Análise SWOT (análise dos pontos fortes e fracos e das oportunidades e ameaças) adotadas, por exemplo, para a composição dos Planos dos Geoparques Arouca (Portugal) e English Riviera (Reino Unido) (MEDEIROS et al, 2015), o que pode contribuir significativamente para identificar as potencialidades e desafios a serem enfrentados para a gestão territorial dos Geoparques.

A gestão dos Geoparques ainda é um tema pouco abordado no que se refere à produção científica (MEDEDEIROS et al, 2015) não existindo uma orientação específica da UNESCO sobre qual o modelo a ser seguido, justamente em função das especificidades socioeconômicas, culturais e político-administrativas dos territórios onde são criados.

Entretanto, para uma gestão territorial de sucesso é fundamental que os Geoparques busquem um forte envolvimento da comunidade local e o estabelecimento de parcerias com o setor público e privado, mediante protocolos de compromisso, convênios ou acordos de cooperação, para auxiliar o seu funcionamento, destacando-se a colaboração de atores locais e instituições do território como:

• Proprietários rurais onde se localizam geossítios;

• O Poder Público (Governos Municipal, Estadual e Federal, Câmaras Municipais de Vereadores, Secretarias Estaduais e Municipais de Turismo, de Educação, etc.);

• Proprietários de hotéis, pousadas, restaurantes, bares, lanchonetes, etc.

• Associações de artesãos, produtores rurais, etc., que trabalham com a produção de souvenirs e/ou produtos locais típicos (os geoprodutos);

• Empresas de recepção de turistas;

• Empresas de esportes de aventura;

• Empresas de transporte e aluguel de automóveis;

• Associações de guias de turismo ou condutores ambientais locais;

• Instituições de ensino e pesquisa como universidades, escolas, centros de pesquisa, etc.;

• Sociedades científicas ou órgãos ambientais (Municipais, Estaduais e Federais);

• Órgãos de conservação do patrimônio histórico-cultural, como IPHAN e IPHAEs;

• Museus e centros de interpretação ambiental, entre outros.

O modelo de gestão participativa de um Geoparque busca o empoderamento social e pode servir como um organismo que canaliza competentemente os instrumentos de apoio para os desenvolvimento territorial, em que a participação das comunidades, seus conhecimentos tradicionais, artes, tradições e estilos de vida, são vitais para o uso sustentável dos recursos do território (CORTEZ, 2013), especialmente para ações de geoeducação e para o desenvolvimento do Geoturismo.

Segundo Cortez (2013) através dos processos participativos os Geoparques constituem uma estratégia de autogestão do território, frente à coordenação intersetorial e interinstitucional que permita melhorar a comunicação entre os atores e alcançar objetivos a médio e longo prazo, sendo uma alternativa viável para melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais com um importante patrimônio natural, através da educação, conservação e fomento da identidade, que por sua vez fortalece a valorização do território.