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3 LUGARES DO LIVRO E INTERMEDIÁRIOS DA LEITURA NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO

3.1 As casas comerciais e as seções de livraria e papelaria

A presença de livros nos estoques de casas comerciais foi percebida inicialmente por ocasião do exame da documentação contábil da firma Ignacio Xavier & Cia, fundada na cidade de Granja em 19004, cujo livro-caixa para os anos de 1907 a 1914 indica a presença de

itens discriminados da seguinte forma:

Geographia, Arithmetica Trajano, Manuscrito, cartilhas, manuais para missa capa papel, Livro Imitação de Cristo simples, Livro Imitação de Cristo dourado, manuais para missa, Livro Educação Moral, História Sagrada, Vida Doméstica, Seleta

2

GONÇALVES, Adelaide. Imprensa e trabalhadores no Ceará: histórias e memórias. In: SOUZA, Simone (org). Uma nova história do Ceará. 4 ed. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2007. p. 261-262.

3 SILVA, Ozângela de Arruda. Pelas rotas dos livros: circulação de romances e conexões comerciais em

Fortaleza (1870-1891). Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2011. p. 36.

Clássica, além de vários livros de leitura.5

Como se pode ver, predominam livros escolares e devocionais, indicando uma maior procura por parte do público por essa categoria.

A oferta feita pelas casas comerciais era diversificada, como se vê em um reclame publicado no jornal O Rebate, onde José Paulo Mendes de Vasconcelos, proprietário da Loja da Bandeira Branca, incluiu a listagem de mercadorias colocadas à venda em cada uma das seções de seu estoque. Ao discriminar a de papelaria, o anúncio menciona itens como

Cartas de ABC, taboadas e cathecismos, grammaticas de diversos auctores, 1º, 2º, 3º e 4º livros de leitura de Felisberto, Abílio e Hilário, diccionario portuguez e francez, Carlos Magno, Lunario perpetuo e Cartilha da Doutrina Christã, Livros e cadernos das novenas de N. S. do P. Socorro, Manuaes para missa e Arithmeticas diversas, Lusiadas, Tabulas, Iracema, Geographias e Algebra, Geometria, Antologia, Atlas, Theatre Classique, Auctores Contemporaneos e lindas pastas para escriptorio...6

O predomínio dos livros didáticos e devocionais aparece ofuscado pela presença de obras literárias, incluindo o clássico da literatura popular A História de Carlos Magno e os

Doze Pares de França. Ao lado dos Lusíadas, de Camões, e de Iracema, de José de Alencar, a História de Carlos Magno figura no estoque da loja, dando um sinal de sua procura pelos

leitores/consumidores. A escolha dos títulos literários recaía sobre obras publicadas há bastante tempo, já conhecidas não apenas do público letrado, mas pelo povo em geral, iletrado e analfabeto em sua maioria.

A presença do Carlos Magno indica a permanência de um texto já muito conhecido entre as camadas populares. Sua difusão pelas áreas rurais do interior do Brasil faz pensar na leitura em voz alta, com a consequente entrada do ouvinte no mundo dos textos, algo possivelmente ainda presente no interior do Ceará no início do século XX, relacionado em alguma medida com outras manifestações populares vinculadas à leitura, escrita e oralidade — como o cordel, as cantorias e desafios, por exemplo7.

Por outro lado, a leitura em voz alta não foi uma prática exclusivamente relegada ao mundo rural8. O romancista José de Alencar relembrou sua atividade de “ledor”, ou seja,

5

CCH (UVA), NEDHIS. Livro Caixa da firma Ignacio Xavier & Cia, anos de 1907 a 1914. Consulta realizada no segundo semestre de 2010.

6

O Rebate, Sobral, 04 mai. 1907, p. 6. O anúncio repete-se ao longo de quase toda a série pesquisada, ou seja,

entre os anos de 1907 a 1913.

7 CASCUDO, Luís da Câmara. Cinco livros do povo: Introdução ao Estudo da Novelística no Brasil. Rio de

Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1953. p. 439.

8

Para a leitura doméstica familiar em ambiente rural, ou seja, nas fazendas do nordeste açucareiro, Câmara Cascudo apresentou a seguinte descrição: “A ausência de jornais, o isolamento das fazendas e engenhos de açúcar determinavam uma vida familiar mais intensa. Raramente o chefe da casa saía à noite. A dona, filhos, noras, permaneciam fiéis ao serão habitual, candeeiro aceso, depois da ‘janta’, fazendo sono, trabalhando nas obras maneiras, ouvindo a leitura tradicional desses folhetos que vinham de séculos, mão em mão, com

daquele que lia perante a audiência familiar9. Suas memórias alcançam uma leitura em

ambiente familiar, recolhido no interior da habitação situada em área urbana. A valorização da família, apontada por Marisa Lajolo10 como um dos fatores que favoreceram a expansão da

leitura a ponto de transformá-la numa prática social, aparece no texto alencarino retratada na cena do menino alfabetizado lendo um romance perante uma audiência formada por parentes próximos.

As feiras e mercados públicos, por sua vez, constituíam lugares de encontro de pessoas cujo contato com narrativas textuais se dava por intermédio das vozes dos cantadores, emissários de uma cultura oral cuja transposição para o mundo da escrita resultava no folheto de cordel, suporte da narrativa direcionada ao leitor11. O desenvolvimento da indústria cultural

do cordel, composta pelas tipografias especializadas na impressão desses folhetos, foi uma consequência desta entrada da escrita no domínio da oralidade. O encontro do povo —

entendido como a parcela majoritária da população a quem a aquisição das competências de leitura e escrita ainda era algo quase inatingível — com a palavra impressa se dava por meio da leitura ou da cantoria de enredos — baseados em textos — em voz alta12.

É preciso lembrar, ainda, o trabalho dos folcloristas que se voltaram para o registro das cantorias e desafios. Um exemplo encontramos na pessoa de Leonardo Mota, a quem nos referimos no capítulo anterior. Sua estadia na cidade de Ipu rendeu-lhe, além do emprego como diretor do Instituto José de Alencar e do casamento com Luiza Laura de Araújo — filha do deputado e comerciante Coronel José Lourenço de Araújo —, o contato direto com violeiros e cantadores vindos de várias regiões do Ceará e de estados vizinhos para a feira livre semanal13. Instigado pela riqueza daquelas manifestações culturais, Leonardo

Mota iniciou o trabalho de coleta por escrito das cantorias, desafios, repentes e emboladas ouvidos da boca dos bardos sertanejos. Daí resultou o livro Cantadores, passaporte para o ingresso definitivo do autor no campo intelectual cearense e nacional14.

O trabalho de pesquisadores do folclore como Leonardo Mota, registrando as cantorias, convertendo o oral em escrito, contribuiu para o fortalecimento de uma convicção de que somente quando transmudada em texto impresso a oralidade teria sua preservação garantida. As viagens pelo sertão em busca de audições com os mais afamados cantadores

seu público inalterável.” Op. cit., p. 24-25.

9 ALENCAR, José de. Como e porque sou romancista. 2 ed. Campinas/SP: Pontes, 2005. p. 24.

10 LAJOLO, Mariza e ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999. p. 15. 11

CASCUDO, Luís da Câmara. Op. cit., p. 11-12.

12 DAVIS, Natalie Zemon. O povo e a palavra impressa. In: Op. cit., p. 157-185.

13 MARTINS, Francisco Magalhães. Ídolos, heróis & amigos. Rio de Janeiro: Fundo Editorial AAFBB, 1982.

p. 57-58.

revela o esforço no sentido não só de compreender aquele universo oral, mas de registrá-lo, reforçando a crença no poder da palavra impressa sobre a oralidade15.

Os livros e a escrita literária, por sua vez, circulavam por aquela zona tendo como pontos de distribuição as casas comerciais. A importância da seção de papelaria variava de um estabelecimento para outro, havendo aqueles cujos proprietários optavam por incluir listagens dos títulos à venda nos anúncios publicados na imprensa. Esse foi o procedimento adotado pelo comerciante Horácio Pessoa ao anunciar a disponibilidade de romances em sua casa comercial instalada em Camocim16. Os títulos anunciados encontram-se sistematizados na

tabela a seguir:

Tabela 3 – Livros anunciados por Horácio Pessoa

Título Autor Vol. Preço ($)

Os predestinados Enrich P. Escrich 4 12$000

Os que riem e os que choram Enrich P. Escrich 3 9$000

Coração nas mãos Enrich P. Escrich 4 10$000

Casamentos do diabo Enrich P. Escrich 3 9$000

O pão dos pobres Enrich P. Escrich 3 10$000

A ciência e a indústria Bento Carqueja 1 3$000

Sorrisos – contos Almeida Campos 1 2$000

Recordações da mocidade A. Loureiro 1 2$000

Luta de sentimentos Maria Cweil 1 2$000

Dezesseis anos F. C. Philips 1 $600

O vício em Lisboa e Lisboa a nu Fernando Schwalbach 2 2$500

Fonte: Pátria, Sobral, 06 nov. 1912, p. 3.

O título do anúncio é “Obras de Escrich”, revelando a estratégia do comerciante livreiro no sentido de alcançar o leitor por meio da oferta de romances de um autor bastante conhecido. Os livros de Escrich podiam ser encontrados nos gabinetes de leitura da zona norte17 e na Biblioteca Pública do Ceará, onde foram muito consultados18.

15

Sobre o trabalho de pesquisa de Leonardo Mota, ver: MOTA, Leonardo. Cantadores. Op. cit. e MOTA, Leonardo. Violeiros do norte. 7 ed. Fortaleza: ABC Editora, 2002. Sobre a escrita como registro da oralidade, ver: GOODY, Jack. A lógica da escrita e a organização da sociedade. Lisboa: Edições 70, 1987.

16

Pátria, Sobral, 6 nov. 1912, p. 3.

17 No acervo do Gabinete de Leitura Ipuense encontramos os seguintes livros de Escrich: O último beijo, A comédia - volumes II e IV – e A formosura da alma - volumes I, II e II –, em edições portuguesas da virada

do século pelas editoras Matos Moreira & Cia e Empresa Litteraria e Typographica, ambas de Lisboa.

18 Enrich Perez Escrich (1829-1897) foi um importante romancista e dramaturgo espanhol. Suas obras

alcançaram grande sucesso no Brasil na virada do século XIX para o XX. Sobre a procura por seus livros na Biblioteca Provincial do Ceará, ver CARNEIRO FILHO, José Humberto Pinheiro. Um lugar para o tempo

Mas o anúncio não cita apenas romances de Escrich. Chama a atenção as crônicas de costumes “O vício em Lisboa” e “Lisboa a nu”, do escritor e dramaturgo português Fernando Schwalbach. Trata-se de obras ainda hoje consideradas “licenciosas”, em razão da dose de sensualidade empregada na descrição da vida noturna e marginal de Lisboa. No entanto, havia um propósito moralizante por trás da linguagem ousada, o qual consistia em evidenciar o caráter repugnante do vício ali descrito19, e, no caso do livro de Schwalbach, a

culpa recaia sobre a mulher, especialmente as pobres criadas, apresentadas como criaturas facilmente consumidas pela luxúria, não se contentando como os encontros furtivos com os filhos dos patrões, mas entregando-se a uma vida sexual desregrada cuja culminância iam encontrar nos bordéis20.

A despeito das tentativas de controle da leitura, especialmente o combate à má leitura movido pela Igreja, a acesso à literatura licenciosa não era difícil em Camocim. O referido anúncio foi publicado pouco menos de dois meses antes da fundação do Gabinete de Leitura Camocinense. Teria o Gabinete nascido com o propósito de conter a má leitura? Em 1916, por ocasião da festa do terceiro aniversário, o presidente Júlio Cícero Monteiro insistiu para que as mulheres criassem um gabinete de leitura feminino onde pudessem “instruir seu espíritos em leituras sãs colhidas dos bons livros”, e condenou a “leitura piégas dos romances”. Em seguida, o orador oficial, Pedro Morel, elogiou a decisão tomada pela diretoria de proibir a entrada de “livros que possam perverter o seus leitores” no acervo do Gabinete21.

Percebe-se o desejo de circunscrever a leitura feminina a um espaço reservado, facilitando o controle. As falas indicam, além disso, a frequência das mulheres ao Gabinete na condição de leitoras. Embora não se encontrem nomes femininos nas composições das diretorias, nada impedia sua presença entre os frequentadores habituais, daí a necessidade de confinar sua leitura num espaço menor, específico e mais facilmente controlável. Afinal, uma livraria local colocava livros licenciosos à venda, o que indica a facilidade com que as barreiras impostas aos “livros maus” podiam ser quebradas.

Pelo estoque da livraria de Horácio Pessoa passaram os volumes da coleção de obras completas de Camilo Castelo Branco, encontrados no acervo do Gabinete de Leitura

144f. Dissertação (Mestrado em História Social) — Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2014.

19 O uso da linguagem licenciosa como “meio de educação sexual” foi uma das preocupações de Cláudio

DeNipoti ao abordar esse tipo de leitura a partir dos registros de consultas ao acervo da Biblioteca Pública do Paraná no início do século XX. DENIPOTI, Cláudio. Páginas de prazer: a sexualidade através da leitura no início do século. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 1999.

20

SCHWALBACH, Fernando. O vício em Lisboa – antigo e moderno. Lisboa: Edições Tinta-da-China, 2011.

Camocinense. Provavelmente adquiridos por compra, os volumes reforçam a imagem da firma H. Pessoa & Cia como uma casa livreira.

Horácio Pessoa também foi proprietário da Tipografia Commercial, em Camocim, de onde saiu a edição especial da polianteia publicada no dia 13 de fevereiro de 1918, em homenagem ao aniversário de dois anos do Gabinete de Leitura Viçosense22.

Ainda falando dos operadores diretos do comércio livreiro, mencionamos os representantes de editoras e publicações periódicas, encarregados do agenciamento de assinaturas e compras por encomenda. Um dos expedientes de divulgação utilizados consistia na oferta de exemplares aos redatores dos jornais locais, que publicavam a crítica — sempre elogiosa — e recomendavam a leitura aos assinantes. Assim era feito com almanaques e revistas de variedades nacionais e regionais.

Temos um caso interessante na pessoa de Joaquim da Silveira Borges, cujo anúncio foi publicado em vários jornais da cidade de Sobral durante as duas primeiras décadas do século XX. Representava as revistas O Malho, Ilustração Brasileira e Tico-Tico, cujos almanaques também distribuía. Junto a ele, os leitores poderiam encontrar exemplares para compra ou fazer assinaturas23. Para garantir ao cliente pronto acesso às edições mais

recentes, anunciava o recebimento de novos materiais pelo último vapor chegado a Camocim. Dali chegavam a Sobral, pelo trem, as remessas de revistas e almanaques, os quais eram imediatamente colocados à venda24.

Joaquim da Silveira Borges não comerciava apenas livros ou impressos na zona da EFS. Sua atividade de representação comercial baseava-se num portfólio mais amplo, incluindo apólices de seguro, cervejas, vinhos, cigarros, medicamentos, massas etc., evidenciando não se tratar de um especialista no comércio de livros, mas de um comerciante buscando aproveitar-se da existência de um nicho crescente de consumidores, ou seja, os leitores interessados na informação e entretenimento representadas pelas revistas de variedades e almanaques.

Os operadores do comércio livreiro por representação estiveram espalhados pela zona norte. Em 1908, J. Tychio anunciou a venda de assinaturas de revistas e jornais em sua “Agência Jornalística”, em Camocim. Ali podiam também ser adquiridos exemplares avulsos de diversas publicações nacionais, bem como produtos relacionados à filatelia25.

22

Polyanthea, Viçosa, 13 fev. 1918. 23

Os anúncios de Joaquim da Silveira Borges foram encontrados nos jornais Pátria (1910-1915); Gazeta do

Sertão (1913); Nortista (1913-1914); e O Rebate (1907-1915).

24 O primeiro anúncio de Joaquim da Silveira Borges com esta informação foi encontrado em O Rebate,

Sobral, 30 nov. 1907, p. 1.

O livro chegava às cidades, vilas e povoados da zona norte do Ceará a bordo de dois meios de transporte principais: os navios a vapor e os trens. A cidade de Camocim era o ponto de chegada dos vapores. Ali era feito o trabalho de transferência das mercadorias vindas pela via marítima para os armazéns da EFS, onde aguardariam o momento de serem remetidas a seus destinatários. Livros encomendados pelos comerciantes e agentes de editoras e publicações passavam por estas etapas em seu transporte como, de resto, acontecia com os demais tipos de mercadorias chegados ao porto com destino às casas comerciais da região.

Embora constituíssem pontos importantes na rede de distribuição livreira da zona norte do Ceará, apenas a casa H. Pessoa & Cia se apresentava como “livraria”, no sentido de uma casa dedicada exclusivamente à venda de livros e materiais impressos. O comércio livreiro era parte de uma gama maior de atividades. Apesar do avanço da alfabetização, o consumo de livros ainda era reduzido, diferente do de jornais, o qual apresentava uma significativa expansão.

A ausência de livrarias, portanto, não significa ausência de comércio livreiro. A associação do livro a tipos diversos de mercadorias — especialmente as importadas — foi prática comum até mesmo entre grandes livreiros. Marisa Midori Deaecto, estudando a livraria Garraux, em São Paulo, deparou-se com a mesma característica: um estoque imenso de variedades, especialmente artigos de luxo importados da França, incluindo livros26. Vê-se

que, embora tenha ficado conhecida por sua atividade no ramo livreiro, a Casa Garraux também mantinha artigos estranhos ao ramo de livraria em seu estoque.

A leitura do livro avançou a passos lentos em relação à dos jornais, beneficiando- se muito mais da expansão da alfabetização. A leitura de jornais e revistas, mais próxima do entretenimento, expandiu-se rapidamente nas cidades e vilas da zona norte do Ceará, como o demonstra a consolidação dos jornais semanais da cidade de Sobral no mesmo período27.

Analisando os anúncios publicados na imprensa, percebemos o quanto as seções de livraria eram recorrentes nas casas comerciais, indicando haver uma maior procura por livros devocionais e escolares, como demonstra o anúncio da casa M. Arthur, pertencente ao comerciante sobralense Manoel Arthur da Frota, publicado n’O Rebate sob o título “Livros religiosos”: “Adoremos, Thesouro do Cristão, Relicário Angélico, Novo Mêz de Maria,

26

DEAECTO, Marisa Midori. O império dos livros: instituições e práticas de leitura na São Paulo oitocentista. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2011. p. 286.

27 De acordo com o Catálogo de Jornais Cearenses em Microformas da Biblioteca Pública Governador

Menezes Pimentel, entre os anos de 1907 e 1924, Sobral chegou a ter cinco jornais semanais consolidados:

O Rebate (1907-1919), A Lucta (1914-1924), Pátria (1910-1915), A Ordem (1916-1941, aproximadamente)

e Correio da Semana (1918 aos dias atuais). Especialmente os dois primeiros conseguiram manter-se em circulação por período não menor do que uma década e os dois últimos por período superiores, o que sinaliza a existência de um público leitor consolidado.

Escudo Admirável, Mez das Almas, Horas Marianas, Mez do S. C. de Jesus, Manual de Missa, Imitação de Christo, N. S. do P. Socorro, Triplice Devoção, Cartilha da D. Christã”28.

Na mesma edição, encontramos novo anúncio de página inteira da Loja da Bandeira Branca, de José Paulo Mendes de Vasconcelos, o qual apresentava uma listagem completa, verdadeiro inventário das mercadorias disponíveis em seu estoque, dividida em seções. Na seção denominada “Papel”, apresenta uma mistura de artigos de livraria, papelaria e armarinho capaz de fornecer uma imagem representativa da maneira como era materialmente organizado o comércio de mercadorias ligadas ao mundo da leitura e da escrita naquele momento.

PAPEL

Papel para musica, cartorio, amizade, officio e commercial.

Envellopes commerciaes, postaes, para cartões & Cartões tarjados, visita, participação, de phantasia para Senhora.

Lindissimos postaes – ultima palavra. Cadernos de caligraphia.

Cartas de ABC, taboadas e cathecismos. Grammaticas de diversos auctores.

1º, 2º, 3º e 4º livros de leitura de Felisberto, Abílio e Hilario. Diccionario portuguez e francez.

Carlos Magno, Lunario perpetuo e Cartilha da Doutrina Christã. Livros e cadernos das novenas de N. S. P. Socorro.

Manuaes para missa e Arithmeticas diversas. Lusiadas, Tabulas, Iracema, Geographias e Algebra. Geometria, Antologia, Atlas, Theatre Classique.

Auctores Contemporaneos e lindas pastas para escriptorio.

Tintas de Stephens, canetas, lapis, crayon, mata-borrão, giz, louza & & &. Albuns para retratos e postaes.

Bicos de mamadeiras e consoladores para creanças.29

Com uma oferta mais variada, a Loja da Bandeira Branca incluía livros devocionais, escolares e literários. Um mês depois da publicação, o anúncio apareceu reformulado no mesmo jornal. Neste momento, os livros foram agrupados sob a rubrica “Livros de instrucção e religiosos”. Os títulos são os mesmos, mas com descrição mais completa, incluindo indicações de autoria, número de volumes e aspectos materiais (encadernado ou brochura), como se vê na transcrição:

Novena do Perpetuo Socorro brochada e encadernada, Hilario Ribeiro – 1º, 2º e 3º livros, Landelino Rocha – 1º, 2º e 3º livros, Abílio Borges – 1º, 2º e 3º livros, Arithmetica de Trajano – primaria e elementar, Diccionario Encyclopedico de Fonseca, Atlas de Olavo – grandes –, Geometria de Abílio César Borges, Historia do Brasil de Lacerda, Theatre Classique, Genie de Christianisme, Antologia de Barreto, Cartilha da Doutrina Christã, Arithmetica de Marcondes, Auctores Contemporaneos, Grammatica de João Ribeiro, 1º, 2º e 3º livros, Diccionario francez e portuguez, Lusiadas de Camões, Grammatica franceza de Halbont, Felisberto de Carvalho – 1º,

28

O Rebate, Sobral, 04 mai. 1907, p. 4. 29 Id. ibidem, p. 6.

2º e 3º annos, Fabula de La Fontaine, Historia de Carlos Magno, Lunario Perpetuo, Iracema – José de Alencar, Cartas de ABC, taboadas, cathecismos.30