• Nenhum resultado encontrado

3.2 AS ESCOLAS COMPLEMENTARES DO PARANÁ

3.2.1 As Complementares Primárias

Diferentes das Normais Complementares, as Escolas Complementares Primárias, que deram início ao Ensino Profissional no Paraná, poderiam ser agrícolas, comerciais, industriais ou normais. Foram criadas para atender as camadas mais pobres da população que não tinham condições de frequentar o ensino secundário. Seu objetivo era preparar para a prática de uma profissão, os alunos que haviam terminado com êxito o Curso Primário.

O Governo instalou tais escolas em locais e ao tempo em que julgasse oportuno, entretanto, os municípios também poderiam solicitá-las junto ao Governo desde que possuíssem todo o aparelhamento necessário ao seu funcionamento.

Por sua característica essencialmente prática, o Curso Complementar Primário poderia ser ministrado em um ou dois anos, conforme a natureza da profissão escolhida. Cada ano seria subdividido em dois semestres. No caso do Curso Primário Complementar para formar professores, o período de estudos era de dois anos.

Os alunos que não apresentassem o atestado de conclusão do Curso Primário poderiam ingressar na Escola Complementar Primária fazendo um Exame de Admissão.

Havia algumas exigências para que os alunos ingressassem na Escola Complementar, entre as quais: requerimento de matrícula, constando naturalidade, filiação e idade; declaração com a comprovação de que possuía 15 anos ou mais; atestado médico comprovando que não tinha doença infectocontagiosa e talão de pagamento da taxa semestral junto à Coletoria Estadual (PARANÁ, Mensagem, 1929).

A primeira Escola Complementar Primária foi instalada na cidade de Ponta Grossa, ainda no ano de 1925.

Antes das Escolas Complementares Primárias havia o chamado Curso Intermediário, na capital do estado. No Relatório de 1920, Cesar Martinez, menciona entre as providências iniciais do seu mandato, a mudança nos Programas desse Curso:

Figura 11 - Programa do Curso Intermediário (1920) Figura 11 – Programa do Curso Intermediário, 1920. Fonte: Arquivo Público do Paraná. Relatório Cesar Martinez, 1920.

A finalidade principal desses Cursos era fornecer candidatos à Escola Normal, entretanto, devido à falta de Escolas Normais no interior do estado, os alunos dos municípios do interior que terminassem o Curso Intermediário ou equivalente, poderiam lecionar nas escolas primárias. Observamos que nos Programas desse Curso há a ausência absoluta de formação específica para o ofício de professor.

No início do Século XX era comum nos lugares mais afastados da capital que os jovens, em especial as moças, iniciassem sua docência como professoras adjuntas ou efetivas. Sobre esse assunto localizamos no Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá, o Diário pessoal da professora primária

Maria Brígida Soares Linhares93 (Mariquita), no qual conta resumidamente sua formação e entrada no magistério público estadual, no qual lecionou por 35 anos. A professora conta que em 1921 aos 11 anos de idade iniciou seus estudos no Grupo Escolar da cidade, complementando seus estudos no Colégio São José e, terminados esses estudos, ainda muito jovem, iniciou como professora adjunta no Grupo Escolar Faria Sobrinho. Em 1927 inscreveu- se para o Exame de Admissão da Escola Normal Dr. Munhoz da Rocha e tendo sido aprovada, cursou o Normal e formou-se com a primeira turma, em 1929. A professora ‘Mariquita’ explica que “com dupla responsabilidade” (LINHARES, Diário pessoal, 12/10/1981) e:

Figura 12 - Diário pessoal da Professora Maria Brígida Soares Linhares (1981) Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá.

As Escolas Normais de Ponta Grossa e Paranaguá foram importantes não só para a formação de futuros professores, mas também para a qualificação daqueles que já exerciam a docência, como a professora Mariquita, que alfabetizava crianças em Paranaguá.

Com a construção dos edifícios próprios para as Escolas Normais Primárias de Ponta Grossa e Paranaguá, as mesmas abrigavam o Curso

Intermediário, pois de acordo com os Artigos 3º e 6º do Decreto 135/1924,

respectivamente, em anexo à Escola Normal funcionaria o Curso Intermediário com duração de dois anos, sendo que os discentes que concluíssem tal curso estariam aptos a cursar o 1º ano da Escola Normal.

93

Maria Brígida Soares Linhares foi professora da Escola de Aplicação, onde consta seu nome em diversas Atas dos anos de 1920. Durante 35 anos, lecionou na rede estadual em Paranaguá, cidade onde nasceu em 1910, viveu e faleceu aos 96 anos, lúcida e em família.

O Curso Intermediário passou a denominar-se Complementar Primário94 e permaneceu ainda por alguns anos no Paraná, como indicam as fontes como o Relatório dos diretores dos Grupos Escolares de 1928, e um conjunto de sabatinas do Primário Complementar do ano de 1948, de uma aluna do Grupo Escolar Faria Sobrinho em Paranaguá. Esses documentos apresentam vestígios não só da longa permanência desse Curso como também de suas mudanças em relação ao local onde se situavam, inicialmente fazendo parte da estrutura das Escolas Normais e posteriormente sendo distribuídos também nos Grupos Escolares.

No Relatório dos diretores dos Grupos Escolares do ano de 1928, a diretora do Grupo Escolar D. Pedro II, de Curitiba, relata que “Frequentaram as aulas do 1º ano do Curso Complementar, 9 alumnas, sendo promovidas 6. Passaram para a Escola Normal três alumnas. Porcentagem 66%” (PARANÁ, Relatório Grupo Escolar D. Pedro II, 1928).

Em 1929 já eram os Cursos Complementares em número de oito, sendo dois na capital do Estado e seis em municípios do interior e no litoral, estando localizadas em Castro, Paranaguá, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Rio Negro e União da Vitória e tendo encerrado suas aulas com 710 alunos (PARANÁ, Relatório Mensagem, 1929).

Os professores das Escolas Complementares Primárias deveriam ser normalistas e na falta destes, poderiam ser contratados por até dois anos professores que apresentassem provas de sua capacidade profissional e didática.

Entretanto, a finalidade do Curso Complementar Normal, diversa dos primeiros anos de implementação, era outra em 1929, com alterações também nos seus programas, como explica o Diretor da Escola Normal Primária de Paranaguá, em seu Relatório ao Inspetor Geral:

No Curso Complementar esta Directoria elaborou um programma que é o prolongamento natural e methodico da Escola de Applicação, servindo de meio termo ao Curso Normal, sendo perfeitamente exigível, de resultado optimo e na altura do fim a que se destina de formar professor effectivo e habilitar candidatos á matrícula no Curso

94 Em alguns documentos aparece denominado como “Primário Complementar” ou “Curso Complementar”.

Normal. Contém o programma as instrucções (PARANÁ, Relatório dos Diretores, 1929, p. 59).

Nos últimos anos da década de 1920 houve inversão na ordem de prioridades das finalidades do Complementar Normal, ou seja, o curso preparava os professores para serem efetivos e os mesmos nem sempre seguiam seus estudos matriculando-se no Ensino Normal, visto que o Complementar Primário possibilitava a entrada para o magistério público primário.

No Instituto Estadual de Educação Caetano Munhoz da Rocha, em Paranaguá, localizamos solto entre as Atas da Escola Normal o documento abaixo, denominado “Médias de 1934 do Curso Complementar, II ano Mixto” (PARANÁ, 1934):

Figura 13 - Documento médias dos alunos do Curso Complementar (1934) Fonte: Instituto Estadual de Educação Caetano Munhoz da Rocha – Paranaguá.

Trata-se de uma tabela manuscrita que apresenta as disciplinas cursadas no segundo ano do Curso Complementar Primário, as médias mensais de um aluno, assim como, a média total do aluno em cada disciplina. As disciplinas presentes são Português, Aritmética e Álgebra, Geografia e Cosmografia, História do Brasil Geral, Física e Química, Educação Moral e Cívica, Desenho, Música, trabalhos de Agulhas e Manuais e Ginástica. A média final (total) é obtida por meio da média aritmética das médias dos meses letivos, que iniciam em março e terminam em novembro, não aparecendo

médias relativas aos meses de junho e julho. Possivelmente o calendário daquele ano letivo foi diferenciado nessa Escola Normal, porém, não encontramos fontes que nos informassem os motivos.